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2.8 A NORMA PADRÃO ISO 20400: DIRETRIZES PARA UMA COMPRA

2.8.4 Potencializadores da política de compras sustentáveis

Segundo Assen e Ijsselmuide (2017), esta cláusula da norma padrão ISO 20400, descreve as condições e técnicas de gestão necessárias para implementar continuamente a melhoria das aquisições sustentáveis.

Por sua vez, o INNO (2016) conceitua este conjunto de condições e técnicas de gestão como potencializadores para a produção e consumo sustentável. Os potencializadores da política de compras sustentáveis objetivam a evolução, em conjunto, das cadeias produtivas em torno da organização, através do alinhamento das exigências acerca do tema da sustentabilidade, realizadas junto aos fornecedores, sem os quais as organizações não alcançam seus objetivos de negócios com responsabilidade ambiental, justiça social e desenvolvimento econômico viável e inclusivo.

Esse contexto se torna mais importante devido à crescente importância da subcontratação em um contexto de globalização que pode levar a deslocar os riscos sociais e ambientais para outras partes da cadeia de abastecimento, mais difíceis de controlar. No Brasil, essa preocupação cresceu ainda mais em função da recente aprovação da Reforma trabalhista

através da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, que permitiu a terceirização das atividades fins das empresas.

Uma estratégia de compras sustentáveis ajuda a identificar esses impactos e a encontrar soluções para gerenciá-los, como código de conduta, requisitos em licitações, questionários de fornecedores, auditorias, planos de ação corretiva. Nesse sentido, o padrão da Norma ISO 20400 é dedicada.

Em resumo, esta seção da norma ISO 20400 aborda a organização da função de compras para a gestão da sustentabilidade em termos de aquisições, em um encadeamento de processos que visa aliar, ao processo de compras, critérios capazes de incorporar, além do retorno financeiro, o melhor retorno ambiental e social.

. Trata-se das condições organizacionais necessárias, no ambiente local, para permitir a implementação das compras sustentáveis. Para a BSI (2017a), essas condições organizacionais são descritas, conforme se segue:

Governança na gestão das compras e contratos. O padrão incentiva o usuário a

integrar a sustentabilidade na governança de aquisições existentes ao invés vez de criar nova. Isso pode significar aprovação de planos de categoria, estratégias de abastecimento, pré- qualificação e concorrência de fornecedores. Todos eles precisam incluir prioridades de sustentabilidade adequada. As pessoas que tomam decisões precisam ser adequadamente informadas por treinamento e/ou aconselhamento profissional para implementarem a sutentabilidade nos processos de aquisição.

A governança requer um conjunto de regras que as pessoas precisam seguir. Para a maioria das organizações, isso geralmente compreende um conjunto de documentos: políticas, sistemas, procedimentos, padrões e modelos. Esses documentos precisam ser alinhados aos objetivos de sustentabilidade e aquisições da organização.

Algumas organizações usam sistemas (e.g. licitação eletrônica, sistema de gerenciamento de contrato, sistemas de planejamento de recursos empresariais) para suportarem seu fluxo de trabalho e procedimentos. Esses sistemas também devem ser alinhados aos objetivos de sustentabilidade da organização, quando necessário. O grupo de pessoas responsáveis pela governança deve incorporá-la às questões de sustentabilidade, de acordo com a norma padrão ISO 20400, considerando a inclusão de comitê interno de sustentabilidade no processo de governança (ISO, 2015).

Capacitação de pessoas. Trata-se de garantir que as pessoas estejam, suficientemente

profissional. O padrão fornece aconselhamento sobre a incorporação de requisitos sustentáveis de descrições, planos de desenvolvimento e processos.

A implementação efetiva de uma política e estratégia de compras sustentáveis exige que todo o pessoal envolvido nas decisões de aquisição, incluindo as partes interessadas internas (pessoal de produção, detentores de orçamento ou outros envolvidos com fornecedores que exerçam qualquer capacidade), compreenda as razões para a implementação de compras sustentáveis.

Também é importante que todas as partes interessadas, internas, compreendam como desempenhar o seu papel na implementação. Isso pode envolver o aconselhamento da alta gerência para entender melhor e apoiar a sustentabilidade. As pessoas encarregadas de fornecer compras sustentáveis devem ser capacitadas para realizá-las através de uma cultura organizacional de apoio, gerenciamento de desempenho, treinamento e suporte (ISO, 2015).

Identificação e envolvimento das partes. A norma sugere alguns grupos ou

organizações que podem ser engajadas para o propósito desse envolvimento. Os grupos mais importantes para se envolverem em uma estratégia de aquisição sustentável são, naturalmente, os fornecedores.Pelo fato de as cadeias de suprimentos serem aversas às surpresas, caso sejam convidadas a fazerem algo que não fizeram anteriormente, as mesmas não irão colocar seus investimentos em risco com relação aos preços.

Dessa forma, os planejadores e operadores do sistema de compras são encorajados a influenciarem, com bastante antecedência, as suas cadeias de abastecimento em relação a novos padrões de sustentabilidade, e a serem claros e consistentes. Isso encorajará a cadeia de suprimentos a competir em torno das novas exigências, mantendo os preços baixos.

A fim de manter a concorrência e conservar os preços interessantes, eventualmente será necessário incentivar os fornecedores a construirem suas capacidades, pois diante da suposição de que os fornecedores não são competentes para fornecerem novos padrões de sustentabilidade, caso a organização implemente uma política assentada na seleção de fornecedores com as melhores credenciais de sustentabilidade, os demais fornecedores concorrentes da cadeia, serão excluídos, o que resultará em um mercado de oferta restrita, surgindo o risco da inflação de preços pela redução concorrencial.

Priorização. Trata-se do estabelecimento de prioridades de compras sustentáveis.

Para isso, é necessáriso definir prioridades baseado no modelo de fatores potencializadores e direcionadores recomendado na norma padrão 20400. É preciso estabelecer prioridades a um nível mais alto para a cadeia de abastecimento. A orientação é baseada em duas suposições simples:

• Nem todas as categorias de suprimentos irão afetar os objetivos de sustentabilidade da mesma forma; e,

• Nem todos os fornecedores dentro de uma categoria, terão a mesma sustentabilidade quanto aos aspectos de riscos e oportunidades.

A norma estabelece um processo, passo a passo, que auxilia na produção de mapas prioritários sobre os quais se baseia a estratégia de aquisição sustentável de uma organização. Este é um exercício crítico que irá garantir que os fornecedores sejam estimulados a implementarem práticas sustentáveis relevantes para a sua categoria de oferta, e que auxiliem nos objetivos de sustentabilidade da organização, quais sejam:

I) Medição e melhoria do desempenho. O desempenho da sustentabilidade é notoriamente difícil de medir. A boa gestão do desempenho depende de objetivos consistentes e claros, comunicados de forma eficiente, através de uma cadeia de fornecimento engajada e competente. Em outras palavras, as organizações, antes de considerarem as medidas, devem realizar todos os outros procedimentos, conforme o guia de orientação da ISO 20400.

Segundo a ISO (2015) a medição e o monitoramento são necessários para: - Estabelecer uma medida de linha de base (situação de partida);

- Monitorar o desempenho e tomar medidas corretivas, se necessário;

- Mostrar resultados e envolver-se com os tomadores de decisão e os stakeholders internos; - Mensurar a performance da organização comparativamente aos concorrentes e líderes de sustentabilidade;

- Comunicar aos interessados externos por meio de relatórios anuais.

Nesta etapa ocorre a conexão da due diligence com o gerenciamento do risco, que deve ser aplicado para controlar os processos organizacionais e refletir a maneira "normal" de operar. Novas atividades, resultantes das próprias decisões políticas da organização, mudanças no ambiente operacional ou demandas dos stakeholders, precisam ser integradas à abordagem de gestão para garantir que elas se tornem parte das operações do dia a dia (ISO, 2015).

II) Estabelecimento de um mecanismo de reclamação. As organizações necessitam de mecanismos na cadeia de suprimentos, que capacitem qualquer pessoa, no levantamento de uma reclamação, cuja será investigada adequada e independentemente. É muito importante entender se as políticas estão funcionando. Mecanismos de reclamações desempenham um papel importante para proporcionar um acesso a resolução de impactos negativos significativos na cadeia de suprimentos, causados por decisões e atividades de uma organização.

Uma organização, sob as diretrizes da norma padrão ISO 20400, deve estabelecer um mecanismo para que as partes interessadas na cadeia de abastecimento chamem a atenção da

organização e busque a reparação. Esse mecanismo não deverá prejudicar o acesso aos canais jurídicos disponíveis. Os mecanismos não estatais não devem prejudicar o fortalecimento das instituições estatais, em especial os mecanismos judiciais, mas podem oferecer oportunidades adicionais de recurso e reparação (ISO, 2015).

A Figura 19 demonstra a visão geral dos componentes potencializadores e impulsionadores para a implementação eficaz das condições técnicas que, visam o aprimoramento das aquisições sustentáveis, e que tem como finalidade o auxílio na estruturação de um processo de aquisições de bens e serviços e de gestão dos fornecedores.

Figura 19- Visão geral dos potencializadores nas etapas de habilitação para

organizar a função de sustentabilidade

Fonte: Adaptado de ISO (2015).

A Figura 19 refere-se à descrição das condições que precisam ser criadas para permitirem que as compras sustentáveis sejam consistentes e continuamente melhoradas. Essas condições são fundamentais para integração, com exito, das considerações-chave das sustentáveis em todo o processo de adquisição da organização, visando a integração da sustentabilidade na estratégia e no processo de uma política de compras da organização, em uma realidade fundamentada na possibilidade de benefícios sociais, ambientais e econômicos, derivados da profusão de atividades da organização e da gestão de sua cadeia de suprimento.

2.9 AS CPS SOB A ÓTICA DO TCU E SEUS REFLEXOS NAS PRÁTICAS