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Práticas pedagógicas em EA

No documento DEYSE DANIELLE SOUZA DA COSTA (páginas 127-129)

4 CAPÍTULO IV – ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS

4.5 RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA NO EXERCÍCIO DOCENTE DA

4.5.2 Práticas pedagógicas em EA

A questão da prática docente vista de forma dissociada da teoria ou como subalterna a esta, é historicamente constituinte da Educação brasileira e com a EA não tem sido diferente, inclusive como já discutimos nos capítulos iniciais deste estudo e até mesmo em algumas categorias empíricas já analisadas aqui. Na sua maioria os saberes que os professores consideram fundamentais para o desenvolvimento dos trabalhos no campo da EA são ligados intrinsecamente a conhecimentos em nível técnico, com conceitos, informações e cuidados relacionados aos recursos naturais.

Quando questionados a respeito das práticas pedagógicas de EA, as respostas dos cursistas egressos do CAEA confirmam a tendência à técnica, a transmissão de conhecimentos, ou seja, a reprodução de uma EA nos moldes tradicionais.

Os cursistas egressos do CAEA declararam que as práticas que veem realizando em EA, refletem seus respectivos conceitos na área do conhecimento, conceitos estes que como salientamos no item anterior, são fundamentados em naturezas diversas, algumas coadunam com a corrente de pensamento da EA Crítica, outros com a vertente ecológico preservacionista e outros ainda que se situam na confusão teórico metodológica entre os dois primeiros conceitos, e que foram explicitadas na análise da categoria supracitada.

Para Pimenta e Lima (2006), é preciso afastar essa compreensão da prática de ensino ou estágio, como sendo a parte prática dos cursos de formação docente. Para as autoras, é preciso estreitar a relação entre teoria e prática, pois no processo de formação

[...] o papel das teorias é o de iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação, que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos, e ao mesmo tempo, se colocar elas próprias em questionamento,

uma vez que as teorias são explicações sempre provisórias da realidade (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 12).

A categoria que nos propomos a analisar agora, está organizada com o intuito de explicitar a fala de alguns cursistas, nas quais fica evidente os significados atribuídos ao exercício da prática pedagógica e a corrente teórica que sustenta tal prática. Assim, tentamos elencar abaixo, três falas para exemplificar cada uma das perspectivas citadas.

TABELA 11– Perspectivas norteadoras de prática de EA.

Teoria Crítica de EA

Teoria Ecológico – preservacionista

De EA

Confusão entre as duas Vertentes anteriores. C6:

Assim, eu penso que a EA tem que procurar estimular nos alunos um pensamento crítico, reflexões sobre as transformações da sociedade, por isso eu gosto de trabalhar com debates sobre o nosso modo de vida, discutir quais as possibilidades de caminhos para um mundo melhor. Também gosto muito, de realizar trabalho de campo, para aproximar os alunos do seu entorno, para desperta-los para mobilização social.

C7:

Minhas práticas de EA são dinâmicas, a gente faz oficinas, os alunos coletam os materiais e uma vez por mês a gente produz cartazes e espalha pela escola e também faz as oficinas de reciclagem[...]. Mas as vezes também a gente se desmotiva, porque na escola não tem nada, não tem cola, uma cartolina, não tem tesoura, é horrível.

C9:

Eu estudo bastante para melhorar minha prática em sala de aula, acredito que é preciso ter uma boa base para trabalhar com EA, pois o tema é muito complexo. Sempre quando temos reunião eu falo da Educação Ambiental, o que vamos fazer para conscientizar nossos alunos? Tento chamar mães da comunidade para darem oficinas para eles e também realizamos mutirão de limpeza de toda área da escola.

Fonte: Elaboração da autora

Para nós fica evidente, na visualização do tabela 11 que a realização de práticas no campo da Educação Ambiental, a partir da ótica dos cursistas egressos do CAEA, se materializa de maneiras diversas no município de Moju, ou seja, em alguns momentos se percebe que a EA é trabalhada na perspectiva política, voltada para o pensar e para o agir do educando, para que estes se identifiquem como agentes transformadores da realidade socioambiental a sua volta, corroborando com o pensamento de Severino (2002), quando o mesmo afirma que numa sociedade organizada espera-se que a educação, como prática institucionalizada, contribua para a integração dos homens no tríplice universo das práticas que tecem sua existência histórica concreta: no universo do trabalho, âmbito da produção material e das relações econômicas; no universo da sociabilidade, âmbito das relações políticas; e no universo da cultura simbólica, âmbito da consciência pessoal, da subjetividade e das relações intencionais

Em outros momentos, outras falas, percebe-se ainda uma fragilidade nas práticas pedagógicas dos docentes, que exemplificam suas falas com estratégias voltadas para ações pontuais e fragmentadas, que se limitam a trabalhar temáticas como a reciclagem e a limpeza do ambiente físico da escola.

Nesta direção, reiteramos que a concepção ecológica preservacionista postula a paralisação do desenvolvimento, e interpreta a sociedade e a cultura dentro de uma visão sócio biológica, cometendo graves reducionismos, esta corrente de pensamento ecocêntrica, tem como visão de natureza, o valor intrínseco, não devendo servir aos interesses exploratórios do ser humano:

Essa postura considera a EA apresentando objetivos em si mesma e, possuindo o conteúdo ecológico, que é capaz de tornar o ambiente menos contaminado e depredado. Ela equipara a EA com o ensino de ecologia e assume que a crise ambiental é gerada por falta de conhecimento ecológico e que, portanto, a EA é um instrumento para a solução da crise ambiental (ZAKRZEVSKI, 2003b).

Nessa abordagem o centro de desarmonia homem/natureza reside na maneira do homem relacionar-se, individualmente, com o ambiente. Por conseguinte, a EA deve centrar-se nas mudanças de comportamento individual do homem, transformando a relação homem/natureza e solucionando, assim, os problemas ambientais (FREIRE et al, 2006).

Incontestavelmente, faz-se necessário modificar as representações equivocadas que se tem a respeito da educação ambiental, resultado da década de 1970 que apresenta a concepção de raízes ecológicas, e ainda como o próprio conceito desacertado que alguns ecologistas.

A terceira coluna exemplificada pela fala da cursista nove, traz a incongruência ainda vigente nas práticas de EA realizadas no Brasil e não diferentes no município de Moju, fala esta que anuncia a necessidade de solidez na perspectiva crítica da EA, mas a exemplifica de forma reducionista e ainda sob a vertente ecológico preservacionista.

Para nós, independentemente do nível de tratamento da EA em que estas escolas estão, estas experiências diferenciadas devem ser valorizadas e respeitadas, como esforço de superação de uma gama de problemas que permeiam o cotidiano das diferentes instituições escolares do país, no caso especificamente do município de Moju.

No documento DEYSE DANIELLE SOUZA DA COSTA (páginas 127-129)