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3. COMUNIDADES QUILOMBOLAS BRASILEIRAS

3.1. POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA JOVENS E ADULTOS QUILOMBOLAS

De acordo com dados do Censo do IBGE 2010 (BRASIL, 2013, p. 55), a taxa de analfabetismo absoluto das pessoas acima de 15 anos é de 7,1% para brancos e de 16,9% para pessoas negras. “O analfabetismo funcional (menos de quatro anos de estudo) é de 32,3% para a população negra e atinge 18,4% da população branca”. Estes dados demonstram a exclusão educacional de pessoas negras no Brasil. Para superação desse gigantesco desafio o governo brasileiro propôs as “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana que regulamentam a Lei nº 10.639/200316” e estabelecem a obrigatoriedade de inclusão da

temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da rede de educação brasileira, no intuito de ampliar o acesso e a permanência desta população na escola de maneira a garantir o desenvolvimento social, cultural, econômico, individual e coletivo.

Neste sentido, o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Idem, 2013, p. 56) prevê, para a educação de jovens e adultos, ações primordiais prioritárias, tais como: (a) ampliação e cobertura de EJA em todos os sistemas de ensino e modalidades, para expansão do acesso à educação da população afrodescendente; (b) assegurar à EJA vinculação com o mundo do trabalho fomentando ações e projetos que pautem a multiplicidade do tripé espaço-tempo-concepção e o respeito à Educação das Relações Étnico-Raciais; (c) inclusão do quesito cor/raça nos diagnósticos e programa de EJA; (d) implementação de ações de pesquisa, desenvolvimento e aquisição de materiais didático-pedagógicos que respeitem, valorizem e promovam a diversidade, a fim de

subsidiar práticas pedagógicas adequadas à Educação das Relações Étnico-Raciais; (e) inclusão na formação de educadores de EJA a temática da promoção da igualdade étnico- racial e o combate ao racismo; (f) estimular as organizações parceiras formadoras de EJA, para articulação com organizações do movimento negro local, com experiência na formação de professores.

No que tange ao direito desta população à educação profissional e tecnológica, a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (SETEC/MEC) se comprometeu a contribuir com sua rede de institutos federais pesquisando e publicando materiais de referência para educadores e materiais didáticos para os estudantes na temática da Educação das Relações Étnico-Raciais. Outras ações estão previstas, nomeadamente (Idem, 2013): (a) incremento de mecanismos de financiamento de forma a possibilitar a expansão do atendimento, principalmente para jovens afrodescendentes; (b) garantir a implantação de núcleos destinados ao monitoramento, estudo e desenvolvimento da Educação das Relações Étnico-Raciais e Políticas de Ações Afirmativas em todas as unidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica; (c) manter diálogo permanente entre os Fóruns de Educação e Diversidade Étnico-Racial, os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABIs), Lei nº 11.645/200817 que incluem a educação indígena, e as instituições da Rede de Educação Profissional e Tecnológica; (d) os Institutos Federais, Fundações Estaduais de Educação Profissional e instituições afins deverão implementar programas de pós-graduação e de formação continuada em Educação das Relações Étnico-Raciais para os servidores e educadores da região de sua abrangência.

O Plano Nacional também prevê a Educação Escolar Quilombola (Idem, 2013), que deve levar em consideração, na educação formal, as temáticas da memória coletiva, das línguas remanescentes, dos marcos civilizatórios, das práticas culturais, das tecnologias e formas de produção do trabalho, dos acervos e repertórios orais, dos festejos, usos e tradições e da territorialidade. As ações fundamentais para a educação em comunidades remanescentes de quilombos são: (a) capacitação de gestores locais; (b) mapeamento das condições estruturais e práticas pedagógicas das escolas localizadas nas comunidades quilombolas; (c) garantia do direito à educação básica para crianças, adolescentes e modalidades de EJA; (d) melhoria da rede física escolar; (e) formação continuada de educadores(as) da educação básica que atuam em comunidades quilombolas; (f) editar e distribuir materiais didáticos específicos; (g) produzir materiais específicos para EJA em comunidades quilombolas,

17 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em dezembro/2017.

transformando o espaço escolar em fator de integração comunitária; (i) incentivar a relação escola/comunidade para maior interação da população com a educação; (g) ampliar a oferta de ensino médio para possibilitar a formação de gestores e profissionais da educação das próprias comunidades.

O Decreto Presidencial nº 6.040/2007 18 instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Para fins deste Decreto, povos e comunidades tradicionais são considerados (BRASIL, 2007) “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica” e utilizam conhecimentos transmitidos pela tradição. Territórios tradicionais são considerados “os espaços necessários à reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais [e] utilizados de forma permanente ou temporária” e se referem aos povos indígenas e quilombolas; e desenvolvimento sustentável se refere ao “uso equilibrado dos recursos naturais, voltado para a melhoria da qualidade de vida da presente geração, garantindo as mesmas possibilidades para as gerações futuras”. No entanto, a construção de um plano de ação para implementação de uma política de desenvolvimento sustentável específica para esses povos com a sua participação é uma lacuna a ser preenchida.

Souza & Souza (2014, p. 199) ressaltam a importância da efetiva participação da população negra no processo de luta por seus direitos para provocar mudanças tanto no âmbito legal, “no que se refere ao reconhecimento dos direitos, como no aspecto social, cultural e educacional buscando a inclusão e a valorização do negro nos diversos espaços deste imenso território, sendo o diálogo fundamental neste processo”. Será com a participação efetiva da população negra na valorização de sua história que a sociedade brasileira poderá consolidar a sua rica diversidade.