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4 DESCRIÇÃO DA EMPRESA CDP

4.1 PORTOS E TERMINAIS DA CDP

4.1.1 Porto de Belém

Fonte: CDP (2009a, p.32).

O porto de Belém está localizado à margem direita da baía de Guajará (Figura 11), em frente à Ilha das Onças, na cidade de Belém. Encontra-se na latitude 01° 28‟03” S e longitude 48° 29‟18” W e distante aproximadamente 120km do oceano Atlântico (CDP, 2012b). As dimensões do Porto de Belém são: área total do porto = 132.435m2; área de armazenagem = 59.063m2; comprimento do cais = 1.295m (CDP, 2012c). É um porto abrigado em um estuário e, por isso, protegido de ventos fortes. A área do porto organizado, conforme o Decreto nº 5.230/2004 (D.O.U. de 6.10.2004), é constituída:

I - pelas instalações portuárias terrestres existentes na cidade de Belém, quais sejam,ancoradouros, docas, cais e píeres de atracação e acostagem, terrenos, armazéns, edificações e vias de circulação interna, existentes na margem direita da Baía de Guajará, desde a extremidade sul do Mercado Ver-o-Peso até a ponta sudoeste da ilha de Caratateua, na foz do rio Pará e marítimas, contidas na poligonal do Porto Organizado, abrangendo todos os cais, docas, pontes, píeres de atracação e de acostagem, armazéns, silos, rampas ro-ro, pátios, edificações em geral, vias de circulação rodoviária e ainda os terrenos ao longo dessas faixas marginais e em suas adjacências, pertencentes à União, incorporados ou não ao patrimônio do Porto de Belém ou sob sua guarda e responsabilidade;

II - pela infraestrutura de proteção e acesso aquaviário, tais como área de fundeio, bacias de evolução, canal de acesso e áreas adjacentes a estes, até as margens das instalações terrestres do porto organizado, conforme definido no inciso I, existentes ou que venham a ser construídas e mantidas pela administração do Porto ou por outro órgão do Poder Público (BRASIL, 2004a).

O acesso ao porto é dado através de um canal, o Oriental, com 90 a 180m de largura média, 6.000m de comprimento e de 6 m a 9 m de profundidade, quando dragado. A bacia de evolução está localizada em frente à Doca do Ver-o-Peso, possuindo 500m de comprimento por 500m de largura (CDP, 2010). E o acesso rodoviário é através da BR-316.

O Porto de Belém tem uma extensão acostável de 1.446,90 m. A estrutura do cais, com forma de um molhe contínuo côncavo (ou côncavo), é constituída de blocos pré-moldados de concreto simples, só existindo fundações profundas nas entradas da Doca Marechal Hermes, que possui 75 m nas faces laterais e 300 m de comprimento. O restante tem base de pedras assentadas em argila dura, que é a constituição do leito do rio (CDP, 2011).

O Porto de Belém iniciou suas atividades de movimentação já com carga desembarcada maior que a embarcada. Em 1915, a movimentação geral foi de 323.003t, tendo a importação participado com mais de 60% do total. Como já mencionado, predominava a exportação de borracha e de carvão inglês. Hoje, as cargas movimentadas no porto são: madeira (compensado em lâminas e serrado), peixe e camarão congelados, castanha-do-pará, palmito, pimenta, silício metálico. Seus mercados consumidores são os países da Europa, Estados Unidos e Japão – principais destinos dos produtos exportados.

Em 2009, segundo o relatório de Gestão, o Porto de Belém teve a seguinte movimentação de carga na exportação e importação (Tabela 2).

Tabela 2 - Cargas Movimentadas (em t) no Porto Belém (exportação e importação) – 2009.

Produtos Importação Exportação Total

Madeira serrada 3.737 178.741 182.478 Cimento 316.472 ─ 316.472 Bagagem 3.166 ─ 3.166 Madeira laminada ─ 4.228 4.228 Arroz 8.227 ─ 8.227 Couro bovino ─ 5.182 5.182 Palmito ─ 1.291 1.292 Castanha ─ 2.145 2.145 Produtos Químicos 960 ─ 960 Camarão ─ 624 624 Óleo de palma ─ 862 862 Pré-kits de casa ─ 3.773 3.773 Papel ─ 923 923 Peixe ─ 3.512 3.512 Trigo 140.802 ─ 140.802 Coque 114.590 ─ 114.590 Pimenta do reino ─ 3.544 3.544 Silício metálico ─ 22.237 22.237 Outros 33.048 51.808 84.856 Fonte: CDP (2010, p. 66) e CDP (2012b).

Em 2009, o Porto de Belém movimentou 945.144t, patamar 8,92% superior ao movimentado em 2008, representando aumento de movimentação na ordem de 77.403t. Além disso, houve, segundo o Relatório de Gestão 2009, um aumento da movimentação com o incremento de 92% nas importações, se comparado ao período anterior, tendo como principais produtos o cimento, trigo e o coque (CDP, 2009a; 2010). É interessante destacar a redução no volume de carga de madeira exportada em 2009 (Tabela 2), principalmente quando comparamos com a movimentação de 2007 e 2008, que foi de 528.973t e 329.124t, respectivamente. Essa diminuição deu-se, primeiro, pela oferta dessa carga, devido à maior regulação (fiscalização) por parte dos órgãos governamentais de gestão ambiental e pressões de ONGs e movimentos ambientalistas com relação à origem e certificação da madeira. Mas, também foi decorrente da crise financeira (em 2008), que atingiu os principais países consumidores: Estados Unidos, Europa e Japão.

Outro aspecto interessante na Tabela 2 é que houve um aumento substantivo no desembarque de cimento no Porto de Belém, com um desembarque de 316.472t em 2009, contra 38.688t em 2008; um aumento, portanto, de 818,01% (mais de oito vezes). Isso reflete um crescimento de “investimentos” no setor da construção civil no Pará. Outro aspecto interessante, ao sobrepormos as Tabelas 2 e 3, de maneira geral, sedimentam-se como principais mercadorias exportadas e importadas.

Tabela 3 - Principais cargas exportadas de 2002 a 2008 no Porto de Belém (em t).

Produtos (t) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Total Madeira compensada 141.893 203.401 179.844 114.299 79.829 63.391 ─ 782.657 Madeira serrada 430.272 587.187 535.820 439.855 427.570 460.049 329.124 3.209.877 Pimenta do reino 26.045 33.182 22.527 14.467 15.856 17.612 15.607 145.296 Silício metálico 15.515 23.968 49.542 28.033 39.296 37.949 36.142 230.445 Madeira laminada 3.656 12.616 8.357 5.628 4.484 5.533 39.446 79.720 Papel 5.488 13.044 9.287 7.283 8.268 4.398 2.375 50.143 Couro bovino 4.528 3.100 2.417 1.972 7.447 4.687 5.001 29.152 Palmito 3.573 4.623 2.151 2.762 1.763 2.932 917 18.721 Castanha 6.711 5.807 33.063 4.037 2.368 4.400 ─ 56.386 Peixe 3.935 6.049 4.145 7.283 6.718 7.505 5.576 41.211 Camarão 936 3.731 1.195 1.653 2.775 1.035 1.303 12.628 Óleo de dendê 1.057 1.254 4.367 427 313 1.578 ─ 8.996 Pré-kits de casa ─ 5.405 7.744 7.987 5.700 4.417 5.103 36.356 Outros 16.979 18.683 8.318 86.798 97.780 150.756 305.790 685.104 Fonte: CDP (2012b).

passaram pelo porto da CDP e o total de cada produto: 4.072.254t de madeira; 230.445t de silício; 145.296t de pimenta do reino; 56.386t de castanha; 41.211t de peixe; 29.152t de couro bovino; 18.721t de palmito; 12.628t de camarão; 8.996t de óleo vegetal. Se observarmos as Tabelas 2 e 3 e os dados do Arquivo Histórico do Pará (1772), Cruz (1957), Penteado (1973) e Barata (1973), no que tange a exportação, chegaremos à conclusão que o Porto de Belém é uma plataforma de exportação basicamente de commodities primárias, como madeira, minério (silício metálico), pimenta do reino, camarão, peixe, palmito, castanha e óleo vegetal (CASTRO, 2007a). Apesar disso, Castro (2005) faz um alerta:

A Amazônia, porém, também é um mercado de produtos e insumos muito concreto, ligado a redes internacionais altamente sofisticadas. Isso é real para grandes empresas, como é o caso da siderurgia e da mineração, ou ainda dos eletroeletrônicos e da madeira. Os pequenos ou médios produtores, organizados em sistemas coletivos, também estão presentes nas redes internacionais, com uma gama de produtos da floresta. Por meio de redes informais de comercialização, conseguem repassar ao mercado globalizado produtos valorizados justamente pelo seu conteúdo cultural e ambiental (CASTRO, 2005, p.33, sic).

A partir de Castro (2005), compreendemos que é preciso um olhar crítico sobre esse mercado de produtos primários, já que estão conectados em redes, isto é, esses agentes econômicos exportadores de recursos primários teoricamente “nanicos”79, apresentam uma

envergadura econômico-financeira substancial, porém subestimada, pois conseguem colocar e conhecer os seus clientes (onde irá circular seu sociometabolismo), principalmente Europeu e Norte-Americanos. Consideramos que esse debate envolve discussões sobre conectividade global (principalmente econômica e logística), o que será abordado mais adiante.

Ainda com relação à Tabela 3, há dois elementos relevantes a serem pontuados sobre a movimentação dos produtos da extração madeireira (muitas vezes de forma predatória), que estão expressos nas Tabelas 2 e 3. A primeira, é que no ano de 2009, o Porto de Belém atinge 4.057.946t de madeira exportada, um volume muito significativo, mostrando que esse mercado ainda muito rentável. Segundo Araújo et al. (2008), apresenta uma receita líquida entre 10% a 26%, excluídos os custos de capital e os gastos com legalização, e também a aplicação de medidas de ordenamento territorial com “decretação” de Unidades de Conservação; e em 2002, das exigências de certificação, do acordo do Conselho Mundial de Florestas (FSC) (Brasil

79 Para Brasil (2011a), esses exportadores de produtos primários faturaram (de 2006 a 2008 - sistematizado pelo

autor), por exemplo, com camarão, só em 2006 movimentou mais de 150 milhões de dólares (U$ FOB), sendo que o Pará movimentou em 2006, com produtos (principais) exportados U$ 6.674.712.778. Para elucidar, a sigla FOB significa Free on Board e está relacionada quando o vendedor faz um contrato com comprador e que o vendedor tem o encargo de entregar a mercadoria a bordo, pelo preço estabelecido, ficando as despesas decorrentes do transporte (frete e seguro) por conta do comprador, bem como os riscos até o porto de destino (CAMPOS NETO, 2009).

[2011a] enfatiza que a Balança Comercial do Pará, em 2004, em transações comerciais (exportação de madeira) foi de U$ FOB 493.217.423). Outro ponto importante e mais polêmico, pois questiona a tese levantada por Araújo et al. (2008) é de que a maioria da produção madeireira do Pará (78%), foi destinada ao mercado doméstico brasileiro, enquanto o restante (22%) à exportação. Observando as Tabelas 2 e 3, e CDP (2012b), pelo menos no Porto Belém, 100% do destino de viagens de longo curso (estrangeiras-marítimas) é a exportação, cujos países destinos foram, entre 2003 a 2010: Estados Unidos, Portugal, Inglaterra e França (CDP, 2012b) .

O Porto de Belém, no que concerne às importações de 2002 a 2008, possui elementos menos significativos do que mostra a Tabela 4. No entanto, cabe uma breve análise.

Tabela 4 - Principais cargas importadas de 2002 a 2008 no Porto de Belém (em t).

Produtos (t) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Total Trigo 197.638 165.450 160.834 153.230 135.888 126.236 112.154 1.051.430 Arroz - - 2.677 1.700 - - - 4.377 Coque - - - 86.740 24.000 131.972 105.781 348.493 Cimento - - - 38.688 38.888 Juta 3.999 5.981 1.943 - 7.916 - - 19.839 Papel 2.754 2.621 1.542 - - - - 6.917 Pisos cerâmicos 315 32 - - - 347 Mármore 201 173 - - 23 - - 397 Bagagem - 17 - 7 6.883 9.978 - 16.885 Produtos químicos 5.633 1.930 - 1.615 5.987 3.949 6.917 26.031 Eletrodo de carbono (C(S)) 1.732 1.351 - 595 - - - 3.678 Hidrosulfito de Sódio (Na2S2O4) - 228 - - - 228 Outros 40.888 36.502 119.937 65.236 79.757 89.888 86.343 518.551

Fonte: Elaborado a partir de CDP (2012b).

Na série histórica (2002 a 2008) de importações no Porto de Belém (Tabela 4), evidencia- se que houve uma diminuição significativa de produtos a partir de 2004, com exceção do trigo. Isso se deveu: (1) ao “deslocamento do Porto de Belém para o Complexo Portuário Industrial de Vila do Conde, em Barcarena” (CASTRO; SANTOS, 2006; SANTOS, 2004a), que teve como justificativa desafogar o trânsito de Belém e região metropolitana; (2) ao Porto de Vila do Conde possuir maior calado do canal (profundidade) (15 m, enquanto que no Porto de Belém é de até 9m, quando dragado) (CDP, 2012b), e assim atrair mais usuários para sua retroárea portuária e,

consequentemente, aumentar o tráfego de navios de maior porte; (3) integrar, pelo modal hidroviário, o oeste do Pará à Vila do Conde, à Belém e à Ilha do Marajó (CDP, 2012b).

Outro elemento interessante que se pode analisar a partir da Tabela 4, é que o Porto de Belém, assim como o Porto de Vila do Conde, são grandes importadores de produtos de maior conteúdo tecnológico. No caso do Porto de Belém, são de produtos químicos e eletrodos. O que seria necessariamente maior conteúdo tecnológico?

De Negri (2005) afirma, pautado na classificação proposta pela United Nations Conference for Trade and Development (UNCTAD), que os produtos (mercadorias) se agrupam em cinco categorias distintas: i) commodities primárias; ii) produtos intensivos em mão de obra e recursos naturais; iii) produtos com baixa intensidade tecnológica; iv) com média; e v) com alta. Eles se diferenciam:

 Os produtos de alta intensidade tecnológica são produtos eletrônicos e de informática, produtos farmacêuticos e produtos químicos e de aviões.

 Os produtos de média intensidade compreendem, entre outros, equipamentos mecânicos, automóveis e máquinas elétricas.

 Os produtos de baixa intensidade são os de metal e suas obras. Os exemplos de produtos intensivos em mão de obra e em recursos naturais vão desde papel até produtos da indústria têxtil.

 Por fim, as commodities primárias, que incluem carnes, óleos vegetais e vários produtos da indústria alimentícia, até metais ferrosos e não ferrosos.

Essa sistematização cunhada pela UNCTAD, em síntese, é a evidência da forma “utilitarista” como a biodiversidade e o ecossistema mundial e amazônico é classificado pelos grandes agentes econômicos, e que aparece de forma mais contundente no maior porto da Região Norte, em movimento de mercadorias – o Porto de Vila do Conde.

4.1.2 Porto de Vila do Conde