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Políticas das línguas de imigração analisadas: documentos e estudos

Capítulo 4 – CONTEXTOS DE ANÁLISE: HUNSRÜCKISCH E TALIAN

4.2 Políticas das línguas de imigração analisadas: documentos e estudos

Nossa formulação envolve considerar que a tarefa da Política Linguística vai além das tecnicidades que a têm caracterizado. Os conceitos e as aspirações da disciplina, voltados à aplicação imediata, à gestão das línguas e à apresentação de soluções técnicas para problemas político-linguísticos, têm sido pensados apenas em relação ao método de inserir as políticas linguísticas na engrenagem estatal das políticas públicas. Tal engrenagem está sujeita ao jogo parlamentar da formação de consensos, os quais foram possíveis apenas enquanto o pacto de classes mostrou-se necessário ao exercício do poder.

Em tese, uma teoria permitiria reconhecer numerosos elementos constitutivos do ambiente sociolinguístico e do comportamento das línguas diante de desafios político-linguísticos que lhes são pertinentes muito antes da sua ocorrência ter sido demonstrada empiricamente, para que não passemos a ação às cegas, a espera do resultado de intervenções nas línguas em séries históricas longas, que é quando se percebem as consequências das políticas linguísticas. Cientes de que documentos que concebem políticas linguísticas enquanto soluções jurídicas imprimem na ação proposta certo modo de conceber as línguas, a escrita e a normatização, é necessário primeiramente conhecer essas concepções na forma material com que se manifestam. Uma teoria, que só se formula a partir da análise e da compreensão da realidade, é construída somente através da interpretação, enquanto compreensão adequada, ainda que possivelmente provisória, podendo ajudar a prever as consequências de certo planejamento linguístico. Nesse sentido, pensar criticamente é tão necessário quanto

obter mais dados e informações sobre as línguas, pois os fenômenos político-linguísticos se desenvolvem sobre um encadeamento de fatores, de natureza e de peso variáveis, em constante interação.

A concepção de “crítica” a que nos referimos implica tornar conscientes os fundamentos, os condicionamentos e os limites das políticas linguísticas em contextos de imigração (ver Netto, 2012, p. 18), muito mais do que ter um posicionamento frente ao conhecimento existente para refutá-lo ou confirmá-lo. A concepção de “teoria” não significa descrever detalhadamente nosso objeto de estudos para construir modelos explicativos (a partir de relações de causa e consequência). Tampouco estamos propondo que continuemos a tentar solucionar problemas no âmbito discursivo, para estabelecer consensos ao nível aparente. Devemos entender que “teoria” requer, a partir de uma abordagem dialética, capturar a estrutura dinâmica das políticas linguísticas.

Passaremos agora à apresentação dos documentos e estudos que foram analisados enquanto materializações das Políticas para a Diversidade Linguística do Hunsrückisch e do Talian, listados a seguir.

A) Leis99 municipais de cooficialização do Talian e do Hunsrückisch:

Antônio Carlos, Santa Catarina (Hunsrückisch) - Lei nº132, de 21 de setembro de 2010;

Serafina Corrêa, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 2615, de 13 de novembro de 2009;

Flores da Cunha, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 3180, de 27 de abril de 2015;

Nova Erechim, Santa Catarina (Talian) - Lei nº 1783, de 11 de agosto de 2015;

Nova Roma do Sul, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 1310, de 16 de outubro de 2015;

Guabiju, Rio Grande do Sul - Lei nº 1315, de 20 de abril de 2016;

Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 6109, de 07 de junho de 2016;

99 O acesso às leis foi possibilitado pelo banco de dados do site Leis Municipais <https://leismunicipais.com.br/ sistema-leis>), que agrega documentos e leis de prefeituras e câmaras de vereadores de municípios brasileiros.

Fagundes Varela, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 1922, de 10 de junho de 2016;

Antonio Prado, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 3017, de 28 de setembro de 2016;

Caxias do Sul, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 8208, de 09 de outubro de 2017;

Camargo, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 1798, de 31 de outubro de 2017 e

Ivorá, Rio Grande do Sul (Talian) - Lei nº 1307, de 23 de março de 2018.

B) Inventário do Talian e do Hunsrückisch:

“Relatório final do projeto piloto “Inventário do Talian”” (INSTITUTO VÊNETO et al, 2010).

“Hunsrückisch: inventário de uma língua do Brasil” (ALTENHOFEN; MORELLO et al., 2018).

C) Outros documentos:

Lei nº 1.001, de 21 de setembro de 2015, pela qual São Pedro de Alcântara declara o Hunsrückisch patrimônio histórico e cultural do município.

Decreto Legislativo nº 005, de 5 de fevereiro de 2009, que declara que o Hunsrückisch seja ensinado nas escolas do município de Santa Maria do Herval.

Lei nº 13.178, de 10 de junho de 2009, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, que declara integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado o Talian.

Lei nº 14.951, de 11 de novembro de 2009, do Governo do Estado de Santa Catarina, que declara integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado o Talian.

Decreto nº 7.387, de 09 de dezembro de 2010, que institui o Inventário Nacional da Diversidade Linguística e dá outras providências.

Certificado do Ministério da Cultura - Governo Federal, de 10 de novembro de 2014, o qual confere o título de Referência Cultural Brasileira ao Talian.

Lei Nº. 17.778, de 25 de setembro de 2019, do Governo do Estado de Santa Catarina, que reconhece o Município de Nova Erechim como a Capital Catarinense do Talian.

Optamos por analisar essas políticas de línguas de imigração que, até a data do fechamento desta pesquisa, haviam sido inventariadas, conforme os critérios da Política do Inventário Nacional da Diversidade Linguística, pois são produtos da concepção de políticas linguísticas como políticas públicas.

4.3 Tópicos de análise e categorização dos dados