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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.2 POPULAÇÃO E ATRESIA FOLICULAR

A população folicular preantral já foi estimada em diferentes espécies, sendo de 285.000 em bovinos (SILVA-SANTOS et al., 2011), 33.000 em ovinos (AMORIM et al., 2000), 45.000 em caprinos (LUCCI et al., 1999) e 599.000 em suínos (ALVES et al., 2012) por ovário. Além da variação individual, vários fatores podem afetar o número de folículos presentes no ovário, tais como: a raça (CAHILL; MARIANA; MAULÉON, 1979), a idade (ERICKSON, 1966a; RÜSSE, 1983), os níveis hormonais

(PETERS, 1976), a genética (ERICKSON, 1966b), bem como o status reprodutivo (ERICKSON; REYNOLDS; MURPHREE, 1976) e nutricional do animal (SCARAMUZZI et al., 1993).

Apesar do grande pool de reserva ovariana, é sabido que aproximadamente 99,9% dos folículos são eliminados pelo processo fisiológico conhecido como atresia folicular, tornando o ovário um órgão de baixíssima produtividade. A atresia ocorre por um processo de morte celular programada conhecido por apoptose (TSAFIRI; BRAW, 1984). Em folículos pré-antrais, as primeiras alterações indicativas de atresia ocorrem no oócito, como por exemplo, retração da cromatina nuclear e fragmentação oocitária (MORITA; TILLY, 1999). As alterações nas células da granulosa são raras, uma vez que essas células são mais resistentes à degeneração que os oócitos (SILVA et al., 2002).

Ao longo do desenvolvimento folicular, o folículo adquire a cavidade antral. Neste momento, o oócito torna-se altamente resistente e as primeiras alterações indicativas de atresia são observadas nas células da granulosa pela sensibilidade adquirida ao longo de seu desenvolvimento (SILVA et al., 2002). O destino final dos folículos ovarianos, (i) ovulação ou (ii) atresia, é dependente de um balanço entre diferentes fatores endócrinos, parácrinos e autócrinos que promovem a sobrevivência e aqueles que induzem a apoptose (HSU; HSUEH, 2000).

Diante disso, pesquisas têm desenvolvido vários modelos in vitro que possibilitam o estudo dos fatores que controlam a atresia e favorecem o desenvolvimento folicular (CELESTINO et al., 2010; MATOS et al., 2007a,b), evitando assim as perdas foliculares que ocorrem naturalmente in vivo.

2.3 NEOFOLICULOGÊNESE

A continuidade da oogênese e foliculogênese no período pós-natal, pela atuação de células-tronco, caracteriza e define o processo de neofoliculogênese (JOHNSON et al., 2004, 2005). Desde a apresentação desse conceito, a neofoliculogênese tem sido, portanto, motivo de muitas discussões na comunidade científica, uma vez que os estudos ainda são escassos e imprecisos.

Até pouco tempo atrás, se acreditava no paradigma de que mulheres e as demais fêmeas (exceto as murinas) perdiam sua capacidade de produzir células germinativas primordiais (CGP) durante o desenvolvimento da vida fetal e nasciam com um número

finito de oócitos inclusos em folículos, dos quais apenas um pequeno número iria ovular após a puberdade (WOODRUFF, 2008). Esse conceito foi considerado uma premissa básica da fisiologia da reprodução por mais de 150 anos (BYSKOV et al., 2005). Entretanto, estudos recentes, da equipe do Dr. Jonathan Tilly da Universidade de Harvard nos Estados Unidos, apresentaram evidências de que uma fêmea teria a capacidade de produzir novos folículos durante a vida adulta a partir de células-tronco de linhagem germinativa extra e intraovariana (JOHNSON et al., 2004, 2005). A equipe do Dr. Tilly então postulou que, pelo menos em camundongos, a morte folicular ocorre rapidamente e que a fertilidade normal de um indivíduo adulto não poderia ser mantida se dependesse exclusivamente do pool de folículos presentes no ovário ao nascimento. Resultados semelhantes foram observados em humanos quando células do epitélio germinativo ovariano foram cultivadas e permitiram o desenvolvimento de células da granulosa e oócitos (BUKOVSKY; SVETLIKOVA; CAUDLE, 2005). Recentes achados ainda propuseram que na medula óssea, há células semelhantes às células- tronco embrionárias originárias do epiblasto, as quais podem persistir também durante a vida adulta para regenerar tecidos e órgãos (SHIN et al., 2010).

Tendo em vista que a definição clássica das células-tronco é a de que estas células perpetuadamente se renovam e geram progênies diferenciadas, sua presença no ovário levaria a formação de novos oócitos. Sendo assim, se a população folicular está sendo reestabelecida continuamente durante a vida adulta, como sugerido anteriormente, as células-tronco germinativas deveriam progressivamente perder sua habilidade de se multiplicar para permitir o declínio da fertilidade (BYSKOV et al., 2005). Neste contexto, outros estudos foram realizados e, de fato, não encontraram evidências de que células progenitoras de origem extragonadal poderiam renovar as células foliculares no ovário adulto (KERR et al., 2006; BEGUM; PAPAIOANNOU; GOSDEN, 2008).

Na tentativa de entender o comportamento das CGP no ovário, algumas citocinas e fatores de crescimento pleiotrópicos tais como as BMPs (LAWSON et al., 1999; YING et al., 2000), o Chemokine (C-X-C motif) ligand 12 (CXCL12), o KL (MOLYNEAUX; WYLIE, 2004; KUNWAR; SIEKHAUS; LEHMANN, 2006) e o Oct4 ou POU5F1 (PANGAS; RAJKOVIC, 2006) têm sido estudados. Tais moléculas foram, portanto, consideradas como importantes para controlar o processo de formação dos folículos primordiais durante a colonização da gônada pelas CGP. A ausência das BMP-4 (LAWSON et al., 1999) e BMP-8 (YING et al., 2000), em embriões de

camundongas, por exemplo, promoveu falha no desenvolvimento das CGP sugerindo que as BMPs podem de alguma maneira estar envolvidas na formação e no desenvolvimento dos folículos primordiais. Além disso, a ausência de Oct4 em CGP provocou apoptose prematura dessas células antes da colonização da gônada (KEHLER et al., 2004). Neste contexto, o estudo da foliculogênese pré-antral abre oportunidadades de esclarecer os mecanismos envolvidos na formação dos folículos primordiais.

2.4 BIOTÉCNICA DE MOIFOPA (Ovário Artificial)

A biotécnica de manipulação de oócitos inclusos em folículos ovarianos pré- antrais (MOIFOPA) também conhecida como ―ovário artificial‖, é uma biotécnica da reprodução que vem sendo aprimorada nos últimos anos e consiste numa das principais ferramentas utilizadas atualmente para a elucidação da foliculogênese inicial. Tal biotécnica possibilita a padronização de populações de oócitos para utilização em outras biotécnicas como a produção in vitro de embriões (PIV), a transgênese e a clonagem. A MOIFOPA tem como principal objetivo resgatar oócitos oriundos de folículos pré- antrais, a partir do ambiente ovariano, e posteriormente cultivá-los in vitro até sua completa maturação, prevenindo-os da atresia. Para alcançar esse objetivo, diversos estudos têm sido realizados com o intuito de desenvolver um sistema de cultivo in vitro ideal para cada etapa do desenvolvimento folicular (FIGUEIREDO et al., 2008).

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