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2 O ESTADO E O ACESSO À INFORMAÇÃO PÚBLICA

2.4 POLÍTICA DE ACESSO À INFORMAÇÃO PÚBLICA

A política de acesso à informação pública volta-se para a disponibilização pelos governos do acesso aberto e irrestrito à informação pública para o povo. Dentre as inúmeras vantagens desta política, Uhlir (2006) aponta três: a “transparência” da governança e a promoção dos ideais democráticos de igualdade, democracia e abertura, diminuindo as chances do governo conseguir ocultar atos ilegais, corrupção e má administração; a promoção da melhoria da saúde e segurança públicas e do bem-estar social geral, uma vez que os cidadãos se tornam mais informados e aptos a tomar decisões sobre sua vida cotidiana, seu ambiente e seu futuro; a utilidade à pesquisa científica e técnica, contribuindo para o progresso da ciência, avanço da inovação tecnológica e sistema educacional efetivo.

O acesso às informações públicas permite que a sociedade conheça melhor os dados administrados pelo Estado e monitore mais atentamente as motivações privadas e políticas das decisões governamentais, tornando mais difíceis o abuso de poder e a prática do clientelismo político (ABRAMO, s/d, p. 2). Sobre a disponibilização das informações públicas ao povo, Ferreira, Santos e Machado (2012) ressaltam a sua importância para a democracia:

As informações governamentais são de fundamental importância para o exercício da democracia. A sua disponibilização possibilita um diálogo claro e transparente entre o governo e a sociedade civil, permitindo um maior controle desta sobre a administração pública, objetivando o aprimoramento constante de suas ações.

Neste sentido, a CGU também destaca que o acesso a documentos, arquivos e estatísticas de ordem pública constituem-se em um dos fundamentos para a consolidação da democracia, uma vez que fortalece a capacidade dos cidadãos em participar de modo efetivo da tomada de decisões que os afeta:

O cidadão bem informado tem melhores condições de conhecer e acessar outros direitos essenciais, como saúde, educação e benefícios sociais. Por estes motivos, o acesso à informação pública tem sido, cada vez mais, reconhecido como um direito em várias partes do mundo. Cerca de 90 países possuem leis que regulam este direito (CGU, 2014, p.1).

Quando há ausência do dever legal de garantia do acesso à informação pública, ocorrem irresponsabilidades e negligências dos órgãos públicos na divulgação de informações relevantes, com consequências negativas para a prestação de contas governamental, porque o acesso limitado à informação impede ou dificulta a participação dos cidadãos na discussão e produção de políticas públicas. Nas palavras de Abramo (s/d, p. 1):

Quanto mais incompleta é a informação disponível, mais inseguras resultam as decisões tomadas e, portanto, maior a probabilidade de prejuízo à eficiência na alocação dos recursos. Isso vale tanto para quem vai à feira no sábado (não convém comprar limões do primeiro ambulante que aparecer) quanto para governos. Com a diferença de que se compro mal meus limões, quem sofre é minha família (porque deixarei de comprar alguma outra coisa), ao passo que, se o governante decide a partir de informação deficiente, o prejuízo econômico afeta toda a sociedade.

O acesso da sociedade às informações públicas permite que ocorra uma melhoria na gestão pública, pois torna possível uma maior participação popular e o controle das ações do governo.

A participação dos indivíduos no processo político desvela-se essencial para influenciar os governos e os representantes políticos. Ao contrário, caso os cidadãos fossem cerceados do direito à informação, os debates públicos estariam comprometidos. Deste modo, a informação significa um instrumento de controle das instituições democráticas, potencializando a capacidade dos cidadãos em contribuir para o processo político do país, com combate à corrupção e à conduta ilícita dos governos. Neste sentido, “a informação aparece portanto como uma condição chave da construção de processos democráticos de tomadas de decisão” (DOWBOR, 2003, p. 7).

Entende-se que o problema da corrupção pode ser largamente reduzido com políticas de promoção da ética, da integridade e da transparência. Conforme afirma F. Kettl (apud MENDANHA, 2009, p.61): “como sugere o método americano da década de 70, é possível reduzir a corrupção abrindo as portas do governo, colocando-o em foco e dando poder aos investigadores para fiscalizá-lo de perto, com o intuito de eliminar gastos desnecessários, fraudes e abusos de poder”.

Assim, para evitar os desvios éticos no trato da coisa pública, sobretudo o abuso de poder político e os conflitos de interesses,há a preocupação com o assunto, e são necessários instrumentos legais e programas que visem à promoção da transparência e à abertura do governo à participação da sociedade (MENDANHA, 2009).

Analisando os elementos do regime de informação que permeiam o âmbito da política de acesso à informação pública, pode-se afirmar que: a) os estoques de informação são compostos pelas informações custodiadas pelo Poder Público, sejam tais informações produzidas pelos órgãos públicos ou não; b) as políticas de acesso à informação, por sua vez, fornecem à sociedade, de forma democrática, ferramentas para o acesso aos estoques de informação, direcionando ao Estado o dever de publicizar as informações sob sua guarda e o direito dos cidadãos de acessá-las (SILVA; EIRÃO; CAVALCANTE, 2013); c) os principais personagens do regime de acesso à informação são o cidadão, como personagem central Jardim (2012, p. 20), e o Poder Público, a quem compete o dever de dar publicidade às informações; d) o ambiente social é fator que influencia diretamente na implementação de uma política de acesso à informação, isto porque esta depende de fatores socioculturais, a exemplo da vontade política, da conscientização da sociedade civil, dos governantes e infraestrutura tecnológica; e) as TICs são os meios que possibilitam, com eficácia e celeridade, a publicização das informações pelo Poder Público, para que elas cheguem aos cidadãos, e o acesso seja efetivado; f) há a padronização linguística de alguns termos, como “Serviço de Informação ao Cidadão (SIC)”, “transparência ativa”, “gestão transparente da informação”, dentre outros. Deste aspecto, ressalta-se a importância de glossários que ajudem os cidadãos a conhecer o vocabulário que perpassa a política de acesso à informação.

Levantados os conceitos que norteiam a presente pesquisa e considerando a informação pública como elemento imprescindível na relação Estado-sociedade, passa-se para a análise do caso em estudo, a política de acesso à informação brasileira, fazendo inicialmente um levantamento histórico acerca do acesso à informação no mundo e no Brasil, uma vez que é necessário compreender o contexto sociopolítico e seus condicionamentos históricos no qual é produzida.