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Possíveis implicações da pesquisa para as práticas pedagógicas que

Afinal de contas, educar é provocar mudanças ou criar condições para que elas aconteçam...

(BARCELOS, 2007: 110)

Esta pesquisa foi capaz de mostrar que os estudantes precisam conhecer os seus estilos de aprendizagem e crenças, assim como as estratégias de aprendizagem e de autorregulação existentes (BENSON, 2001; BARCELOS, 2001 e 2004a), precisam aprender técnicas de estudo e de elaboração de planejamentos, devem ser levados a refletir sobre seus sucessos e insucessos acadêmicos, considerando-se obviamente as suas expectativas, e a associar a eles as ações que realizaram ou não, conforme preceitua Dias (2003; 2006).2

Acho pertinente ressaltar que a prática pedagógica precisa deixar de centrar-se na figura do estudante para assumir, de vez, o foco no processo de aprendizagem, pois é

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O livro didático de Dias, Bambirra & Arruda (2006) sugere maneiras de se incluir esse tipo de componente no currículo convencional a ser cumprido no ensino formal de L2 no Brasil. A referência completa de um outro livro didático de qualidade excepcional e que tem a mesma proposta desse é: FINCH, A. English reflections: an alternative, reflective learner journal. Kyungpook/Korea: Kyungpook National University Press, 2004.

nele que tudo se dá e é nele onde estudantes e professores tem suas chances de encontro e troca. Fora disso, a relação entre estudantes e professores continuará assimétrica, paternalista e impeditiva do desenvolvimento de autonomia.

Novas competências urgem ser desenvolvidas pelos professores, principalmente. Em plena era pós-moderna, com as novas tecnologias do computador e da internet permeando quase todas as práticas sociais, é incompreensível que ainda existam tantos professores resistentes a desenvolver seu letramento digital e a incorporar tais tecnologias em sua prática pedagógica, ainda que de maneira natural e paulatina, na medida da necessidade de interação que tem com seus grupos de estudantes, como prescreve Marcuschi, 2008.

Paralelamente ao fato de o Inglês não ser nossa língua materna, e de sequer ser utilizado, oficialmente, como segunda língua no Brasil, é real estarmos vivendo a

„sociedade da autoria‟ (RICHARDSON, 2009). O autor atesta que, a partir de agora, “...

nós escreveremos a história humana, em tempo real, de maneira compartilhada, o que nos chama, a todos, a participar” (p. 4)3. Além disso, a nova realidade educacional mundial tende para a supervalorização do letramento digital, por consequência dos novos padrões relacionais instituídos pela globalização.

Dentro dessa nova realidade, é preciso ter em mente que letramento digital envolve, basicamente, ler, escrever, editar, colaborar e publicar, usando as ferramentas do computador e da internet. As mais básicas são os blogs, os domínios gratuitos, os

podcasts e as wikis. No entanto, são também muito populares (1) os serviços de

compartilhamento de páginas da web, através das ferramentas de bookmarking e RSS, (2) as ferramentas de edição e compartilhamento fotos, arquivos de áudio e de vídeo,

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No original: ... we will be writing the human story, in real time, together, a vision that asks each of us to

produzidos pelos estudantes ou simplesmente editados por eles, (3) os espaços de socialização, chamados social networking, (4) as ferramentas de criação de pesquisas de opinião, (5) plataformas para arquivamento e exposição de trabalhos dos estudantes, proporcionando o estabelecimento de público alvo real, chamadas de e-portfolios, (6) os

mashups, ou seja, a combinação de conteúdos de dois ou mais websites, (7) as

ferramentas de desenho em uma, duas ou três dimensões, assim como as de animação de desenhos, (8) as ferramentas para mapeamento geográfico de locais reais ou criados pelos estudantes, (9) as ferramentas para criação de calendários interativos, editados colaborativamente em função do interesse dos usuários (10) as ferramentas de comunicação, como mensagens instantâneas e voIP (voice over Internet Protocol), que efetivamente eliminam as distâncias e economizam tempo.

Conforme relatam Solomon & Schrum (2007), todo o sistema educacional americano sofre mudanças para se adequar às exigências dos padrões de letramento

digital a serem atingidos pelos estudantes, estabelecidos pelo „Plano Nacional de

Educação para a Tecnologia‟4, partindo do pressuposto de que o estudante do século XXI precisa desenvolver mais letramentos e habilidades do que nunca antes. E, obviamente, o plano contempla também o nível de letramento digital que os professores precisam ter para viabilizar os trabalhos.

A tendência de se investir no desenvolvimento do letramento digital de estudantes e professores é mundial. Sendo assim, é fundamental que busquemos conhecer as ferramentas da web 2.0, também citada na literatura como a web da autoria5 (RICHARDSON, 2009), para diminuir a lacuna existente entre o nível de letramento

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Tradução minha para: US National Educational Technology Plan elaborado pelo Departamento Nacional de Educação norte americano e sancionado pelo presidente Clinton, em 2003. Disponível em: http://www.ed.gov/about/offices/list/os/technology/plan/national/title.html, acessado em 11/10/ 2009.

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digital dos estudantes e o dos professores, viabilizando o próprio processo de ensino e aprendizagem de L2 (TERRY, 2007; OXFORD & JUNG, 2007).

Parece-me essencial que o professor do século XXI se disponha a filiar-se a comunidades imaginadas para (1) trocar saberes construídos globalmente através de experiências de ensino e aprendizagem com seus pares e discutir seu significado e implicações para as realidades locais em que atuam e também para (2) construir uma identidade profissional que lhe dê respaldo, ou seja, a segurança suficiente para proteger sua autoestima. Enfim, é essencial que os professores sintam-se competentes.

Por fim, uma possibilidade interessante de operacionalizar o desenvolvimento da autonomia seria a criação de uma comunidade de prática virtual em que profissionais do ensino de L2 poderiam discutir a teorização da área, os requisitos e possibilidades de utilização das ferramentas da web 2.0 em suas práticas pedagógicas, aprendendo colaborativamente, conforme prescrevem Schrum & Solomon (2007).