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As áreas semi-áridas da Região Nordeste do Brasil têm sido desde o período colonial, objeto de discussão e ação por parte das políticas públicas desencadeadas com a finalidade de promover um nível razoável de desenvolvimento, aproximando-as das demais áreas brasileiras, no tocante à possibilidade de garantir a sobrevivência do seu povo, da sua população.

A peculiaridade climática e as conseqüentes secas periódicas têm sido apontadas por muitos estudiosos como características marcantes das referidas áreas, gerando, assim, um processo de exploração desse fato, com fins e interesses políticos, e tem servido para estigmatizar uma região, que mesmo considerada como a das perdas, tem um potencial produtivo imensurável. Os empreendimentos estabelecidos nos setores elétricos e agrícolas têm provado o referido potencial (CORRÊA, 1997).

No início da década de 1980 não se deve aferir o peso do Nordeste pela modesta participação da região na produção industrial do país. O Nordeste constitui uma fonte inestimável de recursos não-renováveis de importância estratégica para o país, bastando citar o petróleo e o urânio; e também é uma fonte significativa de divisas e um mercado para as indústrias do Centro-Sul.

Os planos de ações dos governos, tanto federal como estadual, têm caracterizado esta região como um dos maiores problemas a serem enfrentados nas propostas de desenvolvimento do país, até os dias atuais, seja nos Planos de Desenvolvimento traçados para a região e para o restante do país, seja nas ações pontuais e emergenciais de atendimento da região. Segundo estudiosos e especialistas do estudo regional, o que ocorre é que não se diagnostica adequadamente os problemas que surgem permanentemente na região, posto que a avaliação faz-se isolando a mesma do conjunto regional do país.

Olhando de forma menos pessimista para a região e considerando o potencial nela existente, a grande pedida das políticas públicas desencadeadas pelos planos de desenvolvimento regional está ligada ao aproveitamento do potencial hídrico da região, que tem no Rio São Francisco a grande possibilidade de mudanças no tocante ao desenvolvimento geral da sua população e de municípios da circunvizinhança.

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A criação de organismos pelo governo federal (DNOCS, CODEVASF, SUDENE etc.) visando desencadear de forma concreta um processo de desenvolvimento e conseqüentes mudanças técnicas dariam, sem dúvidas, sustentação aos projetos de redenção da região.

O discurso e política desenvolvimentista para a região Nordeste e para o Território do Alto Sertão Sergipano acabaram servindo de base para a concretização dos interesses expansionistas do capital, viabilizada a partir da idealização e construção de grandes projetos de irrigação, agroindustriais e industriais (SILVA e FONSECA, 2000).

Esse avanço modernizador autoritário fruto de um planejamento centralizado nos ambientes oficiais, e em conformidade com o regime de exceção em vigor na época, foi excludente da participação das populações da área que, em tese, deveriam ser as beneficiadas diretamente e teve como conseqüência o agravamento das desigualdades sociais, o êxodo rural, o inchaço das cidades que serviram de pólo de atração, tanto para as populações expulsas do campo, como para as que foram atraídas pelos novos investimentos e promessas de emprego.

As ações das políticas públicas desenvolvimentistas desencadeadas pelo governo federal para a região Nordeste e áreas semi-áridas, a exemplo da área estudada, podem ser constatadas nos objetivos e atuação da CODEVASF.

A criação da SUDENE, em 1959, mais por questões políticas do que por aspectos econômicos, no intuito de contrabalançar o poder econômico do Centro-Sul com o esforço político do Nordeste, conseguiria alterar em parte essa circunstância, porquanto os debates estabelecidos pelo Conselho da SUDENE alcançaram alguma repercussão na imprensa, contribuindo para formar uma opinião pública regional.

Após a SUDENE e, graças a sua orientação e incentivo, a industrialização nordestina logrou algum impulso e, sob a versão de pólos de crescimento, tendeu a assumir a forma de um prolongamento do sistema industrial do Centro-Sul. Mas os resultados não foram muito satisfatórios.

A idéia de que os pólos atuassem como foco indutor de crescimento da região, um foco irradiador de novas atividades inter-relacionadas, dando origem a uma malha de

atividades econômicas cada vez mais espessas não se concretizou, pelo menos no primeiro momento. Talvez pelo fato de já terem nascidos vinculados ao Centro-Sul, tanto pelos insumos que iriam absorver como pela demanda que pretendiam satisfazer. Mais uma vez a política foi parcial e não contemplou o efetivo potencial produtivo da região, pois a principal lição que estas comparações internacionais nos podem dar é simples e importante: se a economia do Nordeste tem muitos problemas (o que não se pode negar) estes não têm a mesma natureza dos problemas que afligem as economias mais pobres do mundo, como as da África Sub-Saariana e as dos países latino-americanos de menor expressão territorial, com seus potenciais produtivos irrisórios, suas rendas per capita mínimas e sua produção estagnada ou em declínio.

Em termos de potencial produtivo, o Nordeste rivaliza com economias de significação mundial; em produto per capita, a região se classificaria, hoje, dentre os países de renda média; em termos de dinamismo econômico, o Nordeste tem tido um desempenho que se pode classificar como muito positivo (PROJETO ÁRIDAS, 1994).

Sendo assim, percebe-se que a questão principal da região Nordeste e das áreas semi- áridas é menos de pobreza do que de efetividades das políticas desenvolvimentistas, que promovem ao longo do tempo o agravamento de tendências estruturais e infra-estruturais anti- sociais que se apresentam ao conjunto do nosso gigante país.

Os projetos implantados ao longo do Rio São Francisco com a chancela da modernização da agricultura e concebidos a partir de modelos exógenos com o intuito de potencializar a articulação capitalista precisam ser reavaliados. É preciso que a análise não se baseie em um viés econômico simplista, que através de uma ilusória quantificação de custos e benefícios considera a sociedade como um aparelho em que, como observa Veiga (2000, p. 25), “uma boa alavancada aqui provoca resultados previsíveis acolá, ou seja, é preciso ir de encontro à visão mecanicista das relações sociais que, via de regra, conduz ao pensamento econômico”. A vida social extrapola as maquetes dos engenheiros e arquitetos, é complexa, multifacetada, em constante mudança, dinâmica, criativa, contraditória, de difícil apreensão e compreensão.

As conseqüências ambientais da sucessão de barragens construídas ao longo do rio foram, para o Baixo São Francisco, significativas em termos ecológicos, sociais, econômicos

e culturais, embora pareçam pesar muito pouco na perversa aritmética dos planejadores governamentais, que parecem calcular custos e benefícios imbuídos pela máxima do progresso, tendo como compromisso maior a consolidação do projeto de expansão do capitalismo na região e não o bem estar dos tradicionais moradores e o equilíbrio ambiental (SILVA, 2000).

Para comprovar esta ação desencadeada pelas políticas desenvolvimentistas sintonizadas com as necessidades do capital externo, é preciso reportar ao ano de 1945 em que o IFOCS (Instituto Federal de Obras Contra as Secas) passa a ser, através de emenda constitucional, o DNOCS. A Constituição de 1946 reforma o dispositivo que trata dessa questão, redefinindo para 3% o percentual da renda tributária a ser destinada aos problemas da seca do Nordeste Brasileiro, sendo que 1% seria necessariamente destinado ao estudo e à execução de um plano de aproveitamento total das possibilidades econômicas do rio São Francisco e seus afluentes.

Em 1947, o Polígono das Secas foi ampliado e em 1948 foram criadas as agências estatais que dariam sustentação aos propósitos das referidas políticas, entre elas a CHESF (Companhia Hidroelétrica do São Francisco) e a CVSF (Companhia do Vale do São Francisco), esta última tendo garantido recursos federais por um prazo de vinte anos, em conformidade com o determinado na Constituição de 1946.

Ainda reunindo elementos que dão prova da ação capitalista sobre a região Nordeste, em 1950 foi estabelecido o Plano Geral para o aproveitamento econômico do Vale do Rio São Francisco e, em 1951, estabelecia-se a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, com o objetivo de proporcionar pedidos de empréstimos às agências internacionais para projetos de desenvolvimento nacional elaborados do Plano LAFER.

A seguir, no ano de 1952, foram criados o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento) e o BNB (Banco do Nordeste Brasileiro); em 1954 foi criada a Comissão de Investimentos do Nordeste, subordinada ao Ministério de Obras Públicas e, em 1956, foi criado o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste – GTDN que veio a culminar com a criação, em 1959, da CODENO (Companhia para o Desenvolvimento do Nordeste), que seria posteriormente chamada de SUDENE (Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste), para ter um caráter de superintendência, portanto, com uma ação mais conseqüente e em sintonia com tudo o que estava estabelecido na constituição.

As mudanças nos rumos políticos do país a partir de 1964 com o advento do golpe militar esvaziam de forma considerável a ação da SUDENE e, em 1967, é criada a SUVALE, com praticamente todas as atribuições da SUDENE. Em 1971, o IV Plano Diretor da SUDENE era substituído pelo Plano de Desenvolvimento do Nordeste, contido no I PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), que contemplava metas de irrigação e implantação de corredores de exportação no Nordeste, através do PIN (Plano de Integração Nacional) e do PROTERRA (Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulos à Agroindústria do Norte – Nordeste).

A partir do ano de 1979, objetivando perenizar os rios nordestinos, integrando as bacias dos rios São Francisco e Parnaíba, captando e armazenando águas pluviais e multiplicando os poços subterrâneos, criou-se o PROHIDRO (Programa de Aproveitamento dos Recursos Hídricos) que, no Estado de Sergipe, foi caracterizado pelo Projeto Nordeste e pelo PAPP (Programa de Apoio ao Pequeno Produtor), de 1981, o qual foi, na verdade, antecipado pelo Programa do Governo do Estado denominado “Projeto Chapéu de Couro”.

No ano de 1983, criou-se o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), com competências relacionadas à proteção de recursos ambientais e veio superpor-se à competência dos comitês, ou seja, do CEEIBH (Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas) e do CEIVASF (Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco), criados em 1972. Daí por diante, mais precisamente, a partir de 1984, uma série de programas e ações de abrangência de todo território nacional foram planejados e colocados em ação, tais como: POLONORDESTE (Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste), Projeto Sertanejo, PROVÁRZEAS (Programa de Aproveitamento de Várzeas Irrigáveis), entre outros.

Diante dessas informações, têm-se a clareza do caráter parcial das respectivas políticas voltadas para a amenização dos problemas prementes à região Nordeste e a área de ação do clima semi-árido. Neste sentido, percebe-se que o problema do aproveitamento dos recursos hídricos do semi-árido nordestino, de forma sistematizada, esteve na pauta política brasileira, desde o final do século XIX, sem que se tenha apresentado propostas efetivas

capazes de resolver definitivamente os problemas cruciais da região, entre eles a seca e suas conseqüências.

Tanto isso é verdade que, ao semi-árido, o Estado dispensava uma atuação “particularista” sob formas diferenciadas de apropriação das transferências federais, no tempo e no espaço. Os grupos sociais dominantes se reproduziram sem alterar as formas de organização da produção. Assim, os açudes foram construídos em propriedades particulares, as frentes de emergência consubstanciadas em currais eleitorais e as linhas de crédito abertas à pecuária, voltavam-se aos médios e grandes proprietários (VARGAS, 1999).

Finalmente, no ano de 1994, criou-se uma estratégia de desenvolvimento sustentável para a Região Nordeste através do Projeto ÁRIDAS, que representava naquele momento, um esforço colaborativo dos Governos Federal e Estadual e de entidades não governamentais, comprometidas com os objetivos do desenvolvimento sustentável do Nordeste. O mesmo conta com o apoio financeiro de Entidades Federais e dos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Bahia, particularmente através de recursos do segmento de estudos do Programa de Apoio ao Pequeno Produtor (PAPP), oriundos de financiamento do Banco Mundial ao governo federal. A execução deste se dá, no contexto da cooperação técnica e institucional, entre o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e os Estados, no âmbito do PAPP (PROJETO ÁRIDAS, 1994).