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Nesse contexto em que existem falhas de mercado, ganha importância o papel de regulação e fiscalização da atividade econômica.

Nesse sentido, pode-se dizer que a atuação do Estado não é nada menos do que uma tentativa de ordenar na vida econômica e social, de arrumar a desordem inerente ao Liberalismo. Assim exerce o seu papel impondo condicionamentos à atividade econômica.

O artigo 174 da CF prevê, de forma genérica, a atuação estatal na economia como agente normativo e agente regulador. Este dispositivo abrange todas as entidades federadas, isto é, União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios.

A Constituição também traz, em outros artigos, normas relacionadas à atuação do Estado como agente normativo e regular, mas de modo específico para algumas atividades. Como exemplos podemos citar os artigos 178 a 180, 182, 187, 192, 197, 199, 202, 209, 218, §4º, 222, 223, 225, IV, V, §3º.

Guarde que a finalidade dessa atuação do Estado na economia é, portanto, exercitar as funções de fiscalização, incentivo e planejamento.

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A fiscalização envolve o chamado “poder de polícia” (polícia administrativa), isto é, atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais e coletivos . Por sua vez, o incentivo é a criação de atrativos para alguns segmentos ou agentes econômicos de “interesse público” e, por outro lado, criação de regras mais rígidas e burocráticas para segmentos ou agentes econômicos que gerem um alto “custo social”.

Já no que diz respeito ao planejamento, a atuação estatal deve ser “preventiva”, mediante pesquisa, controle e cálculos sobre as atividades econômicas. Aqui destacamos os “planos” econômicos e setoriais. De acordo com o caput do artigo 174, os planejamentos serão “determinantes” (impositivos, obrigatórios) para o setor público (órgãos públicos e empresas estatais) e “indicativo” (facultativo, orientador, incentivador) para a iniciativa privada.

Vale destacar que a CF/88 faz referência a alguns planos: artigos 174, §1º, 175, parágrafo único, III, 182, §1º, 214, 215, §3º. Existem ainda algumas leis que trazem planos como a Lei nº 9.478/97 (Política Energética Nacional), a Lei nº 9.472/97 (Lei Geral das Telecomunicações), a Lei Complementar nº 123/06 (Lei Geral da ME e da EPP), a Lei nº 9.427/96 (Energia Elétrica) e Lei nº 10.233/01 (Transportes).

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Os instrumentos de regulamentação são genericamente classificados em comando e controle (C&C) e incentivos financeiros (IF).

Os instrumentos de comando e controle estão associados a regras particulares implementadas por agências governamentais especialmente concebidas para estes fins, fazendo uso de regulamentação e sanções.

Por sua vez, os instrumentos de incentivos financeiros estão associados a transferências de recursos por meio de impostos e subsídios.

Importante destacar que aqui no Brasil, a partir da década de 1990, com as privatizações (desestatizações), esse tipo de atuação do Estado vem crescendo, ao mesmo tempo em que o Estado vai deixando para a iniciativa privada a exploração direta da economia e a prestação de alguns serviços públicos.

A verdade é que o Estado Brasileiro reduziu bruscamente suas participações como empresário (art. 173, CF) e como prestador de serviço público lucrativo (art. 175). Assim, para se manter “ativo” na economia, ele precisa atuar como agente normativo e regulador da economia, para não deixar ao “bel prazer” da iniciativa privada.

Assim, de um lado há a necessidade da existência de regulação de mercado, de outro, em função do processo de privatização, aparecem as agências reguladoras.

Segundo Marçal J. Filho, a agência reguladora é titular de competência regulatória, que “significa o poder de editar normas abstratas infra legais, adotar decisões discricionárias e compor conflitos num setor econômico.

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De acordo com André Ramos Tavares, são tarefas a serem desempenhadas pelas agências reguladoras:

- produção normativa sobre o desenvolvimento de determinada atividade econômica;

- fiscalização da prestação de serviços (especialmente os serviços públicos);

- aplicação de sanções em decorrência da fiscalização;

- dirimir conflitos entre particulares no âmbito da sua área de atuação. Importante destacar, que a atividade de fiscalização exercida pelas agências reguladoras decorre a atividade sancionatória, considerando que descumpridos os preceitos legais, regulamentares ou contratuais, o ente regulador pode aplicar sanções ao agente econômico faltoso. Para ilustrar essa importante tarefa das Agências Reguladoras, podemos citar alguns exemplos de aplicação de penalidades que tiveram grande repercussão na mídia, como a suspensão da comercialização de trezentos e um planos de trinta e oito operadoras de saúde pela Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS ou a suspensão imposta pela Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL da venda de novas linhas de três operadoras de telefonia móvel.

Entretanto, temos um sério problema relacionado às agências reguladoras: o risco da captura. Essa tal captura ocorre quando a agência passa a atuar com o propósito de atender a interesses específicos de um ou alguns determinados grupos, em detrimento do interesse público que justificou a sua criação.

Essa “intima relação” que pode se estabelecer entre o agente regulador e o agente regulado pode gerar normas que atendam aos interesses de uma minoria detentora de poder econômico (empresa ou setor regulado), em prejuízo da sociedade.

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Assim, para mitigar o risco da captura, faz-se necessário um efetivo controle sobre tais entidades a ser exercido tanto pelo próprio Estado quanto pela própria sociedade.

35) (CESPE/TCE-PA/AUDITOR/2016) Com relação à economia do setor público, julgue o item que se segue.

Cabe ao Estado regulador do sistema econômico estabelecer e exigir o cumprimento de normas, assegurar a conduta competitiva e regular monopólios naturais.

Comentários

Em geral cabe ao Estado regulador o papel equivalente ao de um juiz de uma partida de futebol. Cabe a ele definir as regras do jogo e fiscalizar/apitar para que elas sejam cumpridas.

No caso dos monopólios naturais, que tem justificativa econômica para sua existência, a atuação do Estado regulador também se faz necessária para evitar problemas alocativos ou distributivos.

36) (ESAF/ANAC/ESPECIALISTA/2016)

As formas de regulação da

propriedade privada pelo Estado possuem falhas e benefícios potenciais associados. Algumas falhas potenciais desses processos são listadas a seguir. Assinale a opção que é uma falha potencial do processo de regulação executado por agência independente.

a) Monopólio estatal.

b) Captura das empresas públicas por políticos e sindicatos.

c) Orientação dos gestores públicos por metas ambíguas e

inconsistentes.

d) Coordenação débil entre diferentes empresas públicas. e) Captura dos reguladores pelas empresas reguladas.

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Comentários

Sem dúvida, o examinador refere-se ao risco da captura da agência reguladora por parte do regulado, que pode levar a agência a atuar com o propósito de atender a interesses específicos de um ou alguns determinados grupos, em detrimento do interesse público que justificou a sua criação.