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porém nada parecido com o jeito calmo e letal de andar do Daemon ou o sorriso frio e arrogante que

ele ostentava no momento. A expressão de um

perfeito predador.

De repente, tive dúvidas se um local público era o mais aconselhável. — Bart — cumprimentou Daemon de modo arrastado, tamborilando os dedos no encosto do banco. — Quanto tempo!

— Vejo que ainda não aprendeu o meu nome. — Blake se acomodou no banco à nossa frente. Seu olhar recaiu sobre a pilha de papeizinhos picados e, em seguida, se voltou para mim. — Oi, Katy.

Daemon se debruçou sobre a mesa. Continuava sorrindo, mas as palavras soaram como os ventos gélidos do ártico.

— Não se dirija a ela. De forma alguma.

Não havia como deter o He-man quando ele resolvia aparecer para brincar, mas mesmo assim dei-lhe um beliscão por baixo da mesa. Ele me ignorou.

— Bem, falar só com você vai fazer com que essa conversa seja mais complicada.

— Acha que eu ligo? — retrucou meu namorado, apoiando a outra mão sobre a mesa.

Soltei um lento suspiro.

Seus olhos se fixaram novamente em mim. — Eu…

Uma corrente de eletricidade emergiu da mão do Daemon e disparou por cima da mesa, acertando o Blake. Ele se contraiu com um sibilo e estreitou os olhos.

Daemon sorriu.

— Olhe só, seu imbecil, você não vai me intimidar dessa vez. — A voz do surfista esbanjava desprezo. — Isso é uma perda de tempo que só vai conseguir me deixar puto.

— Veremos.

Jocelyn retornou com o sanduíche gigantesco e anotou o pedido do Blake. Tal como eu, ele quis apenas um refrigerante. Assim que ficamos novamente sozinhos, voltei a atenção para ele.

— Onde eles estão?

— Se eu disser, preciso confiar que nem vocês dois nem ninguém irá me fazer nadar no lago com os pés cimentados.

Revirei os olhos diante da referência à máfia. — A confiança é uma via de mão dupla.

— E nós não confiamos em você — completou Daemon. Blake inspirou fundo.

— Não posso culpá-los. Não dei a vocês nenhum motivo para confiarem em mim além do fato de não ter contado ao Daedalus que a mutação funcionou muito bem.

— E eu aposto que ou o seu tio Vaughn o impediu de contar ou você achou que ele estava fazendo o trabalho dele — rebati, tentando não pensar na cara horrorizada do Blake ao descobrir que o tio o traíra. Ele não merecia minha simpatia. — Ele te passou a perna por dinheiro.

Blake trincou o maxilar.

— É verdade. E colocou o Chris em perigo. Mas isso não significa que, após o incidente, eu não tenha precisado convencê-los do contrário. Eles acham que estou feliz em ser um espião. Que abracei a causa de corpo e alma.

Daemon soltou uma risadinha.

O surfista ignorou o comentário.

— O fato é que o Daedalus não acredita que você seja uma cobaia viável.

— Como você sabe? — Os dedos do Daemon apertaram o garfo com força.

Blake lançou-lhe um olhar que dizia dã.

— A única ameaça verdadeira aqui é o Will. É óbvio que ele descobriu e tentou usar essa informação.

— Will não é o nosso maior problema no momento, nem o mais irritante. — Daemon deu uma dentada no sanduíche e mastigou bem devagar. — Ou você é muito corajoso ou inacreditavelmente idiota. Acredito mais na segunda opção.

O surfista bufou. — Pense o que quiser.

Uma expressão assassina escureceu o rosto do Daemon e, por um momento, ninguém disse nem fez nada enquanto Jocelyn voltava com o refrigerante do Blake. Assim que ela se afastou, meu namorado se debruçou sobre a mesa, os olhos começando a brilhar por trás dos cílios.

— Nós te demos uma chance e você voltou depois de ter matado um dos nossos. Acha mesmo que sou a única pessoa com quem tem que se preocupar e ficar de olhos abertos?

Um lampejo de medo cintilou nos olhos tempestuosos do surfista, mas ele manteve a voz calma.

— O mesmo vale pra você, parceiro.

Daemon se recostou de volta no banco, os olhos semicerrados. — Então estamos de comum acordo.

— Voltando ao Daedalus — intervim. — Como você sabe que eles estão vigiando o Dawson?

— Eu estava vigiando vocês, e vi os caras perambulando pela área. — Ele se recostou no assento também e cruzou os braços. — Não sei o que o Will fez para libertá-lo, mas duvido que ele tenha conseguido enganar todo mundo. Dawson está livre porque eles o queriam livre.

Olhei de relance para o Daemon. A suspeita do Blake refletia a nossa, mas pelo visto esse era um problema para outra hora.

O surfista baixou os olhos para o próprio copo.

— Essa é a minha proposta. Eu sei onde eles estão mantendo a Beth e o Chris. Nunca estive lá, mas conheço alguém que esteve e pode nos dar os códigos de segurança para entrarmos.

— Espera um pouco — falei, balançando a cabeça com desconfiança. — Quer dizer que você não pode nos colocar lá dentro. Outra pessoa é que pode?

— Grande novidade. — Daemon deu uma risadinha. — Biff é basicamente inútil.

Os lábios do Blake se apertaram numa linha fina.

— Eu sei em qual andar e em qual cela eles estão sendo mantidos, portanto, sem a minha ajuda, vocês ficariam perambulando pelo prédio, implorando para serem capturados.

— E o meu punho está implorando para acertar a sua cara — rebateu Daemon.

Revirei os olhos.

— Você não está só pedindo que a gente confie em você, mas que confiemos em alguém mais?

— Esse alguém é como a gente, Katy. — Ele apoiou os cotovelos sobre a mesa e começou a balançar o copo. — É um híbrido que conseguiu escapar das garras do Daedalus. E, como era de esperar, não só os odeia como adoraria ferrá-los. Ele não vai passar a perna na gente.

Eu não estava gostando nada disso.

— E como alguém consegue “escapar das garras do Daedalus”? Blake sorriu com frieza.

— A pessoa… desaparece.

Ah, bem, isso era tranquilizador. Joguei os cabelos para trás, apreensiva.

— Tá, digamos que a gente concorde, como você vai entrar em contato com ele?

— Vocês não vão acreditar, a menos que estejam lá para conferir por conta própria. — Ele tinha razão. — Sei onde encontrar o Luc.

Daemon fez um muxoxo. — O nome dele é Luc?

Blake assentiu.

— Não dá para entrar em contato com ele por telefone nem e-mail. Luc é um tanto paranoico, acha que o governo grampeia celulares e computadores. Teremos que ir ao encontro dele pessoalmente.

— E onde ele está? — perguntou Daemon.

— Luc costuma ir toda quarta à noite a uma boate nos arredores de Martinsburg — respondeu o surfista. — Ele estará lá na próxima quarta.

Daemon riu, o que me fez pensar no que havia de tão engraçado.

— As únicas boates nessa parte da West Virginia são boates de strip- tease.

— É o que você pensa. — Blake assumiu uma expressão presunçosa. — Essa é uma boate diferente. — Olhou de relance para mim. — As garotas não costumam aparecer de jeans e camiseta.

Lancei-lhe um olhar sem expressão enquanto pegava uma batata frita no prato do Daemon.

— E como elas vão? Nuas?

— Quase. — O sorriso agora foi real, acendendo o verde dos olhos e me fazendo lembrar o Blake que eu conhecera. — Azar o seu. Sorte a minha.

— Você realmente quer morrer, não quer? — interrompeu Daemon. — Às vezes acho que sim. — Fez uma pausa e remexeu os ombros. — De qualquer forma, a gente encontra com ele, consegue os códigos e pronto. Assim que entrarmos, vocês pegam a Beth e eu pego o Chris. Depois disso, nunca mais irão me ver.

— Essa é a única coisa que você disse até agora que gostei de ouvir. — Os olhos penetrantes do Daemon se fixaram no Blake. — O problema é que estou tendo dificuldade de acreditar em você. Esse tal híbrido está em Martinsburg, certo? Não tem reserva alguma de quartzo- - beta naquela área. Como é que ele ainda não se tornou um lanchinho de algum Arum?

Um brilho estranho cintilou nos olhos do surfista. — Luc sabe se cuidar.

Algo naquela história não batia bem.

— Com ele.

Bem, isso respondia à pergunta, mas, ainda assim, a coisa toda me soava estranha. O risco parecia grande demais, mas que opção a gente tinha? Já estávamos mergulhados na merda até o pescoço. Podíamos muito bem afundar a cabeça — naufragar ou nadar, como meu pai diria.

— Veja bem — falou Blake, os olhos firmemente pregados no Daemon. — O que aconteceu com o Adam… não foi minha intenção. Sinto muito, mas você, mais do que ninguém, deveria entender. Você faria qualquer coisa pela Katy.

— Faria. — Daemon estremeceu ligeiramente. Uma leve corrente de eletricidade eriçou os pelos do meu corpo. — Se em algum momento eu achar que você está tentando nos passar uma rasteira, não irei hesitar. Não vou te dar uma terceira chance. E você nunca viu do que eu sou realmente capaz, garoto.

— Entendido — murmurou Blake, baixando os olhos. — Estamos combinados?

A pergunta de um milhão de dólares — a gente ia embarcar nessa mesmo? Senti em meu próprio peito o coração do Daemon se acalmar. Ele já tomara sua decisão. Não só faria qualquer coisa para me proteger, como faria o que quer que fosse pelo irmão.

Naufragar ou nadar.

Ergui os olhos e encarei o Blake. — Estamos.

Passei a maior parte do domingo

na casa do Daemon,

assistindo a uma maratona de Caçadores de Fantasmas com ele e o Dawson enquanto esperava — ou melhor, aguardava de tocaia — a Dee. Ela teria que voltar para casa em algum momento. Pelo menos era o que o Daemon dissera.

Já estava quase anoitecendo quando ela chegou. Levantei do sofá num pulo, assustando o Dawson, que havia pegado no sono após umas quatro horas de objetos batendo e chacoalhando no meio da noite.

— Está tudo bem? — Ele agora estava completamente desperto. Daemon aproveitou o espaço que eu deixara e se acomodou melhor. — Tudo ótimo.

O irmão nos fitou por um longo segundo e, então, voltou a atenção novamente para a TV. Daemon assentiu com um menear de cabeça, sabendo o que eu queria fazer sem que precisasse colocar em palavras.

Dee seguiu direto para a escada sem dizer nada. — Você tem uns dois minutinhos? — perguntei.

— Na verdade, não — respondeu ela por cima do ombro, continuando a subir os degraus.

Empertiguei os ombros e a segui.

— Bem, então vou tentar dizer tudo em um minuto só.

Ela parou no topo da escada e se virou. Por um momento, achei que fosse me empurrar escada abaixo, o que destruiria meus planos por completo.

— Tudo bem — concordou com um suspiro, como se alguém tivesse lhe pedido para recitar fórmulas de trigonometria. — Talvez seja melhor resolvermos logo isso.

Não exatamente como eu pretendia começar a conversa, mas pelo menos ela estava falando comigo. Acompanhei-a até o quarto. Como sempre, fiquei chocada com a profusão de rosa. Tudo era rosa. As paredes. A colcha. O laptop. O tapetinho. Os abajures. Tudo.

Dee foi até a poltrona ao lado da janela e se sentou, cruzando as pernas na altura dos tornozelos.

— O que você quer, Katy?

Reuni coragem e me acomodei na beirada da cama. Tinha passado o dia inteiro planejando um longo discurso, mas, de repente, tudo o que eu queria fazer era me ajoelhar aos pés dela e implorar que me perdoasse. Queria minha melhor amiga de volta. No entanto, ao perceber o ar de impaciência em seus traços delicados, meu estômago foi parar no chão.

Ela soltou um pesado suspiro.

— Que tal começar com o motivo de você ter passado meses mentindo pra mim?

Encolhi-me ao escutar a alfinetada, mas eu merecia.

— Naquela noite em que lutamos com o Baruck na clareira, não sei o que aconteceu, mas não foi o Daemon quem o matou.

— Foi você? — Ela manteve os olhos fixos na janela, brincando distraidamente com um cacho do cabelo.

— Foi… eu me conectei com ele, e com você. A gente acha… que foi porque o Daemon já tinha me curado antes. De alguma forma, as curas anteriores já haviam nos conectado. — Um resquício do medo que eu sentira naquela noite revirou minhas entranhas. — Mas eu fui ferida… gravemente, acho, e o Daemon me curou de novo depois que você foi embora.

Seus ombros tencionaram.

— A primeira mentira, certo? Ele me disse que você estava bem e eu acreditei, como uma boa idiota. Você parecia… muito mal. Depois disso, quando o Daemon ficou fora um tempo, você agiu de modo estranho. Eu devia ter desconfiado que havia algo errado. — Ela balançou a cabeça de leve. — De qualquer forma, você podia ter me contado a verdade. Eu não teria surtado nem nada parecido.

— Eu sei. — Apressei-me em concordar. — Mas não sabíamos ao certo o que tinha acontecido. Achamos melhor não dizer nada até descobrirmos. E, quando finalmente percebemos que estávamos conectados, um monte… um monte de outras coisas estava acontecendo.

— Está falando do Blake? — Ela cuspiu o nome, soltando a mecha de cabelo com a qual estava brincando.

— Dele… e de outras coisas. — Senti vontade de me sentar ao lado dela, mas achei melhor não forçar a barra. — Tinham começado a acontecer coisas comigo. Tipo, se eu sentisse vontade de tomar um copo de chá gelado, o copo saía voando do armário. Eu não tinha controle sobre isso, e temia acabar expondo vocês de alguma forma.

Ela se virou para mim, os olhos semicerrados. — Mas você contou pro Daemon.

Fiz que sim.

— Só porque achei que ele pudesse ter uma explicação, uma vez que foi quem me curou. Não porque eu confiasse mais nele do que em você.

Dee ergueu os cílios.

— Mas você parou de andar comigo.

Corei de vergonha. Eu tinha tomado tantas decisões erradas.

— Achei que era a coisa certa a fazer. Não queria criar problemas mexendo sem querer alguma coisa perto de você.

Ela soltou uma risada curta.

— Você parece o Daemon. Sempre achando que sabe mais do que os outros. — Fiz menção de retrucar, mas Dee continuou: — O engraçado é que eu poderia ter te ajudado. Mas o que passou passou, não pode ser mudado.

— Sinto muito. — Desejei que essas duas palavrinhas pudessem corrigir tudo o que eu havia feito de errado. — Sinto de…

— E quanto ao Blake? — Seu olhar duro se fixou em mim. Baixei os olhos para as mãos.

— A princípio, eu não sabia o que ele era. Honestamente, gostei dele porque achava que era um garoto normal. Blake não era como o Daemon e eu pensei… pensei que não precisava questionar o motivo de ele parecer gostar de mim. — Ri, um som áspero, semelhante ao da risada da Dee. — Fui uma verdadeira idiota. Daemon desconfiou do Blake de cara. Achei que fosse ciúmes ou que ele estivesse sendo apenas, você sabe, o Daemon. Mas então uma Arum apareceu enquanto eu estava jantando com o Blake, e foi assim que descobri o que ele era.

Dee desapareceu e reapareceu ao lado da penteadeira, as mãos nos quadris.

— Me deixa ver se entendi direito. Uma Arum apareceu na cidade e você sequer cogitou a hipótese de contar para mim ou para os outros?

Virei-me para ela.

— Cogitei, sim, mas o Blake a matou e o Daemon sabia. Ficamos de olho para o caso de outros aparecerem…

— Isso me soa como uma desculpa esfarrapada. — Seria uma desculpa? Acho que sim, visto que eu devia ter contado a eles. Tentei

engolir o súbito bolo em minha garganta. Os olhos dela faiscaram. — Você não faz ideia de como foi difícil guardar segredo de você no começo! O medo que eu tive de que você acabasse machucada por ser nossa amiga e… — Dee parou e fechou os olhos. — Não posso acreditar que o Daemon escondeu isso de mim.

— Não fique chateada com ele. Daemon fez todo o possível para impedir que isso acontecesse. Ele jamais acreditou que o Blake quisesse apenas me ajudar a controlar meus poderes. A culpa foi minha. — E essa culpa me corroía por dentro. — Achei que o Blake pudesse me ajudar. Que, se eu aprendesse a controlar meus poderes, poderia lutar… ajudar vocês. Vocês não teriam mais que me proteger ou se preocupar comigo. Eu não seria mais um problema.

Ela abriu os olhos.

— Você nunca foi um problema, Katy! Você era minha melhor amiga… a primeira e única amiga de verdade. E, sim, posso ser um pouco lenta nesse lance de amizade, mas sei que os amigos devem confiar uns nos outros. Você deveria saber que eu jamais te vi como uma pessoa fraca ou um problema.

— Eu… — balbuciei, sem saber o que dizer.

— Você nunca acreditou na nossa amizade. — Os olhos dela ficaram subitamente marejados, e eu me senti como a maior cretina de todos os tempos. — É isso o que me mata. Desde o começo, você nunca acreditou em mim.

— Acreditei, sim! — Fiz menção de me levantar, mas congelei. — Tomei péssimas decisões, Dee. Cometi um monte de erros. E quando finalmente percebi a seriedade desses erros, era…

— Tarde demais — murmurou ela. — Já era tarde demais, certo?

— Certo. — Tentei inspirar fundo, mas o ar ficou preso na garganta. — Blake é o que é, e tudo o que aconteceu foi minha culpa. Sei disso.

Dee se aproximou, os passos lentos e estudados. — Quando você descobriu sobre a Beth e o Dawson?

Levantei os olhos e a encarei. Uma grande parte de mim desejava mentir — dizer que só depois que o Will confirmara, mas não podia.

— Um pouco antes do feriado de Natal. Eu vi a Beth. E depois o Matthew confirmou que, se ela estava viva, o Dawson tinha que estar.

Ela engoliu um grito de revolta e crispou as mãos. — Como… como você pôde fazer isso?

Pude ver que ela queria me bater, e minha bochecha ardeu mesmo sem o tapa. Meio que desejei que ela tivesse cedido à vontade.

— Não sabíamos se conseguiríamos encontrá-lo ou resgatá-lo. E não queríamos que você criasse esperanças apenas para perdê-las de novo.

Dee me fitou como se não me conhecesse.

— Essa é a coisa mais idiota que já escutei. Me deixa adivinhar, foi ideia do Daemon? Porque isso é a cara dele. Só ele pra achar que estaria me protegendo me mantendo no escuro… isso magoa.

— Ele…

— Não — interrompeu ela, virando-se de costas. Sua voz tremeu. — Não o defenda. Conheço meu irmão. Sei que ele tem boas intenções, mas elas geralmente são uma porcaria. Mas você… você sabia o quanto eu sofria por ter perdido o Dawson. Não foi só o Daemon que surtou. Eu posso não ter praticamente arrancado a casa da fundação, mas uma parte de mim morreu no dia em que disseram que ele estava morto. Você devia ter me contado que achava que ele estava vivo, eu merecia saber.

— Tem razão.

O corpo dela tremulou por um segundo.

— Tá. Agora, deixando isso de lado. Se você tivesse me contado o que estava acontecendo com o Blake, Adam e eu saberíamos no que estávamos nos metendo. A gente teria feito a mesma coisa. Pode acreditar, teríamos entrado na sua casa pra te ajudar, mas não teríamos feito isso às cegas.

Minha garganta apertou. Havia uma mancha em minha alma, gelada e sombria. Eu podia não ter matado o Adam, mas era em parte responsável pela morte dele. Era quase cúmplice. As pessoas cometem erros o tempo todo, mas em geral eles não provocam a morte de alguém.

Os meus provocaram.

Meus ombros penderam sob o peso da culpa. Pedir desculpas não ia corrigir nada, nem para ela nem para mim. Eu não podia mudar o passado. Tudo o que podia fazer era seguir em frente e tentar compensar meus erros.

Dee me observou, a raiva se esvaindo. Ela voltou para perto da janela e se sentou com as pernas pressionadas contra o peito. Apoiou o queixo sobre os joelhos.

— E agora vocês estão cometendo outro erro. — Não temos escolha. Realmente não temos.

— Têm, sim. Vocês podem cuidar do Blake e da pessoa para quem ele contou.

— E quanto ao Dawson? — perguntei baixinho. Dee ficou em silêncio por um longo tempo.

— Sei que eu deveria deixar de lado meus sentimentos a respeito do Blake por ele, mas não consigo. É errado. Sei disso. Mas não consigo.

Assenti com um menear de cabeça.

— Não espero que você deixe seus sentimentos de lado, mas não quero que as coisas entre a gente continuem assim. Tem que haver um jeito… — Joguei o orgulho pela janela. — Eu sinto a sua falta, Dee. Odeio o fato de

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