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Como já visto anteriormente, o constituinte originário designou atribuições e funções a todos os Poderes, no entanto, não as afirmou como sendo absolutamente exclusivas de cada Poder. Dessa maneira, cada Poder exerce sua função típica, em um maior grau, e exerce outras funções diversas, sendo essas atípicas, em um menor grau. Todas essas funções e atribuições estão previstas na Constituição Federal (MORAES, 2020, p. 455).

Segundo Motta, as funções típicas do Poder Legislativo são as funções legislativa e fiscalizatória. A função legislativa consiste na criação de ato gerais e abstratos, que possuem a capacidade criar direitos e apresentar inovações na ordem jurídica, função que está regulada nos artigos 59 a 69 da CF/88. A função fiscalizatória possui como principal objetivo controlar os demais Poderes, em especial o Poder Executivo, sendo disciplinada no decorrer da Constituição (2019, p. 571).

Referente às funções atípicas exercidas pelo Poder Legislativo, Alexandre de Moraes afirma que

As funções atípicas constituem-se em administrar e julgar. A primeira ocorre, exemplificativamente, quando o Legislativo dispõe sobre sua organização e operacionalidade interna, provimento de cargos, promoções de seus servidores; enquanto a segunda ocorrerá, por exemplo, no processo e julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade (2020, p. 455).

Segundo Bastos (1997, p. 346), no Brasil, o Poder Legislativo possui o sistema bicameral, no qual o Congresso Nacional é formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, conforme se verifica no artigo 44 da CF/88, in verbis:

Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos (BRASIL, CRFB, 2020).

Como destaca Bastos, a Câmara dos Deputados é formada por representantes do provo eleitos pelos Estados, Distrito Federal e Territórios, eleitos proporcionalmente em relação à população de cada estado e com mandato de 4 anos. Por sua vez, o Senado Federal é formado pelos Senadores, os quais possuem um mandato de 8 anos, sendo que cada estado elegerá 3 senadores, e cada senador possui 2 suplentes. Ainda ocorrerá a renovação do mandato de 4 em 4 anos, alternativamente, por um e dois terços (1997, p. 346).

Como já mencionado, o Poder Legislativo exerce funções típicas e atípicas, veremos adiante que tais funções podem configurar freios e contrapesos em relação aos demais Poderes.

Primeiramente, como afirma Camargo, podemos mencionar a função do Poder Legislativo de eleger cidadãos para formarem o Conselho da República, conforme preveem os artigos 51, V e 52, XIV da Constituição Federal, e ainda o artigo 89, II e V da referida Carta Magna, que preveem a participação do Poder Legislativo no referido Conselho. Essa função configura controle e um contrapeso sobre a função típica do Poder Executivo (2017, p. 69).

O Conselho da República é um órgão superior de consulta do Presidente da República, o qual é formado por autoridades públicas, membros do Congresso Nacional e 6 brasileiros natos, conforme previsão do artigo 89 da CF/88, sendo que tais cidadãos serão eleitos pelo Congresso, como já visto (OLIVEIRA, 2007, p. 91)

Conforme o artigo 90 da Constituição (BRASIL, CRFB, 2020), compete ao Conselho da República manifestar-se acerca da intervenção federal, do estado de defesa e do estado de sítio e, ainda, sobre as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas, assuntos esses típicos do governo.

Desse modo, a participação do Poder Legislativo na composição desses Conselhos Constitucionais, que possuem atribuições do Poder Executivo (i.e., declarar o estado de sítio e a intervenção federal é competência privativa do Chefe do Poder Executivo, por força do art. 84, IC, da CF/1988), caracteriza mecanismo de contrapeso, já que possibilita a participação do Poder Legislativo na formação da decisão de competência exclusiva do Poder Executivo (CAMARGO, 2017, p. 69, grifo nosso).

Tem-se ainda o chamado Conselho de Defesa Nacional, o qual é formado pelo Vice-Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado

Federal, pelos Ministros da Justiça, de Estado e de Defesa, das Relações Exteriores e do Planejamento e, ainda, pelos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, segundo o artigo 91 da Constituição Federal (BRASIL, CFRB, 2020).

Acrescenta Oliveira (2007, p. 91) que é de competência do Conselho de Defesa Nacional dar a sua opinião acerca de assuntos sobre a defesa do território nacional, em especial nas áreas das fronteiras, e na decretação de Estado de Defesa ou Sítio e Intervenção Federal.

Argumenta Camargo (2017, p. 71) que, muito embora as atribuições acima elencadas sejam de competência do Presidente da República, não podem ser exercidas sem a prévia consulta ao Poder Legislativo.

No mais, Camargo (2017, p. 70) afirma que o Poder Legislativo exerce controle sobre o Poder Executivo em relação a sua fincão típica no que tange ao tratados, acordos ou atos internacionais, afirmando que tal controle configura um freio ao Poder Executivo. Veja- se:

Parece indispensável mencionar, ao tratar-se de controle de funções típicas do Poder Executivo pelo Poder Legislativo, a atribuição outorgada a este último de resolver definitivamente sobre os tratados, acordos ou atos internacionais, que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacionais, bem como autorizar a ausência do Presidente e do Vice Presidente do país, quando esta ultrapassar 15 (quinze) dias (art. 4, I e III). Nota-se que nesses casos, o Poder Legislativo exerce freios, já que as ações a serem praticadas por ele são capazes de neutralizar as decisões do Poder Executivo. (CAMARGO, 2017, p. 70, grifo nosso).

O artigo 49, V, da Constituição Federal apresenta a possibilidade de o Poder Legislativo exercer mais uma forma de controle em relação ao Poder Executivo, pois afirma que o Poder Legislativo poderá “sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa” (BRASIL, CFRB, 2020).

Motta (2019, p. 580) explica que “trata-se de um mecanismo especial instituído pela Constituição para conter eventuais excessos normativos do Presidente da República na edição de decretos executivos ou de leis delegadas, em desrespeito à competência do Congresso Nacional”.

A Constituição concedeu ao Congresso a prerrogativa de sustar atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder de regulamentar ou dos limites de delegação legislativa. Nota-se, aqui, um concreto caso de aplicação do sistema de freios e contrapesos em que o Poder que possui a faculdade de exorbitar seus poderes, sendo devidamente fiscalizado por outro, podendo, em virtude dessa fiscalização, o ato praticado fora da legalidade por um dos poderes ser vetado por outro (SOUZA, 2008, p. 32).

Camargo (2017, p. 71) afirma que tal prerrogativa do Congresso Nacional configura um freio em relação ao poder de regulamentação exercido tipicamente pelo Poder Executivo. In verbis:

Não se pode deixar de aludir à prerrogativa de que goza o Congresso Nacional de sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem o poder regulamentar (art. 49, V da CF/1988), assim entendido aquele poder de que dispõe o Executivo de regulamentar leis para sua fiel execução. Tal prerrogativa configura daqueles conceitos já explicitados, mecanismo de freio (CAMARGO, 2017, p. 71).

Os artigos 70 a 75 da Constituição Federal tratam da fiscalização contábil, financeira e orçamentária, sendo que o artigo 71 menciona que o Congresso Nacional exerce o controle externo com a ajuda do Tribunal de Contas (BRASIL, CFRB, 2020).

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