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PARTE I Enquadramento teórico

Capítulo 2 Promover Comunidades Saudáveis

3. ESTILOS DE VIDA E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE E BEM-ESTAR DA POPULAÇÃO

3.1. A SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES

3.1.3. Prática de exercício físico

O efeito salutogénico do exercício físico (EF) sobre a saúde e bem-estar tem sido amplamente reconhecido pela comunidade científica (Balaguer & Castillo, 2002; Marques & Gaya, 1999; Roberts, Tynjälä & Komkov, 2004; Sardinha, 1999). De facto, a prática de EF regular desde a infância, mantendo-se ao longo do ciclo vital, parece benéfica na redução da morbilidade e mortalidade cardiovascular (Sardinha, 1999), no cancro, na diabetes Tipo II, na osteoporose, podendo, igualmente, regular o excesso de peso, os níveis de ansiedade e stresse, reflectindo-se em melhor qualidade de vida (Roberts et al., 2004).

Lee & Paffenbarger (1996) efectuaram uma extensa revisão da literatura, sendo pela primeira vez admitida a probabilidade de uma relação causal entre actividade física, o exercício, a aptidão física, e a mortalidade por qualquer causa (cit. por Sardinha, 1999). Para além dos benefícios a nível do aparelho cardiovascular e saúde mental dos adultos, a prática de EF parece exercer um efeito benéfico no fortalecimento da auto-estima dos

mais novos, ao mesmo tempo que constitui um dos cenários de socialização mais importantes nesta faixa etária (Hickman, Roberts & Matos, 2000), podendo mesmo contribuir para a obtenção de melhores níveis de rendimento escolar (Pollatschek & O’Hagan, 1989, cit. por Sequeira & Cruz, 2000) e coordenação psicomotora. Pode igualmente traduzir-se em benefícios corporais através da diminuição de peso e aumento de massa muscular, se combinado com uma dieta apropriada (Matos, Simões, Carvalhosa, Reis & Canha, 2000).

Existem algumas diferenças nos conceitos inerentes ao facto de estar fisicamente activo. Assim sendo, entende-se por actividade física qualquer movimento corporal realizado pelos músculos que, por sua vez, se traduz em consumo de energia (Ogden, 1999 cit. por Matos et al., 2000). Já o desporto consiste num tipo de actividade física orientada por regras, estruturada e de natureza competitiva (Garcia – Ferrando, 1990, cit. por Balaguer & Castillo, 2002). O EF deve ser analisado tendo em conta estes conceitos, assim como em termos de resultados, uma vez que estes se distinguem entre aquele que é executado para melhorar a forma física e o que tem como objectivo melhorar a saúde e bem-estar (Ogden, 1999 cit. por Matos et al., 2000). É sobre este último aspecto do EF que incidirá o presente estudo.

A prática de exercício físico encontra-se associada a diversos factores, como a personalidade e as aspirações pessoais, a cultura, as condições económicas e sociais, assim como a idade e o sexo (Marques & Gaya, 1999).

Os resultados obtidos no último estudo efectuado pelo HBSC (WHO, 2005a) evidenciam que poucos adolescentes praticam a quantidade mínima de EF recomendada para estas idades – 60 minutos por dia (WHO, 2006). Além disso, esta tende a diminuir com a idade, especialmente nas raparigas (Ibidem). Dados semelhantes foram obtidos no estudo efectuado sobre a saúde e estilos de vida dos jovens portugueses, no qual se verifica um aumento do tempo gasto com actividades de lazer como ver televisão, vídeo e jogar computador em detrimento da prática de EF (Matos, Simões, Canha & Fonseca, 2000).

Um estudo realizado no ano seguinte com estudantes entre os 11 e 16 anos demonstrou que os mais novos praticam mais frequentemente actividades físicas que as raparigas e os rapazes mais velhos das faixas etárias estudadas. Do mesmo modo, os rapazes referem praticar mais modalidades desportivas que as raparigas (Matos, Carvalhosa & Dinis, 2001).

De acordo com o mais recente estudo HBSC, os adolescentes portugueses encontram-se no grupo dos que menos praticam actividade física, ao lado de países como a Bélgica, França e Itália (Roberts et al., 2004). Efectivamente, na fase da

Este, além de possibilitar o descanso e diversão, garante aos adolescentes momentos de socialização que vão influenciar a sua vida futura. Os adolescentes escolhem as actividades de lazer que mais os divertem e com as quais se identificam. No entanto, e atendendo às mudanças socioeconómicas, especialmente dos centros urbanos, as crianças e os adolescentes tendem a passar os seus tempos livres em espaços fechados (nomeadamente nas suas casas), optando por actividades sedentárias como, por exemplo, ver televisão e vídeos, assim como jogar no computador e consolas (Camacho et al., 2005; Matos et al., 2003; 2006).

É do consenso geral que a prática de actividade física regular constitui um factor protector de saúde, tanto a curto como a longo prazo, devendo ser iniciada o mais precocemente possível. Os estudos mais recentes realizados com adolescentes revelam que quando os adolescentes são fisicamente activos apresentam uma alta probabilidade de optarem por estilos de vida mais saudáveis, quando comparados com adolescentes mais sedentários (Balaguer & Castillo, 2002; Marques & Gaya, 1999; Roberts et al., 2004). Do mesmo modo, sentem-se, em geral, mais satisfeitos com o seu corpo e consideram que têm boa aparência física, pelo que não recorrem a dietas de emagrecimento, expressando mais frequentemente sentirem-se felizes (Matos et al., 2001).

Durante a infância e adolescência, os pais exercem um papel preponderante na opção e manutenção de exercício físico pelos seus filhos. Na verdade, um estudo realizado por Castillo (1995) com adolescentes de 11, 13 e 15 anos revelou que os adolescentes que pertenciam a um grupo desportivo eram aqueles cujo pai praticava igualmente desporto (cit. por Balaguer & Castillo, 2002).

Os supracitados autores referem-se ao facto de, nesta fase, as crianças e adolescentes estarem dependentes, não só da aprovação dos pais para a prática de EF como da sua disponibilidade económica e de tempo para os levarem aos locais de prática ou, por outro lado, para o realizarem com os seus filhos.

A adopção de estilos de vida pouco activos pelos pais não favorece o empenhamento dos adolescentes na actividade física. Torna-se, então, claro que influenciar os hábitos dos mais novos pressupõe mudança de hábitos nos adultos (Marques & Gaya, 1999; Matos, Carvalhosa & Dinis, 2001). Se os adultos, nos momentos livres, levarem consigo os seus filhos para saírem e praticarem actividades físicas em conjunto, além de exercitarem o corpo e mente, com todos os benefícios que daí advém, reforçam igualmente os laços familiares. Com efeito, Matos e col. (2001) salientam este facto referindo que os filhos de pais activos têm mais probabilidades de se tornarem adultos praticantes de actividades físicas.

À medida que a idade avança, os pais deixam de ser o principal modelo orientador, e os pares passam a exercer maior influência nas opções dos adolescentes pela prática ou não de exercício físico (Balaguer & Castillo, 2002; Marques & Gaya, 1999; Roberts et al, 2004). Assim, a inserção em grupos de adolescentes fisicamente activos parece exercer influência positiva no seu estilo de vida (Ibidem).

A promoção da prática de exercício nas crianças e adolescentes diz respeito a todos, pelo que a definição de políticas que implementem a sua prática desde as mais tenras idades implica a criação de infra-estruturas e acompanhamento profissional adequado. Esta deve fazer parte da rotina das crianças e adolescentes, devendo ser disponibilizados momentos específicos das actividades escolares para esse efeito (Marques & Gaya, 1999).

Do mesmo modo, devem ser igualmente criadas condições para que a prática de exercício físico possa ser desenvolvida em condições de segurança, fora das instituições e das próprias casas, e, se possível, com a dinamização do espírito de participação comunitária. Isto porque a promoção de estilos de vida saudáveis (EVS) na comunidade implica uma abordagem pela positiva, onde as pessoas vão aderindo pelo exemplo de boas práticas que vêm através dos outros. Mas isso só é possível se existirem locais disponíveis para a prática de exercício físico e lazer como, por exemplo, espaços verdes, ciclovias, campos de jogos, passeios largos, vigiados e iluminados, que tornem os locais onde vivemos mais saudáveis e aprazíveis. Infelizmente, estes nem sempre reúnem as condições de acesso e segurança necessárias para tornarem a sua prática uma alternativa fácil e aprazível (Ibidem).

As políticas públicas devem ser desenvolvidas com o intuito de proporcionarem à população uma vida fisicamente activa (Marques & Gaya, 1999; Pastor, Valcárcel & Garcia-Merita, 2002). Na Estratégia Mundial sobre o regime alimentar, actividade física e saúde, foi definido um conjunto de directrizes a ser seguido pelos estados membros, do qual se destaca o dever de serem orientados esforços no sentido de se proporcionar um ambiente envolvente que torne as opções saudáveis como as mais acessíveis (WHO, 2006).