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4.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL E DE

4.3.1 Políticas públicas na área da educação

Inicialmente, volta-se a afirmar o que já elucidado no capítulo anterior ao apontar a desigualdade de raça e de gênero. A educação é, além de um direito fundamental, uma área relevante quanto às possibilidades e oportunidades de ascensão social (GOMES, 2012). Conforme mencionado por Jaccoud (2008, p. 151):

A esfera educacional é um espaço estratégico para a construção de uma sociedade mais dinâmica, igualitária e integrada. Além da imprescindível função formativa, a educação, como geradora de oportunidades, constitui-se numa porta de entrada privilegiada ao mercado de trabalho e representa instrumento poderoso de ascensão social.

Nessa perspectiva, as políticas públicas na área da educação, aqui traçadas, estão enfatizadas na ascensão social que se dá por intermédio da promoção da igualdade, não se negando, entretanto, a existência de outras políticas públicas, também significativas. Nesse aspecto, é a partir do início do século XXI que surgem as políticas públicas mais específicas à promoção da igualdade racial e de gênero na área da educação, ressaltando-se algumas.

Em 2001, universidades públicas começam a adotar ações afirmativas, com implementação de sistemas de cotas, visando promover o ingresso de estudantes negros nas instituições públicas. Destaque-se a Lei Estadual nº 3.708/2001 que instituiu o sistema de cotas nas universidades do Estado do Rio de Janeiro (JACCOUD, 2008; TRIPPIA; BARACAT, 2014).

Sobre o sistema de cotas nas instituições públicas, tanto federais quanto estaduais, ressalta-se a observação e crítica de Jaccoud (2008, p. 146; 147), que descreve:

A inexistência de uma legislação federal sobre o tema e a ausência de uma ação de promoção ou coordenação nacional dessas experiências, seja por parte da Seppir ou do MEC, tem permitido a proliferação de um conjunto bastante diverso de ações afirmativas. [..] observam-se diferenças

expressivas entre os modelos adotados, podendo ser identificados ao menos três: cotas raciais simples, raciais e sociais sobrepostas, e cotas raciais e sociais independentes.

Nesse ponto, cabe a conceituação de ações afirmativas, a fim entendê-las no campo das políticas públicas. Joaquim Barbosa Gomes (apud CONCEIÇÃO, 2010, p. 91) define:

[...] as ações afirmativas consistem em políticas públicas (e também privadas) voltadas à materialização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem e de compleição física. [...], elas visam a combater não somente as manifestações flagrantes de discriminação, mas também a discriminação de fundo cultural, estrutural, enraizada na sociedade. [...]

No entendimento de Piovesan (2007, p. 40):

As ações afirmativas, enquanto políticas compensatórias adotadas para aliviar e remediar as condições resultantes de um passado discriminatório, cumprem uma finalidade pública decisiva para o projeto democrático, que é a de assegurar a diversidade e a pluralidade social. Constituem medidas concretas que viabilizam o direito à igualdade, com a crença de que a igualdade deve se moldar no respeito à diferença e à diversidade. Através delas transita-se da igualdade formal para a igualdade material e substantiva.

Continuando nas políticas na área da educação, em 2005 ocorre a implementação do Programa Universidade para Todos - ProUni, programa do governo federal que oferece bolsas de estudo, parciais ou integrais, nas instituições privadas de ensino superior, aos alunos oriundos de escolas públicas ou bolsistas de escolas particulares, de renda familiar baixa e com avaliação aos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio - Enem, funcionando com a reserva de vagas para estudantes negros, feita de acordo com os indicadores de distribuição racial das populações locais. (JACCOUD, 2008; SOTERO, 2013).

Voltando ao ano de 2003, a Lei nº 10.639/03 instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais, alterando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, Lei nº 9.394/1996, ao incluir a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nos currículos escolares, e instituir, no calendário escolar, o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra. Em 2008, também alterando a LDB, a Lei nº 11.645/08 incluiu a obrigatoriedade do estudo da história e cultura indígena nos currículos escolares (PASSOS, 2014).

Em 2004, cria-se a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI, pelo Ministério da Educação, importante para a promoção da igualdade tendo em vista os objetivos de pautar a desigualdade na educação a fim de orientar políticas públicas educacionais voltadas à garantia do acesso e permanência de estudantes na educação básica e superior, que articulem com a diversidade nos espaços formais dos sistemas públicos de ensino, sendo consideradas questões de raça, etnia, origem, posição econômica, gênero, orientação sexual, deficiências, ou qualquer outra questão favorecedora à exclusão social (GOMES, 2012; BRASIL, 2019a).

A SECADI conta com a Diretoria de Políticas de Educação do Campo, Indígena e para as Relações Étnico-raciais, uma das quatro diretorias que formam a Secretaria, em que destaque-se, entre as ações da SECADI no campo das relações étnico-raciais, o Programa PET Conexões de Saberes, que desenvolve ações que valorizam protagonismo dos estudantes universitários beneficiários das ações afirmativas no âmbito das universidades públicas (BRASIL, 2019a).

Em 2012, o Conselho Nacional de Educação aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, que compreende escolas localizadas em territórios quilombolas e escolas que atendem estudantes quilombolas. No mesmo ano, a Lei nº 12.711/2012 estabelece a obrigatoriedade da reserva de 50% das vagas de cada curso em instituições federais de educação superior e instituições federais de ensino técnico de nível médio para estudantes de escola pública (PASSOS, 2014), significante para a população negra, considerando os níveis inferiores na distribuição de renda, e consequentemente, presença relevante do grupo racial no ensino público do país.

Além disso, a Lei nº 12.711/2012 também estabeleceu, por meio de ação afirmativa de cunha racial, a reserva de vagas para pessoas negras, indígenas e portadoras de deficiência, em proporção ao total de vagas no mínimo igual à proporção respectiva de tais grupos na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição (BRASIL, 2012).

Quanto às ações afirmativas por intermédio do sistema de cotas e os resultados positivos no ingresso da população negra ao ensino superior, enfatizando as mulheres negras, discorre Sotero (2013, p. 49):

Nos últimos anos, a participação das mulheres negras no ingresso ao ensino superior tem crescido. Esta situação leva a problematizar como vem se realizando este crescimento. O ingresso de negros e pobres no ensino superior foi, ao longo dos dez últimos anos, em certa medida, promovido por ações das próprias IES ou do Estado (AAs e ProUni). O crescimento, assim, atesta a efetividade e a necessidade de continuação destas medidas, visando à contínua diminuição, e até à superação, das desigualdades no acesso e na permanência no ensino superior.

Por último, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR, criada em 2003 pela Lei 10.678, e já mencionada na seção anterior, destaca-se também na institucionalização de políticas públicas na área da educação, como dispõe Passos (2014, p. 130, grifo nosso):

As ações de promoção da igualdade racial na educação, em âmbito do governo federal, têm sido desenvolvidas por meio do Protocolo de Intenções MEC/SEPPIR, firmado em 2003, a partir dos seguintes eixos: garantia de acesso e permanência das crianças negras na escola; promoção da alfabetização e da qualificação profissional de jovens e adultos negros; incentivo e inserção de jovens negros na universidade; [...] e estímulo a uma pedagogia não racista, não sexista e não homofóbica no sistema educacional brasileiro.

Assim, já identificadas as principais políticas de promoção da igualdade na área da educação, prossegue-se com a identificação das políticas públicas de promoção da igualdade racial e de gênero na área do trabalho.