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2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3.6. A RECUSA PORTUGUESA EM PRESTAR APOIO À ORGANIZASI PAPUA

3.7.4. A POSIÇÃO DE PORTUGAL

A falta de preparação política dos timorenses fez com que o 25 de abril de 1974 não surgisse como uma esperança, mas mais como fator de uma tragédia como Timor nunca tinha vivido na sua história. O 25 de abril de 1974, com a sua política de formação de partidos, de certo modo veio fazer reviver os desentendimentos seculares e familiares entre etnias, como também as vinganças causadas pela ocupação nipónica e pela revolta de Viqueque, em 1959. Ao longo da sua história, Timor nunca tinha tido uma educação política de democracia, nunca tinha vivido a experiência democrática e, num abrir e fechar de olhos, viu-se envolvido numa luta democrática, sem conhecimento de ética e regras democráticas. O que se criou não foi uma democracia, mas uma anarquia, segundo Mário Carrascalão, que fala mesmo numa “armadilha ao povo de Timor”. “Foi uma armadilha”, disse Mário Carrascalão, devido à criação de diversas condições em diferentes grupos de interesses bem identificados com o objetivo de proliferação de partidos e da luta armada entre os mesmos. E quando isso acontecesse, os oficiais diriam que o problema era dos timorenses e não deles e, por isso, estavam interditos de atuar.

189 Magalhães, António Barbedo (1997). Descolonização do Ensino em Timor – um projeto que a intervenção

indonésia matou à nascença, Porto, Universidade do Porto.

190 Taylor (1993), Timor.., p. 300.

191 Carta escrita ao autor da Tese por Carlos Filipe Ximenes Belosobre o encontro entre o Bispo da Diocese de Díli com a Guerrilha Timorense, realizado no dia 25 de abril de 1986.

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Mário Carrascalão explicou que os portugueses estavam ansiosos por um regresso rápido a Portugal. Estavam cansados de gerir as colónias e pensaram em deixar os timorenses atuar pelas suas próprias mãos, deixando de interferir no assunto. Assim, “ficaria consumado o abandono de Timor, “uma terra sem qualquer importância para Portugal”192.

Em maio de 1974, o governador Alves Aldeia mandou uma delegação constituída por elementos do MFA (Movimento das Forças Armadas) para uma sondagem a Cupão, na Indonésia, para saber a opinião da Indonésia sobre o futuro de Timor. O resultado não foi agradável para a delegação e, por isso, como disse Mário Carrascalão, o resultado da “sondagem” ficou em segredo.193 Porém, dentro dos

princípios que os orientavam, os homens do MFA acabaram por gerar uma ainda maior confusão junto dos timorenses. Mário Carrascalão afirma que, segundo os indonésios, a Indonésia invadiria Timor se:

1. Portugal viesse a ter um governo comunista ou com elementos comunistas;

2. A atividade política em Timor conduzisse a um clima de violência que colocasse em risco a estabilidade política da Indonésia;

3. Aparecesse em Timor algum partido político comunista ou se elementos comunistas semeassem distúrbios que pudessem afetar a segurança e a paz geográfica, sobretudo da ASEAN194.

Para sustentar o abandono de Timor Português, como podemos observar a seguir, alguns dirigentes portugueses declararam que:

1.º Timor era uma ilha Indonésia que tinha um pouco a ver com Portugal. Declaração de Mário Soares (1972/74/94);195 Depois da Revolução do 25 de abril de 1974, Soares teria voltado a oferecer Timor

à Indonésia, procurando convencer Ali Alatas: “por favor sejam vocês a descolonizar... vocês têm que nos ajudar”196.

2.º Em Lisboa, o Presidente da República Francisco da Costa Gomes, o Primeiro-Ministro, Vasco Gonçalves, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, e alguns oficiais do MFA tiveram uma reunião com o General Ali Murtopo. Supõe-se que nesse encontro Francisco da Costa Gomes tenha confidenciado a Ali Murtopo que a independência seria um “disparate”197.

192 Carrascalão (2006), Timor, p. 25. 193 Idem, ibidem, p. 24.

194 Carrascalão (2006), Timor, p. 25.

195 Abreu, Waldemar Paradela de (1997), A Verdade Histórica, Venda Nova, Luso Dinastia.

196 Entrevista de Ali Alatas ao jornal Semanário, 24 de abril de 1993, ano IX, n.º 492. p. 6, citado por Paulo Pires (2013), Timor: labirinto da descolonização, p. 30.

197 Ramos-Horta (1996: 69), citado por Feijó, Rui Graça (2016), Timor-Leste: Colonialismo, Descolonização,

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3.o Almeida Santos declarou que: “Timor é um transatlântico imóvel no Oceano Pacífico que

custava muito dinheiro a Portugal. […] A independência total é de irrealismo atroz”198 , pois “é preciso

observar que Timor está longe da autossuficiência económica e financeira, sem a qual não se pode cogitar numa independência real.199 Em outubro de 1974, na visita a Timor, no seu discurso, disse o seguinte:

“Mas será realista que se pense em radicalizar desde já a preocupação de desvinculação política, quando Timor está longe de uma independência económica?” [...] Vem isto a propósito de eu não querer também desconhecer que existe em Timor quem identifique a busca de felicidade dos timorenses com qualquer sorte de conexão política com a República da Indonésia. Também logicamente não seremos nós pro ou contra isso. Teria essa solução o sufrágio da geografia. E a República da Indonésia é, sem dúvida, um povo nobre e uma nação valorosa”200.

No seu discurso em ONU, em dezembro de 1974, Nova Iorque, Almeida Santos voltou a afirmar que “ Timor só poderia ter uma de duas soluções, manter-se ligado a Portugal, ou ligar-se à Indonésia, e que teria uma Assembleia Constituinte no prazo de seis meses”201.

Embora oficialmente não se tenha dito nada sobre a concretização do plano do Governo português de entregar Timor-Leste à Indonésia, os factos apresentados demonstram a existência de um plano programado, como a seguir se verifica:

1.º A posição do Major Arnão Metelo, considerado como “pai da APODETI”, foi clara, quando apoiou a fundação da APODETI;

2.º O Governo português favoreceu a vinda dos cinco estudantes: Abílio de Araújo, César Mau Laka, António Carvarino, Vicente Manuel dos Reis, Hamis Basserawa, pagando-lhes a viagem de regresso para Timor quando nem tinham acabado os cursos;

3.o A presença dos Majores Costa Jónatas e Francisco Mota, que atuaram em Timor de uma

maneira muito parcial, favorecendo a FRETILIN, sabendo perfeitamente que a política da FRETILIN, na altura, levaria Timor ao caos, introduzindo o comunismo, sobre o qual os indonésios e os seus aliados se apoiariam para fazer a invasão a Timor Português;

4.º A destruição das armas nos quartéis, que os militares portugueses se preocuparam em lançar ao mar para evitar que caíssem nas mãos dos timorenses, tornando os timorenses incapazes de lutar contra

198 Jornal Expresso, 3 de agosto de 1974, citado por Pires (2013), Timor Labirinto de Descolonização, p. 30. 199 In Voz de Timor, 14 de dezembro de 1974, citado por Magalhães (2007), Timor-Leste: Interesses Internacionais e Actores Locais, p. 245.

200 I Relatório do Governo de Timor (Período de 13 de novembro de 1974 a 7 de dezembro de 1975) – Governador Mário Lemos Pires (Cor. Grad.), Presidência do Conselho de Ministros, Lisboa, p. 22, 1981.

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a invasão indonésia; (... meses antes, o Governador Lemos Pires, disse a Mário Carrascalão que “estavam a deitar ao mar as munições velhas, porque o que havia chegava para cinco anos de guerra”202.

“Fomos mandados, com 12 camiões berlier, trazer armas das companhias para serem colocadas no Destacamento Militar. Trouxemos todas as armas e aproveitei para tirar uma pistola e escondi-a em casa do meu irmão Agostinho, em Colmera”, disse Henrique Belmiro, soldado timorense”203.

5.o Durante os distúrbios de 11 de agosto de 1974, os oitenta e cinco paraquedistas não atuaram

para dominar a situação;

6.o Depois de a UDT ter feito o levantamento armado, no dia 11 de agosto de 1975, não houve

reação portuguesa. Após nove dias, o Governo português não interveio para controlar a situação, pelo contrário o Governador Lemos Pires alegou tratar-se de um conflito meramente político entre timorenses e ordenou que as suas forças militares não interviessem;204

7.º As Forças Armadas Portuguesas não prenderam o Major Maggiolo Gouveia por traição às Forças Armadas Portuguesas. Maggiolo Gouveia não foi punido por se juntar à UDT nem foi capturado por desertar;

8.o O Governador Lemos Pires não deu a ordem aos paraquedistas e às Forças Armadas para

prender o Comandante Operacional do MAC (Movimento Anticomunista) e os seus subalternos, bem como o Alferes Miliciano Rogério Lobato e alguns dos seus líderes;205

9.º O exército desintegrou-se porque o oficialato português não atuou prontamente; manteve os soldados nos quartéis enquanto a desordem alastrava com a perda de vidas e de propriedades. Os soldados não compreendiam o motivo pelo qual os seus superiores portugueses não lhes davam ordens para atuar. A desintegração do exército deu oportunidade à UDT e à FRETILIN para aliciar os soldados timorenses, apesar de os oficiais, sargentos e praças se terem mantido leais ao comando português até à debandada dos seus superiores;206

10.º Os portugueses repetiram o slogan de Almeida Santos e Lemos Pires, referindo que descolonizar não era abandonar, mas acabaram por abandonar imponentemente o que haviam prometido manter. 207 [...] Com a retirada dos portugueses para a ilha de Atauro os indonésios decidiram avançar

com uma invasão já calculada;

202 Carrascalão (2006), Timor.., p. 87. 203 Sousa (2013), Vozes.., p. 365.

204 Carrascalão (2006), Timor, p. 92.

205 Idem, ibidem, p. 92.

206 Duarte, Tito (2006), Timor: Aquela Ilha para além do fim ... do fim, Memórias do Tito Duarte (1953-1975), Passos de Cor, Artes Gráficas e Design Lda., pp. 293-294.

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11.º Segundo James Dunn, a reunião em Londres, no dia 9 de março de 1975, entre o General Ali Murtopo e alguns diplomatas indonésios, por um lado, e entre Almeida Santos e alguns membros do MFA, incluindo o Major Francisco Mota, por outro lado, levaram a que Portugal concordasse em não colocar quaisquer entraves aos esforços que a Indonésia fizesse para promover a integração;208

12.º Alguns fatores que tiveram um impacto negativo na descolonização de Timor como a prioridade pela descolonização de Angola e Moçambique. Como também a falta de interesse do governo português pela população de Timor e a falta de interesse de Portugal em movimentar a comunidade internacional, em relação a Timor, no sentido de apoiar os timorenses na escolha do seu futuro. O Governador Lemos Pires não só falhou na sua missão de estabelecer a ordem e a paz no país depois do Golpe da UDT como também atribuiu aos timorenses toda a responsabilidade. Paulo Pires declarou o seguinte:

“Fui cumprimentar o Governador, que, entretanto, se tinha transferido da sua residência oficial, em Lahane, para a residência do Coronel Maggiolo Gouveia na área de Motael. Perguntei-lhe pela situação da província e ele respondeu-me textualmente: “O PROBLEMA É VOSSO”209.

13.º A pressa em abandonar Timor era bem conhecida nos meios militares portugueses através do

slogan “Para Timor, nem mais um soldado, nem mais um escudo”.210 Numa das reuniões onde esteve

presente o Secretário-Geral da UDT, Domingos de Oliveira, o Major Francisco Mota afirmou que o que a UDT queria era impossível. O dinheiro que se estava a gastar em Timor seria melhor gasto na terriola dele (em Portugal)211;

14.º Não respeitaram os sentimentos dos timorenses, que se mantiveram sempre fiéis e leais para com os portugueses, mantendo o respeito pela soberania portuguesa, simbolizada pela bandeira portuguesa212;

15.º A reunião de Macau era uma tática portuguesa para dar a entender ao mundo de que a integração de Timor na República da Indonésia seria feita mediante um processo democrático, sendo o encontro em Macau apenas uma das etapas. A presença ou a ausência da FRETILIN nada importava. O resultado já estava estabelecido nos encontros de Lisboa, Londres e Hong Kong 213;

208 Dunn, James (2011) e Hill (2002), citado por Magalhães (2007), Timor-Leste, Interesses Internacionais e Actores

Locais, p. 249.

209 Pires (2013), Timor:labirinto.., p. 99.

210 Carrascalão (2006), Timor.., p. 48.

211 Fonseca, Rui Brito da (2014), Timor em Memória de Augusto César da Costa Mouzinho, Vice-Presidente da

UDT, Herói Esquecido, (s.l) Crocodilo Azul, Litogaia, Ates Gráficas Lda, p. 83.

212 Chrystello (1999), Timor-Leste.., pp. 203-207. 213 Idem, ibidem, p. 75.

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16.o Segundo Leiria Pinto, Comandante da Rádio Naval em Díli, no dia 25 de agosto, o Presidente

da República de Portugal enviou um telegrama ao Governador Lemos Pires nestes termos: "Apesar do risco, tente sair de Díli para outro ponto do território, nomeadamente Ataúro". No dia 26 de agosto, o Coronel Lemos Pires e o seu pessoal deixavam definitivamente Díli. Pelas 20h45, a Rádio Naval era abandonada e Díli estava mergulhada em silêncio e numa escuridão impressionantes;214

17.o O abandono do Governador Lemos Pires, que se refugiou na ilha de Ataúro no dia 26 de

agosto de 1975 com o seu pessoal, evitando ficar refém de algumas das partes dos beligerantes, permitiu as negociações entre uma missão ministerial, enviada desde Lisboa, e os partidos políticos timorenses. Durante este período evitou a armadilha indonésia de o ter sob sua proteção ou de pedir à Indonésia a sua proteção.

Em virtude do golpe de 11 de agosto de 1975 e da sua adesão às teorias indonésias, a UDT acabou por perder grande parte do seu apoio popular.

Para o abandono de Timor, foram dadas as seguintes diretrizes pelo Chefe do Estado-Maior- General das Forças Armadas (CEMGFA) ao governador de Timor:

1. Informar o governador de Macau e o Embaixador de Portugal em Camberra no dia 25 de agosto de 1975 215

;

2. Garantir o segredo, na obediência máxima “conhecimento apenas a quem interessar;

3. Aproveitar a evacuação dos refugiados como cobertura e realizar a saída na continuação dessa evacuação;

4. Comunicar aos cônsules creditados em Díli que o Governo aconselhava a sua saída do MAC216

em Díli”;

5. A saída deveria verificar-se ao cair da noite (21h), antes de nascer a lua;

6. As comunicações da Rádio Naval deveriam manter-se até ao último momento e os seus operadores deveriam ser os últimos a sair, tomando medidas para tornar a rádio inoperacional, mas facilmente recuperável;

7. Seria substituído por um grupo de comando que seguiria para Ataúro, bem como por todos os paraquedistas como força de segurança;

214 Belo, Carlos Filipe Ximenes (2014), Díli, a Cidade que não era, p. 83.

215 Pires, Mário Lemos (1981), I Relatório do Governo de Timor (Período de 13 de novembro de 1974 a 7 de

dezembro de 1975), Presidência do Conselho de Ministros, Lisboa, 1981, pp. 277-278. Doc. Anexo 5.46, Ordem

para sair da Capital, 25 de agosto de 1975.

216 MACDILI significa Macau-Díli. Nome dado a um cargueiro que fazia viagens de Díli a Macau e vice-versa nos anos 70.

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8. Grupo de comando seria o último a embarcar e nele deveriam ser incorporados os militares necessários para manter a “fisionomia” da área militar até ao fim;

9. Os paraquedistas deviam prever a necessidade do seu embarque se realizar “à viva força”;

10. Nenhum dos partidos deveria aperceber-se da intenção de saída;

11. Realizar a recuperação dos militares portugueses de Oe-cusse e de Bobonaro 217

18.º Segundo Francisco Xavier do Amaral, no dia 25 de outubro de 1975, a FRETILIN fez um convite à administração portuguesa residente em Ataúro para enviar uma delegação a Díli a fim de avaliar a situação política, mas não obteve resposta. A FRETILIN continuava a reconhecer a soberania portuguesa, não tendo qualquer legitimidade internacional como governante. Como não era um governo eleito, temia-se que o vazio político servisse de pretexto à Indonésia para lançar uma invasão em larga escala em Timor-Leste.218 Francisco Xavier do Amaral declarou que Portugal traiu o povo timorense,

porque ambos acordaram que Portugal não iria interferir nos assuntos de Timor-Leste, mas afinal a Indonésia interferiu e Portugal não reagiu. A FRETILIN esperou durante algum tempo para iniciar as negociações com os portugueses, mas os portugueses não reagiram219;

19.º O Padre José Álvaro Nolasco Santimano Menezes e Monteiro, missionário indiano pároco da igreja de Motael, relatou ao autor da tese que por volta das 23h do dia 26 de agosto de 1975, o Governador abandonou a ilha. Apagaram-se toda as luzes do cais, deixando o motor a funcionar e, aproveitando a escuridão da noite, zarparam do porto a caminho de Ataúro na barcaça Loes;

20.º O Governo português não concordou que a Frente Diplomática Timorense tivesse a sua sede em Lisboa. Devido a este facto, a diplomacia externa timorense teve de transferir a sua sede para Moçambique, que lhe deu todo o apoio tanto interno como externo, segundo a declaração da Sra. Dona Marina Alkatiri, estudante ativista e membro da FRETILIN que se transferiu de Lisboa para Maputo.

Quais foram as razões que levaram os portugueses a tomarem tais atitudes em relação a Timor? Mário Lemos Pires no I Relatório 220 apresenta aqui algumas dessas razões:

1. A Revolução dos Cravos originou várias mudanças e as pessoas não estavam preparadas para as mudanças que ocorreram rapidamente no país. Este facto criou nos primeiros anos uma certa instabilidade, como se pode verificar pela frequente queda dos governos;

217 Pires (1981), I Relatório.., p. 277. 218 Idem, ibidem, p. 58.

219 Idem, ibidem, p. 58.

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2. Timor geograficamente, estava longe de Portugal;

3. A doutrina de descolonização veio de Portugal e as interpretações sobre a colonização não foram claras. A descolonização tinha um significado mais próximo da libertação de um peso do que propriamente de ajudar as populações colonizadas a administrar e gerir o seu próprio destino;

4. Timor estava totalmente dependente de Portugal, tanto em pessoal como nas outras áreas;

5. As mudanças permanentes não foram bem compreendidas e as pessoas não tiveram ideias claras sobre tais mudanças;

6. A Indonésia, devido ao seu sentimento de irredentismo, estava intensamente atenta aos movimentos e às tendências da esquerda, que começavam a dominar a sociedade portuguesa e a sua influência em Timor-Leste, de modo a justificarem uma invasão sob o pretexto de não quererem a instabilidade numa área próxima ao seu país, evitando a influência comunista;

7. O programa do 25 de Abril de 1974 era demasiado vago e pragmático em relação às províncias ultramarinas;

8. Foram feitas campanhas por vários partidos para a desmoralização das Forças Armadas, como

se elas não fossem necessárias na fase da descolonização através do slogan “nem mais um soldado para as colónias”, numa fase em que Timor-Leste bem necessitava da presença ativa das Forças Armadas;

9. Em março de 1975 houve uma grande conquista da influência política pela esquerda em Portugal,acompanhada de monopólio da informação;

10. Em meados de 1975, a direção política estava em crise e, de um modo geral, a autoridade era quase inexistente;

11. Quando Timor mais precisava de decisões de apoio, em agosto de 1975, não existia governo em Lisboa;

12. A credibilidade de Portugal no estrangeiro diminuía, facto esse que influenciou a opinião pública internacional levando-a a desacreditar em Portugal na condução do processo de Descolonização.

Neste capítulo procurou-se descrever a situação política de várias nações com interesse em Timor após a II Guerra Mundial. Portugal após o 25 de abril de 1974, mudou a sua posição aceitando cumprir a Carta das Organização das Nações Unidas reconhecendo o direito de autodeterminação dos povos sob o seu poder e esforçou-se pela autodeterminação do território timorense.

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Na Indonésia existia o sentimento do irredentismo, que alguns nacionalistas queriam implementar defendendo que Timor-Português era parte do império de Srivijaya e de Majapahit, embora a política oficial do governo proclamasse que Timor-Português não fazia parte das possessões holandesas. Esta política da Indonésia sofreu transformações ao longo da história conforme as mudanças da situação política na Indonésia, com a queda de Sukarno e a tomada do poder por Suharto, a mudança do regime em Portugal e a Guerra Fria na qual potências mundiais do bloco capitalista apoiaram a Indonésia a decidir pela invasão e a integração de Timor na Indonésia.

Assim, podemos verificar que o problema de Timor já tinha antecedentes. A tentativa de integrar Timor na Indonésia não foi uma ideia que surgiu em 1975. Anteriormente já algumas potências mundiais tinham pensado numa solução para o Timor-Português: a sua integração na Indonésia. No capítulo a seguir veremos a materialização dessa ideia, e o esforço desenvolvido pelos timorenses para a conseguir a sua autodeterminação.

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