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4.1 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E GÊNERO NO BRASIL E EM

4.1.2 Portugal

Ao contrário do Brasil que tem cerca de 500 anos de história desde seu descobrimento, Portugal já tem centenas de anos de constituição do país e de sua população, o que tem reflexo nos índices de envelhecimento de um país. Abreu e Peixoto (2009) salientam que não apenas Portugal, mas a generalidade dos países europeus encontra-se atualmente perante um acentuado processo de envelhecimento demográfico.

Conforme o Censo de 2011, a população portuguesa soma 10.562.578de pessoas26. Os indivíduos com mais de 45 anos representam quase metade do total populacional (45,59%). Deste contingente, cerca de 55% são mulheres. Já aqueles acima dos 60 anos representam ¼ da população, na qual cerca de 57% são mulheres (Figura 18). Já o percentual de indivíduos

26 A região de Lisboa, conforme o Censo de 2011 contava com 2.821.699 de pessoas enquanto a cidade de

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acima dos 65, ou seja, de pessoas idosas, está em 19,03% da população total do país (INE, 2012). Faixa etária 2011 > 45 anos Total 45,59% Homens 45,28% Mulheres 54,72% > 60 anos Total 25,04% Homens 43,14% Mulheres 56,86%

Figura 18 - Percentual da população portuguesa acima dos 45 e 60 anos

Fonte: elaborado pela autora a partir de INE (2012)

Os dados revelam a maior participação feminina e que esta tendência intensifica-se conforme aumenta, também, a idade analisada. Com participação masculina suavemente inferior ao Brasil, em Portugal para cada 100 mulheres com mais de 45 anos há 81 homens (85 no Brasil). Já para cada 100 mulheres com 60 anos ou mais há 75 homens, número um pouco inferior ao Brasil (78 homens).

Acompanhando a os valores da população portuguesa de 1960 a 2011 verifica-se que a população com idade superior a 65 anos está aumentando desde os anos 1960, enquanto o número de crianças está sem decréscimo desde a década de 1980 (Tabela 3), fazendo com que, em 2011, cerca de 20% da população estivesse com mais de 65 anos.

Tabela 3 - População portuguesa por grupos de idade

Ano 0 a 14 anos 15 a 64 anos 65 ou mais

1960 2.591.955 5.588.868 708.569 1970 2.451.850 5.326.515 832.760 1981 2.508.673 6.198.883 1.125.458 1991 1.972.403 6.552.000 1.342.744 2001 1.656.602 7.006.022 1.693.493 2011 1.572.329 6.979.785 2.010.064 Fonte: FFMS (2014a)

A evolução histórica da estrutura demográfica portuguesa permite constatar que a população com mais de 65 anos ultrapassou aquela com idades compreendidas entre 0 e 14

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anos por volta dos anos 2000, comprovando a tendência de envelhecimento da população portuguesa (Figura 19).

Figura 19 - Evolução População Portuguesa por grupos de idade

Fonte: FFMS (2014b)

A mudança no perfil demográfico da população reflete nos índices de envelhecimento da população. Analisando o percentual de pessoas com mais de 65 anos para cada 100 crianças de o a 14 anos contata-se uma inversão na situação portuguesa: em 1961 estava em 27% enquanto em 2013 estava em 133,5%, isto quer dizer que, em 2013, para cada 100 crianças de 0 a 14 anos havia 133 pessoas com mais de 65 anos (FFMS, 2014c). Ressalta-se a gritante diferença entre Brasil e Portugal neste quesito, uma vez que como mencionado anteriormente em 2010 havia 31 pessoas com mais de 65 anos para cada 100 crianças.

Abreu e Peixoto (2009) salientam o aumento impressionante na expectativa de vida do português. Conforme dados do FFMS (2014b), esta expectativa aumentou dezesseis anos tanto para os homens como para as mulheres de 1960 a 2011, situando-se em 82,6 anos para as mulheres e 76,7 para os homens. Enquanto isto o índice sintético de fertilidade27 registrou um decréscimo de 3,2 para 1,2 filhos por mulher (inferior à UE), situando-se abaixo do valor

27 Número médio de crianças que terão nascido vivas por mulher em idade fértil sujeita às taxas de fecundidade

por idades observadas num momento (ano) de referência (15-49 anos). É usado para indicar a fecundidade ao nível da substituição de gerações; em países mais desenvolvidos, o valor de 2,1 é considerado como sendo o nível de substituição de gerações (FFMS, 2014b).

0 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 6.000.000 7.000.000 8.000.000 1960 1970 1981 1991 2001 2011 % Ano

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habitualmente considerado o limiar de reposição da população que é de 2,1 (índice alcançado em 1983 com subsequente queda) (Abreu & Peixoto, 2009; FFMS, 2014b). Igualmente com o que vem ocorrendo no Brasil, Abreu e Peixoto pontuam que estes dois processos atuam no sentido da intensificação do envelhecimento pela base (queda da natalidade) e pelo topo (aumento da expectativa de vida). Ressaltam, ainda, que esta mudança resulta quase que inevitavelmente em processos de envelhecimento demográfico – de forma mais ou menos imediata – e de declínio populacional, situação que se apresenta como um problema para muitos países europeus.

Uma diferença do caso português em relação ao Brasil é que às discussões sobre envelhecimento populacional soma-se outra variável além da expectativa de vida e o índice de fertilidade: o saldo migratório. Discute-se sobre a imigração de indivíduos, principalmente quanto à entrada de indivíduos em idade ativa que possam contribuir para a força de trabalho. A imigração, especialmente aquela de países não europeus, pode suavizar os efeitos do envelhecimento populacional uma vez que a maioria destes imigrantes são jovens adultos (25 a 34 anos) (EUROSTAT, 2011).

Em função do maior percentual de pessoas mais velhas, aparece com maior destaque, em Portugal, a preocupação com os índices de dependência, ou seja, o número de indivíduos acima de 65 anos em relação à população com idade entre 15 e 64 anos (26% em 2009; projeção de 53% em 2050) (EUROSTAT, 2011).

Levando em conta o que foi apresentado sobre o crescimento acelerado da população mais velha no Brasil e o envelhecimento acentuado em Portugal, algumas tensões são postas: Haverá trabalho para todos os que desejam trabalhar? Por outro lado, quem não deseja seguir trabalhando será obrigado a trabalhar? Na seção seguinte busca-se apresentar os reflexos do envelhecimento populacional no envelhecimento da força de trabalho e suas repercussões, dando especial atenção à situação brasileira e portuguesa. Para contextualizar a situação de Portugal são mencionados, também, aspectos do cenário Europeu em geral, procurando travar comparações entre Portugal e os demais países europeus afim de salientar determinados elementos.

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4.2 ENVELHECIMENTO DA FORÇA DE TRABALHO E GÊNERO NO BRASIL E EM