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3. ESTUDO DE CASO – A ARTE POSTAL DA XVI BIENAL DE SÃO PAULO

3.1 PONTOS E CONTRAPONTOS, A PRESENÇA DE WALTER ZANINI

3.1.1 Pontos e contrapontos

É interessante observar que, embora Zanini relembre “que os críticos de arte não subiam a rampa do museu e poucas vezes entenderam as propostas”369, o trabalho de abertura de novos caminhos, realizado pelo MAC nos anos de ditadura, é inquestionável. A artista Alice Brill comenta que a ênfase maior de Zanini foi aos movimentos jovens, ao ineditismo.

No caso do MAC eu diria que na gestão do Walter Zanini ele teve uma grande preferência pelos movimentos jovens e então ele deu uma chance a todos eles desde que sejam praticamente inéditos e com isso certamente ele contribuiu muito para encorajar os movimentos conceituais jovens (...). Então isso é que eu acho que foi talvez a tarefa mais importante do MAC enquanto o Zanini esteve lá. 370

362 Período da exposição: agosto de 1975.

363 Período da exposição: de novembro de 1975 a fevereiro de 1976. 364 Período da exposição: março-abril de 1976.

365 Período da exposição: março a maio de 1976. 366 Período da exposição: maio e junho de 1976. 367 Período da exposição: setembro a outubro de 1977.

368 Entrevista concedida a Rafael Elia em 07.05.1980. Arquivo Multimeios – Centro Cultural São Paulo TR 0593, p. 07-08.

369 Fonte: http://www.tvcultura.com.br

370 Entrevista concedida a Rafael Elia em 16.04.1980. Arquivo Multimeios – Centro Cultural São Paulo TR 0594, p. 03.

Sobre a Arte Postal, Alice Brill a interpreta como sendo uma das últimas contribuições de Zanini, enquanto à frente do MAC, no sentido de incentivar as novas tendências:

Eu me lembro uma das últimas foi arte postal. Inclusive por um acaso eu entrei na arte postal também, Que eu conheci, por um acaso um dos rapazes que são muito ativos e nos tivemos um papo muito gostoso e depois ele começou a me bombardear com as cartinhas dele. Eu achei muito engraçado e fui respondendo e formamos uma, na maneira dele, aproveitando a carta quase que como uma arte concreta, como suporte de uma arte, e então encontramo-nos várias vezes, ele me apresentou amigos, mas foi assim mais ou menos com espírito de solidariedade por curiosidade, por simpatia a todos os movimentos jovens.371

O artista José Rezende analisa que o MAC, embora tenha absorvido os questionamentos da década de 1960, acabou por adotar uma posição tradicional não tão explícita quanto a de outros museus, mas a seu ver bastante conservadora no sentido em que se apressava em nominar as várias manifestações artísticas diminuindo qualquer nível de tensão.Segundo ele, Zanini:

(...) convida uma quantidade enorme de jovens mas ele de antemão batiza aquilo de por exemplo, arte postal, então na medida em que isso é arte postal e o museu já se apropria desse conceito para mostrar o trabalho, ele impede que esse trabalho tenha alguma eficiência que pudesse ter, eu não sei se seria possível ter ou não, mas sem dúvida o museu já se incube de apropriar e esvaziar qualquer nível de tensão, qualquer nível de questão que essa manifestação pudesse trazer.372

Para Rezende, o fato de o Museu se apropriar da arte, da forma tradicional como o fazia, ou seja, catalogando e guardando estas manifestações, sem discutir neste processo o ponto fundamental dessa produção a nível internacional, minimizava o seu potencial.373

A visão de Rezende sobre as atividades do Museu no período cria um contraponto interessante que deveria ser mais bem analisado pela crítica. Por outro lado, deve-se considerar que a forma tradicional de apropriação por parte do MAC possibilitou a salvaguarda da coleção, o que não ocorreu com outras instituições que optaram por não fazê-lo, como por exemplo, o Centro Cultural São Paulo, como se verá mais à frente. O debate que, segundo Rezende, não existiu, certamente traria ao Museu

371Entrevista concedida a Rafael Elia em 16.04.1980. Arquivo Multimeios – Centro Cultural São Paulo TR 0594, p. 03.

372 Idem, pp. 23- 24. 373 Idem, ibidem.

um referencial extremamente importante para a pesquisa, além de complementar as lacunas de informações do período, fontes basilares para a conservação das obras.

Para o artista e curador Fábio Magalhães, Zanini criou no espaço do MAC um centro de poder fechado, com uma visão reduzida em relação à pluralidade da produção artística que se desenvolvia dentro da arte brasileira. Considera que, pelo fato de o museu estar inserido dentro de uma universidade, deveria tê-lo tornado um local voltado para a produção do ambiente universitário, ou seja, um local de debates e de polêmica. Embora ele reconheça que a preocupação do Museu em ser contemporâneo, em acreditar firmemente nas posições vanguardistas internacionais e em procurar criar um espaço de adequação das tendências de vanguardas internacionais dentro da produção brasileira, fez com que ele superasse o regionalismo, que também é nefasto 374.

Sendo assim, o MAC de Zanini foi considerado, em graus diferentes de importância, um espaço alternativo, de vanguarda, conservador, institucionalizado, centro de poder, de criação de novas tendências. Esta pluralidade de opiniões demonstra inequivocadamente, a importância que o Museu teve no consciente e inconsciente coletivo da época.

Em 1978, Zanini sai do MAC e vai para a Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA/USP) onde, em 1979, assessora a exposição

Multimedia Internacional375, nos mesmos moldes daquelas realizadas no MAC/USP. A exposição, idealizada por Tadeu Jungle e Walter Silveira, reunia trabalhos de estudantes dos vários departamentos da ECA – Rádio e TV, Artes Plásticas, Jornalismo e Cinema – e de artistas já consagrados. A mostra contou com a participação de 237 artistas, dentre os quais Edgardo Antonio Vigo, Leon Ferrrari, Guglielmo Achille Cavellini, Julio Plaza, Regina Silveira, Arthur Barrio, Anna Banana e Paulo Bruscky.

Em 1981, Zanini é convidado por Luiz Diederichsen Villares, presidente da Fundação Bienal, para assumir a curadoria geral da XVI Bienal Internacional de São Paulo.

374 Entrevista concedida a Ivo Mesquita e Rafael Elia em 07.11.1979. Arquivo Multimeios – Centro Cultural São Paulo TR 1228, pp. 3-4.