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Prática da língua fora da sala de aula

A voz de alunos e ex-alunos e nossas considerações

Tema 6: Prática da língua fora da sala de aula

Quanto ao uso do inglês fora da sala de aula, os alunos se mostra- ram bastante engajados em usar o conhecimento que estão adquirindo. Ter acesso à língua surge como uma vantagem competitiva importantís- sima. São poucos os que não fazem uso algum e para aqueles que já fazem algum uso do inglês, a internet emerge como o grande veículo de comunicação e de busca e troca de informações: “utilizo o inglês para pesquisar na internet” (Conexões); “me esforço tentando conversar em inglês pela internet” (ACBEU); “uso com meus amigos estrangeiros pela net” (NELG).

O uso do inglês em disciplinas nos estudos também é um fator interessante, uma vez que é nas ciências, sejam elas naturais ou huma- nas, onde o inglês é praticamente a língua oficial: “já converso com uma amiga que faz turismo” (ACBEU); “uso em pesquisas para a universida- de” (NELG); “leio muito material na faculdade” (ACBEU); “leio as apos- tilas da faculdade” (Conexões).

Em termos de interação com pessoas de outras nacionalidades, sejam nativas ou não, poucos informantes indicaram que já estão usan- do o inglês para se comunicar com estrangeiros. Mas a tendência é que essa prática cresça e se torne cada vez mais comum: “tenho amigos ameri- canos com quem estou sempre em contato, além dos meus primos que moram nos EUA” (ACBEU); “já cheguei a dar uma de intérprete um dia” (NELG); “uso na loja em que trabalho para atender turistas” (ACBEU); Com o aprofundamento dos estudos e a construção da competên- cia na língua estrangeira, isto é, partindo-se da sala de aula para o conta- to com interlocutores em situações reais, é importante que os usuários do inglês como língua franca atentem para a necessidade de se adotar uma visão crítica e assumir uma posição assertiva, de não subserviência, ocupando, desta maneira, esse espaço privilegiado de mais de um bilhão de falantes como sujeitos ativos e não apenas como figuras exóticas, habitantes de um lugar longínquo localizado à beira dos trópicos que

atende pelo nome de Brasil. Como sabemos, nessa nova ordem mundial, o inglês deve ser usado como um instrumento não apenas de reconheci- mento mútuo, mas principalmente de troca de experiências, informa- ções e aprendizado para todas as partes envolvidas num processo que para se fazer legítimo, precisa, essencialmente, possuir um caráter dialógico (FREIRE, 1970) e intercultural.

Partindo para os comentários adicionais dos alunos, ficam as

referências ao papel do professor no processo, algumas reticências em relação aos sistemas de avaliação, questões metodológicas mais amplas, a boa infra-estrutura disponibilizada para todos, o agradecimento pela oportunidade: “Não gosto da maneira tradicional da avaliação” (Cone- xões); “acho que o professor é quem devia passar estratégias para a gen- te estudar inglês e não o livro” (ACBEU); “acho fundamental uma insti- tuição particular promover bolsas para as pessoas de baixa renda” (ACBEU); “acho que o número de bolsas deveria ser maior” (NELG); “agradeço a oportunidade. Espero que outros alunos tenham a mesma chance, pois vejo na educação a única maneira de construirmos um país mais justo e democrático para todos” (NELG); “as turmas deveriam ser menores” (NELG); “reformular o curso para explorar mais os alunos” (NELG); “agradeço aos idealizadores por darem oportunidade a quem precisa” (NELG).

Marcante também é a mensagem de um bolsista que elogia a ini- ciativa que o acolheu, colocando que para se democratizar de verdade o acesso do inglês é preciso atuar maciçamente na escola pública, com pro- fessores dispostos, bem preparados e motivados, que levem seus alunos a saírem da mesmice do verbo to be. Sua preocupação com a “massa”, com a garotada que vive “alijada desse processo”, tentando aprender inglês num “inferno de sala com 40 ou 50 alunos”, leva-nos a refletir so- bre a necessidade de desconstruirmos vários dos mitos que até hoje ron- dam e orientam o ensino de LE na escola pública como, por exemplo, “se

mal sabem português, quanto mais inglês” ou “falar a língua, só num curso livre”, e assim por diante.

Sabe-se que as dificuldades são enormes, principalmente nos níveis de estrutura e de qualificação de professores, mas não se pode conceber que essa é uma situação sem solução e que para se aprender uma LE só mesmo freqüentando cursos livres caros e praticamente inatingíveis para a maioria da população. No Brasil, exemplos de resistência começam a emergir e já são muitas as iniciativas que demonstram que mesmo diante de condições extremamente desfavoráveis, é possível promover-se uma formação básica de LE nesses ambientes. Se não para comunicar-se plenamente, pelo menos para avançar além do verbo TO BE. O depoimento na íntegra do bolsista acima mencionado resume com firmeza o sentimento de muitas pessoas que se colocam contra à natureza excludente que até hoje prevalece no ensino de língua inglesa no Brasil:

Se pretende-se democratizar o ensino de inglês, deve-se, na minha opinião, atuar maciçamente para melhorar as condições de ensino desta língua nas escolas públicas, com professores dispostos, bem preparados e bem orientados para tal, que sai- am da mesmice do verbo TO BE e dediquem-se à sua atividade como fazem os professores das escolas particulares e institui- ções como esta. Aqui, temos cada sala com no máximo 15-16 alunos e assim o professor pode atuar mais individualmente, analisando o perfil de cada aluno. Como alguém pode aprender uma LE num inferno de sala com 45 ou 50 alunos? É sabido que apenas uma parcela ínfima da sociedade pode custear um curso como esse da ACBEU e, sendo assim, é necessário viabilizar o acesso a esse conhecimento para a massa, pois es- tes, sim, é que estão alijados desse processo. Aqui, muitos alu- nos finalizam o curso e vão fazer intercâmbio nos EUA para aperfeiçoar a língua. Já a molecada passa a vida toda estudando o verbo TO BE e nunca descobre o que é e pra que isto serve. Fui um aluno de escola pública e hoje freqüento uma universi- dade pública. (ACBEU)

Partiremos agora para a voz do ex-aluno bolsista, concluinte ou não, da ACBEU e do NELG: