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V. Breve síntese de cada um dos grupos de decisão

44. Responsabilidade de acionista

Os dois casos encontrados que versam sobre responsabilidade de acionista decidem sobre os limites dessa. O acionista responde até o valor das suas ações (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Apelação nº 146.036-2), a menos que tenha concorrido com o administrador na prática de atos ilícitos. Nesta hipótese, responde

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pessoal e solidariamente com o administrador faltoso (1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Apelação nº 376.022-0).

45. RESPONSABILIDADE DE ADMINISTRADOR

Foram encontrados 14 acórdãos sobre a responsabilidade do administrador, sendo que um deles diz respeito aos limites da responsabilidade, um à responsabilidade face aos minoritários por omissão no dever de divulgar fato relevante, cinco à responsabilidade tributária, quatro à responsabilidade penal e três à legitimidade ativa em ações de responsabilidade.

Na Apelação nº 119.872-1, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo decidiu que os bens referentes à meação de esposa de administrador não ingressam na liquidação judicial da companhia, mesmo quando aquele responde pela prática de ato ilícito.

A questão trazida a juízo era a responsabilidade dos administradores por omissão no dever de divulgação de fato relevante. O Tribunal entendeu ser a alienação de controle acionário um típico fato relevante. Assim, a omissão dos administradores da Howa S/A em divulgar o fechamento de operação de transferência do controle acionário da companhia faz exsurgir sua responsabilidade pelos danos causados as acionistas minoritários. Esta responsabilidade é especialmente afirmada com relação aos acionistas que alienaram suas ações no período entre o fechamento da operação e sua divulgação no mercado, uma vez que deixaram de se beneficiar da oferta pública de aquisição.

Na Apelação nº 185.122-1/6 (* veja em responsabilidade de sociedade anônima), o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo decidiu que a simples prática de mau negócio não enseja responsabilidade do administrador.

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Quanto à responsabilidade tributária, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo afirma em duas oportunidades (Agravo de Instrumento nº 22.828-5 e Apelação nº

142.821-2) que responde o administrador por culpa, sendo excluídos os danos

referentes ao período em que este não estiver em exercício de suas funções administrativas e devendo ser provada a prática do ato ilícito, respectivamente. Esta orientação, no entanto, é algo distinta no Superior Tribunal de Justiça, onde, não obstante o caráter subjetivo da responsabilidade, a prova específica do ato ilícito e a constituição do nexo causal perdem importância face ao caráter público da responsabilidade tributária. Destarte, a omissão no tocante a recolhimento de contribuições constitui, por si só, ato culpável (Recurso Especial nº 7.303-0-RJ); o administrador é tomado por substituto tributário, sendo responsável pelo não recolhimento (Recurso Especial nº 13.108-0-PE) e tal responsabilidade não pode ser afastada por determinações constantes do estatuto social (Recurso Especial nº

40.853-9-SP).

Quanto à responsabilidade penal, tanto o Supremo Tribunal Federal (Habeas Corpus

nº 64.898-3), quanto o Superior Tribunal de Justiça (Habeas Corpus nº 3.766-PR)

decidiram que, nos crimes em sociedade, a denúncia deve conter informações suficientes para individualizar a imputação delitiva, propiciando ampla defesa, sendo que a Suprema Corte decidiu ser suficiente a clara indicação do período de gestão de cada administrador. No Habeas Corpus nº 505-SP, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que não ocorre falsidade ideológica (CP, artigo 299) e nem mesmo falsa afirmação em balanço (CP, artigo 177) quando, sendo fechada a sociedade, há ciência dos sócios quanto ao critério adotado, não afetando terceiros (há desacordo no voto vencido, por ser o balanço responsável pela imagem externa da companhia, podendo influenciar, por exemplo, a concessão de crédito). Por fim, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no Habeas Corpus nº 71.797-3, afirma haver, em tese, responsabilidade penal do administrador que simula venda de bem, em prejuízo da companhia ou de seus credores.

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Quanto à legitimidade ativa, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, na Apelação

nº 584/89, decidiu que o quotista de sociedade por quotas de responsabilidade

limitada não tem legitimidade para propor ação de responsabilidade contra administrador de sociedade anônima da qual a limitada é acionista. Tanto Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº 16.410-0-SP, quanto o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no Agravo de Instrumento nº 95.490-1, decidiram ter os minoritários legitimidade para propor ação de responsabilidade contra administradores, sem necessidade de convocação de assembléia para tal fim, quando for evidente a inutilidade desta.

46. RESPONSABILIDADE DO CONTROLADOR

No único acórdão encontrado sobre o tema (Supremo Tribunal Federal, Recurso

Extraordinário nº 108.650-5-SP) decidiu-se que, em tese, o controlador é

responsável se obtiver ganhos excessivos em virtude do abuso de seu poder. A simples disparidade entre ganhos, no entanto, não caracteriza a abusividade.

47. RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS

No único caso encontrado (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Agravo de

Instrumento nº 256.415-1), decidiu-se que o terceiro co-responsável na prática de

atos ilícitos cometidos em sociedade responde pessoal e solidariamente pelos danos causados.

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48. SUBSCRIÇÃO DE AÇÕES

Interessante contenda foi levada à apreciação do Superior Tribunal de Justiça (Recurso Especial nº 8.772). Acionistas minoritários do Banco Auxiliar S.A. subscreveram ações e, logo em seguida, a instituição financeira entrou em liquidação extrajudicial. Alegaram, então, a nulidade do negócio de subscrição, pois entenderam haver erro, dolo ou simulação por parte do Banco. O Tribunal, por sua vez, não acolheu a argumentação dos autores, pois “a subscrição implica necessariamente a obrigação de integralizar as ações”, tendo força vinculativa e sendo irrevogável. A publicidade efetuada pelo Banco é normal para aquele que pretende colocar ações no mercado.

49. TRANSFERÊNCIA DE AÇÕES

Verificamos as seguintes questões envolvendo este tema:

Primeiramente debateu-se a necessidade de averbação, nos livros da sociedade, do ato de transferência de ações a fim de que o mesmo fosse válido. Encontramos este tema no Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 26.762-8 (transferência por endosso de ações nominativas, sem averbação nos livros sociais); no Recurso Especial nº 40.276-0 (transferência por procuração de ações nominativas, sem averbação nos livros sociais); nos Embargos Infringentes nº

181.693-1/9-01 (transferência de ações endossáveis por contrato, averbação

inválida) e, ainda que de forma subsidiária, no Recurso Especial nº 61.091-5. Estes julgados esposam o entendimento de que a averbação da transferência das ações, nos livros sociais, é requisito indispensável à validade deste ato.

Os Embargos Infringentes acima referidos enfatizaram ser indispensável à averbação a apresentação do certificado de ações.

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No Recurso Especial que acabamos de referir discutiu-se a seguinte questão: o fato de os acionistas majoritários de uma sociedade constituírem uma empresa e para esta transmitirem suas ações caracteriza transferência ou incorporação das ações? Os julgadores entenderam que se tratava de transferência.

Por fim, a Apelação Cível nº 139.354-1/8 refere-se à transferência fraudulenta de ações escriturais e concluir que esta é nula de pleno direito. A companhia, o depositário e até o adquirente de boa-fé das ações foram considerados responsáveis pela restituição do acionista prejudicado ao status quo ante. Os julgadores, porém, entenderam que o ressarcimento dos valores que o acionista não recebeu na época em que esteve privado de suas ações era de responsabilidade exclusiva daquele que efetivamente os recebera.

Em conclusão, acreditamos existir uma tendência jurisprudencial no tocante à necessidade de averbação do ato de transferência nos livros sociais para validade do mesmo, especialmente porque foram tratadas as mais diversas formas de atos de transferência de ações e em todos a conclusão foi a mesma. Quanto às demais questões debatidas, nem sempre os julgamentos foram unânimes e não há outros acórdãos para comparação, a fim de que se identifique uma linha de comportamento de nossos tribunais.