• Nenhum resultado encontrado

As ações no campo da agricultura irrigada são regidas pela Lei 6.662, de 25 de junho de 1979, que dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação, cujo objetivo é promover o aproveitamento racional de recursos de água e solos para a implantação e o desenvolvimento da agricultura irrigada.

Como pressupostos básicos, verifica-se a preeminência da função social e a utilidade pública do uso da água e de solos irrigáveis; estímulo e maior segurança às atividades agropecuárias, prioritariamente nas regiões sujeitas a condições climáticas adversas; promoção de condições que possam elevar a produção e a produtividade agrícolas.

Com a implementação da Política Nacional de Irrigação, o governo federal definiu o papel do poder público como o de elaborar, financiar, executar, operar, fiscalizar e acompanhar projetos de irrigação.

No seu artigo 2º, parágrafo único, verifica-se que o regime de uso de águas e solos para irrigação obedecerá aos seguintes princípios:

I – utilização racional das águas e solos irrigáveis, atribuindo-se à utilização que assegurar maior benefício sócio-econômico;

II – planificação da utilização dos recursos hídricos e de solos de unidade hidrográfica, mediante integração com outros planos setoriais, visando ao seu múltiplo aproveitamento e à sua adequada distribuição;

III – adoção de normas especiais para a definição da prioridade de utilização da água, com a finalidade de atender às áreas sujeitas a fenômenos climáticos peculiares;

IV – definição dos deveres dos concessionários e usuários de água, objetivando à utilização racional dos sistemas de irrigação, segundo o interesse público e social;

V – observância das normas de prevenção de endemias rurais, e de salinização dos solos, bem como a preservação do meio ambiente e da boa qualidade das águas.

Um dos princípios estabelecidos em lei, no que se refere ao aproveitamento de águas e solos para irrigação, diz respeito à definição dos deveres dos concessionários e usuários de água, objetivando a utilização racional dos sistemas de irrigação, segundo os interesses público e social.

Os programas de irrigação são definidos no Capítulo II da PNI como sendo o conjunto de ações que têm por finalidade o desenvolvimento sócio- econômico de determinada área do meio rural, através da implantação da agricultura irrigada. Está estabelecido em lei que os programas de irrigação serão consolidados e coordenados pelas Superintendências de Desenvolvimento Regional.

Perante a Lei, os projetos de irrigação foram classificados em públicos e privados. Os projetos públicos foram caracterizados como os que possuem uma infra-estrutura de irrigação planejada, projetada, construída e operada, direta ou indiretamente, por uma entidade pública. Os projetos privados foram definidos por todos aqueles em que a infra-estrutura de irrigação fosse operada por particulares, podendo ou não receber financiamentos públicos.

De acordo com a Lei, ao poder executivo compete o estabelecimento das diretrizes da Política Nacional de Irrigação, além da competência para aprovar o Plano Nacional de Irrigação e baixar normas referentes a créditos e incentivos. Ainda de acordo com a Lei, art. 4º, compete ao Ministério do Interior elaborar o Plano Nacional de Irrigação; baixar normas, objetivando o aproveitamento dos recursos hídricos destinados à irrigação; aprovar os programas regionais e sub-regionais de irrigação; firmar acordos com entidades públicas ou privadas e organismos internacionais, visando à consecução dos objetivos da PNI; estabelecer critérios para planejamento, execução, operação, fiscalização e avaliação dos projetos de irrigação; incentivar os programas estaduais e municipais de irrigação e a implantação de projetos particulares; além de estabelecer normas e critérios para a fixação das tarifas de água e para o controle de sua aplicação.

Atualmente, cabe à Secretaria de Infra-estrutura Hídrica, do Ministério da Integração Nacional, a responsabilidade pela coordenação do Programa Nacional de Irrigação, ou seja, responsabilidade pelo conjunto de programas de irrigação que tem por finalidade o desenvolvimento da agricultura irrigada no País. Programa de irrigação é entendido como o conjunto de ações e projetos de irrigação que têm por finalidade o desenvolvimento socioeconômico de determinada região.

A Política Nacional de Irrigação foi regulamentada pelo Decreto 89.496, de março de 1984, que propiciou melhor entendimento acerca dos objetivos

propostos pela política, além de demonstrar o cenário sob o qual a política deve ser implementada.

No que se refere aos pressupostos/postulados, destacam-se as principais contribuições: esclarecimento sobre a forma de garantir estímulo e maior segurança às atividades agropecuárias, tornando necessário um conjunto de ações relativas a intervenções políticas e à ampliação da participação dos atores relacionados; e no que se refere ao postulado da promoção de condições que possam elevar a produção e a produtividade agrícola, o Decreto insere cinco meios pelos quais este postulado seja atendido, dentre eles a instituição de prêmios e a capacitação de pessoal técnico.

As atribuições do Ministério do Interior (atualmente do Ministério da Integração Nacional) são ampliadas e lhes são atribuídas competências para definir a forma de cobrança pelo uso da água, além de propor e promover a execução de estudos e de obras referentes ao aproveitamento racional das águas públicas, estabelecer normas de proteção das áreas irrigáveis, limitando, condicionando ou proibindo qualquer atividade que afete os recursos de água e solos e, ainda, o papel de fiscalizador, uma vez que cabe ao Ministério denunciar aos poderes públicos competentes todas as irregularidades.

O Decreto esclarece que o conjunto de ações do programa de irrigação compreende, dentre outros, pesquisa, assistência técnica, crédito, capacitação, estudo e implantação de projetos de irrigação, executadas pelos órgãos federais, estaduais e municipais. Esclarece, ainda, que os programas de irrigação serão elaborados em articulação com os órgãos federais, estaduais e municipais, compreendidos na área de atuação.

Conforme instituído no capítulo III do referido Decreto, o projeto de irrigação é conceituado como o conjunto de atividades de planejamento, execução, administração, operação e manutenção, visando ao aproveitamento agrícola e do solo em determinada área. Na implementação dos projetos, o governo deixa de ser apenas um colaborador (apoio técnico) do Estado e passar a ser co-responsável pelos projetos públicos.

Os projetos públicos têm como público alvo os agricultores, mas permitem inserção de pequenas empresas, desde que não ocupem, em conjunto, área superior a 20% do perímetro irrigado. Tem-se a preocupação de

garantir a predominância do interesse social. As formas de aquisição e amortização dos lotes também são definidas.

Para o Projeto Jaíba, por meio do Decreto nº 90.309 de 16/10/84, foi dilatado o limite de 20 para 50% do perímetro irrigado com participação de pequenas empresas e, ainda, as médias empresas foram contempladas como beneficiárias da irrigação pública, mas em caráter de excepcionalidade.

No que se refere ao uso da água, a utilização de águas públicas, superficiais ou subterrâneas, para irrigação, será supervisionada, coordenada e fiscalizada pelo Ministério competente, que deverá articular-se com os demais Ministérios, tendo em vista a adequada programação para o uso múltiplo das águas públicas.

Em 1986, por meio do Decreto nº 92.395, foi instituído o PRONI – Programa Nacional de Irrigação, com duração prevista de três anos. As funções conferidas ao Ministério do Interior foram integradas à competência do Ministro de Estado Extraordinário para Assuntos de Irrigação (hoje competem ao Ministério da Integração Nacional). O programa do governo destinou-se a executar a Política Nacional de Irrigação, ditando diretrizes para os projetos de irrigação do País, inclusive aqueles que já se encontravam em desenvolvimento, como é o caso do Projeto Jaíba.

Atualmente, encontra-se em tramitação o Projeto de Lei nº 6381/05, de autoria da Comissão Especial do Vale do São Francisco, que objetiva instituir a Nova Política Nacional de Irrigação. Entre os objetivos da proposta, que revoga a Lei 6.662/79, estão o aumento da produtividade dos solos, a geração de trabalho e renda, a contribuição para o abastecimento interno de alimentos, a prevenção dos processos de desertificação e a otimização do consumo de água pela agricultura.

O Deputado Sarney Filho (PV-MA), na qualidade de relator, ressaltou, em entrevista ao jornal da Câmara, publicado em 23 de maio de 2006, que a lei atual se encontra defasada por ter sido elaborada sob regime político, econômico e constitucional diferente do atual. Segundo o deputado, hoje, o Poder Executivo não tem força centralizadora nem os recursos financeiros para investir como ocorria na década de 1970 (RITTNER, 2005).

Apesar dessas considerações, a Lei 6.662/79 se mantém soberana até os dias atuais, sendo normatizadora das ações de irrigação no País.