• Nenhum resultado encontrado

Políticas de educação profissional para pessoas com deficiência

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Políticas de educação profissional para pessoas com deficiência"

Copied!
209
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARA

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Izaura Maria de Andrade da Silva

(2)

Izaura Maria de Andrade da Silva

POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARA

PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Tese apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Educação da Faculdade de

Educação da Universidade Federal de

Minas Gerais como requisito parcial para a

obtenção do título de Doutor em Educação

Programa de Pós-graduação em Educação:

Conhecimento e Inclusão Social

Linha de pesquisa: Políticas Públicas de

Educação

Orientadora: Profa. Dra. Rosemary Dore

(3)

S586p T

Silva, Izaura Maria de Andrade da, 1965-

Políticas de educação profissional para pessoa com deficiência / Izaura Maria de Andrade da Silva. - UFMG/FaE, 2011.

209, enc., il.

Tese - (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação.

Orientadora : Rosemary Dore. Bibliografia : f. 187-195. Apêndices : f. 196-200. Anexos : f. 201-209.

1. Educação -- Teses. 2. Educação especial 3. Deficientes -- Educação. 4. Educação -- Politicas publicas. 5. Educação -- Relações etnicas. 6. Educação e Estado. 7. Inclusão em educação. 8. Direito à educação. 9. Igualdade na educação.

I. Título. II. Heijmans, Rosemary Dore. III. Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação.

(4)

Izaura Maria de Andrade da Silva

POLÍ TI CAS DE EDUCAÇÃO PROFI SSI ONAL PARA

PESSOA COM DEFI CI ÊNCI A

Tese defendida e apr ovada em 20 de abr il de 2011, pela banca

exam inador a

com post a pelos seguint es pr ofessor es:

_____________________________________________________________________

Profa. Dra. Rosemary Dore - Orientadora

_____________________________________________________________________

Profa. Dra. Anna Augusta Sampaio de Oliveira – UNESP

_____________________________________________________________________

Prof. Dr. Ivandro da Costa Sales - UFPE

_____________________________________________________________________

Profa. Dra. Maria de Lourdes Rocha de Lima – UFMG

(5)
(6)

A todos, que com sua práxis, trabalho e

estudo demonstram no seu dia a dia que

constituição de uma escola para todos é

(7)

AGRADECIMENTOS

A Deus, pai e mãe de ternura, inspirador maior de todos os meus projetos.

A fundação Ford e ao programabolsa da Fundação Carlos Chagas pelo apoio financeiro

e logístico.

A Rosemary Dore, orientadora desta pesquisa, pela sua postura exigente e

comprometida na busca de contribuir com o desenvolvimento das minhas capacidades

intelectuais e políticas.

Aos colegas do grupo de pesquisa em educação profissional, em especial a Ana

Zuleima, Lana Ferreira e Lecir Barbacovi pela oportunidade de trabalho em conjunto,

apoio e incentivo

Aos professores Priscila Lima, Maria de Lourdes Rocha Lima e Anna Augusta Sampaio

Oliveira e Nivaldo Santos que, com suas correções, críticas e ideias contribuíram para o

aprimoramento do estudo

Aos meus familiares, em particular Múcio e Artur Marques pelo companheirismo,

amizade e apoio

(8)

RESUM O

A t ese or a apresent ada é r esult ado de um a pesquisa cuj o obj et ivo foi o de exam inar as r azões pelas quais a educação par a as pessoas com deficiência t em sido ofer ecida por um sist em a difer enciado de escolar ização, especialm ent e no que diz r espeit o à for m ação par a o t r abalho. Na pr im eir a et apa da pesquisa, foi r ealizado um m apeam ent o das polít icas par a a educação pr ofissional, bem com o dos pr ogr am as de educação pr ofissional aos quais a pessoa com deficiência t em acesso. Par a isso, foi ut ilizado com o font e de est udo os dados do censo escolar de 2005, 2006 e 2007 Foi realizado t am bém um est udo da legislação e dos docum ent os oficiais r elat ivos às polít icas de educação pr ofissional e especial, além de ent r evist as com coor denador es de pr ogr am as volt ados à inclusão da pessoa com deficiência. Os dados obt idos nest a invest igação m ost r am desigualdades escolar es, t ais com o insignificant e núm ero de m at r ícula de pessoa com deficiência na educação t écnica pr ofissional; r edução da ofer t a pelos sist em as de ensino a program as de form ação inicial art iculados ao ensino fundam ent al dest inados exclusivam ent e a esse segm ent o social, em sua m aior par t e, desenvolvidos em inst it uições especializadas de carát er priv ado- filant rópico; a pouca efet iv idade dos pr ogr am as de inclusão na r ede de educação pr ofissional r egular com o um t odo, m esm o consider ando aspect os elem ent ar es, t ais com o adequação do espaço físico e disponibilizarão de salas de recursos m ult ifuncionais. O referencial t eórico adot ado para analisar a exclusão social e educacional, bem com o as polít icas para a inclusão social, baseia- se em conceit os de Gr am sci sobre hegem onia, Est ado, cult ura, papel dos int elect uais, a organização da escola na sociedade capit alist a e o pr incípio da unidade na diver sidade. Tr at a- se de um Princípio dialét ico que r em ont a às r eflexões de Mar x, r essalt ando que a unidade ( igualdade) na div er sidade ( difer ença) não é a m esm a coisa que desigualdade. Desse m odo, a ideia de igualdade na div ersidade cont ribui para explicar difer enciações que expr essam desigualdades e aquelas que significam r espeit o à diver sidade Os r esult ados da pesquisa indicam que os pr ocessos de exclusão ou de um a inclusão precária, inst ável e m arginal da pessoa com deficiência na or ganização social e escolar são decor r ent es do m odo de or ganização econôm ica, cult ur al e polít ica do Est ado Capit alist a, que dem ar ca lugar es sociais, não só em função da classe em que o suj eit o se sit ua, m as t am bém por causa de difer enças r aciais, ét nicas e de suas condições físicas, sensor iais e cognit ivas. Na or ganização escolar for am sendo elaborados m ecanism os que levar am a exclusão da pessoa com deficiência ou sua inser ção em espaços r est r it os de for m ação. Mecanism os const r uídos fundam ent ados no conceit o difer ença/ deficiência com pr eendido com o inapt idão e incapacidade sendo essa consider ada um a condição im ut ável das pessoas que er am assim classificadas. O m ovim ent o pela inclusão r essignificou o conceit o de difer ença/ deficiência, consider ando- a um a car act er íst ica da diver sidade hum ana a qual dem anda alguns r ecur sos e est r at égias específicas par a assegur ar os pr ocessos de inclusão. O r econhecim ent o e at endim ent o dessas dem andas específicas no âm bit o das polít icas universais é um aspect o essencial na efet iv ação dos dir eit os da pessoa com deficiência ao acesso, per m anência e sucesso na escola.

(9)

ABSTRACT

The t hesis pr esent ed her e is t he result of a research w hose obj ect ive w as t o exam ine t he r easons w hy educat ion for people w it h disabilit y has been offer ed by a differ ent iat ed syst em of schooling, especially as r egar ds t he t r aining for t he w ork . I n t he fir st st age of t he r esear ch, a m apping of policies for professional educat ion, as w ell as pr ofessional educat ion pr ogr am s w as car r ied out t o w hich t he per son w it h disabilit y has access. For t his, school census dat a from 2005, 2006 and 2007 w er e used as a sour ce of st udy. Besides, a st udy of legislat ion and official docum ent s relat ing t o t he policies of professional and special educat ion and also int er view s w it h coor dinat or s of pr ogr am s aim ed at inclusion of a per son w it h disabilit y w as m ade. Dat a obt ained fr om t his inv est igat ion show school inequalit ies, such as insignificant r egist r at ion num ber of a per son w it h disabilit y in pr ofessional t echnical educat ion, r educt ion of supply by t he educat ion syst em s in t he pr ogr am s of init ial t r aining art iculat ed t o basic educat ion designed exclusiv ely for t his social segm ent , in t he m ost part , developed in specialized inst it ut ions of privat e-philant hr opic charact er ; t he low effect iv eness of program s for inclusion in regular pr ofessional educat ion net w or k as a w hole, even considering t he elem ent ar y aspect s such as adequacy of physical space and av ailabilit y of room s w it h m ult ifunct ional r esour ces. The t heor et ical fr am ew or k adopt ed for analyzing t he social and educat ional ex clusion, as w ell as policies for t he social inclusion, is based on Gr am sci’s concept s on hegem ony, st at e, cult ur e, r ole of int ellect uals, school or ganizat ion in capit alist societ y and t he pr inciple of unit y in diver sit y. I t is a dialect ical pr inciple t hat dat es back t o Mar x's reflect ions, em phasizing t hat t he unit ( equalit y) in diver sit y ( differ ence) is not t he sam e as inequalit y. Thus, t he idea of equalit y in div ersit y helps t o ex plain differ ences w hich ex press inequalit ies and t hose w ho m ean r espect for diver sit y. The sur vey r esult s indicat e t hat t he processes of precarious, unst able and m arginal ex clusion or/ and inclusion of a per son w it h disabilit y in social and school or ganizat ion ar e due t o t he w ay of econom ic, cult ure and polit ical organizat ion of t he Capit alist St at e, w hich dem arcat es social places, not only t o t he class in w hich t he subj ect is locat ed, but also because of r acial, et hnical differ ences and physical, sensor y and cognit ive condit ions. I n school or ganizat ion, m echanism s w ere elabor at ed t hat led t o exclusion of t he per son w it h disabilit y or her inser t ion int o r est r ict ed t r aining places. Mechanism s built on t he concept differ ence / disabilit y com pr ehended as inabilit y and incapacit y being r egar ded as an im m ut able condit ion of t he people w ho w ere so classified. The m ovem ent for t he inclusion r efr am ed t he concept of differ ence / disabilit y, consider ing it as a feat ur e of hum an diver sit y w hich dem ands som e specific st r at egies and resour ces t o ensur e t he inclusion pr ocesses. The r ecognit ion and t r eat m ent of t hese specific dem ands w it hin t he fr am ew or k of univer sal policies is an essent ial aspect in t he im plem ent at ion of t he r ight s of a per son w it h disabilit y t o access, per m anence and success in school.

(10)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APAE Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais APCB Associação de Paralisia Cerebral do Brasil

CAADE/MG Coordenadoria Especial de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência em Minas Gerais

CENESP Centro Nacional de Educação Especial

CEFET-MG Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde CONADE Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência

CORDE Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência ENABLE Organização das Nações Unidas para a Pessoa com Deficiência

FBASD Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down FEBEC Federação Brasileira de Entidades de Cegos

FCD/BR Federação das Fraternidades Cristãs de Pessoas com Deficiência do Brasil FENAPAES Federação Nacional das Apaes

FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação

FUNAD Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência IBC Instituto Benjamin Constant

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFES Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia INES Instituto Nacional de Educação de Surdos

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira LDB Lei de Diretrizes e Bases

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

MEC Ministério da Educação

MORHAM Movimento de Reintegração dos Hansenianos TEM Ministério do Trabalho e Emprego

MVI Movimento de Vida Independente OMS Organização Mundial da Saúde ONC Organização Nacional de Cegos ONU Organização das Nações Unidas

SEE/MG Secretaria do Estado de Educação de Minas Gerais SEESP Secretaria de Educação Especial

PLANFOR Plano Nacional de Formação Profissional PNQ Plano Nacional de Qualificação

PROEJA Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na modalidade de educação jovens e adultos

PROJOVEM Programa Nacional de Inclusão de jovens SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem comercial

(11)

LISTA DE TABELAS 

TABELA 1 - FLUXO DE ALUNOS COM N.E.E POR ETAPA/MODALIDADE DE ENSINO E TIPO DE ATENDIMENTO – DE 2004 A 20...75

TABELA 2 - MATRÍCULAS DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL – 2006 ...93

TABELA 3 - ALUNOS COM NECESSIDADE EDUCACIONAIS ESPECIAIS MATRICULADOS NOS CURSOS TÉCNICOS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO SISTEMA REGULAR DE ENSINO BRASIL – 2005 ...94

TABELA 4 - MATRÍCULAS DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL (BÁSICO) NAS ESCOLAS ESPECIALIZADAS EM MINAS GERAIS – 2005 ...95

(12)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES 

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DE MATRÍCULAS DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM ESCOLA/CLASSES COMUM NO BRASIL - 2002 A 2006...77

GRÁFICO 2 – MATRÍCULAS DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

(13)

SUMÁRIO

 

INTRODUÇÃO ...14

CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO PARA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL ...23

1.1-HISTÓRICO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA...23

1.2-AINTERFACE ENTRE AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E ESPECIAL NA DÉCADA DE 90...53

1.3-PANORAMA DA EDUCAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL...73

1.4-A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO SISTEMA ESCOLAR:BRASIL E MINAS GERAIS...80

1.4.1-A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA EM MINAS GERAIS...85

1.5-ESTATÍSTICAS DA DIFERENCIAÇÃO ESCOLAR NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. ...90

1.6-OS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARA PESSOA COM DEFICIÊNCIA...101

1.6.1-O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ESPECIALIZADA DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS...102

1.6.2-PROGRAMA DO SENAI DE AÇÕES INCLUSIVAS...105

1.6.3-PROGRAMA “DEFICIÊNCIA & COMPETÊNCIA” DO SENAC ...107

1.6.4-PROGRAMA DE EDUCAÇÃO,TECNOLOGIA E PROFISSIONALIZAÇÃO PARA AS PESSOAS COM NECESSIDADE (TECNEP) ...108

CAPÍTULO II - ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS ...112

2.1-ESTADO, HEGEMONIA E ORGANIZAÇÃO DA CULTURA...115

2.1.1-ANÁLISE NÃO-REDUTIVA ENTRE CLASSE E DEFICIÊNCIA...117

2.1.2-ESTADO E HEGEMONIA...119

2.1.3-A SUPERAÇÃO DA EXCLUSÃO ESCOLAR DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E AS CRÍTICAS ÀS IDEOLOGIAS MODERNAS...121

2.1.4-UNIDADE NA DIVERSIDADE...125

2.2-A RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE CIVIL E ESTADO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA AS POLÍTICAS SOCIAIS ...130

2.2.1-ANÁLISE DA INTER-RELAÇÃO ESTADO E SOCIEDADE CIVIL NAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E ESPECIAL...140

2.3-A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA, GRATUITA, ÚNICA E OBRIGATÓRIA...144

2.3.1-A ESCOLA UNITÁRIA...151

CAPÍTULO III - A RELAÇÃO ENTRE IGUALDADE E DIFERENÇA NAS POLÍTICAS E ORGANIZAÇÃO ESCOLAR ...156

3.1-AS SIGNIFICAÇÕES ATRIBUÍDAS ÀS DIFERENÇAS/DEFICIÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA...156

3.1.1-A DESIGUALDADE SOCIAL POSTULADA COMO RESULTADO DA DIFERENÇA NATURAL ENTRE OS INDIVÍDUOS...157

3.1.2A CONCEPÇÃO DE DEFICIÊNCIA EM DOCUMENTOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE...165

3.2-ANOTAÇÕES SOBRE OS CONCEITOS DE IGUALDADE, CIDADANIA E INCLUSÃO/EXCLUSÃO...170

CONSIDERAÇÕES FINAIS...180

REFERÊNCIAS ...187

APÊNDICE ...196

(14)

I n t r odu çã o

O pr esent e est udo t em com o obj et ivo com pr eender por que a educação par a

as pessoas com deficiência t em sido oferecida por um sist em a difer enciado de

escolar ização, especialm ent e no que diz r espeit o à for m ação par a o t r abalho. Nesse

sent ido, busca ident ificar e exam inar as causas que ger am desigualdade

educacional em r elação à pessoa com deficiência na or ganização escolar . A

expect at iva é a de que os r esult ados aqui apr esent ados possam cont r ibuir par a

for t alecer a or ganização da escola na per spect iva unit ár ia.

O est udo r efer ent e à educação pr ofissional de pessoas com deficiência é

r esult ado de m inhas exper iências pessoal, acadêm ica, profissional e polít ica. A

quest ão da deficiência per passa vár ias dim ensões da m inha vida. Em nível pessoal,

vivencio- a em r elação às sequelas da poliom ielit e que m e at ingiu, aos 18 m eses de

vida, passando a delim it ar , em par t e, o m eu desenvolvim ent o psicom ot or .

Consequent em ent e, t ive que enfr ent ar os desafios decor r ent es dos pr oblem as

post os pela sociedade cont em por ânea em r elação à quest ão da diver sidade. Com o

pr ofissional da ár ea da educação, at uo, desde o ano de 1997, na Fundação Cent r o

I nt egr ado de Apoio ao Por t ador de Deficiência ( FUNAD) , inst it uição vinculada à

Secr et ar ia de Educação e Cult ur a do Est ado da Paraíba, responsáv el pela prom oção

de polít icas r elacionadas às pessoas com deficiência nas ár eas m ent al, audit iva,

visual, física e m últ ipla, bem com o em r elação aos pr ogr am as de pr evenção e

capacit ação de r ecur sos hum anos. A FUNAD ger encia as ações de educação

especial em t odo o Est ado da Par aíba. Out r a exper iência significat iv a que

influenciou a escolha dest e t em a de pesquisa foi a part icipação, há m ais de 20

(15)

o cont at o com sit uações de exclusão escolar e pr ofissional de j ovens e adult os com

deficiência fez nascer em m im o int er esse em r elação a essa pr oblem át ica.

As m inhas exper iências pessoal, pr ofissional, acadêm ica e polít ica colocar am

em evidência o alt o índice de exclusão de j ovens e adult os com deficiência das

opor t unidades de escolar ização e, pr incipalm ent e, de for m ação pr ofissional. No

cam po da escola, as desigualdades se m anifest am na or ganização de t r aj et ór ia

dist int a, no sist em a escolar , par a o aluno com deficiência, not adam ent e na

educação pr ofissional. A t r aj et ór ia escolar que se apr esent a par a a pessoa com

deficiência, car act er izada por um a or ganização difer enciada e excludent e, não lhe

t em pr opor cionado o acesso a um a for m ação cient ífica e t ecnológica capaz de lhe

pr epar ar par a o ingr esso no m undo do t r abalho e nem par a níveis m ais elevados de

est udo.

Nos dias at uais, o acesso a um a for m ação cient ífica e t ecnológica, vinculada

às exigências do m undo do t r abalho ( e não especificam ent e de em pr esas ou do

«m ercado de t rabalho») , é fundam ent al par a a inser ção de qualquer cidadão na

at ividade econôm ica, social e polít ica. A ausência da for m ação cient ífica e

t ecnológica, por t ant o, afet a pr ofundam ent e a sit uação de vida e de t r abalho da

pessoa com deficiência. A exclusão escolar ou o acesso r est r it o à educação acabam

por dim inuir ou at é elim inar as possibilidades da pessoa com deficiência de t er

acesso ao t r abalho, de const it uir um a fam ília, de r ealizar - se com o pessoa. Tr at a- se

de um a sit uação que cont r ibui t am bém par a r efor çar as ideias pr econceit uosas, que

ainda pr edom inam em nossa sociedade, de que a pessoa com deficiência é inválida

e im pr odut iva, colocando no indivíduo e na deficiência a r esponsabilidade pela sua

exclusão.

Para at ingir os obj et ivos est abelecidos nest a pesquisa foi r ealizado,

inicialm ent e, o m apeam ent o dos program as e inst it uições de educação pr ofissional

dos quais o t r abalhador com deficiência t em acesso. Um a das per gunt as que

orient ou est a prim eira et apa da pesquisa foi: exist em pr ocessos excludent es e/ ou

(16)

educação pr ofissional e na or ganização escolar ? Com o eles se m anifest am ? Quais

são suas or igens?

A fim de elucidar as r azões das difer enciações na or ganização escolar e no

pr incípio for m at ivo da educação dest inada àquelas pessoas consider adas

deficient es, for am associadas ao est udo quest ões de car át er m ais t eór ico: quando a

diferenciação é expressão de desigualdade social e quando ela r epresent a respeit o

à diversidade? Por que as for m as de escolar ização dest inadas às pessoas com

deficiência são difer enciadas, independent em ent e das classes sociais a que

per t encem ? Por que isso ocor r e de for m a m ais acent uada com a educação

pr ofissional? Quais as r azões par a a m anut enção de polít icas educacionais,

not adam ent e aquelas volt adas às pessoas com deficiência, fragm ent adas e não

univer sais? Quais os significados do conceit o de inclusão e suas im plicações para as

polít icas de educação profissional, par t icular m ent e par a as pessoas com deficiência?

O ent endim ent o das causas que levam à difer enciação da or ganização

educacional par a as pessoas com deficiência r equer a adoção de inst r um ent os

conceit uais e m et odológicos que possibilit em est abelecer as int er conexões ent r e as

ideias e os condicionant es econôm ico, polít ico e cult ur al do cont ext o est udado, de

m odo a capt ar essas int er - r elações em seu m ovim ent o dialét ico. O r efer encial

gr am sciano possibilit a capt ar esse m ovim ent o, especialm ent e os conceit os de

Est ado, sociedade civil, hegem onia, escola unit ár ia e seus r espect ivos

desdobr am ent os. É nessa dir eção que est a pesquisa pr ocur ou ident ificar os nexos

ent re os elem ent os hist órico, t eórico e polít ico, ou sej a, r elações invisíveis m as que

est ão pr esent es na const it uição de um a educação profissional difer enciada par a a

pessoa com deficiência no Brasil e em Minas Gerais.

A pesquisa de cam po possuía int er face com um pr oj et o de pesquisa de

m aior am plit ude, int it ulado Educação Pr ofissional no Br asil, Evasão e Tr ansição par a

o Tr abalho. Esse pr oj et o t inha com o obj et ivo não som ent e est udar a evasão na

educação t écnica de nível m édio, m as t am bém suas relações com o m undo do

(17)

desenvolvido por docent es e est udant es do Pr ogr am a de Pós- Gr aduação da

Faculdade de Educação/ UFMG, int egr ando o Obser vat ór io da Educação Pr ofissional

no Br asil - CAPES/ I NEP, no âm bit o do Gr upo de Avaliação e Medidas Educacionais

( GAME) . A r ealização desse pr oj et o de pesquisa est á ligada à invest igação de um

grupo de t rabalho int er nacional, cuj o propósit o cent ral é o desenvolvim ent o da

qualidade do sist em a de educação t écnica nos países par t icipant es. A pesquisa

«Educação Pr ofissional no Br asil, Evasão e Tr ansição par a o Tr abalho» abr igava

diver sos out r os pr oj et os de m est r andos e dout orandos, possuindo, assim ,

int er faces com a pr esent e pesquisa, par t icular m ent e, no que se r efer e à colet a de

infor m ações sobr e as condições de acesso e per m anência da pessoa com deficiência

nas escolas t écnicas de Minas Ger ais.

No pr ocesso de execução da pesquisa sobr e os fat or es de per m anência e

evasão na escola t écnica, as quest ões r efer ent es à inclusão da pessoa com

deficiência nessa m odalidade de ensino for am inser idas nas discussões do gr upo e

em t odas as et apas e pr ocedim ent os da pesquisa. A par t icipação no gr upo de

pesquisa possibilit ou a cont ext ualização das quest ões específicas do aluno com

deficiência no âm bit o das quest ões ger ais de educação pr ofissional.

Par a com pr eender as r azões pelas quais a or ganização escolar par a pessoa

com deficiência é difer enciada, for am ut ilizados dist int os procedim ent os de

pesquisa: pr ocedim ent os em com um com a pesquisa sobr e evasão na escola

t écnica e pr ocedim ent os exclusivos par a a pesquisa sobr e polít ica de educação

pr ofissional par a pessoa com deficiência.

O est udo aqui apr esent ado t eve com o pr essupost o o ar gum ent o de que a

educação dir ecionada às pessoas com deficiência, especialm ent e a educação par a o

t r abalho, assum e um a for m a difer enciada.

Para verificar com o essa difer enciação acont ece no âm bit o da or ganização

do sist em a de ensino no Br asil com o um t odo e em Minas Ger ais, especificam ent e,

foi realizado, na prim eira et apa da pesquisa, um m apeam ent o da ofer t a de

(18)

com deficiências. O m apeam ent o t eve com o obj et ivo ident ificar e car act er izar as

difer ent es for m as de or ganização da educação profissional em nív el inicial e m édio,

às quais o t r abalhador com deficiência t inha acesso. A pr incipal font e de

infor m ações par a essa et apa adveio dos m icr odados do censo escolar 2005, 2006 e

2007, disponibilizados pelo I nst it ut o Nacional de Est udos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teix eira ( I NEP) e da Secret aria de Est ado de Educação de Minas Gerais

( SEE/ MG) . As seguint es quest ões or ient ar am a busca de infor m ação: em quais

program as e inst it uições predom inavam as m at r ículas das pessoas com

deficiências? Quem era responsável pela ger ência e m anut enção dessas

inst it uições? Com o er am as condições de acesso, per m anência e pr ogr essão

( acessibilidade arquit et ônica, equipam ent os adequados e profissionais de apoio) ?

O est udo das inform ações fornecidas pelo censo escolar do I NEP e pela SEE

de Minas Ger ais m ost r ou que a educação profissional dir ecionada à pessoa com

deficiência é realizada predom inant em ent e em program as de form ação inicial, por

m eio de oficinas pedagógicas. Tendo com o base essas inform ações, foi realizado

um est udo das oficinas pedagógicas ofer t adas em escolas est aduais e nas

Associações de Pais e Am igos dos Excepcionais ( APAES) , no ano de 2008, na r egião

m et ropolit ana de Belo Horizont e. A base desse est udo foi o levant am ent o r ealizado

por m eio de consult a t elefônica às inst it uições que ofer eciam essa m odalidade de

at endim ent o na r egião m et r opolit ana, da análise de docum ent os da Secr et ar ia de

Educação Especial, r efer ent e à pr opost a de im plant ação do at endim ent o

educacional especializado, em oficina pedagógica de for m ação e capacit ação

pr ofissional em duas escolas est aduais especializadas em Belo Horizont e e de

ent r evist a r ealizada com a coor denador a do set or de educação pr ofissional da

Feder ação das APAES de Minas Ger ais.

Além desses est udos, foi r ealizada a car act er ização das escolas t écnicas,

consider ando as seguint es var iáveis incluídas no censo escolar : vias adequadas às

pessoas com deficiências e/ ou m obilidade r eduzida; sanit ár ios acessíveis; salas de

(19)

m at er iais didát icos e pedagógicos par a a ofer t a do at endim ent o educacional

especializado; núm ero de m at r ículas de alunos com necessidade educacional

especial por dependência adm inist r at iva, e por m odalidade de ensino.

Par a conhecer as ações desenvolvidas e os pr incipais desafios para se

gar ant ir o pr ocesso de inclusão das pessoas com deficiência nas inst it uições de

educação pr ofissional, for am r ealizadas ent r evist as com os r esponsáveis pelos

pr ogr am as de inclusão da pessoa com deficiência na educação profissional e

est udos dos docum ent os r elat iv os ao Pr ogr am a de Educação, Tecnologia e

Pr ofissionalização par a as pessoas com necessidade educacionais especiais ( TEC

NEP) das escolas Técnicas Feder ais, «O Pr ogr am a de I nclusão de Pessoas com

Necessidades Especiais do SENAI1» e o «Program a deficiência e com pet ência do

SENAC2». For am r ealizadas ent r evist as com a coor denador a do set or de educação

pr ofissional da Feder ação das APAES de Minas Ger ais com o r esponsável pela

Coor denador ia Especial de Apoio e Assist ência à Pessoa com Deficiência em Minas

Ger ais ( CAADE/ MG) , com a coor denador a do Núcleo de Apoio às Pessoas com

Necessidades Especiais do Cent ro Feder al de Educação Tecnológica do Est ado de

Minas Ger ais ( CEFET/ MG) , bem com o com a responsável pelo program a de ações

inclusiv as do SENAI .

Par a alcançar os obj et ivos pr opost os nest a pesquisa, t am bém foi r ealizado

um est udo da legislação educacional e de docum ent os oficiais, part icularm ent e,

aqueles que t r at avam da educação profissional e especial3.

O est udo da docum ent ação t eve com o propósit o ident ificar e analisar as

concepções de educação pr ofissional, os princípios e as est rat égias que nort eavam

1

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

2

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

3

(20)

a int egr ação/ inclusão ou a m ar ginalização/ exclusão da pessoa com deficiência e a

relação est abelecida ent r e a sociedade civ il e as polít icas para im plem ent ação dos

program as e/ ou polít icas.

Em relação à pesquisa sobre evasão escolar, foi realizada um a ex t ensiva

revisão bibliográfica sobr e o conceit o de evasão e as suas variáveis explicat iv as,

selecionando- se dois cont ext os de est udo, sendo o prim eir o relacionado ao

indiv íduo e o segundo ao plano inst it ucional. Par a apr eender as causas da evasão

nesses cont ext os, for am elabor ados quest ionár ios dest inados a alunos evadidos,

diplom ados e pr ofessor es de cur sos t écnicos das ár eas pr ofissionais nas quais foi

ident ificado o m aior núm ero de m at r ículas: saúde, indúst ria, agropecuária, gest ão e

inform át ica. Os quest ionários incluíram um bloco de per gunt as sobr e acessibilidade

e inclusão, além de it ens sobr e o aluno com deficiências incorporadas às quest ões

m ais gerais.

No âm bit o da r ede de educação profissional, com post a por m últ iplas

inst it uições públicas e priv adas, foi selecionada um a am ost r a das escolas t écnicas

feder ais em Minas Ger ais. A definição das escolas do sist em a público se deveu ao

padrão de qualidade da form ação oferecida e ao fat o de se inser ir em na per spect iva

da const r ução de um a educação unit ár ia.

No ent ant o, diant e dos pr azos par a conclusão do dout or ado, da r edefinição

de est r at égias de pesquisa m ais am plas sobr e evasão na educação pr ofissional e da

m orosidade no processo de aplicação dos quest ionários, não foi possív el incluir,

nest e t r abalho, as infor m ações sobr e as escolas t écnicas pensadas no início da

pesquisa. Cont udo, as quest ões elaboradas sobr e a inclusão da pessoa com

deficiência nas escolas t écnicas per m anecer am nos inst r um ent os de colet a de

dados, const it uindo- se em subsídios par a est udos fut ur os.

A pesquisa t eór ica e em pír ica que per m it iu o desenvolvim ent o dest e t r abalho

é apr esent ada em t r ês capít ulos, a seguir discr im inados.

No prim eir o capít ulo é apresent ado, inicialm ent e, o hist órico das polít icas

(21)

deficiência, t ant o do pont o de vist a da educação ger al com o da educação

pr ofissional. Em seguida, é focalizada a for m ação par a o t r abalho no sist em a

escolar de Minas Ger ais, dest acando- se as polít icas educacionais or ient adas para a

pessoa com deficiência. Por fim , é apr esent ado o m apeam ent o das difer ent es

for m as de or ganização da educação pr ofissional disponibilizada na rede ensino no

Br asil e em Minas Ger ais.

O segundo capít ulo t r at a do per curso t eór ico e m et odológico que possibilit ou

r esponder às quest ões for m uladas sobr e o pr oblem a de pesquisa.

A for m a escolhida par a apr esent ação dest a pesquisa est á fundam ent ada no

referencial t eórico- m et odológico gr am sciano. Gram sci m ost ra em seus est udos que

a com pr eensão da r ealidade r equer um a abor dagem hist órica dos problem as a

ser em analisados. Nesse sent ido, é focalizado o pr ocesso int egr ação/ m ar ginalização

ou exclusão/ inclusão da pessoa com deficiência na or ganização escolar,

not adam ent e no que se r efer e à sua for m ação par a o t rabalho. O obj et ivo é o de

sit uar a pr oblem át ica da pesquisa, r essalt ando seu nexo com os condicionant es

econôm ico, polít ico e cult ur al de um a det erm inada época e localidade.

Do pont o de vist a t eór ico, é r ealizada um a r eflexão sobr e os conceit os que

cont r ibuem par a explicar a quest ão da exclusão social e educacional, bem com o as

polít icas para a inclusão social, a organização de um sist em a par alelo de educação

par a as pessoas com deficiência, além do fat o de que os pr oblem as que lhes dizem

r espeit o at ingem t odas as classes sociais e não apenas as classes subalt er nas. Par a

explicar essa dim ensão do pr oblem a, são abor dados os conceit os de Gr am sci sobr e

hegem onia, Est ado, cult ur a, papel dos int elect uais e or ganização da escola na

sociedade capit alist a. Out r a dim ensão t eórica fundam ent al ao est udo do pr oblem a

exclusão/ inclusão r elaciona- se ao debat e sobr e a unidade na diver sidade, r efer ência

dialét ica de super ação das desigualdades sociais, que Mar x desenvolve a par t ir de

Hegel, ex plicit ando o problem a das classes sociais, sendo r et om ada por Gr am sci e

out r os aut or es que dão cont inuidade ao est udo do t em a ( CARMO, 2006; LOSURDO,

(22)

No t er ceir o capít ulo, são analisadas as diver sas significações at ribuídas às

difer enças biológicas e suas im plicações par a a or ganização da escola. Ainda no

t er ceir o capít ulo, são focalizados o conceit o de inclusão e a discussão da deficiência

com o difer ença, com o obj et ivo de ident ificar a r eapr opr iação e r essignificação do

conceit o de difer ença no âm bit o dos m ovim ent os da sociedade civil. Em seguida,

são abor dadas as polít icas dir igidas às difer enças, no sent ido da inclusão social e

educacional. Aqui, t am bém , o conceit o de inclusão é exam inado, a fim de explicar a

sua im port ância e o seu significado para as polít icas de educação pr ofissional.

Por fim , concluím os que est e est udo visa a apr esent ar cont r ibuições par a a

for m ulação de polít icas públicas que for t aleçam a const it uição de um a or ganização

escolar que pr opor cione às pessoas, e t am bém àquelas com deficiência, um a

for m ação cient ífica e t ecnológica ar t iculada ao m undo do t r abalho. Enfim , um a

form ação que não se lim it e a preparar os indivíduos par a um a cidadania abst r at a,

m as que t enha em m ir a preparar o especialist a+ polít ico, ist o é, o dir igent e. E t al

for m ação r equer a const it uição de um a escola dem ocr át ica, com pr om et ida com a

educação de t odos independent em ent e de suas difer enças cult ur ais, econôm icas,

(23)

Ca pít u lo I - Edu ca çã o pa r a a pe ssoa com de ficiê n cia : a

or ga n iza çã o da e scola e a s polít ica s e du ca cion a is n o

Br a sil

Est e capít ulo est á or ganizado em cinco t ópicos. No pr im eir o deles, r ealizo

um a r et r ospect iva hist ór ica dos pr ocessos de difer enciações educacional, a

const it uição de sist em as par alelos no int erior da organização escolar . No segundo,

focalizo a int erface ent re as polít icas de educação profissional e especial na década

de novent a. Já no t er ceir o t ópico, dest aco o panor am a da educação das pessoas

com deficiência no Br asil e, no quar t o, a or ganização da educação pr ofissional no

Brasil e em Minas gerais e por últ im o apr esent o o m apeam ent o da educação

profissional.

1 .1 - H ist ór ico da s polít ica s e du ca cion a is pa r a a pe ssoa com de ficiê n cia

Nest e t ópico, é apr esent ada um a sínt ese da hist ór ia das polít icas sociais, em

seu r ecor t e educacional, com foco na organização da educação pr ofissional da

pessoa com deficiência. O obj et ivo é o de apr eender algum as quest ões específicas

r efer ent es à educação da pessoa com deficiência no fluxo da educação r egular e

pr ofissional, nas condições sociais, econôm icas e cult ur ais br asileir as.

No âm bit o das polít icas educacionais, são focalizadas as concepções de

educação pr ofissional e, dent r e elas, aquelas volt adas às pessoas com deficiência,

abor dando t am bém a r elação ent r e Est ado e sociedade civil no desenvolvim ent o

das polít icas analisadas. Não há a pr et ensão de desenvolver um a pesquisa

hist ór ica, m as sim de cont ext ualizar o sur gim ent o e/ ou a pr edom inância de

det er m inada concepção educacional e, de for m a especial, aquelas dir ecionadas à

for m ação par a o t r abalho no âm bit o das relações econôm icas, cult urais e polít icas

(24)

Dur ant e os pr im eir os t r ês séculos da hist ór ia br asileir a, as pessoas com

deficiência ( anor m ais) eram ent endidas com o doent es incur áveis e incluídas na

cat egor ia de pobr es e desvalidos da sor t e. A educação, saúde, e assist ência à

pessoa com deficiência er a r esponsabilidade pr at icam ent e ex clusiv a da fam ília. A

par t ir de 1543, for am cr iadas inst it uições com o obj et iv o de pr est ar ser viços de

assist ência aos pobr es, doent es, ór fãos e viúvas. Um exem plo dessa t endência são

as sant as casas de m iser icór dias, cr iadas em diver sas pr ovíncias do país. Nesse t ipo

de inst it uição, er am acolhidos, dent r e os ór fãos, m uit os r ecém - nascidos com

deficiência, especialm ent e pelo abandono na r oda dos expost os4. As sant as casas

er am m ant idas at r avés de doações de polít icos influent es, nobres t it ular es e r icos

com er ciant es. Som ent e em 1821, no Rio de Janeir o, foi im plant ada a pr im eir a

lot er ia com a renda dest inada, inicialm ent e, para o recolhim ent o de órfãos, t endo

algum as cot as par a a casa dos expost os e para o sem inário São José e São

Joaquim . Os cr it ér ios par a eleição e nom eação de ir m ãos que deviam ger enciar a

Sant a Casa da Miser icór dia do Rio de Janeir o, em 1838, são apr esent ados por Melo

( 1997, p. 162) .

1 - ser pur o de sangue há pelo m enos duas ger ações, o que equivale dizer : não t er sangue de negr o, m our o ou j udeu. Tal exigência t am bém r ecaía sobr e a m ulher do candidat o [ est a r egr a foi abolida no século XI X] ; 2 - ser liv r e de t oda infâm ia de fat o e de dir eit o; 3 - t er idade convenient e: pelo m enos 25 anos no caso de ser solt eir o; 4 - não ser vir à casa por salár io; 5 - ser isent o de t r abalhar com suas pr ópr ias m ãos: em caso de ser oficial m ecânico', ser dono de sua t enda; 6 - ser de bom ent endim ent o e saber : que saiba ler e escr ever ; 7 - t er r enda suficient e par a acudir ao ser v iço da ir m andade quando necessár io e par a não ser suspeit o de apr oveit ar do dinheir o da inst it uição em benefício pr ópr io.

Esses cr it ér ios dem onst r am que, além de um a dist inção econôm ica - ser

um a pessoa de posse - havia um a explícit a discr im inação r acial e ét nica– “ ser pur o

de sangue há pelo m enos duas ger ações, o que equivale dizer : não t er sangue de

4 A roda dos expostos consistia num mecanismo utilizado para abandonar (expor na linguagem

(25)

negr o, m our o ou j udeu” . A polít ica social er a delegada aos cidadãos de posse,

desde que não fossem j udeu, negr o ou m our o. Os «cidadãos de posse» deviam

ofer ecer pr ot eção e orient ação m or al aos pobr es e «desvalidos da sor t e».

Na polít ica de assist ência, a beneficência er a cir cunscr it a às obr igações

m orais, result ado de virt udes indiv iduais de carát er v olunt ário e espont âneo. As

relações ent re beneficiário e benfeit or não er am cont em pladas na esfer a cont r at ual

do dir eit o. A polít ica social er a r est r ingida à esfer a da m or al pública, que

r egulam ent ava as r elações sociais no âm bit o dos cost um es, delegada a cidadãos

esclar ecidos, que deviam ser vir volunt ariam ent e ao exercício de prot eção das

classes inferiores. As relações est abelecidas ent r e benfeit or e beneficiár io er am de

dependência e subser viência ( CASTEL, 1999) .

Foi nesse cont ext o da assist ência car it at iva, volt ada par a os desvalidos da

sor t e por m eio de or ganizações da sociedade civil, que o at endim ent o à pessoa com

deficiência no Brasil iniciou- se. As organizações assist enciais for am cr iadas no

per íodo colonial, sendo os pr incipais m ot ivador es e pr ot agonist as o Est ado e a

I gr ej a. “ At é o final do séc. XI X t odas as organizações sem fim lucrat ivo foram

criadas pela I grej a Cat ólica, com o m andat o do Est ado, sob o r egim e do padr oado,

num a sim biose ent r e as duas inst it uições” ( Landim e Vilhena5 apud: TEODÓSI O,

BATI STA, e GI VI SI ÉZ, 2003, p. 12) . No regim e de padroado, o Est ado sust ent ava o

cler o e apoiava a divulgação da dout r ina cat ólica na colônia; em cont r apar t ida, a

I gr ej a defendia os int er esses da m onar quia por t uguesa.

As prim eiras iniciat iv as gov ernam ent ais de educação profissional surgiram

no âm bit o daquelas inst it uições assist enciais. A par t ir de 1840, for am cr iadas, por

dez gover nos pr ovinciais, as Casas de Educandos Ar t ífices, com a finalidade de

acolher e ensinar um ofício aos m eninos desvalidos e, dent r e eles, os ór fãos

m aiores de set e anos que residiam na casa de expost os ( CUNHA, 2000) .

Consider ando que as casas de expost os r ecebiam cr ianças com anom alias, Jannuzzi

5

(26)

( 2004) deduz que aquelas cr ianças cuj a lim it ação física, sensorial ou int elect ual não

com pr om et ia o exer cício de at iv idade m anual er am encam inhadas par a as casas de

educandos art ífices, enquant o as m ais com prom et idas perm aneciam j unt o aos

adult os, nos locais m ant idos pela sant a casa par a doent es e alienados. No ent ant o,

j á havia um processo de seleção para acesso à form ação para o t rabalho, com o

indicam as nor m as par a adm issão no I nst it ut o de educando de Ar t ífices, cr iado em

1874, em São Paulo: os educando dever iam t er ent r e onze e t r eze anos - t am bém

dever iam apr esent ar “ condições sanit ár ias sat isfat ór ias” e ser em vacinados

( MORAES, 2000) .

As escolas de educação pr ofissional, segundo Cunha ( 2000) , seguiam

ger alm ent e o m odelo de for m ação par a t r abalho m anufat ur eir o, im plant ado no

Colégio das Fábr icas, cr iado em 1809, par a abr igar os ór fãos t r azidos de Por t ugal

por D. João VI . No período inicial, o ensino de ofício era desenv olv ido em

est abelecim ent o de t r abalho ( cais, hospit ais, quar t éis m ilit ar es, et c.) .

Post eriorm ent e, ao ensino de ofício foi acr escent ada a inst r ução nas pr im eir as

let r as e, depois, o ensino prim ário.

De for m a ger al, a or ganização da educação no país er a m uit o pr ecár ia.

Apesar da const it uição de 1824 pr om et er inst r ução pr im ár ia e gr at uit a a t odos,

com o assinala Jannuzzi ( 2004) , em 1878, havia no país som ent e 15.561 escolas

pr im ár ias com 175 m il alunos para um a população de nove m ilhões de habit ant es.

Apenas cer ca de 2% da população er a escolar izada. O ensino prim ár io foi

r egulam ent ado pela lei de out ubr o de 1827, r egulam ent ação est a que per dur ou at é

1946. A lei pr evia o ensino de leit ur a, escrit a e cont as, sem esquecer os pr incípios

m or ais e a dout r ina da r eligião cat ólica. Não se pr evia, nessas escolas, a for m ação

par a o t r abalho. Nessa or ganização incipient e das escolas pr im ár ia, er a

pr at icam ent e nula a m at r ícula de alunos com deficiência.

Na segunda m et ade do século XI X, a educação da pessoa com deficiência

sur giu de m aneir a acanhada no conj unt o das concret izações de um liber alism o

(27)

de cim a par a baixo. A independência br asileir a da colônia por t uguesa ocor r eu a

par t ir de ar r anj os ent r e set or es das classes dom inant es, o que per m it iu que o

pr im eir o I m per ador fosse her deir o do t r ono por t uguês ( JANNUZZI , 2004;

COUTI NHO, 2001) .

A at uação dos int elect uais ocor r eu por m eio de vult os ligados ao I m per ador ,

em um pr ocesso que Cout inho ( 2000) denom ina “ int im ism o à som br a do poder ” .

Foi j ust am ent e at rav és da influência de José Álvar es de Azevedo, que est udar a em

Par is, no I nst it ut o dos Jovens Cegos, e do m édico do im per ador , o Dr . José

Fr ancisco Xavier Sigaud, que t inha um a filha cega, que foi criado o I m perial

I nst it ut o dos Meninos Cegos, em 1854, hoj e I nst it ut o Benj am in Const ant . O

I m per ial I nst it ut o dos Meninos Sur dos, inaugurado em 1857, at ualm ent e

denom inado I nst it ut o Nacional de Educação de Surdos ( I NES) , foi criado t am bém a

par t ir da int er venção de Edouar d Hüet , educador fr ancês com sur dez congênit a, e

do Mar quês Abr ant es, vult o que vinha se dist inguindo em car gos polít icos.

O I m per ial I nst it ut o dos Meninos Cegos t inha com o obj et ivo, além de

pr om over a educação for m al, “ pr epar ar os alunos, segundo suas capacidades

individuais, par a o exer cício de um a art e, de um ofício, de um a profissão liberal” 6.

O referido I nst it ut o oferecia oficinas de t r einam ent o em at iv idades profissionais

elem ent ares, volt adas basicam ent e par a o adest r am ent o m anual, envolvendo a

confecção de vassouras, obj et os de vim e, além de em palhação e colchoar ia,

est ofar ia, encader nação e afinação de piano. Já o I nst it ut o dos Meninos Sur dos

t inha com o finalidade a educação lit erária e o aprendizado profissional,

principalm ent e de cunho m anual, t ais com o encader nação e sapat ar ia ( SI LVA,

1987, VOGEL, 1999) .

Os cur sos de educação pr ofissional criados no I nst it ut o Benj am im Const ant e

no I nst it ut o Nacional de Educação de sur dos, no período do I m pério, seguiram os

m esm os pr incípios da polít ica de educação profissional no Brasil prev alent e naquela

6

(28)

época. Tr at a- se de um a for m ação pr ofissional de cunho assist encialist a, com

enfoque no dom ínio de at ividades m anuais, volt ada par a um núm er o r eduzido de

apr endizes, pr edom inant em ent e m eninos. As vagas grat uit as nos inst it ut os er am

lim it adas e dest inadas àqueles com pr ovadam ent e car ent es; no ent ant o, as vagas

par a aqueles que pudessem pagar eram ilim it adas ( decr et o 9026/ 1911) .

As inst it uições educacionais dir ecionadas ao deficient e m ent al for am

or ganizadas no final do I m pér io. A pr im eir a er a anexa ao Hospit al Psiquiát r ico

Juliano Mor eir a, em 1874, na cidade de Salvador / BA. A segunda, Escola México,

cr iada em 1887, no Rio de Janeir o, que at endia t am bém deficient es físicos e

visuais. Am bas est avam sob a dependência adm inist r at iv a do Est ado.

Em um a sociedade de base agr ícola- rur al, com escassas escolas dest inadas

a fr ação e set or es da classe dom inant e, a escolar ização não é consider ada

im por t ant e por nenhum a das cam adas sociais. Nesse cont ext o, poucos indivíduos

são considerados anorm ais, pois “ a escola não funcionava com o m eio de pat ent ear

deficiências” (JANNUZZI, 2004, p. 16) .

O cont ext o econôm ico, social e polít ico do final do século XI X e início do

século XX foi m ar cado por m udanças decor r ent es do em er gent e pr ocesso de

indust rialização, pelo fim da escrav idão, pelo crescent e aum ent o de im igrant es;

pelo pr ocesso de t r ansição de um a or ganização social, de base agr ícola- r ur al, par a

um a or ganização de base ur bana- com er cial/ indust r ial. Enfim , passava- se do

dom ínio das oligar quias agr o- expor t ador as par a um a dir eção polít ica ligada aos

int er esses da indust r ialização.

Mor aes ( 2000) m ost r a que, naquele cont ext o de m udanças, a ação

pedagógica e a prát ica de r epr essão dos set or es dom inant es t inham com o obj et ivo

a “ r econst rução nacional” , a conform ação da cidadania e a or ganização do t r abalho.

Par a isso, são desenvolvidas est r at égias e disposit ivos visando à m or alização e ao

aj ust am ent o do t r abalhador à nova or dem social. O Est ado int er vém favor ecendo

as condições para a inst it uição do t rabalho livr e, sej a com o invest im ent o em

(29)

Desse m odo, no início do século XX, o gov erno federal const it uiu um a rede

de escolas pr ofissionalizant es nos Est ados, j ust ificada pela necessidade de

for m ação de operários para o t rabalho indust r ial, cuj a finalidade er a a de educar

pelo t r abalho os desv alidos da sor t e, com o obj et ivo de r et ir á- los da r ua,

ofer ecendo- lhes o ensino pr ofissional pr im ár io gr at uit o. A for m ação pr ofissional,

assinala Dor e Soar es ( 1999) , er a de car át er assist encialist a, fundam ent ada na

concepção do t r abalho com o m eio par a cor r igir m or alm ent e aqueles que er am

cult ural e socialm ent e m arginalizados. A ofer t a desse t ipo de educação er a

desvinculada do sist em a for m al de ensino.

Quando a educação pr ofissional no Brasil passa a ser regulam ent ada,

apar ece um a clar a exclusão de indivíduos com deficiência da for m ação par a o

t r abalho. Assim , , no início do século passado, o gover no est abeleceu que as

escolas de Ar t ífices e Apr endizes fossem dest inadas de preferência aos

desfavor ecidos da sor t e, desde que não apr esent assem defeit os que os

inabilit assem par a o apr endizado do ofício [ Decr et o N. 7.566 / 09] . Esse crit ério de

seleção par a o ingr esso nas escolas de apr endizes e ar t ífices é confir m ado em

r egulam ent ações post er ior es ( decr et o n. 9.070 – de 25 de out ubr o de 1911;

decr et o n. 13.064 – de 12 de j unho de 1918) . A condição de “ não possuir defeit o”

para ser adm it ido no curso dever ia ser com pr ovada com cer t idões e at est ados

em it idos por aut or idade com pet ent e.

Os m édicos, inicialm ent e, e os psicólogos, post eriorm ent e, cont ribuíram

significat ivam ent e par a a or ganização dos processos de seleção social e par a a

definição do conceit o de “ incapacit ado” . Est e ser ia ident ificado quando não

apr esent asse “ condições sanit ár ias sat isfat ór ias” , sendo por t ador de defeit os físicos

e m orais, o que levaria à exclusão do acesso à escola ou o acesso ser ia gar ant ido

apenas em espaços r est r it os. O discur so m édico e psicológico cont ribuiu para fixar

diversos aspect os da vida social e polít ica daqueles classificados com o anor m ais,

(30)

Segundo Jannuzzi ( 2004) , em 1917, o Ser viço m édico- escolar de São Paulo

er a encar r egado em t odo Est ado da inspeção dos est abelecim ent os de ensino

públicos e priv ados, inclusiv e daqueles volt ados par a a educação pr ofissional.

Dent r e as suas at r ibuições, const ava t am bém a seleção dos anor m ais, com a

car act er ização das deficiências ident ificadas e do at endim ent o especializado

necessár io, bem com o a cr iação de classes e escolas par a eles e a or ient ação

t écnica dos pr ofissionais que nelas t r abalhassem . A aut or a dest aca que, em r azão

da abr angência do ser viço, do pr ecár io cor po t écnico, da am plit ude do conceit o de

anorm alidade7, e da or ient ação im pr ecisa dada pelos m édicos aos pr ofessor es,

m uit os indiv íduos foram considerados “ anorm ais” e excluídos do acesso à escola

ou, na m elhor das hipót eses, encam inhado par a um a classe ou escola especial.

Dent r e aqueles consider ados anor m ais, encont r avam - se os deficient es, t ím idos,

indisciplinados, pr eguiçosos e r et ar dados.

A organização das prim eiras iniciat ivas escolar es par a os indivíduos

considerados anorm ais foi or ient ada pela concepção m édico- pedagógica. Tr at a- se

de um a concepção segundo a qual o obj et ivo da educação er a o de supr ir as falhas

das pessoas, decor r ent es da “ anor m alidade” que por t avam . ( JANNUZZI , 2004) .

Nessa per spect iva, que ainda est á pr esent e na or ganização at ual da escola, a

pr át ica pedagógica e a avaliação est ão cent r adas na deficiência. Assim , o foco de

at enção é a deficiência e suas consequências, inclusive no que diz r espeit o aos

pr ogr am as de for m ação par a o t r abalho ( OLI VEI RA, 2002) .

No âm bit o int er nacional, após a pr im eir a Guer r a Mundial ( 1914–1918) ,

com eçam a sur gir iniciat ivas dir ecionadas à r eabilit ação física e pr ofissional de

soldados m ut ilados na guer r a. Os pr ogr am as de r eabilit ação pr ofissional sur gir am

nas pr im eir as décadas do século XX: na Fr ança, 1914; na Gr ã Br et anha, Alem anha

7

(31)

e Canadá, 1915; na Bélgica, 1916; e nos Est ados Unido, 1917. Esses pr ogr am as

er am or ient ados pela concepção m édico- pedagógica.

Logo no início da I Guerra, foi organizado um local para acolher os soldados

fer idos, que ficou conhecido com o depósit o de inválidos e cuj a finalidade er a a de

pr est ar ser viços cir úr gicos e r eabilit ação pr ofissional. Diver sos cur sos er am

ofer ecidos, dent r e eles o de car pint ar ia, m ecânica, elet r icist a e sapat eir o. O

obj et ivo da for m ação er a o de capacit ar os soldados com deficiência par a at uar nas

at ividades de supor t e da guer r a. Post er ior m ent e, os obj et ivos de for m ação for am

am pliados, m odificados par a pr epar ar os soldados com deficiência par a a r einser ção

na at iv idade profissional. Os serv iços inicialm ent e dest inados apenas aos soldados

com deficiência post er ior m ent e for am am pliados par a o at endim ent o a out ros

indivíduos com deficiência. ( I LO,2003)

Na Am ér ica do Nor t e, m esm o ant es da prim eira Guer ra Mundial, foram

or ganizadas exper iências denom inadas de oficinas pr ot egidas ou abr igadas. A

pr im eir a delas foi desenvolvida pelo I nst it ut o Per kins, no ano de 1829, em Bost on.

Tinha com o obj et ivo t r einar indivíduos cegos par a at uar nas at ividades de

m anufat ur a. Out r o exem plo é o da Goodw ill I ndust ries, exper iência pr om ovida pela

I gr ej a Met odist a, em 1907. Seu obj et ivo er a o de pr opor cionar às pessoas com

deficiência um a opor t unidade de ganhar a vida at r avés do t r abalho de

r econdicionam ent o de r oupas, sapat os e m oveis descar t áveis ( SI LVA, 1987) . As

oficinas de Goodw ill caract erizav am - se pelo t r abalho de pessoas com deficiência em

am bient e prot egido e isolado do convívio com t r abalhador es não- deficient es. Sua

difusão ocor r eu por m eio da iniciat iva de or ganizações assist enciais de car át er

priv ado e filant rópico. Post eriorm ent e, m uit os desses ser viços for am incor por ados

por inst it uições vinculadas ao Est ado.

O gradual processo de indust rialização no Brasil, em m eados do século XX,

pr opor ciona o cr escim ent o ur bano, decor r ent e do deslocam ent o de t r abalhador es

do m eio r ur al, e da vinda de em igr ant es est r angeir os. No que se r efer e à econom ia,

(32)

im por t ação de pr odut os indust r ializados. A necessidade de supr ir as exigências

m ais prem ent es de consum o int erno lev ou à am pliação e div ersificação do parque

indust r ial br asileir o. A v ida na cidade, o t r abalho na m anufat ur a e na indúst r ia vão

exigir dom ínio de conhecim ent os os quais não er am necessár ios aos t r abalhador es

na or ganização social agr ár ia. A escola passa a ser exigida por vár ias fr ações e

segm ent os sociais.

As ligas nacionalist as, o Part ido Com unist a e a Aliança Liberal passaram a

defender a educação escolar com o inst r um ent o de dem ocr at ização, enfat izando a

alfabet ização e a escola pr im ár ia, principalm ent e porque a const it uição republicana

pr oibiu o vot o dos analfabet os.

O cam po educacional, nas pr im eir as décadas do século XX, assinala Cunha

( 2005) , est ava dividido em duas facções: de um lado, os que defendiam um a

educação delineada pela disciplina e pelo respeit o à or dem est abelecida e, de out r o

lado, os que viam o pr ogr am a da Escola Nova com o o m ais adequado par a at ender

às exigências do pr ocesso de m oder nização. No pr im eir o bloco, est ão os cat ólicos e

t odos os que defendiam a or dem est abelecida. No segundo bloco, os liber ais, que

se dividiam ent r e a t endência elit ist a e a igualit ár ia. Est a últ im a t inha o apoio de

alguns educador es socialist as.

A t endência igualit ar ist a foi inspir ada em grande part e por John Dew ey e

t eve com o seu principal pr opagador Anísio Teixeir a, cont inua Cunha ( 2005) . Essa

t endência apont ava a disposição “ espont ânea” da sociedade capit alist a de

perpet uar as inj ust iças sociais, ao ut ilizar a educação escolar para reforçar o st at us

quo. A pedagogia da Escola Nova, ainda segundo Cunha, t inha com o obj et ivo

com bat er as iniqüidades ao for m ar indivíduos par a a dem ocr acia e não par a

dom inação/ subordinação. Anísio Teix eir a, na int erpret ação de Cunha ( 2005) ,

cr it icava a or ganização do sist em a educacional, est r ut ur ado com um a escola

pr im ár ia e pr ofissional, par a o povo, e um a escola secundár ia e super ior , par a a

elit e. Com base no ideár io da Escola nova, ele pr opunha um a escola pública, laica e

(33)

pós- pr im ár io. Além disso, defendia um a especial ar t iculação do ensino pr ofissional

com o secundár io.

Já o liber alism o elit ist a, de acor do com Cunha, ar gum ent ava que os m ales

sociais er am decor r ent es de um a educação inadequada das elit es br asileiras para a

condução dos negócios públicos e pr ivados. Seus defensor es pr opunham a seleção

de indivíduos t alent osos nas diver sas cam adas sociais par a r eceber em um a

educação difer enciada. Os “ Pioneir os da Escola Nova” não er a um gr upo

hom ogêneo e o t ext o que elabor ar am , o Manifest o ( 1932) ao povo e ao gover no,

est á per m eado de cont r adições. Ao m esm o t em po em que apr esent ar am a pr opost a

de um a escola única, laica, pública, grat uit a e ger ida pelo Est ado, t am bém

defendiam a seleção do que denom inavam “ elit e t écnica e cult ur al” , at r avés de

t est es psicológicos, ou sej a, iam escolher os que eram biologicam ent e nascidos

par a ser em dir igent es.

O pr ogr am a da Escola Nova poder ia ser consider ado um a dir et iva que

int egr ava os int er esses da fr ação da bur guesia indust r ial, que passou a com por o

gover no a par t ir das t r ansfor m ações ocor r idas no Est ado nos anos t r int a par t e do

proj et o de direção int elect ual e m oral do gr upo social que com pôs o gover no par a

garant ir sua hegem onia polít ica no processo de “ dem ocr at ização” . Ent ão, o ar r anj o

de for ças polít icas que passou a const it uir o Est ado for çou a fr ação da bur guesia

indust r ial a se subm et er aos int er esses da fração agr ár ia. Am bas eram polít ica e

econom icam ent e fr acas e não for am capazes de elabor ar um pr oj et o de hegem onia

que incor por asse as classes subalt er nas. Desse m odo, o pr ocesso de

indust rialização do Brasil ex cluiu a part icipação popular das decisões polít icas. O

Est ado se apoiou na for ça ideológica da I grej a Cat ólica para est abilizar a quest ão

social ( DORE, 2003) .

A hier ar quia da I gr ej a cat ólica vinha per dendo poder de influência sobr e a

sociedade desde a pr oclam ação da r epública e com o fim do padr oado. A par t ir de

ent ão, o Est ado ficou pr oibido de sust ent ar o cler o e as congr egações confessionais,

(34)

e m obilizou- se par a m ant er o seu poder sobr e o Est ado, gar ant indo r ecur sos par a

suas obr as e a dissem inação dos pr incípios cr ist ãos nas diver sas inst âncias da

or ganização social.

As pr opost as veiculadas pelo pr ogr am a de Escola Nova com eçam a penet r ar

na organização da escola no Brasil int egrando as polít icas de m oder nização do

gover no de Get úlio Var gas ( 1930- 1945) . A polít ica est at al, naquele per íodo, t or

na-se o principal agent e no pr ocesso de m oder nização, t ant o naquilo que na-se r efer e ao

desenvolvim ent o econôm ico, invest indo na infr a- est rut ur a necessária par a a

expansão indust r ial, com o em est r at égias de convencim ent o e per suasão das

or ganizações da sociedade civil.

Os pr incípios da Escola Nova for am fundam ent ais par a a or ganização

educacional do país e par a a im plem ent ação do m odelo de educação dir ecionada às

pessoas com deficiência. O Est ado de Minas Ger ais, segundo Mor at o ( 2008) , foi um

dos pr ecursor es da im plant ação daquele m odelo pedagógico, o qual t eve

r eper cussão na or ganização da escola, em t odo o país, j á que o Secr et ár io de

Educação Minas Ger ais, Fr ancisco Cam pos, foi o pr im eiro Minist ro da Educação.

Consider ando o pr ot agonism o do Est ado m ineir o na or ganização da educação

especial, focalizarei a seguir alguns fat os hist ór icos da década de 30 do século XX,

que concor r er am par a a configur ação de um sist em a par alelo da educação especial.

Em 1929, Fr ancisco Cam pos or ganizou a escola de aper feiçoam ent o par a a

for m ação de pr ofessor es, com o obj et ivo de assegur ar o êxit o das m oder nizações

pr opost as par a o ensino pr im ár io, iniciadas por m eio da r efor m a de 1927, em Minas

Ger ais ( MORATO, 2008) . Com esse obj et ivo, t r ouxe da Eur opa um grupo de

psicólogos- pr ofessor es par a or ient ar a for m ação docent e de acor do com os

pr incípios escolanovist as. Dent r e os pr ofissionais que apor t ar am ao Br asil, est ava a

r ussa Helena Ant ipoff que vinha par a at uar no labor at ór io de psicologia da Escola

de Aper feiçoam ent o.

Helena Ant ipoff, afir m a Cassem ir o ( 1996) , fazia par t e do gr upo de

(35)

de Clapar ède em Genebr a. Par a Dor e Soar es ( 2000) , Édouar d Clapar ède (

1873-1940) , psicólogo suíço, foi um pr opagador dos pr incípios da escola nova,

defendendo que o cent r o do pr ocesso de ensino er a o aluno, consider ado

individualm ent e em suas capacidades. Essa for m ulação é um a das pr em issas que

j ust ifica a or ganização de m odelos difer enciados de escolas, consider ando as

capacidades e apt idões de cada aluno. Ainda de acor do com a r efer ida aut or a, os

escolanovist as ent endem que as apt idões e capacidades são condições inat as dos

indivíduos, independent em ent e da influência de fat or es sociais e cult urais.

Tendo com o base os princípios da Escola Nova, Helena Ant ipoff or ganizou as

classes nos gr upos escolar es de for m a hom ogênea. Os alunos er am selecionados

par a classes A, B, C, D e E, de acor do com o gr au de desenvolvim ent o m ent al, o

qual era ident ificado por m eio de t est es psicológicos. Som ent e as classes D e E

for am consider adas classes especiais, dest inadas àqueles cuj os r esult ados nos

t est es de m edidas do coeficient e int elect ual ficavam abaixo do que er a consider ado

nor m al, sendo incluídos na cat egor ia de excepcional. De acor do com Ant ipoff

( 2002) , o agr upam ent o das cr ianças em classes hom ogêneas seguia os pr incípios

de or ganização r acional do t r abalho indust r ial, defendidos por Taylor .

Helena Ant ipoff, j unt am ent e a um grupo de int elect uais, religiosos e

pedagogos, or ganizou, em 1932, um a inst it uição filant r ópica e cient ífica, dest inada

ao t rat am ent o de excepcionais “ orgânicos e sociais8” em Belo Hor izont e, no Est ado

de Minas Ger ais, denom inada Sociedade Pest alozzi. Seu Pr im eir o Est at ut o

est abelece: “ Fica inst it uída, nest a capit al, sob a denom inação de sociedade

Pest alozzi, um a associação civil, dest inada a pr ot eger a infância anor m al e

8

(36)

pr eser var a sociedade e a r aça das influências nocivas da anor m alidade m ent al”

( Est at ut o da Sociedade Pest alozzi, apud CASSEMI RO, 1996, p. 26- 27, gr ifo nosso)9.

Em 1935, foi fundado em Belo Hor izont e o I nst it ut o Pest alozzi pelo

secr et ár io da Educação do Est ado, Nor aldino Lim a. Na or ganização do r efer ido

inst it ut o, diver sas classes especiais dos gr upos escolares de Belo Horizont e se

r eunir am em um pavilhão. Dent r e os depar t am ent os que com punham o I nst it ut o,

est ava o Cent r o de Or ient ação Pr ofissional dos anor m ais e deficient es, o qual er a

r esponsável por ident ificar as suas aspir ações e capacidades pr ofissionais, bem

com o desenv olv er cursos iniciais de profissionalização de j ardinagem , t ecelagem ,

car t onagem , m ar cenar ia, sapat ar ia, ser viços e dom ést icos ( Cf. CASSEMI RO, 1996) .

Com a conclusão da pr im eira t urm a do curso prim ário oferecido pelo

I nst it ut o Pest alozzi, em 1939, sur giu à dem anda de or ganizar a cont inuidade dos

est udos dos m enor es desaj ust ados e das cr ianças excepcionais ( CASSEMI RO,

1996) . Nesse sent ido, foi planej ada um a oficina pedagógica e pr odut iva pela

sociedade Pest alozzi, cuj a finalidade era não só a de preparar m enores

desaj ust ados e cr ianças excepcionais par a o t r abalho, m as t am bém a de const it uir

-se com o espaço de t r abalho.

Sob a pr essão da necessidade de assist ir esses m enor es, que não se achavam em condições de cont inuar os est udos em out r os est abelecim ent os, nem de se em pr egar em ocupações pr ofissionais, r esolv eu a sociedade Pest alozzi adquirir um a pr opr iedade r ur al e nela inst alar um a escola gr anj a par a m enor es desaj ust ados e cr ianças excepcionais ( ANTI POFF, 1992b, p. 128) .

Helena Ant ipoff consider ava o t r abalho um m eio de est im ular o

desenvolvim ent o m ent al e a adapt ação dos ex cepcionais e dos m enores

desaj ust ados à sociedade. A for m ação do t rabalho por ela desenvolvida acent uava

a per spect iv a t er apêut ica: t r abalho com o pr ocesso clínico de r eabilit ação m or al e

física.

9 Estatuto da Sociedade Pestalozzi. Arquivos inéditos do acervo do Centro de Documentação e

Imagem

Tabela 1 - Fluxo de Alunos com N.E.E por Etapa/modalidade de Ensino e tipo de atendimento
Gráfico 1 – Evolução de matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais em  escola/classes comum no Brasil - 2002 a 2006
Tabela 2 - Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais na educação  profissional no Brasil – 2006
Tabela 3 - Alunos com necessidade educacionais especiais matriculados nos cursos  técnicos de educação profissional no sistema regular de ensino Brasil – 2005
+3

Referências

Documentos relacionados

GRUPO e contribuem mensalmente para um FUNDO COMUM, em um determinado prazo e com quantia determinada em percentual do preço do VEÍCULO OBJETO DO PLANO DE

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

3259 21 Animação e dinamização de actividades lúdico-expressivas - expressão musical 50 3260 22 Animação e dinamização de actividades lúdico-expressivas -

A cor “verde” reflecte a luz ultravioleta, porém como as minhocas castanhas são mais parecidas com as minhocas verdadeiras, não se confundem com a vegetação, sendo

Estes três eventos envolvem contas de resultado (Demonstração do Resultado) e contas patrimoniais (Balanço Patrimonial).. O resultado apresentado em nada difere das