dessa participação, por meio da força, da cooptação, ou ainda por meio de concessões parciais das reivindicações apresentadas. Há uma apropriação por parte dos grupos dirigentes das teses, reivindicações e exigências dos movimentos sociais que procura adaptá-las aos seus interesses a fim de submetê-las a sua hegemonia. É um fenômeno que expressa as estratégias da classe dominante para controlar na teoria e na pratica a força de seus antagonistas no processo de mudança. (DORE SOARES, 2003)
t r abalho, independent e da pr odução indust r ial im ediat a. Par a eles, segundo Dor e Soar es ( 2000) : “ t r abalho é ent endido com o at ividade que o hom em realiza no plano econôm ico, social, cult ur al e polít ico: a or ganização da com unidade, seu gover no, suas leis ( p.204) ” . No ent ant o, essa noção é esvaziada de seu cont eúdo r evolucionár io. Ela não visava à t ransfor m ação social, sob out r as bases econôm icas e polít icas na busca da superação da desigualdade social e das relações de dom inação, dest aca a aut or a. Tr abalho na per spect iva do pr ogr am a da escola nova é ent endido com o um elem ent o de for m ação profissional art iculado ao pr ocesso de int egr ação do indivíduo à or dem est at al. Por t ant o, a inclusão do t r abalho, ent endido com o at iv idade no program a da escola, t inha com o principal obj et iv o a form ação do car át er do indivíduo, visando a sua livr e subor dinação as nor m as est abelecidas: “ a obediência at iv a” . Trabalho ent endido com o at iv idade t ornar- se o princípio educat iv o cent ral do program a escola nova.
A t ent at iv a do cont role t eórico, por par t e dos gr upos dom inant es das ideias de seus adver sár ios não ocor r e em sua t ot alidade. No pr ocesso de t r ansfor m ação ( t ese, ant ít ese e sínt ese) não é possível pr ever ou fixar apr ior ist icam ent e o que ser á conser v ado da t ese na sínt ese. O Pr ogr am a Escola Nov a t r az em si o ger m e da cont r adição, ao r esgat ar a dim ensão cult ural do t r abalho e incluí- lo com o pr incípio educat ivo, reflet e parcialm ent e as r eiv indicações das classes subalt er nas. Gr am sci r econhece as cont r adições do Pr ogr am a Escola Nov a e apropria- se crit icam ent e do conceit o de t r abalho com o at ividade, par a renová- lo, fort alecê- lo e am pliá- lo em sua pr opost a de escola unit ár ia.
2 .3 .1 - A e scola u n it á r ia
Em sua pr opost a de escola unit ár ia, Gr am sci int egr a a cult ur a hum anist a e o t r abalho com o pr incípio educat ivo; t r abalho ent endido com o at iv idade
t r ansfor m ador a, fundam ent al par a a for m ação da cult ur a. De acor do com Dor e Soar es ( 1996, p. 158) a escola unit ár ia
super a a escola t r adicional ao incor por ar a cult ur a hum anist a com o base for m at iv a par a o exer cício das funções de gov er no na sociedade. Em segundo lugar , super a a escola única do t r abalho ( escola polit écnica) ao apr esent ar a unidade do t r abalho int elect ual ao t r abalho pr odut iv o em um a dim ensão m ais cult ur al: o conceit o de t r abalho com o elem ent o hist or icizant e e socializant e r ealiza a m ediação ent r e a or dem nat ur al ( ciências nat ur ais) e a or dem social e polít ica ( leis civis e est at ais) . Enfim , super a t am bém a escola nova ao apr ofundar e am pliar a ideia de at iv idade com o m ediação ent r e o t r abalho t eór ico e pr át ico.
Par a Gr am sci, a cr iação de um t ipo único de escola – elem ent ar e m édia – fundada no pr incípio da at ividade r esponder ia as dem andas da sociedade da época. Gr am sci, na int er pr et ação de Dor e Soar es ( 2000) , ao definir as pr em issas necessárias para realizar o princípio unit ário, diferencia os significados at ribuídos ao conceit o de at iv idade pelo escolanov ist a da noção de at iv idade apropriada pelo m ar xism o, base da escola unit ár ia. As prem issas são apr esent adas pela aut or a em quat r o m om ent os:
1) A at ividade par a Gr am sci, segundo Dor e, est á na at ividade social com o um t odo: na r elação ent r e Est ado e sociedade civ il, nos dir eit os civis e polít icos. At ividade é a expr essão pedagógica de nova r elação de for ça no cont ext o de guer r a de posição; expr essa um a r elação de hegem onia, um a r elação de poder – dom inação/ subor dinação. Expressa um a propost a polít ico- ideológica. No ent ant o, a escola nova visa à m anut enção da or ganização social vigent e e a escola unit ár ia a t r ansfor m ação
2) A nat ur eza do ser hum ano não é fixa, m as é pur a at iv idade um devir . I st o leva o r econhecim ent o do ser hum ano com o ser at ivo. Consider a a r elação dialét ica do ser hum ano com a r ealidade m at erial e social. Ele é ao m esm o t em po r esult ado das r elações sociais e pr odut or delas. Ele se const it ui nas r elações sociais.
3) A união da t eor ia e da pr át ica, não pode ser de for m a j ust apost a com o na escola nova, m as de for m a or gânica, int egr ando a cult ur a ger al, ciência e saber es t écnicos.
4) Gr am sci cr it ica a concepção espont aneist a de at ividade desenvolvida pela escola nova, nesse sent ido pr opõem um m ét odo de ensino que pr opicie a aquisição dos inst r um ent os da linguagem e da lógica for m al, especialm ent e pelas classes subalt er nas, consider ando que seu m odo de vida não proporciona a m esm a facilidade em que as classes dom inant es.
O ent endim ent o de t r abalho com o at ividade est á relacionado às m udanças da r elação ent r e sociedade civ il e Est ado, ao pr ocesso de dem ocr at ização, da organização e part icipação polít ica da sociedade civ il. Refere- se à nova est r at égia, a dim ensão pedagógica que busca o convencim ent o at ivo da sociedade com o um t odo, por m eio das inst it uições for m adoras de opiniões, principalm ent e a escola. A principal diferença ent re a Escola Nova e a unit ár ia est á na propost a polít ica ideológica. As duas r econhecem o ser hum ano com o suj eit o, capazes de int er fer ir e at uar sobr e a r ealidade; buscam a or ient ação das individualidades e dos int er esses part iculares a det erm inados proj et os polít icos por m eio do convencim ent o, de um a obediência at iv a. No sist em a social, que t em a escola nova com o m odelo, há um a t ent at iva de ocult ar os pr ocessos conflit ant es, a lut a de classes pelo dom ínio econôm ico, cult ur al e polít ico, r epassando um a apar ent e ideia de dem ocr acia plur al, r esult ado das r elações de colabor ação ent re as classes sociais. Relações de poder que se est abelecem no âm bit o da or ganização escolar . No m odelo social que t em a escola unit ár ia com o r efer ência, os processos conflit ant es são expr essos, a hegem onia é exer cida pelo conj unt o dos t r abalhador es r epr esent ados pela plur alidade de seus or ganism os.
Por m eio da pr opost a da escola unit ár ia, Gr am sci cont est a a desigualdade social e educacional expressa no dualism o da or ganização escolar no sist em a capit alist a. Dualism o est e expr esso at r avés da or ganização de escolas volt adas
exclusivam ent e par a a for m ação do t rabalho num a per spect iv a inst rum ent al, dest inadas às classes subalt er nas, e escolas clássicas que dissem inav am a cult ur a geral indiferenciada com obj et iv os de for m ar dir igent es, dest inadas às classes dom inant es.
A m ar ca social é dada pelo fat o de que cada gr upo social t em um t ipo de escola pr ópr io, dest inado a per pet uar nest es est r at os um a det er m inada função t r adicional, dirigent e ou inst r um ent al. Se quer dest r uir essa t r am a, por t ant o, dev e- se não im pedir a m ult iplicação, e hier ar quizar os t ipos de escola pr ofissional, um t ipo único de escola pr epar at ór ia ( pr im ár ia, m édia) que conduza o j ovem at é os um br ais da escolha pr ofissional, for m ando- o dur ant e esse m eio t em po, com o pessoa capaz de pensar , de est udar , de dir igir ou de cont r olar quem dirige. ( GRAMSCI , 2004, p. 49) .
Apesar de Gr am sci não discut ir a or ganização escolar desigual baseado em crit ério de gênero, raça ou deficiência, a perspect iv a analít ica do referencial cult ur al da escola unit ár ia pode ser est endida para a com preensão e superação de form as de or ganização escolar volt adas par a gr upos específicos os quais não cont em plem a for m ação int egr al do ser hum ano. A per spect iva analít ica da escola unit ária pode ser est endida a essas quest ões por que o pr incípio unit ário é o pr incípio da igualdade na div ersidade.
A or ganização dir ecionada a cada gr upo social leva a dem ar cação de dist int os per cur sos educacionais e for m ações difer enciadas não só em r azão da classe social em que o indivíduo se sit ua, m as t am bém por sua condição r acial, ét nica, de gêner o e deficiência. Gr am sci m ost r a que a est rat ificação e a difer enciação de or ganizações escolar es dest inadas a grupos e/ ou classes sociais específicas cont r ibui par a per pet uar r elações de dom inação/ subor dinação nos diversos âm bit os das relações sociais: fam iliar es, r eligiosas, educacionais, pr odut ivas, dent r e out ras.
A escola unit ária é um a escola direcionada a for m ação de int elect uais de t odas as classes sociais, que une m ãos e m ent es, não cont r apondo o t r abalho m anual do t r abalho int elect ual. Ar t icula cult ur a, ciência e t écnica em único proj et o
de for m ação volt ado a em ancipação social e polít ica das classes subalt er nas, pr opõem um a for m ação cient ífica e t ecnológica ar t iculada ao m undo do t r abalho. Enfim , um a for m ação que não se lim it e a pr epar ar os indivíduos par a um a cidadania abst r at a, m as que t enha em m ir a pr eparar o especialist a+ polít ico, ist o é, o dir igent e.
Ao pr opor um m odelo de for m ação or ient ada pelo pr incípio da unidade ( igualdade) na diver sidade ( difer ença) , a escola unit ár ia cr it ica à or ganização escolar fundam ent ada em m odelos par t icular ist as e excludent es. Nest a pr oposição a escola deve criar espaços em que haj a concom it ant em ent e o reconhecim ent o e o for t alecim ent o das ident idades ( difer enças) e afir m ação da unidade ( igualdade) . Sua organização envolve a part icipação e int er esses de diver sos gr upos, que visam dissem inar suas concepções de m undo. Por t ant o, a escola é palco de lut as de um a sociedade dividida em classes sociais. Não podem os negar que o pr ocesso de or ganização da escola no sist em a capit alist a est á associado aos int er esses e necessidades de gr upos econom icam ent e expr essivos e das cam adas sociais que m ant êm a direção polít ica e cult ural.