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V. Breve síntese de cada um dos grupos de decisão

36. Poder do minoritário

Dentre os acórdãos encontrados, dois foram classificados como relativos especificamente ao poder dos acionistas minoritários.

Na Apelação Cível nº 175.507-1 do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo foi estabelecido que a declaração judicial do poder de fiscalizar a ser exercido por minoritário não se refere apenas à matéria de direito, mas também aquela de fato. As provas, portanto, devem ser produzidas e o julgamento de mérito proferido.

Na Apelação Cível nº 85.120-1, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo entendeu que poderia haver fraude para mascarar a condição de controlador, quando uma empresa, acionista minoritária, atua, na realidade, sob o manto do controlador. Nesta hipótese, devem ser atribuídos aos verdadeiros minoritários os poderes que lhes cabem, nomeadamente o de eleger membro do conselho fiscal.

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37. PREÇO DE EMISSÃO

Foram quatro os julgados sobre o assunto. Nos termos da lei societária, os julgados consideraram que os critérios que servirão de pauta para a determinação do preço de emissão das novas ações são (i) o valor do patrimônio líquido, (ii) o valor de mercado das ações e (iii) as perspectivas de rentabilidade da companhia. O critério que prevalecerá será aquele que não provocar a diluição injustificada da participação dos acionistas.

Na Apelação Cível nº 165.360.1/0, o critério que garantiu a participação dos acionistas foi o do valor do patrimônio líquido. Os cálculos pelo valor de mercado das ações (que sequer existe nas companhias fechadas) e pelas perspectivas de rentabilidade da companhia só se aplicariam se resultassem em valor maior que o do patrimônio líquido.

Para o Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 148.507 os critérios legais não se aplicavam separadamente, mas como um todo indivisível, sendo que o valor de mercado era o que melhor refletia o valor de uma ação já que na análise de mercado sempre estão embutidos o valor do patrimônio da empresa e suas perspectivas de rentabilidade.

Por fim, o Agravo Regimental já referido e os Embargos Infringentes nº 129.580-

1/2-01 deixaram claro que a diluição da participação dos acionistas era possível,

considerando-se justificada quando tem o fito de viabilizar a emissão e o preço de

emissão das novas ações é considerado correto.

38. PRESCRIÇÃO

A orientação dada pelos Tribunais quanto à questão da prescrição do direito de impugnação dos atos societários parece apontar para um único sentido: preservação

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da segurança jurídica. Assim, decidiu o Superior Tribunal de Justiça (Recurso

Especial nº 36.334) que o início do prazo prescricional é contado da data da

publicação da ata e não do conhecimento do ato ilícito pelo acionista (no mesmo sentido, Recurso Especial nº 54.458). Aliás, a data da publicação da ata é aquela do início da contagem do prazo prescricional, mesmo que a assembléia venha a ser posteriormente anulada (Embargos Infringentes nº 92.527-1). O mesmo Tribunal, no Agravo Regimental nº 136.415, entendeu que a prescrição ordinária prevista no art. 177 do Código Civil não se aplica às sociedades por ações, pois é “largamente incompatível com a estabilidade que deve garantir a constituição e desenvolvimento das sociedades anônimas”. De igual forma, no Recurso Especial nº 35.230, fixou-se o entendimento de que a teoria geral das nulidades, moldada no Direito Civil, não é aplicável às sociedades por ações. Dessa maneira, o entendimento no sentido de que “o nulo não prescreve” não encontra acolhimento no campo do Direito Societário. Em dois acórdãos analisados, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo fixou o entendimento que o prazo prescricional especial da Lei Societária não se aplica quando a ação busca a desconstituição de negócio de alienação de bens da companhia (Apelações Cíveis nº 235.286.1/7 e 84.125-1). Em ambos os julgados, a questão da prescrição foi analisada juntamente com a questão do conflito de interesses e da abusividade do comportamento do administrador, sendo que na Apelação Cível nº 235.286.1/7, o relator, Desembargador Cezar Peluso vale-se da mais abalizada doutrina, tanto nacional quanto estrangeira, para sustentar a posição do Tribunal, redigindo acórdão de singular erudição.

39. PRESTAÇÃO DE CONTAS

São dois os julgados sobre o tema, ambos oriundos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Na Apelação Cível nº 69.007-1, do ano de 1986, o litígio envolvia a sociedade e seus acionistas, que pretendiam que aquela lhes prestasse contas de suas atividades. O julgado afirmou categoricamente que os acionistas não tinham poder

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para tomar as contas da sociedade, já que esta competência é exclusiva da Assembléia Geral.

Já na Apelação Cível nº 210.848-1/0, do ano de 1994, a lide existia entre a sociedade e um de seus debenturistas, que pretendia prestação de contas exclusivamente no tocante ao seu crédito. Segundo o julgado, o debenturista tem direito a estes esclarecimentos.

40. PUBLICIDADE

O Superior Tribunal de Justiça analisou recurso especial (Recurso Especial nº

96.610) em que se discutiu o veículo oficial no qual devem ser publicados os atos

societários. A Lei refere-se ao Diário Oficial da União ou ao Diário Oficial do Estado em que se localiza a sede da companhia (art. 289). A sociedade Hedging- Griffo Corretora de Valores S.A. impetrou mandado de segurança contra ato da Junta Comercial do Estado de São Paulo(JUCESP), sustentando tese de que fica a critério da sociedade a escolha do órgão oficial em que desejaria publicar seus atos societários. O Superior Tribunal de Justiça afastou essa hipótese, firmando entendimento no sentido de que os atos societários devem ser necessariamente publicados no Diário Oficial do Estado em que se localiza a sede da sociedade, salvo nos casos em que a sede se localizar no Distrito Federal ou a Publicação for de interesse da União.

41. RECESSO

São oito os julgados sobre direito de recesso, ou retirada.

A Apelação Cível nº 116.737-1 e a Apelação Cível nº 187.636-4 se referiram à interpretação da Lei nº 7.958/89 (“Lei Lobão”). A dúvida a partir desta lei foi se o

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direito de recesso em virtude de cisão, fusão ou incorporação da companhia teria sido abolido, já que foi revogada a disposição do artigo 137 sobre o tema (lembremo-nos que o artigo 137 aponta as hipóteses de retirada). Os julgados afirmaram que o direito de recesso na fusão, cisão ou incorporação continuava existindo. Simplesmente, estava disciplinado em disposições específicas da Lei nº 6.404/76 e não nas disposições gerais do artigo 137. A Lei Lobão corrigiu distorções entre os comandos legais da Lei Societária (pois as disposições gerais determinavam o reembolso imediato no valor de 80% em virtude da retirada, ao passo que as regras específicas de fusão, cisão ou incorporação, diziam que o reembolso só seria devido se a operação se efetivasse).

É praticamente comum entre os julgados a dúvida sobre a necessidade de prejuízo para existir o direito ao recesso. Este problema foi analisado na Apelação Cível nº

150.494, julgada em 1991 e no Recurso Especial nº 31.515, julgado em 1996, que

entenderam necessária a demonstração de efetivo prejuízo sofrido pelo acionista dissidente para autorizar sua retirada da sociedade. Com efeito, no entender do Tribunal, o recesso nada mais senão a proteção do minoritário contra as decisões da maioria que lhe causem dano.

Já os Embargos de Declaração em Recurso Extraordinário nº 104.895, julgado em 1986, o Recurso Extraordinário nº 104.895-6, também julgado em 1986 e a

Apelação Cível nº 187.636-4, julgada em 1995 decidiram que o prejuízo não é

pressuposto do direito de recesso, bastando que o acionista dissidente comunique à companhia a intenção de se retirar.

O Recurso Extraordinário nº 104.895-6, apontado acima, afirmou também que qualquer alteração no objeto da companhia autoriza o recesso (não somente a alteração substancial, como previa a revogada Lei nº 2.627/40). No entanto, este tópico de discussão não foi abordado por outros julgados e não permite maiores conclusões sobre “tendências”.

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Já o Recurso Extraordinário nº 108.188-1 e o Recurso Especial nº 51.655 versaram sobre a questão do valor de reembolso. Como devia ser apurado? É interessante notar que entre estes dois julgados existiu um lapso temporal de dez anos (o primeiro é de 1987 e o segundo, de 1997). Ainda assim, a resposta dos julgados coincidiu: o valor de reembolso devia corresponder ao valor real das

ações do dissidente, não podendo ser meramente simbólico. O balanço que aponta

o valor do reembolso não deve ser meramente contábil, mas sim refletir o patrimônio da empresa, que será dividido pelo número de ações. Eventualmente, se for mais justo, o valor de reembolso poderá até ser o valor de mercado. Eis então a propensão de entendimento de nossos tribunais ao longo dos anos: o valor de reembolso não pode ser simbólico e deve corresponder à realidade.

42. RESGATE DE AÇÕES

Quando a companhia delibera o resgate de ações e o valor a ser pago não está estatutariamente previsto, deverá ser levado em consideração o valor do patrimônio líquido, apurado segundo critérios de mercado. Nessa decisão do Superior Tribunal de Justiça (Recurso Especial nº 68.378-5), o Ministro Eduardo Ribeiro esclareceu que o resgate de ações (quando não está estatutariamente previsto) é semelhante à “expropriação” das mesmas ações e, por essa razão, deve ser efetivada sem causar prejuízos ao acionista excluído. Essa decisão possui repercussão prática das mais relevantes, pois admite que a decisão do resgate de uma classe de ações, quando não está estatutariamente prevista, é uma espécie de “direito potestativo” da sociedade e o acionista “excluído” deve a ele sujeitar-se. Dessa forma, concluímos que os acionistas minoritários devem estar bastante atentos, quando as ações ordinárias de uma sociedade forem divididas em classes (o que, aliás, é muito comum, pois com esse expediente costuma-se assegurar aos acionistas minoritários a eleição de determinados cargos administrativos). O acionista controlador pode, simplesmente, deliberar o “resgate” da classe e ao minoritário “excluído” restará, apenas, lutar pelo justo pagamento de seus “haveres”. Para evitar a possibilidade concreta da exclusão

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-- acenada nesse acórdão -- o acionista minoritário de uma companhia fechada poderá exigir que estatutariamente seja previsto “quorum qualificado” para deliberação sobre o resgate.