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5.5 Garantias do direito à permanência escolar

5.5.1 Políticas públicas de apoio à permanência

Embora a Constituição de 1988 garanta em seu texto o acesso e permanência escolar, as políticas brasileiras de apoio à permanência na escola, de maneira geral, só tomaram corpo em 2001 durante o governo Fernando Henrique Cardoso, quando se instituiu o programa Bolsa Escola, criado pela Lei n°10.219, que oferecia auxílio financeiro às famílias de baixa renda que garantissem que seus filhos com idades entre 6 e 15 anos frequentassem a escola.

Na Educação Profissional, em particular, a política de apoio à permanência escolar foi regulamentada somente em 2010, pelo Decreto 7.234, de 19 de julho, que dispôs sobre o Plano Nacional de Assistência Estudantil. Embora o Decreto, em seu artigo 3o, parágrafo 1o, estabeleça que o plano deve desenvolver ações em diversas áreas, tais como moradia estudantil, alimentação, transporte, atenção à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche, apoio pedagógico e acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação, as instituições pesquisadas limitam-se, nos locais pesquisados, a aplicar o Plano somente como política de transferência de renda aos estudantes.

Observou-se que a maioria dos estudantes (90% dos permanecentes e 72% dos que deixaram de frequentar os cursos) desconhece que as Instituições possuem uma política de apoio à permanência, amparada no Plano Nacional de Assistência estudantil.

Entre os que conhecem ações de apoio e permanecem na instituição, apenas 4% sinalizaram a assistência estudantil, 1,5% citaram as bolsas de pesquisa e extensão e os demais sinalizaram outras ações/práticas tais como: a própria pesquisa que foi aplicada, Pronatec, motivação e disponibilidade dos professores, trancamento, tempo para conclusão, aulas práticas, ou não citaram a ação.

Entre os motivadores para a permanência escolar, 58% dos permanecentes citaram que auxílios financeiros da Instituição e/ou do Governo não possuem nenhuma importância em suas decisões de permanecer nos cursos. Apenas 10% dos permanecentes a consideraram decisiva para continuar o curso.

Os gráficos 18 e 19 apresentam o nível de reconhecimento da existência de políticas de apoio à permanência por parte dos alunos permanecentes e dos que deixaram de frequentar os cursos. 85,9% 12,2% 1,1% 0,4% 0,4% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0% 1 Não

Sim, Assistência Estudantil Sim, auxílio transporte Sim, bolsa família Sim, bolsa pesquisa

Gráfico 18 – Permanecentes que recebiam benefícios dos programas de apoio à permanência. Fonte: autoria própria (2014), baseado em dados dos questionários.

80% 20% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 1 Não

Sim, Assistência Estudantil

Gráfico 19 – Sujeitos que deixaram de frequentar e que recebiam benefícios dos programas de apoio à permanência quando estudavam na instituição.

Fonte: autoria própria (2014), baseado em dados dos questionários .

Dos permanecentes, 14,1% recebiam algum beneficio de apoio à permanência escolar. O que chama a atenção é que de todos os estudantes permanecentes que recebiam algum beneficio, apenas 26% deles sinalizaram conhecer alguma ação ou política de apoio à

permanência, ou seja, nem os próprios beneficiados pelas ações de apoio as reconhecem como práticas de incentivo à permanência. Isto é, 74% dos estudantes permanecentes que recebem apoio estudantil não o compreendem como um benefício de apoio à permanência escolar.

Entre os que deixaram de frequentar, 20% deles recebiam a assistência estudantil, conforme dados do gráfico 19. Destaca-se que apenas 40% dos estudantes que deixaram de frequentar e que recebiam o beneficio disseram que existia na instituição auxilio a permanência escolar. Ou seja, 60% dos estudantes que abandonaram os cursos e recebiam auxilio estudantil, não compreendiam esse beneficio como uma ação de política pública para apoiar sua permanência escolar.

Para os permanecentes, apenas um citou a questão financeira envolvida na escolha do curso, como perspectiva futura, como segue no relato:

P159 – Acredito, pelo que vejo, muitos entram nos cursos apenas pensando no retorno financeiro, mas isso muda e o retorno financeiro que esse sacrificio todo dará pode não valer a pena após o curso ser concluído.

Dos que abandonaram os cursos, 15% daqueles que participaram da pesquisa citaram a dificuldade financeira como o principal motivador do abandono e entre os permanecentes que já pensaram em abandonar o curso, nenhum citou como motivador os problemas financeiros. Nos relatos apontados pelos pesquisados que abandonaram o curso, há questões de problemas financeiros, porém a mesma também envolve outros motivadores, como se observa nos relatos transcritos abaixo:

A14 – Ai não ganhava muito sabe ai a gente pagava o aluguel ai não tinha como compra meus material... ai não tinha como eu fazer meus exercícios. [...]

Pesquisadora – Qual foi o principal motivo teu pra você abandonar, pra você desistir do curso?

A14 – O principal motivo foi porque eu não tinha condições... questão financeira e...(neste momento ela começa chorar e aponta para o quarto onde estava o marido) daí sei lá eu não conseguia, não podia ajudar meu marido, não tinha como, eu queria terminar mas não tinha nada ao meu favor entendeu, então meu abandono foi porque eu não tinha condições e eu precisava ajudar o meu marido né.. ou eu saia trabalha pra ajudar a pagar o aluguel pra sobreviver ou eu desistia do meu casamento e ia tentar a sorte.

Sobre o conhecimento do Programa à permanência escolar, 28% dos desistentes alegaram saber que existia esse apoio e destes que declararam conhecer ações, 57% citaram a assistência estudantil; os demais citaram bolsa pesquisa, Pronatec e contato como os que

Verifica-se, nos relatos transcritos abaixo, de maneira geral, a ausência de conhecimento dos que deixaram de frequentar sobre as ações de permanência, bem como suas avaliações acerca destas.

Pesquisadora – Tu chegou a receber informação quando entrou lá que possui chamada assistência estudantil... que é uma ajuda financeira para os alunos?

A14 – Não, não, não cheguei a receber o que eu soube lá que até tentei que um dia eu fui atrás pra ver é que eles podiam conseguir vaga pra gente trabalhar lá dentro né, daí tu trabalhava e pelo menos te davam, não é um salário, mas parece que eles pagavam uma porcentagem.

Pesquisadora – Pesquisa, é bolsa pesquisa?

A14 – Isso, daí tu conseguia pagar as coisas né, que nem eu conseguia material no caso para estudar.

[...]

Pesquisadora – Alguém da instituição tentou entrar em contato com você depois que tu desistiu, pra explicar pra você que existia esse beneficio, pra entender porque tu desistiu?

A14 – não, na verdade só me ligaram pra perguntar se eu ia continuar ou ia desistir, daí eu falei que não tinha condições de ir, daí eles me falaram pra eu ir lá no colégio, eu não queria ir no colégio porque eu já chorava, eu ia lá e ia chorar...eu chorava muito em casa que eu não queria desistir também sabe e a gente discutia muito por causa disso, daí eu não fui , ta desistindo daí eu falei to.

Pesquisadora – então ligaram pra você só pra saber se tu iria ou não? A14 – isso. daí eu desisti.

Pesquisadora – Programa de apoio à permanência vocês nunca perceberam nenhum. Egressa Concluinte – Não, nunca tive. Eu não tive

Pesquisadora – Da questão... da Assistência estudantil, vocês sabem o que é? Egressa Concluinte – Não.

Pesquisadora – Apoio financeiro? Egressa Concluinte – Ah esse tinha.

Pesquisadora – Vocês acham que esse apoio auxilia na permanência?

Egressa Concluinte – Eu não sei se auxilia na permanência, mas ajuda. Ajuda no combustível, tinha uns menino ali da minha sala que conseguiram, só que não vai ficar por isso.

Pesquisadora – E como você avalia essa ajuda de custo?

A16 – Como eu te comentei né... é... pra mim quando era aquele valor maior, pra mim foi muito bom, porque eu tinha acabado de me separa, me ajudava muito né. Porque senão realmente, naquela época já teria que ter desistido.

Pesquisadora – como tu avalia o auxilio estudantil?

A15 – olha pra mim é 100% ... porque querendo ou não é um dinheiro que você tem pra de uma maneira gasolina, transporte, é um dinheiro que meu enquanto você estaria pagando uma faculdade, você tá recebendo uma faculdade... renomeada... Querendo ou não ele consegue... igual te gente que diz meu deus, eu venho lá de Araquari, mas só continuo vindo porque eu tenho o auxilio estudantil pra pagar a gasolina senão não vinha. A minha irmã ela faz, ela começou a fazer gestão hospitalar aqui no instituto, ela também recebe, ela vem de Guaratuba, todo dia, ela e

duas amigas também senão fosse o auxilio estudantil não tinha como... porque querendo ou não se for pagar faz falta. Então... igual você chegar e falar pra ela hoje vou cortar o teu auxilio estudantil, ela vai pensar duas vezes se fica ou não fica... até se ficar o auxilio estudantil ela mesmo diz “eu nunca vou sair de lá, querendo ou não é de graça.... o único esforço que eu tenho é vir de lá, aqui que é um esforço que qualquer um tem”, então não o auxilio estudantil contribui muito.

Pesquisadora – é um incentivo?

A15 – acho que é o maior incentivo, depois vem o espaço, professores...

Embora a política de assistência estudantil seja um avanço em relação às ações de apoio à permanência escolar, observa-se que a mesma é pouco conhecida e identificada para este fim.

Mais significativo ainda é que a questão financeira é pouco sinalizada na pesquisa como um dos principais motivadores do abandono escolar ou um facilitador para permanência na escola.