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Atualmente, tem-se verificado valiosos avanços envolvendo os metabólitos derivados de plantas em vários processos farmacológicos e bioquímicos. Os monoterpenos têm representado uma nova classe de agentes químicos com elevado potencial terapêutico Uma substância dessa classe que vem despertando grande interesse é o α-terpineol (BICAS et

al., 2011).

O α-terpineol, assim como os diversos derivados oxigenados de monoterpenos, é reconhecido por sua nota aromática agradável e também por suas atividades antimicrobiana, antitumoral, antioxidante e anti-inflamatória já relatados (JUN; JEONG; HO, 2006). Estudos evidenciaram atividades biológicas importantes do α-terpineol, como atividade antiproliferativa in vitro frente a linhagens celulares de adenocarcinoma da mama (MCF-7) e leucemia mielóide crônica (K-562), evidenciando-se nesse caso, uma maior especificidade que o limoneno (BICAS et al., 2011). Hassan et al. (2010) mostraram que α-terpineol inibiu o crescimento das células tumorais de pulmão humana (NCI-H69), carcinoma coloretal humano (HCT-116) adenocarcinoma ileocecal humana (HCT-8), câncer de pulmão (H69AR) mieloma

(RPMI 8226), pelo mecanismo que envolve a inibição da rota do NF-κB (Nuclear Factor- Kappa B), associada a processos inflamatórios. Noor, Astuti e Mustofa (2014) avaliaram a

citotoxicidade do α-terpineol e seus efeitos na apoptose. Os resultados mostraram que o α- terpineol apresentou citotoxicidade contra a célula HeLa com um valor IC50 de 12,46 μg.mL-1,

sendo um potencial antitumoral nestas células.

Quanto à ação antimicrobiana, Park et al. (2012) avaliaram a ação do α-terpineol contra bactérias cariogênicas e periodontogênicas. Os valores de mínima concentração inibitória (MIC) e bactericida (MBC) encontrados pelos pesquisadores variaram entre 0,1 a 0,8 mg. mL-1. Li et al. (2014) encontraram valores de MIC e MBC, contra Escherichia coli, de 0,78 µL. mL-1. O α-terpineol apresentou também atividade antifúngica contra

Trichophyton mentagrophytes, na concentração de 0,2 mg.mL-1, por difusão em Agar Sabouraud Dextrose (PARK et al., 2009) e Geotrichum citri-aurantii, cuja MIC e mínima concentração fungicida (MFC) encontradas no estudo foram 2,0 e 4,0 μL.mL-1, respectivamente (ZHOU, TAO; JIA, 2014). Estudos de Jing et al. (2015) mostraram que o crescimento micelial de Penicillium digitatum foi fortemente inibido pelo α-terpineol, com a MIC e a MFC de 2,00 e 8,00 μL.mL-1

, respectivamente.

Atividade antioxidante também é relatada para o α-terpineol. Este monoterpeno inibiu a peroxidação lipídica em 80%, na concentração de 0,02% (v/v) e reduziu, em 10 vezes, a liberação de ânions superóxido em cultura de células leucêmicas, em concentrações inferiores a 0,02% (v/v) (MARÓSTICA JÚNIOR et al., 2009). Bicas et al., 2011 avaliaram a atividade antioxidante do α-terpineol pelo método ORAC, e obtiveram valor de 2,72µmol de Trolox equivalente por µmol de α-terpineol, semelhante ao determinado para o antioxidante sintético BHA (2,43 mol de Trolox equivalente. µmol-1 de BHA). O α-terpineol mostrou ser um forte agente quelante de íons Fe2+, em estudos de Di Sotto et al. (2013). Este efeito foi dependente da concentração e atingiu o valor de cerca de 98,1% a 0,6 mM. A quelação do íon ferroso é uma forma indireta de atividade antioxidante, por proteger as células do dano oxidativo do DNA, induzido pela produção de espécies reativas ao oxigênio, o pode estar envolvida também na antimutagenicidade da substância.

Efeito anti-inflamatório foi verificado pela inibição da formação de citocinas IL-6 em células epiteliais bucal, quando exposta a suco de laranja, em testes in vitro (HELD; SCHIEBERLE; SOMOZA, 2007). Nogueira et al. (2014) encontraram a mesma conclusão sobre a atividade anti-inflamatória do α-terpineol pela redução na produção de IL-10 e and IL- 1β.

Outros benefícios do α-terpineol também são relatados na literatura: efeito gastroprotetor em modelos experimentais de úlcera gástrica induzida por etanol em ratos

Wistar, tratados oralmente (gavagem) com doses de 30 e 50 mg. kg-1 (SOUZA et al., 2011), efeito protetor contra convulsão induzida por pentileno-tetrazol, na dosagem de 100 mg. kg-1 de α-terpineol, injetada em ratos Swiss machos (SOUSA; QUINTANS JÚNIOR; ALMEIDA, 2007), proteção contra agressão nociceptiva, apresentando efeito analgésico em ratos Swiss na dose de 25 mg. kg-1, injetados na região subplantar da pata traseira direita (QUINTANS- JÚNIOR et al., 2011; OLIVEIRA et al. 2012). Resultados obtidos por Sabino et al. (2013), após de sete dias experimentais, mostraram que a administração oral de α-terpineol nas doses de 25, 50 e 100 mg. kg-1, produziu uma hipotensão acentuada em ratos Wistar hipertensos induzidos por L-NAME (N-(G)-nitro-L-arginina metil ester) quando comparados com animais do grupo controle. Houve uma redução dos níveis das enzimas antioxidantes catalase e glutationa peroxidase nos animais hipertensos em comparação com o controle, mas após a administração do α-terpineol, os níveis destas enzimas apresentaram-se semelhantes aos do grupo controle. Segundo os autores, resultados podem ser atribuídos a potencial atividade antioxidante do α-terpineol contra lesões causadas por radicais livres.

Goto et al. (2010), descreveram que vários terpenoides bioativos, dentre eles o farnesol, geraniol e geranilgeraniol, podem ser úteis para o tratamento de distúrbios metabólicos induzidos pela obesidade, como diabetes tipo 2, hiperlipidemia, resistência à insulina e doenças cardiovasculares, devido à capacidade de ativação dos receptores ativados por proliferadores de peroxissoma (PPARs) do tecido adiposo, que são fatores de transcrição pertencentes à família de receptores nucleares que regulam a homeostase da glicose, metabolismo de lipídeos e inflamação.

Ensaios clínicos com álcool perílico, um composto terpênico obtido pela biotransformação do limoneno, foram realizados por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense e Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os testes foram conduzidos em pacientes com diferentes gliomas malignos em estado terminal. A terapia adotada foi baseada na administração por inalação direta de álcool perílico 0,3%, quatro vezes ao dia durante quatro semanas. Resultados mostraram que alguns pacientes revelaram regressão do tumor (FONSECA et al., 2006; FONSECA et al., 2008). Outro estudo investigou a administração de álcool perílico (288±32 dias) em oito pacientes com câncer pancreático. Foi observada a redução do tamanho do tumor em função do mecanismo de apoptose celular. Embora não tenha sido demonstrada significância estatística, os pacientes apresentaram uma sobrevida maior de 84 dias quando comparado ao grupo controle (MATOS et al., 2008).

Tomaz-Morais et al. (2017) estudaram os efeitos antinociceptivos do (S)-(-)- álcool perilílico na nocicepção orofacial em ratos Swiss machos, utilizando testes de dor induzidos por formalina, capsaicina e glutamato na área direita do lábio superior. Para cada teste, oito animais por grupo foram pré-tratados intraperitonealmente com álcool perílico (50 e 75 mg.kg-1), morfina (5 mg.kg-1) ou veículo (solução salina + Tween 80 0,2%). O álcool perílico foi capaz de bloquear o comportamento nociceptivo orofacial em ambas as doses testadas, e similar à morfina.

Apesar de constar na literatura relatos de atividade antioxidante, antitumoral e anti-inflamatória e potencial no tratamento da síndrome metabólica de compostos terpênicos, ainda são escassos os estudos acerca da atividade biológica de outros derivados da biotransformação desses compostos, a saber, alguns derivados do limoneno, como o α- terpineol. Vale ressaltar que ainda há muitas lacunas no mecanismo de ação do α-terpineol contra os efeitos adversos da obesidade, que devem ser preenchidas, e desta forma novas abordagens para o estudo de seu efeito e ação são necessárias para uma melhor compreensão de seu potencial terapêutico.

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