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4.2 ENVELHECIMENTO DA FORÇA DE TRABALHO E GÊNERO NO BRASIL E

4.2.2 Portugal e a União Europeia

Como há informações comuns a Portugal, em alguns momentos serão destacadas publicações oficiais da UE que, por sua, vez, trazem dados dos demais países. Na UE, como resultado do contínuo declínio da natalidade há um aumento na média de idade da PEA (Walker, 2005). Este autor ressalta que ao lado da crescente participação da mulher no trabalho, essa é a mais importante mudança na composição da força de trabalho europeia no último século. Entre os países mais afetados pelo envelhecimento dos/as trabalhadores/as estão Bélgica, França, Finlândia, Irlanda e Holanda. Além do aumento da idade média dos/as trabalhadores/as, outro efeito é a diminuição da PEA.

No momento em que a economia mundial enfrenta uma das piores crises econômicas desde 1930 na Europa os baby boomers começam a aposentarem-se uma vez que os/as nascidos/as no pós-guerra estão entrando nos 60 anos, fazendo com que a partir de 2014 a população europeia em idade ativa (20 a 64 anos) reduza-se ainda mais (EUROSTAT, 2011).

A saída precoce do mercado de trabalho é um dos problemas que afeta os países da UE. Segundo Walker (2005) apenas um terço das pessoas entre 55 e 64 anos são economicamente ativas nos países da UE. Uma das principais causas das saídas precoces foram as próprias políticas públicas. Medidas como a pré-aposentadoria na Dinamarca e Alemanha, compensação por invalidez na Holanda e Suécia e o Plano de Quitação do Emprego no Reino Unido incentivaram ativamente a saída precoce do mercado de trabalho, algumas vezes com o objetivo de substituir trabalhadores/as mais velhos/as por mais novos/as, liberando postos para os mais jovens. Walker (2005) salienta, ainda, que movimentação semelhante tem ocorrido também nos EUA onde políticas públicas

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subsidiaram o processo de saídas precoces, oferecendo, por exemplo, vantagens de imposto aos empregadores cujos sistemas de pensões permitiam e estimulavam aposentadorias antes dos 62 anos. Mesmo planos de aposentadorias individuais permitiam a retirada de fundos sem penalidade de taxas com 59 anos e meio.

Porém, a política de saídas precoces deixou consequências imprevistas ou, pelo menos, não plenamente antecipadas: 1) o aumento da saída precoce da força de trabalho diminuiu o papel do sistema previdenciário público como regulador chave da aposentadoria e, por meio disso, aumentou a precariedade e a exclusão de muitos/as trabalhadores/as mais velhos/as do mercado de trabalho, conforme Guillemard (1993), citado por Walker (2005, p. 13)30; 2) o crescimento desmedido das saídas precoces reforçou a desvalorização dos/as trabalhadores/as mais velhos/as no mercado de trabalho. A diminuição de idade para saída do emprego teve consequências significativas – e simbólicas – para os/as trabalhadores/as que envelheciam no mercado de trabalho, uma vez que provavelmente afetou a percepção dos empregadores sobre a idade em que são considerados/as “velhos/as demais” para o trabalho; 3) para muitas empresas o estímulo à saída precoce acabou significando perda de experiência, aptidões e know-how dos/as trabalhadores/as mais velhos/as.

Nota-se que o ônus do estímulo às saídas precoces não foi plenamente antecipado pelos empregadores nem pelos governos dos países da UE. Walker (2005) salienta que é justamente em função deste ônus, somado ao envelhecimento da força de trabalho e diminuição da PEA, que fez com que nos últimos anos os políticos tenham começado a enfatizar a importância do emprego na idade avançada e a reconhecer o conceito de envelhecimento ativo ou bem-sucedido, ou seja, de uma maior participação social dos mais velhos/as, como uma prioridade política na UE.

A abordagem da UE sobre o envelhecimento ativo tem, desta forma, colocado o principal enfoque no mercado de trabalho e no prolongamento da vida ativa, em resultado de preocupações de natureza financeira em torno da sustentabilidade da segurança social. Surge, então, como uma tentativa de resposta política a questões de ordem orçamental (Casaca, Bould, 2012).

30 Guillemard, A.M. (1993). Older Workers and the Labour Market. In: Walker, A., Guillemard, A. M.; Alber, J.

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O caso de Portugal não é diferente do que ocorre na UE em geral. Entre as consequências do envelhecimento populacional está o envelhecimento da força de trabalho portuguesa tendo implicações em termos de produtividade, custos do trabalho e manutenção das estratégias empresariais (Lopes & Albuquerque, 2012).

Partindo de projeções do Instituto Nacional de Estatística português Abreu e Peixoto (2009) discutem o peso que os adultos mais velhos (40 a 64 anos) vem representando na população economicamente ativa (15 a 64 anos). Em 2001 este número estava em 31,2%, porém conforme as projeções estarão entre 52% e 60,7% em 2050 (projeções considerando o cenário mais positivo e o mais negativo). Por outro lado, Abreu e Peixoto (2009) verificaram que as taxas de atividade em Portugal são bastante elevadas quando comparadas às da UE, especialmente entre os/as adultos/as mais velhos/as (55-64) – tanto entre os homens quanto entre as mulheres, mas especialmente para elas – reflexo de uma idade média de aposentadoria superior à média europeia (63,1 anos em 2005, contra 60,9 na UE). Além disto, as taxas de emprego entre as mulheres são também mais elevadas do que na UE, mesmo com debilidades na provisão pública de suporte às famílias para cuidado dos familiares (Abreu & Peixoto, 2009; Casaca & Bould, 2012).

Em relação à União Europeia, Portugal apresenta uma das maiores taxas de participação no emprego sendo que, em 2009, as taxas de emprego para as mulheres portuguesas estava em 42,7% (37,8% na UE) e 57,5% para os homens portugueses (54,8% na UE). Em 2013, a taxa de emprego masculina estava em 56,6% e a feminina em 45,3 (FFSM, 2014d).

Para aqueles/as com idades compreendidas entre 65 e 69 anos a participação dos/as portugueses/as no mercado de trabalho é ainda maior: 21,8% das mulheres (7,4% na UE) e 29,6% para os homens (13,2% na UE) (EUROSTAT, 2011). A medida que a idade aumenta as participações tendem a diminuir, ainda mais para as mulheres. Tal situação têm reflexos na composição do mercado de trabalho para os/as idosos/as acima dos 65 anos, pois um em cada cinco homens idosos, ou seja, continua ativo no mercado de trabalho após a idade legal de aposentadoria, em face de um pouco menos de 10% das mulheres idosas expressando contornos por gênero e ressonâncias do peso do trabalho reprodutivo sobre as mulheres nas faixas ulteriores da vida, como o retorno ao lar para cuidar dos familiares mais velhos ou mais jovens (Perista & Perista, 2012; Casaca & Bould, 2012).

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A taxa de emprego cai vertiginosamente quanto maior o grupo etário. Em 2013, a taxa de emprego para aqueles entre 25-44 anos estava em 78,5%; para o grupo de 45-54 anos caiu para 73,5%; entre 55 e 64 anos era de 45,9 e acima dos 65 anos estava em cerca de 12,8% (FFMS, 2014e).

Acompanhando o contexto europeu de crise econômico-financeira, Portugal registra queda geral nos níveis de emprego e, por consequência aumento do desemprego, que revelam diferenciais por gênero. Conforme informações do IEFP (2006 a 2012) é possível constatar um aumento no número de pedidos de emprego nos centros de emprego a partir de 2007 bem como uma redução no número de ofertas de trabalho a partir de 2010.

Além disto, foi o desemprego masculino que mais cresceu (+28,3%), situando-se em 17,5% o acréscimo ocorrido no gênero feminino quando comparados com o ano anterior (IEFP, 2012b). Apesar desse crescimento ter sido relativamente maior no tocante aos homens, em números percentuais segue afetando preponderantemente as mulheres. O número de mulheres à procura de emprego é superior ao contingente de homens para todos os anos, aproximando-se do equilíbrio no ano de 2012 quando os pedidos provenientes de homens somam 48,7% do total de pedidos de emprego (Figura 24).

Figura 23 - Pedidos de emprego por sexo em Portugal (Outubro)

Fonte: elaboração própria a partir de dados do IEFP, Estatísticas Mensais (2006 a 2012) 0% 20% 40% 60% 80% 100% 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Mulheres Homens

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Quando se analisa a situação dos/as trabalhadores/as empregados/as confirma-se essa tendência, uma vez que são os homens os que compõem a maior parcela dos empregos formais. Do total de trabalhadores/as por conta de outrem (TCO)31 em todos os setores da economia, a maioria concentra-se entre os 25 e os 44 anos representando 59,8% em 2010 (60,2% em 2009) (GEP/MSSS, 2012b).

Quanto a participação dos/as trabalhadores/as acima dos 45 no emprego verifica-se que entre os TCO aqueles/as entre 45 e 54 anos representam parcela importante uma vez que são cerca de 1/5 da força de trabalho do país. Já o grupo acima dos 55 anos corresponde a 10% dos/as trabalhadores/as portugueses/as (Figura 25), índice que diminui significativamente com a idade (Lopes & Albuquerque, 2012).

Ainda conforme a Figura 25 verifica-se que quanto mais velhos/as os/as trabalhadores/as maior a participação masculina na força de trabalho. No grupo compreendido entre os 45 e 54 anos o percentual de homens que era de 63% em 1999 foi reduzindo gradualmente para 55% em 2010, enquanto no grupo com mais de 55 anos o percentual de homens caiu de 69% em 1999 para 60% em 2010. Apesar do aumento da participação feminina seguem predominando os homens, além que a participação deles no emprego formal intensifca-se conforme aumenta a idade.

45 a 54 anos 55 e + anos Total % 45-54/ TCO Total % Mulheres em TCO Total % 55 e +/ TCO Total % Mulheres em TCO 1999 387.898 17,0% 37% 169.614 7,4% 31% 2000 408.124 17,2% 39% 180.239 7,6% 32% 2002 434.662 17,7% 39% 191.479 7,8% 34% 2003 455.424 18,1% 41% 205.079 8,2% 35% 2004 476.675 18,5% 41% 215.221 8,4% 35% 2005 517.379 18,9% 42% 233.224 8,5% 36% 2006 531.197 19,2% 42% 242.704 8,8% 37% 2007 555.265 19,5% 43% 257.679 9,0% 38% 2008 575.148 19,9% 44% 269.920 9,3% 38%

31 Trabalhador por conta de outrem (TCO) - indivíduo que exerce uma actividade sob a autoridade e direção de

outra, nos termos de um contrato de trabalho, sujeito ou não a uma forma escrita e que lhe confere o direito a uma remuneração, a qual não depende dos resultados da unidade econômica para a qual trabalha (GEP/MSSS, 2011).

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2009 567.361 20,6% 44% 267.283 9,7% 40%

2010 547.700 21,1% 45% 257.434 9,9% 40%

Figura 24 - Trabalhadores/as com mais de 45 anos em todos os setores em Portugal

Fonte: elaboração própria a partir de dados do GEP/MSSS, Quadros de Pessoal (2011: 2012a)

As figuras 26 e 27 ilustram a participação feminina nos TCO na economia portuguesa. É possível observar que tanto para a faixa etária de 45-54 quanto para as pessoas com mais de 55 anos há mais homens nos TCO. Apesar do aumento importante na participação feminina ainda prevalecem os homens.

Figura 25 - Distribuição dos/as trabalhadores/as por sexo e idade em Portugal (45 a 54 anos)

Fonte: elaboração própria a partir de dados do GEP/MSSS, Quadros de Pessoal (2011: 2012a)

Figura 26 - Distribuição dos/as trabalhadores/as por sexo e idade em Portugal (mais de 55 anos)

Fonte: elaboração própria a partir de dados do GEP/MSSS, Quadros de Pessoal (2011, 2012a) 0% 20% 40% 60% 80% 100% Mulheres Homens 0% 20% 40% 60% 80% 100% Mulheres Homens

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Este é um dado curioso, uma vez que o perfil por gênero dos/as TCO é o inverso do que ocorre na sociedade em termos demográficos, uma vez que há uma feminização da velhice com consequente maior percentual de mulheres quanto mais elevada a idade, da mesma forma como ocorre no Brasil. Tal dado revela a maior permanência dos homens em atividades formais de trabalho enquanto as mulheres tendem a assumir novos papeis sociais. Note-se, no entanto, que em Portugal a participação da força de trabalho feminina nestas faixas etárias ainda é superior a de muitos países europeus (EUROSTAT, 2011; Casaca, Fontoura & Piccinini, no prelo).

Pode-se constatar, assim, que o caso português pode trazer importantes elementos para se compreender o cenário que está se desenhando no mercado de trabalho brasileiro. Em função dos diferentes contextos cultural, econômico e social não seria adequado comparar os dois países quanto à situação do emprego de pessoas mais velhas, por outro lado, traçar aproximações entre os países pode contribuir para o avanço do conhecimento neste tema no Brasil e, também, levantar novas questões sobre como vem sendo debatido o problema em Portugal.

Na seção seguinte, são apresentadas informações sobre o mercado de trabalho no setor hoteleiro brasileiro e português, especialmente quanto à idade e ao gênero dos trabalhadores.

4.3 MERCADO DE TRABALHO NO SETOR HOTELEIRO BRASILEIRO E