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Mapa 1 – Mapa da sede e distrito de Sobral

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E SOCIOHISTÓRICA DO

3.3 A política nacional de saúde mental

A atual política de saúde mental brasileira é resultado da mobilização de usuários, familiares e trabalhadores da Saúde iniciada na década de 1980 com o objetivo de mudar a realidade dos manicômios onde viviam mais de 100 mil pessoas com transtornos mentais. (BRASIL, 2013, p. 21).

O objetivo da atual política de saúde mental, que tinha como referencial o modelo de desinstitucionalização adotado pelos países europeus, foi a substituição do tratamento de pacientes de saúde mental em hospitais, para o acompanhamento dos mesmos inseridos na comunidade, em seus próprios territórios.

Ainda na década de 1980, experiências municipais iniciaram a desinstitucionalização de moradores de manicômios criando serviços de atenção psicossocial para realizar a (re) inserção de usuários em seus territórios existenciais. Foram fechados hospitais psiquiátricos à medida que se expandiam serviços diversificados de cuidado tanto longitudinal quanto intensivo para os períodos de crise. A atenção aos portadores de transtornos mentais passa a ter como objetivo o pleno exercício de sua cidadania, e não somente o controle de sua sintomatologia. Isso implica em organizar serviços abertos, com a participação ativa dos usuários e formando redes com outras políticas públicas (educação, moradia, trabalho, cultura etc.). (BRASIL, 2013, p. 21).

Já em 1992, com a implantação da Portaria Nº 224, inicia-se a regulamentação dos serviços voltados à saúde mental para melhorar a assistência às pessoas em sofrimento psíquico que antes eram tratadas em manicômios, excluídas da sociedade. Assim passaram a oferecer um atendimento ambulatorial ou extra hospitalar mais ético, humanizado e Justo a essas pessoas nas Unidades Básicas de Saúde, nos Ambulatórios Especializados e também nos Núcleos/Centros de Atendimento Psicossocial.

Segundo esta portaria, os Núcleos/Centros de Atendimento Psicossocial, voltados à saúde mental, precisavam ser unidades locais/regionalizadas, que ofereceriam atendimentos de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar. Deve riam ser a porta de entrada da rede de serviços de ações voltadas à saúde mental para atender necessariamente pacientes referenciados por outros serviços de saúde, dos serviços de urgência psiquiátricos ou ainda egressos de internação hospitalar. Precisariam estar integrados a uma rede descentralizada e hierarquizada de cuidados em saúde mental, funcionando em horário comercial e assistidos por uma equipe multiprofissional, constituídos prioritariamente por médico psiquiatra, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais.

Na conjuntura da política nacional de saúde mental há, ainda, outras funções atribuídas ao CAPS: regulação das ações de saúde mental em sua área de atuação e suporte à rede básica – Unidades básicas de saúde (UBS) e Programa de Saúde da Família (PSF) -, tornando estes serviços articuladores estratégicos da atenção em saúde mental em um dado território. (BICHAFF, 2006, p.11).

A Lei Nº 10.216, de 06 de Abril de 2001 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, cuja finalidade maior é a reinserção social do paciente em seu meio, determina que os

casos de internação psiquiátrica devam ocorrer somente quando os recursos extra hospitalares se mostrarem insuficientes, e traz inicialmente à tona a necessidade de se implantar e implementar políticas públicas voltadas a saúde mental.

Critica também o modelo de tratamento asilar para os pacientes portadores de transtornos mentais diversos, a favor da reforma psiquiátrica e da criação de uma red e de cuidados de base territorial e comunitária. Segundo esta lei, esses pacientes devem ser tratados dentro do convívio social e familiar. Sendo assim, é de responsabilidade também da atenção primária à saúde, garantir a assistência e promover ações de saúde voltadas aos portadores de transtornos mentais, permitindo sua reinserção social e seu convívio familiar.

Além disso, é papel da atenção básica também perceber precocemente sinais de sofrimento psíquico, promover uma escuta qualificada, acompanhar pacientes na unidade básica de saúde e, se necessário, realizar o encaminhamento para a atenção especializada. Além do trabalho diário de promoção, prevenção e manutenção da saúde.

Mesmo sabendo que é de extrema importância, a inclusão da atenção básica de cuidados preventivos e precoces de saúde mental para evitar prejuízos na vida dos indivíduos, ainda se faz necessário o suporte de uma rede de cuidados que seja capaz de atender de forma eficaz essa clientela. É preciso romper com a lógica dos encaminhamentos sem a corresponsabilização, já que o paciente é de responsabilidade de todos os serviços de saúde.

Essa rede de cuidados é formada por alguns equipamentos substitutivos ao modelo manicomial: Centros de Atenção Psicossocial, os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência (Cecos), as Enfermarias de Saúde Mental em hospitais gerais, as oficinas de geração de renda, entre outros, além das unidades de saúde da família (BRASIL, 2013).

A Portaria/GM nº 336, de 2002, propõe o cadastramento dos CAPS e assegura subsídios financeiros para o seu funcionamento em nível local. Além disso, define os CAPS nas seguintes modalidades: CAPS I, CAPS II e CAPS III, CAPSi e CAPS ad que, prioritariamente devem se constituir como um serviço ambulatorial de atendimento diário de pacientes com transtornos mentais severos e persistentes, segundo a lógica de funcionamento de determinada área territorial e em forma de regime de tratamento intensivo, semi-intensivo e não intensivo.

“Além disso, a Lei federal 10.708, de 31 de Julho de 2003, instituiu o auxílio reabilitação psicossocial para pessoas portadoras de transtornos mentais egressos de internações [...] por meio do Programa de Volta para Casa” (BICHAFF, 2006, p. 24).

Seu objetivo central era promover a desinstitucionalização dos pacientes internados em hospitais psiquiátricos por um longo período de tempo.

Já a portaria Nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011 instituiu a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Nesta portaria são descritos as redes de atenção psicossocial que inclui a Atenção Básica em Saúde. Além da Atenção Psicossocial Especializada, Atenção de Urgência e Emergência; Atenção Residencial de Caráter Transitório; Atenção Hospitalar; Estratégias de Desinstitucionalização; e Reabilitação Psicossocial.

Especificamente, na atenção psicossocial especializada, muitos municípios contam com o apoio dos CAPS geral, CAPS álcool e drogas e CAPS infantil, além da internação psiquiátrica, oferecida por hospitais, em casos mais graves e, tanto a atenção básica quanto a especializada contam também, ou pelo menos deveriam contar, com uma rede de serviços e ações de promoção, prevenção e manutenção da saúde, além do cuidado prestado através do uso de medicamento sujeito ao controle especial encontrado nos diferentes níveis de atenção à saúde e regulamentados através da Portaria 344/98 que, ao ser formulada, propôs a regulamentação da prescrição da medicação de controle especial.

Através dessas portarias e decretos, foram se constituindo a rede de cuidados para atender a essa clientela através da implantação dos CAPS infantil e geral, além do apoio dado pela atenção primária ao oferecer suporte para esta demanda. Assim, a Estratégia Saúde da Família representa também um lócus de cuidado em saúde mental que adota a postura do processo de reforma psiquiátrica, junto ao CAPS. Esse trabalho precisa estar voltado para a intersetorialidade2, incluindo a parceria com a educação, a justiça e a assistência social.

Além disso, ficam bastante claros, ao analisar documentos e revisões de literatura, os papéis diferenciados da atenção básica e especializada, ao se tratar de pessoas em sofrimento psíquico. A atenção básica é a porta de entrada que acompanhará os transtornos mentais mais comuns e a atenção especializada se responsabilizará em atender casos mais graves e mais complexos. Está claro também a necessidade do compartilhamento de casos, tanto em um setor quanto no outro. Como já foi dito anteriormente, os profissionais precisam se responsabilizar por cada paciente que procura atendimento, minimizando a lógica dos encaminhamentos.

2

Intersetorialidade caracteriza-se pela articulação entre os diversos setores, por exemplo, saúde e assistência social, com vistas a atingir resultados mais efetivos do que alcançaria a atuação solitária de qualquer um dos setores (Ferro et a l., 2014).