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Notou-se pela pesquisa bibliográfica que, na maioria das vezes em que o Princípio da Livre Iniciativa foi comentado na doutrina, houve preocupação, por aparte dos autores, em apresentar considerações sobre as limitações que lhe circundam. Analisar-se-ão essas limitações na busca de relação com a situação problema desta monografia.

Grau (2005) expõe que, conforme o enunciado do artigo 1º, inciso IV, da Constituição de 1988, são fundamentos da República Federativa do Brasil os Valores Sociais do Trabalho e da Livre Iniciativa. Destaca o autor que não foi por acaso que foram colocados lado a lado no texto constitucional. O constituinte originário, com a escolha de ordem de precedência no texto constitucional, imprime um preceito fundamental, ou seja, existe uma ligação entre o Valor Social do Trabalho e a Livre Inciativa. Esta existe em função daquele. A expressão mais correta seria: o Valor Social do Trabalho e o Valor Social da Livre Iniciativa. Este recebe, assim, uma carga social de grande valia e não uma acepção individualista como de outrora9.

No que concerne ao capítulo da ordem econômica, precisamente no artigo 170,

caput, a Livre Iniciativa se apresenta de forma singela enquanto a Valorização do Trabalho

Humano é marcada como objeto a ser valorizado (GRAU, 2005).

Ainda, o parágrafo único do artigo 170, da Constituição Federal assegura “[...] a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei” (BRASIL, 1988, grifou-se). Nota-se, mais uma vez, que, embora a Livre Iniciativa seja assegurada para fins de atividades econômicas, é passível de regulação por lei (GRAU, 2005).

Para Grau (2005), a Livre Iniciativa limita-se a ser meio de garantir o Valor Social e a Valorização do Trabalho Humano, não podendo ser considerada um princípio absoluto. Sobre o teor de aplicação anota: “O que mais importa considerar, de toda sorte, é o fato de que, em sua concreção em regras atinentes à liberdade de inciativa econômica, o princípio, historicamente, desde o Decreto d’Allarde10, jamais foi consagrado em termos absolutos” (GRAU, 2005, p. 205).

Silva (2006) faz saber que, ante a evolução dos meios de produção, advieram condições de trabalho deletérias. Assim, surgiu a necessidade de propiciar melhores condições de vida aos trabalhadores da época. Essas condições fizeram surgir mecanismos limitadores ao princípio da Livre Iniciativa.

Quando em busca da perseguição à Justiça Social, a Constituição utiliza da Livre Iniciativa como meio de realização dos anseios de justiça da sociedade. A Carta Magna, de sorte, prega no artigo 170, a obrigatoriedade de observar os ditames da Justiça Social, demonstrando-se “[...] uma constituição preocupada com a justiça social e o bem-estar da coletividade” (BRASIL, 1988; SILVA, 2007, p. 794).

Segundo Silva (2007, p. 793-794), o Princípio da Livre Iniciativa “[...] envolve a liberdade de indústria e comércio ou liberdade de empresa e a liberdade de contrato”. No entanto, essa liberdade perde legitimidade quando seu exercício se prestar a objetivar puramente lucro e realizações pessoais dos empresários.

Nesse diapasão, pelo que fora anotado por Silva (2006), a Justiça Social é ditame da Constituição da República Federativa do Brasil, carecendo o Princípio da Livre Iniciativa ser limitado quando não estiver em sintonia com esse preceito constitucional.

Tavares (2011) explana que a Livre Iniciativa – usa a expressão Liberdade de Iniciativa – jamais chegou a ser declarada e admita em termos absolutos.

Utilizando-se da doutrina, o autor corrobora seu entendimento: “[...] a visão de um Estado inteiramente omisso, no liberalismo, em relação à iniciativa econômica privada, é expressão pura e exclusiva de um tipo ideal” (GRAU, 1997 apud TAVARES, 2011, p. 239).

Nessa toada, Tavares (2011, p. 239) faz menção ao condicionamento do exercício da Livre Iniciativa aos Valores Sociais do Trabalho e à Justiça Social, além da não casualidade do posicionamento sistemático dos princípios dentro do texto constitucional: “Em posição

10 Para o autor a primeira expressão do princípio da Livre Iniciativa decorre do Decreto d’Allarde, de 2-17 de

março de 1791, cujo art. 7º determinava que “a partir de 1º de abril daquele ano, seria livre a qualquer pessoa a realização de qualquer negócio ou exercício de qualquer profissão, arte ou ofício que lhe aprouvesse, sendo, contudo, ela obrigada a se munir previamente de uma ‘patente’ (imposto direto), a pagar as taxas exigíveis e a se sujeitar aos regulamentos de polícia aplicáveis” (GRAU, 2005).

sistemática absolutamente idêntica à que ocupa o Princípio Da Livre-Iniciativa está a valorização do trabalho humano”.

O autor frisa que a Livre Inciativa se condiciona com o surgimento das necessidades da realização da Justiça Social e do Bem-Estar da coletividade, tendo, como principal função, possibilitar o autodirecionamento econômico dos particulares. Todavia, limita-se diante de imposições do poder público. Na falta de norma que o condicione, deve-se ater aos ditames nucleares da constituição (TAVARES, 2011).

Ademais, reporta-se à Valorização do Trabalho Humano apoiando-se em Silva (1999):

[...] condiciona mais de perto o exercício da livre inciativa, indicando que, embora capitalista, a ordem econômica dá prioridade aos valores do trabalho humano sobre todos os demais valores de economia de mercado. Conquanto se trate de declaração de princípio, essa prioridade tem o sentido de orientar a intervenção do Estado, na economia, a fim de fazer valer os valores sociais do trabalho[...] (SILVA, 1999, p. 762

apud TAVARES, 2011, p. 249-240).

Nota-se pelo que preconizam os autores pesquisados, que o Princípio da Livre Iniciativa se limita a garantir a Justiça Social e a Valorização do Trabalho Humano; não sendo ele capaz de ser considerado absoluto frente ao que almeja a Constituição Federal. Para eles, é essa a função que o constituinte atribuiu à Livre Iniciativa quando foi escolhida como fundamento da ordem econômica.

5.2 PERMISSÃO DA INTERVENÇÃO ESTATAL NA ECONOMIA E LIMITES AO

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