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saísse correndo para o playground mais próximo, mas à medida que os segundos foram passando, comecei a

aceitar o fato de que nosso messias da informação

mal havia entrado na adolescência.

Luc sorriu como se soubesse o que eu estava pensando.

— Surpresa? Pois não devia. Você não deveria se surpreender com nada, quero dizer.

Ele se levantou, e fiquei chocada ao perceber que era quase tão alto quanto o Daemon.

— Eu tinha seis anos quando decidi brincar de “quem sai da frente primeiro” com um táxi em alta velocidade. Ele ganhou. Acabei perdendo a bicicleta mais legal do planeta e muito sangue, mas para minha sorte meu melhor amigo era um alienígena.

— Como… como você conseguiu escapar do Daedalus? — E tão jovem assim, quis acrescentar.

Luc foi até a mesa, os passos leves e descontraídos.

— Eu era a menina dos olhos deles. — Abriu um sorrisinho diabólico, perturbador. — Nunca confie naquele que se sai bem demais, não é mesmo, Blake?

Recostado contra a parede, Blake deu de ombros. — É o que dizem.

— Por quê? — Luc se sentou na beirada da mesa. — Porque em algum momento o pupilo irá suplantar o mestre, e olha que eu tinha mestres realmente inteligentes. — Entrelaçou as mãos. — Você deve ser o Daemon Black.

Se Daemon ficou surpreso pelo Luc saber o nome dele, não demonstrou.

— Eu mesmo.

O garoto baixou as pestanas ridiculamente longas. — Ouvi falar de você. Blake é um tremendo fã. O surfista ergueu o dedo do meio.

Daemon rebateu de modo seco:

— Bom saber que o meu fã-clube é extenso. O garoto inclinou a cabeça ligeiramente de lado.

— E que fã-clube… Ah, me desculpa pela falta de educação. Não apresentei vocês ao meu camarada Luxen aqui. O nome dele é Paris. Por quê? Não faço ideia.

Paris ofereceu um sorriso tenso e estendeu a mão para o Daemon.

— É sempre legal encontrar outro Luxen que não segue as velhas crenças e regras desnecessárias.

Daemon apertou a mão dele.

— Digo o mesmo. Como você veio parar aqui? Luc riu.

— Isso é uma longa história. Mas vamos deixar para outro dia… se houver outro dia. — Aqueles olhos extraordinários repousaram novamente em mim. — Faz ideia do que eles irão fazer com você se descobrirem que a sua mutação deu certo? — Abaixou a cabeça, rindo. — Nós, híbridos, somos muito raros. Na verdade, três de nós juntos é bastante surpreendente.

— Tenho uma imaginação fértil — respondi.

— Tem? — Ele ergueu uma sobrancelha. — Duvido que o Blake tenha te contado tudo… aposto que deixou o pior de fora.

Olhei de relance para o surfista. Ele manteve uma expressão impassível. Um calafrio percorreu minha espinha, algo que não tinha nada a ver com a pouca roupa.

— Mas você já sabia disso. — Luc se levantou de novo e se espreguiçou como um gato após um cochilo. — E, ainda assim, está disposta a entrar no ninho das cobras.

— Não temos escolha — interveio Daemon, lançando um olhar assassino na direção de um silencioso Blake. — Então, você vai nos dar os códigos ou não?

Luc deu de ombros e correu os dedos pelas pilhas de dinheiro. — O que eu ganho com isso?

Soltei o ar com força.

— Além da oportunidade de emputecer o pessoal do Daedalus, não temos muito a oferecer.

— Hum, não sei se concordo. — Ele pegou um maço de notas de cem presas com um elástico. Um segundo depois, as pontas das notas começaram a se enroscar, o papel derretendo até que um cheiro de queimado impregnou o ar e o dinheiro virou cinzas.

Fiquei com inveja. Eu era um verdadeiro fracasso nessa história de usar-a-luz-para-aquecer-e-atear-fogo.

— O que podemos fazer por você?

— Obviamente dinheiro não é a questão — acrescentou Daemon. Luc retorceu os lábios.

— Não preciso de dinheiro. — Limpou os dedos na calça. — Nem de poder. Honestamente, a única coisa de que preciso é um favor.

Blake desencostou da parede. — Luc…

Os olhos dele se estreitaram.

— Tudo o que eu quero é um favor… um que eu possa coletar a qualquer hora. Se me prometerem isso, direi a vocês tudo o que precisam saber.

Bem, isso soava fácil. — Cla…

— Espera um pouco — interrompeu Daemon. — Você quer que a gente concorde com um favor sem saber que favor é esse?

Ele fez que sim.

— E onde fica a inteligência nisso? — rebateu meu namorado. O garoto riu.

— Gostei de você. Muito. Mas a minha ajuda não é destituída de perigo.

— Deus do céu, você parece um mafioso pré-adolescente — murmurei. — Algo do gênero. — Ele abriu um sorriso beatífico. — O que você… o que vocês não entendem é que há coisas muito mais importantes do que a namorada de um irmão ou um amigo… ou até mesmo do que terminar sob o jugo deles. Os ventos escondem mudanças, e eles serão ferozes. — Olhou para o Daemon. — O governo tem medo dos Luxen porque os alienígenas tiram a humanidade do topo da cadeia alimentar. Para dar um jeito nisso, criaram algo muito mais poderoso do que um Luxen. E não estou falando de simples bebezinhos híbridos.

Estremeci.

— Sobre o que você está falando?

Seus olhos ametista se fixaram em mim, mas ele não disse nada. Paris cruzou os braços.

— Não quero ser grosseiro, mas se não estão dispostos a selarem o acordo, a porta fica bem ali.

Daemon e eu nos entreolhamos. Para ser sincera, não sabia o que dizer. Era como fazer um acordo com a máfia — com um chefão da máfia adolescente e assustador.

— Ei, pessoal — falou Blake. — Ele é nossa única chance.

— Jesus — murmurou Daemon. — Tudo bem. Ficamos te devendo um favor.

Os olhos do Luc cintilaram. — E quanto a você?

Suspirei.

— Claro. Por que não?

— Fantástico! Paris? — Estendeu uma das mãos. Paris se inclinou, pegou um pequeno MacBook Air e o entregou a ele. — Só um segundo.

Observamos Luc começar a digitar, as sobrancelhas franzidas em concentração. Enquanto esperávamos, uma porta nos fundos do aposento se abriu e a garota que eu vira no palco meteu a cabeça pela fresta.

Luc ergueu os olhos. — Agora não.

Ela fez uma careta de irritação, mas fechou a porta. — Ela é a garota…

— Se quiser que eu continue, não termine essa frase. Não fale sobre ela. Estou falando sério, você nunca a viu — interveio Luc, os olhos novamente pregados na tela. — Caso contrário, o acordo será cancelado.

Fechei a boca, mesmo me coçando para perguntar como os dois haviam fugido e como conseguiam sobreviver sem praticamente nenhuma proteção.

Por fim, Luc botou o laptop sobre a mesa. A tela estava dividida em quatro seções granuladas em preto e branco, como imagens de uma câmera de segurança. Uma delas mostrava a mata. A segunda, uma cerca alta e um portão. A terceira, uma guarita, e a última, um homem de uniforme patrulhando outra parte da cerca.

— Digam olá para Mount Weather. Ele pertence à FEMA, a Agência Federal de Gestão de Emergências, subordinada ao Departamento de Segurança Interna. Situado nas majestosas Montanhas Blue Ridge, ele é usado como área de treinamento e como esconderijo para nossos belos oficiais caso sejamos bombardeados — informou Luc, dando uma risadinha sarcástica. — É também uma fachada para o DOD e o Daedalus, visto que o subsolo conta com uma área de 56 mil metros quadrados para treinamento e tortura.

Blake olhou para a tela.

— Você invadiu o sistema de segurança? Ele deu de ombros.

— Como disse antes, eu era a menina dos olhos deles. Estão vendo essa seção aqui? — Apontou para o pedaço da tela com o guarda patrulhando a cerca, o qual praticamente se fundia com o fundo granulado. — Aqui fica a entrada “secreta” que não existe. Poucas pessoas sabem dela… Blake sabe.

Luc bateu no botão de espaço e a câmera se moveu para a direita. Um portão apareceu.

— Esse é o lance: domingo à noite, às nove, vai ser a melhor hora para vocês tentarem. É o horário da mudança da ronda e a vigilância é mínima…

apenas dois guardas estarão patrulhando esse portão. Porque, como vocês sabem, domingo é um dia morto.

Paris pegou um bloquinho e uma caneta.

— Esse é o primeiro obstáculo. Vocês terão que cuidar dos vigias, mas isso é óbvio. Vou me certificar de que as câmeras estejam desligadas entre nove e nove e quinze… provocar um momento à la Jurassic Park. Vocês terão quinze minutos para entrar, pegar seus amigos e dar o fora de lá. Portanto não caiam nas garras de nenhum tiranossauro.

Daemon abafou uma risada.

— Quinze minutos — murmurou Blake, assentindo com um menear de cabeça. — Dá pra fazer. Uma vez lá dentro, o corredor leva direto aos elevadores. Daí é só descer dez andares e seguir para as celas.

— Ótimo. — Luc bateu com o dedo sobre a imagem do portão. — O código para ele é Icarus. Pescaram o padrão? — Riu. — Assim que vocês chegarem no prédio, verão três portas, uma ao lado da outra.

Blake assentiu novamente.

— A do meio… eu sei. O código?

— Espera um pouco. Aonde as duas outras vão dar? — perguntei.

— Nos aposentos do grande Oz — respondeu Luc, clicando no botão de espaço até a câmera focar nas portas. — Na verdade, nenhum lugar interessante. Apenas escritórios e outros lances da FEMA. Alguém quer tentar adivinhar o código desta porta?

— Daedalus? — arrisquei.

— Quase. O código dela é Labyrinth, labirinto. Não é uma palavra fácil de soletrar, eu sei, mas certifiquem-se de digitá-la corretamente. Vocês só terão uma chance. Se digitarem o código errado, a coisa vai ficar feia. Peguem o elevador e desçam dez andares, como o Blake falou e, então, insiram o código DAEDALUS… em letra maiúscula. E voilà!

Daemon balançou a cabeça, em dúvida.

— A segurança deles é toda essa? Um bando de códigos?

— A-há! — Luc apertou mais alguns botões e a tela ficou preta. — Estou fazendo mais do que dar a vocês códigos e desligar as câmeras, meu novo melhor amigo. Vou desativar também o software de reconhecimento

de retina. Ele só pode ficar desligado de dez a quinze minutos por dia sem levantar suspeitas.

— O que acontece se ainda estivermos lá quando o sistema religar? — indaguei.

Luc ergueu as mãos.

— Hum, mais ou menos como estar dentro de um avião prestes a cair. Metam a cabeça entre os joelhos e rezem para que a próxima vida seja melhor.

— Ah, maravilha. Então quer dizer que você também é um hacker mutante?

Ele deu uma piscadinha.

— Mas tomem cuidado. Não posso desativar nenhum outro tipo de precaução que eles tenham decidido instalar. Isso levantaria suspeitas.

— Ei. — Daemon franziu o cenho. — Que outro tipo de precaução? — Pelo que descobri, eles alternam os códigos de poucos em poucos dias. Afora isso, temos apenas os guardas, mas eles trabalham em escala. — Blake deu uma risadinha. — Vai dar tudo certo. A gente consegue.

Paris estendeu um papel com os códigos anotados. Daemon o arrancou da mão dele antes que Blake pudesse tentar e o meteu no bolso.

— Obrigado — disse.

Luc voltou para o sofá, se sentou e pegou o Nintendo. O sorriso desapareceu.

— Não me agradeça ainda. Na verdade, nem agora nem nunca. Eu não existo, pelo menos não até precisar do meu favor. — Abriu o jogo. — Só não se esqueçam, no próximo domingo, às nove. Vocês terão quinze minutos, isso é tudo.

— Certo — falei de maneira arrastada, olhando de relance para o Blake. Adoraria saber como aqueles dois haviam se conhecido. — Bem, imagino que…

— Está na hora da gente ir — completou Daemon, me dando a mão. — Foi muito bacana conhecer vocês, bem, mais ou menos.

— Ã-hã — retrucou o garoto, os polegares deslizando sobre a tela do jogo. Ao chegarmos à porta, a voz do Luc nos deteve. — Vocês não fazem

ideia do que os aguarda. Tomem cuidado. Odiaria perder meu favor porque foram todos mortos… ou pior.

Estremeci. Bela maneira de terminar uma conversa, com uma boa dose de “deixei-os de cabelo em pé”.

Daemon meneou a cabeça na direção do outro Luxen e saímos. Blake veio atrás e fechou a porta. Só então me dei conta de que o aposento era à prova de som.

— Bem — falou o surfista. — Não foi tão ruim, foi? Revirei os olhos.

— Tenho a sensação de que acabamos de fazer um acordo com o diabo, e que ele irá voltar e requisitar nosso primogênito ou algo semelhante.

Daemon arqueou as sobrancelhas.

— Quer ter filhos? Porque, você sabe, a prática faz a…

— Cala a boca. — Fiz que não, frustrada, e continuei andando.

Atravessamos a boate rapidamente, contornando a pista de dança ainda lotada. Tinha a impressão de que nós três estávamos desesperados para dar o fora dali. Ao nos aproximarmos da saída, olhei por cima do ombro do Daemon e do Blake para a pista de dança.

Parte de mim imaginou quantos híbridos haveria ali dentro, se é que havia algum. Éramos raros, mas, como eu havia sentido a princípio, havia algo estranho acerca daquele lugar. Algo realmente esquisito em relação ao tal Luc também.

O Lutador Profissional continuava diante da porta. Ele deu um passo para o lado e cruzou os braços maciços sobre o peito.

[ 16 ]

Chegamos tarde de Martinsburg e fui direto para a

cama. Daemon me seguiu, mas tudo o que fizemos

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