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2 O ESTADO E O ACESSO À INFORMAÇÃO PÚBLICA

2.3 REGIME DE INFORMAÇÃO, POLÍTICA DE INFORMAÇÃO E TRANSPARÊNCIA

Para compreensão do acesso à informação pública, é necessário conhecer o contexto em que este se insere e quais são os fatores que influenciam a sua implementação em uma sociedade, isto é, precisa-se conhecer o regime de informação.

Frohmann (1995) o define como sistema ou rede, estável ou não, em que os fluxos de informação circulam por canais específicos, atendendo aos usuários/consumidores de informação. Para González de Gómez (2003, p. 3) regime de informação é o:

modo informacional dominante em uma formação social, o qual define quem são os sujeitos, as organizações, as regras e as autoridades informacionais e quais os meios e os recursos preferenciais de informação, os padrões de excelência e os modelos de sua organização, interação e distribuição, vigentes em certo tempo, lugar e circunstância conforme certas possibilidades culturais.

Para Braman (2004; 2011; apud MALIN, 2012), o regime de informação envolve três dimensões: o governo, com suas instituições formais, regras e práticas históricas das entidades; a governança, que abrange as instituições, regras e acordos formais e informais e práticas de atores estatais e não estatais; e a governabilidade, isto é, o ambiente cultural e social onde os modos de governança acontecem e se sustentam.

Assim, o regime de informação propõe modos de operacionalizar questões relativas ao tratamento da informação, como uma caixa de ferramentas, que abrange os seguintes elementos: a) estoques de informação; b) políticas; c) atores; d) ambiente social; e) recursos; f) meios físicos para o compartilhamento da informação; g) vocabulário comum; h) valores e metas definidos; i) transparência (SILVA; EIRÃO; CAVALCANTE, 2013).

Os estoques de informação representam um conjunto de itens de informação organizados ou não segundo um critério técnico, com conteúdo que seja de interesse de uma comunidade de receptores (BARRETO, 2000, apud SILVA; EIRÃO; CAVALCANTE, 2013).

As políticas, por sua vez, direcionam os papéis dos atores políticos no campo da informação. A informação pública constitui um bem público, e o Poder Público, enquanto possuidor e gestor, traça objetivos a serem alcançados quanto ao tratamento, organização, gestão e acesso da informação pública, isto é, elabora políticas públicas de informação.

Rua (2001) define políticas públicas como o conjunto de decisões políticas e ações estratégicas voltadas para um fim público sendo, portanto, imperativo. Neste mesmo sentido, para Sousa (2006, p.3), a expressão “políticas públicas” pode ser entendida, em qualquer área:

(...) como o conjunto de planos e programas de ação governamental voltados à intervenção no domínio social, por meio dos quais são traçadas as diretrizes e metas a serem fomentadas pelo Estado, sobretudo na implementação dos objetivos fundamentais dispostos na Constituição.

Contudo, as políticas públicas não devem ser compreendidas apenas como uma coleção de leis, mas, sobretudo, como um conjunto de estratégias, planos e operações estabelecidos pelo Poder Público com a finalidade de cumprir um objetivo definido.

Políticas públicas constituem uma temática oriunda da Ciência Política, e os avanços dos estudos desta área apontam para o reconhecimento que esta temática não é simplesmente uma construção de Governo, mas sim uma construção coletiva, que tem a sociedade como um todo atuando para a sua construção; bem como os estudos desmistificam que a política pública é apenas tradução de aspectos legais. Em outras palavras, políticas públicas são

construções de uma coletividade, que visam a garantia dos direitos sociais dos cidadãos que compõem uma sociedade (SOUSA, 2006).

Em uma sociedade verdadeiramente democrática, a sociedade civil participa ativamente na definição e, principalmente, no acompanhamento da implementação de políticas públicas. Ou seja, as políticas públicas têm a ver com o “processo de democratização e institucionalização, refletindo a interpretação entre estado e sociedade apontando para novos valores na cultura política relativos à publicização de decisões” (KERBAUY, 2006, p. 8).

Quanto à política pública de informação, Pinheiro (2011) conceitua como: “aquela que engloba leis e regulamentos que lidam com qualquer estágio da cadeia de produção da informação, desde a sua criação, seu processamento (natural ou artificial), armazenamento, transporte, distribuição, recuperação, uso e a sua destruição”.

Nesta direção, afirmam Magnani e Pinheiro (2011, p. 596): “a noção de política de informação está muito ligada à definição e posicionamento político no tratamento de qualquer questão que envolva processos e fluxos de informação na sociedade”.

Em consonância com este entendimento, Jardim (2012, p. 5) define política pública de informação governamental como:

o conjunto de premissas, decisões e ações – produzidas pelo Estado e inseridas nas agendas governamentais em nome do interesse social – que contemplam os diversos aspectos (administrativo, legal, científico, cultural, tecnológico, etc.) relativos à produção, uso e preservação da informação governamental.

O entendimento de Capurro e Hjorland (2007, p. 151) é de que a coisa mais importante na Ciência da Informação, no âmbito dos estudos sobre política de informação, “é considerar a informação como uma força constitutiva na sociedade”.

Quanto aos atores, elementos do regime de informação, são os sujeitos, sejam pessoas físicas ou jurídicas, individuais ou representados em grupos, que distribuídos em redes formais ou informais, compõem um contexto de informação, sejam eles produtores, gestores ou usuários da informação (SILVA; EIRÃO; CAVALCANTE, 2013).

No que se refere ao ambiente social como elemento do regime de informação, trata-se da situação social em que se encontram os cidadãos (SILVA; EIRÃO; CAVALCANTE, 2013).

Por recursos entende-se os serviços, mecanismos e instrumentos formais e informais de compartilhamento da informação, de modo que podem ser as ferramentas que permitem o

acesso, bem como os próprios estoques de informação, como acervos documentais e bases de dados.

No que se refere aos meios físicos para o compartilhamento da informação, destaque- se a importância da mudança tecnológica ocorrida no período da Segunda Guerra Mundial, que promoveu a utilização extensiva das tecnologias da informação e comunicação (TICs). De fato,

[...] a territorialidade dos regimes de informação tem forte ligação com a disponibilidade de artefatos tecnológicos permitindo a conectividade entre os estoques de informação e a disseminação de seus conteúdos informacionais; donde se conclui que quanto mais aparelhagem tecnológica, permitindo e possibilitando o rápido trânsito de informações relevantes (conectividade), tanto maior a predominância dos regimes (UNGER, 2006, p. 31).

No âmbito de um regime de informação, há uma tentativa de padronização do vocabulário, à medida que os canais tentam vulgarizar os jargões.

Quanto ao conceito de transparência das ações do Estado, por sua vez, este tem origem nos pensadores clássicos (Locke, Kant e Stuart Mill) e traz a noção de participação da sociedade na vida política, com respeito à garantia dos direitos individuais, sendo a informação, neste contexto, um bem de direito do cidadão. Para Jardim (1998, p.44 apud JARDIM 2012, p. 5), transparência informacional é:

Um território para o qual confluem práticas informacionais da sociedade civil e do Estado. Território “relacional”, por sua vez, construído e demarcado por essas mesmas práticas de gestão e uso social da informação governamental. Território que, por mecanismos diversos, favorece a

interação informacional (como prática socialmente emancipatória/

transformadora) de duas instâncias: a dos diversos agentes do aparelho de Estado e aquela do cidadão-incluído. Ampliam-se assim, por princípio, as possibilidades de controle democrático da sociedade política pela sociedade civil.

Em oposição ao conceito de transparência informacional, há o conceito de opacidade informacional, definido por Jardim (1998, p.45 apud JARDIM 2012, p. 5) como “ausência (total ou quase total) de interação informacional envolvendo o aparelho de Estado (via os seus agentes) e a sociedade civil”.

Traçados os conceitos básicos desta pesquisa, a seguir trata-se especificamente da política de acesso à informação.