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5.1 Os motivadores para permanência ou abandono escolar em números

5.2.1 Princípios da Instituição

Diante dos dados, observou-se como o prestígio da instituição, a qualidade do ensino, a oferta de educação pública, entre outros princípios que norteiam a instituição fortalecem a permanência ou favorecem o abandono dos estudantes.

A instituição pesquisada é pública, mantida pelo governo federal e oferece dois cursos técnicos na área da indústria em cada cidade pesquisada. Observa-se entre os motivadores de permanência (tabelas 10 a 12) a valorização dos estudantes pelo prestígio da instituição e do curso, pois para 58% dos permanecentes o prestígio do curso que faz é decisivo para sua permanência escolar, em especial para Jaraguá do Sul, em que 60% dos permanecentes nos cursos da cidade sinalizaram este ponto como decisivo para permanência escolar.

Sobre os motivadores pela busca por esta instituição observa-se que os princípios da mesma são os principais motivadores pela escolha da instituição, como se observa nos gráficos 8 e 9, tanto pelos alunos permanecentes como por aqueles que deixaram de frequentar os cursos. 65% 39% 13% 9% 9% 9% 0% 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 1

Por ter ensino de qualidade Por ser gratuito

Proximidade com a residência e/ou trabalho

Oferece horário mais adequado Pelo acesso mais rápido ao mercado Por influência dos parentes/amigos A única que oferece o curso pretendido Outros

Gráfico 08 – Motivadores pela escolha da Instituição pelos que deixaram de frequentar18 Fonte: autoria própria (2014), baseado em dados dos questionários e entrevistas.

46,7% 37,8% 5,9% 6,7% 4,4% 2,2% 2,2% 0% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0% 50,0% 1

Por ter ensino de qualidade Por ser gratuito

Proximidade com a residência e/ou trabalho

Oferece horário mais adequado Pelo acesso mais rápido ao mercado Por influência dos parentes/amigos A única que oferece o curso pretendido

Outros

Gráfico 09 – Motivadores pela escolha da Instituição pelos permanecentes. Fonte: autoria própria (2014), baseado em dados dos questionários.

Observa-se nos relatos transcritos a relação entre qualidade e gratuidade como premissas pela escolha da instituição:

A20 – Por causa da qualidade do ensino né, todo mundo que estudô lá falou que era bom, eu tenho amigos meus que se formaram ali já, falaram que era bom a escola e é gratuito né... mais fácil.

A25 – Escolhi pelo prestígio, por ser uma instituição reconhecida, de renome.

A19 - daí eu escolhi o XX (instituição) porque era uma instituição federal e era bem conhecida e porque era gratuito e eu não ia ter o problema de às vezes empacar na mensalidade.

A gratuidade é também um dos fatores que justificam a permanência escolar:

Questão – Já pensou em desistir? Por quê?

P202 – Por não ter tempo para a família, mas é um investimento para o bem da família no futuro. Um emprego melhor. Estar bem no mercado de trabalho. Isso que me faz seguir em frente. É a oportunidade de ser gratuito pesava bastante quando pensava em desistir. Não tenho condições de pagar um curso desses em outra instituição. Para mim é uma grande oportunidade estudar no XX (instituição).

Ao mesmo tempo, de forma contraditória, a gratuidade também pode, pelo relato de uma estudante que deixou de frequentar o curso, facilitar a decisão do abandono escolar:

Pesquisadora – Por que você acha que acontece tanta desistência nesses cursos? Tanto abandono?

A16 – Infelizmente porque a gente até escuta né muita pessoas dizem assim “ah é de graça né! Então não vô perdê nada”, porque às vezes você tem, quando é particular, você tem que pagá uma multa, né, e tal [...]

A predominância da qualidade de ensino ofertada pela instituição como fator de escolha tanto dos permanecentes quanto dos que deixaram de frequentar é evidente nas respostas. Entretanto, o que é qualidade de ensino se os dados e falas dos educandos sinalizam o fracasso escolar e altos índices de abandono, em especial nos primeiros módulos?

A Educação Profissional que iniciou sua história no país voltada para os marginalizados e menos favorecidos, na educação pública, em especial na rede federal, foi se construindo historicamente e modificando o público que a ela acessava. Principalmente no ensino técnico integrado, a elitização tomou esses espaços, buscando um ensino “forte” que possibilitasse o acesso à universidade pública.

A questão de instituição “com ensino forte” se fortaleceu histórica e culturalmente no país, sendo característica de qualidade, pois ao dialogar com servidores sobre os altos índices de abandono nos primeiros módulos, percebe-se como está naturalizada a questão do abandono dos ingressantes e instituída a identidade de escola “forte”, que se verifica através de falas como:

Servidor 1 – “o primeiro módulo é o filtro”

Servidor 2 – “o aluno percebe que o ensino é forte, que tem que se dedicar e

abandona no início”.

Servidor 3 – “essa questão de evasão é nacional” Essa visão também é percebida por uma ex-estudante:

A22 - Tinha um professor lá [...] que dizia assim ó que “Ah nois somo campeão em desistência!”. Isso é um troféu então pra eles? E eu acho que não deveria se assim, dizê nois somo campeão em formar profissionais...

ocorre em todo Brasil e, principalmente, que o mesmo é culpa do aluno, além de fortalecer a visão social de competitividade, na qual é natural eliminar o outro e de que a Instituição sendo pública e forte possibilita que “todos” tenham acesso, mas só os “bons e com potencial” permanecem.

Arroyo (1992, p. 46) aponta que nas ultimas décadas se instalou o ensino em que “colégio e professor que pretendam manter seu status no mercado têm de ser exigentes, preservar o alto nível, eliminar os medíocres, selecionar os ‘cobras’ e assim valorizar sua disciplina, sua área e seu prestígio”. Embora o autor destaque que essa é uma visão presente sobretudo nas escola privadas percebe-se, pelo discurso de alguns servidores, a mesma também no ensino público Federal.

Neste sentido, “a escola é gratuita, os exames são objetivos e todos podem tentar a sorte. O quadro formal da igualdade de oportunidades e do mérito foi globalmente instalado em um grande número de países”. Porém, isso não garante uma escola igualitária e universal, mas sim fortalece a competitividade e a meritocracia da justiça escolar. (DUBET, 2004, p.542).

Observa-se, também, no relato dos próprios estudantes a visão meritocrática e de escola forte:

A19 – Eu até incentivei bastante gente que eu conheço a estudar aqui mesmo tendo dificuldade financeira.

Pesquisadora – fez propaganda?

A19 – fiz, fiz porque tinha bastante facilidade, que a única coisa que eu falei que era difícil mesmo é tu estudar, tem que estudar.

P136 – A Instituição é maravilhosa, os professores, os laboratórios também. Gosto de estudar aqui, acredito que as pessoas que desistem são porque não se esforçam o quanto a instituição proporciona, pois o ensino é bom.

Observa-se, também, além da fala dos servidores, que os próprios estudantes naturalizam como sendo sua a culpa (do aluno) por não ter êxito escolar:

A25 – Ah... é difícil, depende de cada caso, mas acho que os alunos não se esforçam muito, tem que estudar, não é fácil e acho que a maioria não se dedica, sabe. Sei que tem o cansaço e que trabalham, mas falta um pouco de dedicação.

P153 – Dificuldade da minha parte em aprender as materias, por pouca experiência –

Justificativa de um estudante permanecente por já ter pensado em deixar de frequentar do curso.

Corrobora-se com Dubet (2004, p. 551) de que “uma escola ‘meritocrática’ de massas cria necessariamente vencidos, alunos fracassados, alunos menos bons e menos dignos. ‘O sucesso para todos’ é um slogan vazio, por contradizer os princípios meritocráticos sobre os quais a escola se funda”.

Essa visão fortalece a banalização da exclusão, pois defende que o bom é para poucos, para os que têm potenciais. Entende-se, no entanto, que qualidade de educação é mais do que “educação forte” no sentido liberal, sendo uma escola justa como a descrita por Dubet (2004, p.552):

Uma escola justa preservaria melhor a dignidade e a auto-estima dos que não fossem tão bem-sucedidos como se esperava. Isso supõe dois grandes tipos de ação. O primeiro exige uma verdadeira revalorização do ensino técnico e profissional e um interesse maior pelos gostos dos alunos e por seus talentos. O segundo tipo de ação é a afirmação do papel educativo da escola. Uma escola de massas confrontada com escolaridades longas e com o acolhimento de toda uma juventude não pode mais apoiar-se na ficção segundo a qual a instrução é suficiente para educar os alunos. Isso só foi possível numa escola reservada aos bons alunos, aos alunos bem-nascidos e aos “adeptos” dos valores da escola. É preciso então perguntar-se em que a escola pode ser um espaço de educação e de cultura na instrução e mais além, nas atividades culturais e esportivas, na organização da própria vida escolar, no atendimento aos alunos fora da classe.

Ou seja, uma escola para todos em busca de educar todos, fundada em concepções críticas e transformadoras da desigualdade social. Neste sentido, aponta-se a necessidade de refletir sobre como possibilitar uma inclusão não excludente diante desta lógica social, política e econômica e sobre o que pode ser feito para que essas mudanças ocorram, procurando romper com a naturalização do abandono, interpretado como algo normal e presente em toda rede federal.