• Nenhum resultado encontrado

POR DENTRO DO CRITICAL ART ENSEMBLE: ARTE E REVOLTA NO CORAÇÃO DO IMPÉRIO

psychanalyse II. Paris: Fayard, 1997, p 12 Tradução livre.

POR DENTRO DO CRITICAL ART ENSEMBLE: ARTE E REVOLTA NO CORAÇÃO DO IMPÉRIO

Imagem 19 – Critical Art Ensemble em 1987. Da esquerda para a direita: Steve Barnes, Ricardo Dominguez, Hope Kurtz, Steve Kurtz e Dorian Burr.136

Faz trinta e três anos desde que, pela primeira vez, estudantes de artes dos Estados Unidos utilizaram o nome Critical Art Ensemble (CAE) para designar um pequeno grupo com propósitos artísticos. Para um coletivo que começou com duas pessoas investindo no campo dos vídeos conceituais de curta duração, é de surpreender a produção prolífica e numerosa do grupo durante as últimas décadas.

Formado inicialmente na cidade de Tallahassee, na Florida, o coletivo surgiu por iniciativa de Steve Kurtz e Steven Barnes. Passou por várias formações, estabeleceu parcerias e alianças com artistas, movimentos sociais, cientistas, universidades, museus e organizações internacionais mundo afora. Fez-se conhecer por suas ações, produções culturais e publicações teóricas nas intersecções entre arte, teoria crítica, tecnologia e política radical.

Atualmente, o portfólio do coletivo conta com a produção de curtametragens, passando por performances, obras de mídia tática, intervenções micropolíticas, páginas na internet, assim como exposições dentro e fora dos museus em diversos países.

Além dessa variedade de formas de expressão, o Critical Art Ensemble também se mostra um coletivo versado na reflexão teórica-crítica e nas letras, como se pode comprovar com os escritos, ensaios e livros publicados pelo grupo no decorrer de sua carreira. Hoje a produção teórica do grupo soma ao todo oito livros, dentre os quais, sete estão inteiramente disponíveis para livre acesso na página do grupo http://critical-art.net/. Os temas abordados nas publicações são ricos em conteúdo e expressam um pensamento antenado com a atualidade no campos das artes, da política, da tecnologia, da teoria e dos movimentos sociais.

Os títulos das obras resumem bem a preocupação do CAE com temas que interconectam arte, ciência, filosofia, política e tecnologias: The Eletronic Disturbance (1994), Eletronic Civil Disobedience and Other Unpopular Ideas (1996), Flesh Machine:

Cyborgs, Designer Babies, and the New Eugenic Consciousness (1998), Digital Resistance: Explorations in Tactical Media (2001), The Molecular Invasion: Contestational Biology (2002), Marching Plague: Germ Warfare and Global Public Health (2006), Disturbances (2012) e, por fim, Aesthetics, Necropolitics, and Environmental Struggle (2018). Desde a publicação do primeiro título, em 1994, o grupo

tem lançado livros que sintetizam as pesquisas e os aspectos teóricos sobre a temática trabalhada no momento.

Há mais de três décadas, portanto, o CAE tem explorado as possibilidades de uma resistência ativa no interior das democracias capitalistas. O seu histórico deixa antever uma arte engajada, desafiante e crítica.

Em uma época na qual o uso da internet como ferramenta de luta política e social era ainda um prospecto de ficção científica, os membros do CAE, de forma pioneira, lançaram-se na pesquisa e nos experimentos para a formação de uma resistência eletrônica, afinada com os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos no campo da informática e da comunicação de massas.

Posteriormente, acompanharam as inovações no campo da biotecnologia. A decodificação do genoma humano, a manipulação de DNAs, a fabricação de alimentos transgênicos, também foram problematizados pelo pensamento crítico do grupo, que ousou com a arte da performance e do Teatro Recombinante levantar questões contemporâneas, sempre de forma inovadora na linha de frente da arte e da tecnologia.

O CAE tem por inspiração a arte guerrilha, o intervencionismo, a mídia tática e o ativismo cultural, práticas que vão na contramão da lógica global da busca por lucro, competição e consumo. Em vez disso, sempre se engajou em atividades orientadas pelos princípios de autonomia, cooperação e prazer.

Dentre as várias formas de expressão do ativismo cultural do grupo se destacam intervenções de mídia tática, performances, provocações e distúrbios com o objetivo declarado de revelar, confrontar e subverter tendências autoritárias na esfera da cultura.

No mundo dominado pelo pancapitalismo, escolher o caminho aberto pela revolta requer uma obstinação e uma coragem raras, pois galgar os passos nas trilhas da autonomia exige trabalho duro para enfrentar uma série de dificuldades. Porém, todo o esforço do grupo resultou em tempo livre para pensar, interagir, escrever, pesquisar, criar, viajar e experimentar com outros grupos e ativistas engajados na resistência cultural para concretizar suas visões micropolíticas.

Durante sua trajetória, é possível identificar pelo menos três grandes linhas mestras que nortearam as ações do grupo, cada uma caracterizada por uma abordagem de conjunto. A primeira marcou os anos iniciais, de 1986 até 1994 aproximadamente, o período da produção de vídeos e de eventos multimídia, no qual o CAE adquiriu ampla experiência com o ativismo artístico na esfera cultural e acumulou reflexões sobre o papel das tecnologias na resistência, a partir da produção de vídeos estilo garage quase sempre conceituais e uma série de eventos multimídia.

Em seguida, a produção do CAE foi marcada pela junção da teoria crítica com a práxis artística, norteada pela incorporação das tecnologias da informação e da comunicação às suas reflexões e performances, bem como ao ativismo do grupo. Em torno das tecnologias da informação e comunicação, o grupo publicou de forma pioneira seus livros teóricos que sintetizam os aspectos críticos e reflexivos basilares para o ativismo e a resistência cultural praticada por seus integrantes.

Em um momento histórico no qual o ciberativismo era apenas uma possibilidade tratada como ficção científica, as obras The Eletronic Disturbance e Eletronic Civil

Disobedience and Other Unpopular Ideas tiveram uma repercussão considerável. A

primeira delas tornou-se uma espécie de best-seller underground entre os títulos não- ficcionais, e por conta disso, logo foi traduzido para diversos idiomas. Nessas obras, as tecnologias da informação e comunicação são investigadas na tentativa de apontar formas de usos possíveis em prol de uma resistência eletrônica, a despeito dos imperativos do empreendedorismo e do lucro geralmente associados a tais mídias.

Imagem 21 – Machine World. Imagem que abre o livro Flesh Machine, do CAE.137

Por fim, a terceira linha de força temática do grupo foi a das biotecnologias, que focou nas pesquisas científicas de clonagem e decodificação do genoma humano, nas questões acerca da manipulação do DNA, da reprodução artificial da vida, assim como dos alimentos transgênicos e de questões ecológicas e ambientais. As pesquisas sobre essas temáticas resultaram na publicação de quatro obras: Flesh Machine: Cyborgs,

Designer Babies and New Eugenic Consciouness, The Molecular Invasion, Marching

137 Critical Art Ensemble. Flesh Machine: cyborgs, designer babies, and new eugenic consciousness. New York: Autonomedia, 1998, p. 2.

Plague: Germ Warfare and Global Public Health e, por fim, o mais recente, Aesthetics, Necropolitics, and Environmental Struggle, publicado em 2018 depois de um hiato na

produção teórica de mais de uma década. (Ao final do trabalho há uma sucinta apresentação das obras, ver Apêndice 2).

Desta forma, o grupo tem abordado alguns dos maiores sistemas tecnopolíticos de nosso tempo: o complexo informático dos meios de comunicação e o complexo biotecnológico. Os livros que tratam dessas temáticas fazem dialogar outsiders da crítica radical com o cânone científico e filosófico do ocidente, especialmente o pensamento moderno e contemporâneo. A partir desse escopo, emerge um pensamento que funda discursividades acerca da política e das tecnologias, com uma diferença em relação à produção acadêmica, por se tratar de um pensamento engajado nas lutas.

O Critical Art Ensemble pode ser considerado portanto um coletivo de criação e estudos integrados na sua acepção mais complexa, ou seja, um coletivo que se esforça por empreender pesquisas teóricas, empíricas e práticas nas intersecções entre arte, teoria crítica, tecnologia e política radical. Com muita criatividade, o grupo une as caóides do pensamento (arte, ciência e filosofia) em um agenciamento no qual política e tecnologia desempenham papeis cruciais tanto no pensamento como objeto de reflexão, quanto na prática da resistência cultural.

Nessa espécie de máquina de guerra artística montada pelo grupo, a arte é praticada como tática micropolítica que se vale da ciência e da filosofia como recursos para nutrir o pensamento crítico, ao passo que a tecnologia, sempre presente, opera como meio de produção e propagação dos inventos teóricos e estéticos do grupo.

O resultado desse duplo processo de pesquisa e criação é nada menos que o prenúncio de uma espécie de Universidade Experimental e Nômade,138 que tenta seguir os fluxos e as tendências da sociedade global para melhor questionar os rumos da civilização, da cultura e das instituições conectadas por altas tecnologias.

Na prática de uma universidade experimental, os artistas intervêm em um campo particular de estudo (que pode ser urbanismo, informática, biotecnologia, antropologia ou ecologia, por exemplo) a fim de apresentar perspectivas críticas alternativas. Por vezes, as pesquisas conduzidas nos moldes de uma universidade experimental demonstram uma urgência que as alinham com um tipo de ativismo contemporâneo. Nela, a escolha do

138 Ver Nicholas Mirzoeff, “Anarchy in the ruins: dreaming the experimental university”, in Nato Thompson and Gregory Sholette (Ed.). The Interventionists: users’ manual for creative disruption of

tema sempre se faz em função de um problema que emerge do presente, e a forma de colocá-lo não raro a vincula à dimensão política. Por isso, a universidade experimental pode ser responsável por colocar em prática, com soluções criativas e inovadoras, o problema político da produção especializada do conhecimento.

É nesse sentido que o CAE promove uma arte crítica como expressão da revolta direcionada a questões que dizem respeito à humanidade e a cada um de nós. Sua resistência artística lança luzes sobre a problemática do novo Leviatã Tecnológico que cresce implacável acoplando organismos, subjetividades e máquinas sob a égide do pancapitalismo. Essa arte metamórfica e mutante se dirige a “corações e mentes”, a grupos e sujeitos, para desafiá-los com a instauração de espaços de questionamento.

Assim, ao colocar em questão as estreitas relações da tecnologia com a ciência e o capitalismo, o CAE elabora um discurso político que expressa e produz um outro tipo de sujeito, mais propenso a experimentar éticas e estéticas libertárias. Demonstra em suas obras, portanto, que o propósito da crítica não é simplesmente seguir as pistas deixadas pelos governos, corporações, agências dos mass media e complexos militares, como se a tarefa da resistência fosse viver à sombra do poder.

À revolta positiva e afirmativa cabe muito mais. A crítica, o combate, a resistência, todas essas expressões micropolíticas validam a positividade da ação e do pensamento na medida em que se colocam afirmativamente a serviço da criação de novas formas de viver, sentir, agir e pensar, portanto, em favor de novas éticas e estéticas da existência.

A postura da revolta do CAE se sustenta por cultivar um ceticismo alerta e intrépido que não se deixa cair nas ilusões totalizantes ou paralisantes que plasmam as teorias e a política. Por mais que mudem as táticas e as estratégias, a revolta permanece firmemente ativa com uma determinação antiautoritária de base que está presente na história do grupo desde seu início.

Por fim, cabe destacar uma característica da subjetividade do Critical Art Ensemble: sua mobilização da teoria com criatividade, ousadia, coragem e intrepidez artística que o grupo transfere para o campo da resistência micropolítica. A práxis do CAE é motivada pelo desejo de contribuir com a resistência cultural por meio de seus atos artísticos, epistemológicos e políticos, que são performados por subjetividades imbuídas de uma coragem extrema, que não retrocede nem ante a mais proeminente potência mundial.

O legado que o CAE traz consigo até os dias atuais deixa entrever sua imensa capacidade criativa em condensar problemas fundamentais da época presente, ao mesmo

tempo que demonstra o resultado de um incansável esforço em estabelecer as condições para que os experimentos artísticos ultrapassem quaisquer fronteiras, estéticas, epistemológicas, políticas e tecnológicas, para enfim atingirem a vida cotidiana.

Os Anos de Formação

Um coletivo de ativistas como o Critical Art Ensemble, que possui uma trajetória de mais de três décadas, tem atrás de si necessariamente muitas histórias para contar, acontecimentos, desafios, impasses, mudanças de rumos, superações. Ainda mais quando se trata de um grupo dado à experimentação cultural, que pretende intervir na esfera pública com suas distintas formas de expressão, ensejando debates, reformulações de práticas, valores, ideias e discursos sobre capitalismo, ciência, técnica, ecologia e artes, alguns dos temas centrais para a humanidade que agora adentra o novo milênio com a tarefa de repensar seu próprio destino.

Hoje considerado um dos expoentes da arte-revolta norte-americana, o CAE surge no final da década de 1980 como um pequeno grupo que fez do desejo de transformação uma fonte de criação. Nos anos iniciais de sua formação, a soma de talentos individuais com uma determinação coletiva fez do experimentalismo um meio de empregar sua revolta no campo artístico cultural, e o que é mais importante, na sua autoprodução enquanto ser-coletivo-para-a-ação. Conhecido no mundo como praticante de mídia tática, o CAE começou produzindo vídeos estilo garage, organizou eventos, happenings, exibições, fez parcerias com artistas undergrounds e ainda atuou junto a movimentos sociais minoritários à semelhança do ativismo tradicional.

Vistos em retrospectiva, os primeiros anos foram definidores quanto ao estilo e às formas de ação empregadas ao longo da trajetória do grupo. A abertura para a experimentação permitiu a aquisição de conhecimento, a descoberta de vocações, o aperfeiçoamento de habilidades e técnicas que serviram de base para a constituição do que veio a ser conhecido mundo afora como o Critical Art Ensemble.

O estilo de um artista surge aos poucos, precisa de tempo para amadurecer, e quando é o caso de um grupo, então, não é diferente, a experiência torna-se fundamental até que ele adquira vida própria. Em tempos de resistência, no entanto, a urgência exige uma resposta ágil, por vezes improvisada no calor das batalhas. O CAE mostrou-se apto a responder ao apelo da época com sua práxis nômade, no pensamento e na ação, porque passou pela prova dos anos iniciais com determinação e criatividade, constituindo ao

mesmo tempo um estilo próprio que consolidou sua carreira nos circuitos internacionais nos anos seguintes.

O período inicial da trajetória do CAE foi especialmente produtivo. Nele o grupo empregou diversas formas de expressão, estabeleceu parcerias com artistas renomados na cena underground, trocou experiências com produtores da resistência, fez trabalhos junto a grupos minoritários aos moldes do ativismo tradicional e ainda reformulou a organização interna do coletivo. Toda essa abertura para o novo, uma espécie de disposição experimental, estética e micropolítica permitiu a formação de seu arsenal artístico-cultural de base, desenvolvido posteriormente de forma exemplar.

Virada do Século

O tempo histórico não pode ser abstratamente circunscrito. Sua realidade consiste nos acontecimentos concretos que transformam o conjunto da vida. A cronologia nada mais é do que um referencial para algo que os números jamais poderiam contar. É com essa compreensão que Eric Hobsbawm apresenta no seu livro Era dos Extremos uma perspectiva histórica interessante segundo a qual o século que teria iniciado com a Primeira Guerra Mundial havia chegado a seu termo logo após a queda do Muro de Berlim.139 Mais do que um acontecimento político, a falência do regime soviético fora

interpretado como um signo entre outros para representar a fronteira de uma era, além da qual se anunciava o século vindouro por meio de uma nova hegemonia, ao mesmo tempo econômica, política e cultural.140

A predominância do capitalismo na esfera econômica, fato doravante inexorável, também teve repercussões na arena política e na cultura. Junto ao capital globalizado, a democracia burguesa e a cultura espetacular: assim dispostos, os três pilares da civilização ocidental fincaram suas raízes na entrada do novo milênio.

No mesmo período que Francis Fukuyama declarava o fim da história, outras forças sociais, culturais e políticas se agitavam nas rachaduras do ocidente, disputando os mínimos espaços de resistência às tendências então dominantes. Afinal, a existência do poder pressupõe seu contrário. Aparentemente, a hegemonia capitalista havia se

139 Cf. Eric Hobsbawm. Era dos extremos: o breve século XX: 1941-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

140 Cf. Richard Gilman-Opalsky. Specters of Revolt: on the intellect of insurrection and philosophy

desvencilhado do incômodo socialista, mas não ao ponto de conter a revolta interna que carcomia por dentro as engrenagens do império em formação com o fim da Guerra Fria. Nos Estados Unidos não foi diferente. E o Critical Art Ensemble é um exemplo vivo disso, pois formou-se exatamente no período de transição para a hegemonia do capitalismo global protagonizado pelo estado norte-americano como um de seus avatares mais destacados.

Quem poderia imaginar que, no bastião econômico e militar do ocidente, o sonho de um grupo de jovens por um outro mundo possível daria vida a uma arte ousada como a do Critical Art Ensemble, capaz de desafiar o Leviatã de seu tempo? A história tem dessas surpresas, nem sempre é possível antever o que virá. Às vezes basta uma fagulha, um desejo inflamado, para que o improvável, ou até mesmo o aparentemente impossível torne-se realidade. No eterno retorno da ordem, um desvio, um pequeno distúrbio nas engrenagens do tempo, e eis que algo novo surge.

Anos 80

No final dos anos 80 a administração Reagan implementava o seu projeto de resgate das raízes capitalistas dos Estados Unidos. O programa de governo, denominado

Morning in America, representou uma verdadeira virada neoliberal: por um lado, com a

destruição dos serviços públicos, e por outro, com isenções fiscais para os mais ricos. Ao nível internacional, seu corolário foi o intervencionismo bélico em nome da luta contra o comunismo. A polarização acirrada que alimentava o imaginário político da época ganhou novo fôlego neste período. Quando o Critical Art Ensemble ganhou forma, seu alvo macropolítico tinha contornos bem definidos. Pouco depois, a crise da AIDS despertou comoção e indignação, e teve um papel central na mobilização do coletivo.141 No campo artístico, os anos 80 tiraram do foco a arte engajada, herdeira da contracultura, enquanto artistas como Barbara Kruger, Hans Haacke, Leon Golub e Jenny Holzer se projetavam com trabalhos conceituais.142 Ao mesmo tempo, Basquiat e Schnabel, representantes do neo-expressionismo, abriam espaços nas galerias e ganhavam para si os holofotes do espetáculo com as cifras do mercado artístico ávido por novidades.

141 Cf. Steve Kurtz, in Stéphanie Lemoine e Samira Ouardi. Pour une résistance culturelle permanente. Entretien avec Steve Kurtz du Critical Art Ensemble. Mouvements, 2011/1 (n° 65), p. 146 e p. 148. 142 Cf. Nato Thompson e Gregory Sholette (Ed.). The Interventionists: users’ manual for creative

Enquanto isso, fora dos circuitos consagrados, outras expressões artísticas, desta vez, mais engajadas, viabilizavam suas produções com iniciativas coletivas, como o Group

Material e o General Idea, que persistiam em seus projetos experimentais e críticos

enfrentando o desafio de colocar em prática seus desejos, ante uma sociedade “alienada por sonhos fabricados pelo marketing”.143

Princípios

Nesse momento histórico, enquanto as forças internacionais se rearranjavam e os Estados Unidos se projetavam globalmente, o Critical Art Ensemble surgiu com sua verve crítica, questionadora e radical. Desde então, a resistência cultural tem se beneficiado de seus produtos culturais inteiramente políticos e artísticos. Os temas escolhidos pelo grupo (capitalismo, tecnologia, poder) e as abordagens dadas a suas atividades (distúrbio, intervencionismo) são referidos sempre a uma micropolítica da criação que anseia produzir efeitos na cultura.

No livro Disturbances, lançado em 2012 pela Four Corners Books de Londres, o