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PRÁTICAS SOCIOESPACIAIS DOS ATORES SOCIAIS ENDÓGENOS

Para os moradores desse Balneário, a praia e as matas possuem diferentes valores de usos, o que gera tensionamentos e disputas. A praia do Balneário dos Prazeres, para alguns moradores, cumpre mais de uma função, pois, além de abrigo, ela é o espaço recreacional, de lazer cotidiano e trabalho.

O espaço urbano, litorâneo ou não, é um espaço impregnado de desigualdades e contradições, uma vez que possui áreas elitizadas, de classe média e populares; áreas de fratura socioespacial, de favelização, entre outras. Essas encontram uma de suas explicações na especulação fundiária dos terrenos urbanos, muitas vezes valorizados por investimentos públicos (SALES, JUNIOR, 2014 apud SANTOS). Juntos, esses espaços formam um mosaico no qual cada grupo se

DIEU, 1989, p. 134). Ou seja, numa região social, uma área distinta socialmente das demais, por posses de capital econômico, simbólico e cultural.

Nos espaços costeiros, são comuns os conflitos socioambientais entre os moradores locais, os turistas e as autoridades oficiais, posto que os visitantes sazonais e de final de semana causam impactos ao meio ambiente, e os efeitos negativos são recebidos pelos moradores permanentes, mesmo havendo algum ordenamento territorial por parte do Estado.

Neste subitem, traço algumas observações do espaço social do Balneário dos Prazeres, como as relações entre os moradores mais antigos e os mais novos e com o poder público local. Saliento que os distintos tipos de relações que os atores mantêm com o meio natural do Balneário dos Prazeres influenciam nas suas relações interpessoais.

Para compreender o espaço social desse lugar é importante relembrar o fato de que, na construção dos balneários do Laranjal (Santo Antônio, Valverde e dos Prazeres), o primeiro, de terrenos mais elevados, foi destinado às classes mais abastadas. O segundo, construído sob áreas de banhados, às classes médias e o terceiro, de fundo, de difícil acesso, com grande presença de mato às classes mais baixas.

No entanto, no Balneário dos Prazeres, quem acabou adquirindo os primeiros lotes foram profissionais liberais, como professores, empresários, comerciantes locais, aposentados, dentre outros. Alguns construíram segundas residências, outros escolheram morar nesse local, pelo contato com a natureza e beleza cênica do lugar, pelo fato de os terrenos serem mais baratos do que nos outros dois balneários, pelas facilidades no pagamento e possibilidade de investimento futuro.

mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou 1980, p. 136). Assim como os loteadores lucraram com a venda dos lotes, quem, adquiriu, também, esperava a valorização do solo urbano nesse espaço.

Conforme Valdir muitos proprietários adquiriram ou herdaram de seus pais e avós suas residências. Há familias que adquiriram mais de um lote, com a expectativa de auferirem renda diferencial pela valorização dos terrenos à beira de modo geral, ocorre em áreas de balneário, pela ação de investimentos públicos. Além de morador, esse ator, também, é agente de reprodução de capital imobiliário.

Na opinião de Valdir, historicamente se constituíram distinções entre os moradores que ocupam espaços diferentes no balneário, os moradores mais antigos se distinguem dos demais pelas formas de apropriação do espaço, ocupam a zona sul, mais próxima à sede da fazenda dos Prazeres, fazem parte do grupo reinvindicatório, pois são mais articulados. Criaram uma coesão com a elite da cidade, ao elaborarem um discurso em prol dos interesses da sociedade como um todo. Suas ações e reivindicações têm como pano de fundo a vontade de transformar o lugar para incorporá-lo aos espaços turísticos da cidade. Esse grupo de moradores são identificados, pelos que ocuparam a segunda parte do loteamento, como os ricos do balneário. A (Figura, 35) mostra o loteamento nos

anos 1960, quando haviam poucas residências, a mata era mais exuberante, ainda que não isenta da presença humana, visto que, como mostra a imagem, o traçado urbano do loteamento invade a área de mata de nativa.

Figura 35 - Fotografia aérea realizada pela diretoria do serviço geográfico do Estado maior de Guerra - Ministério da Guerra.

Fonte: Sudesul Cartografia _ SGS, 1964 Agência da Lagoa Mirim em E. 1:100.000 (apud SILVA, 2007).

A disputa por essa apropriação também ocorre pelo afeto e pelo os donos do poder local instrumentalizam-

(BRANDÃO, 2007, p. 57).

Já, a segunda etapa do loteamento contou com dois grupos: aqueles que adquiriram lotes nos anos 1970-1980-1990 como trabalhadores e trabalhadoras de classes média e baixa. Nesse período, também foram chegando os sujeitos que se apropriaram dos espaços públicos da Praça Aratiba e áreas de APP. Muitos desses

de serviços e, também, nas práticas ilegais de comércio de entorpecentes, além de alguns realizarem pequenos furtos. Esse fato acarreta a falta de diálago entre os grupos.

Uma outra categoria de moradores foi apontada em entrevista pelo professor de geografia Paulo Rappeto que leciona há 15 anos na escoal local, quando falavamos das ocupações em áreas de App no espaço-praia. Contou-me, com

bastante indignação, o que tem percebido nos últimos meses, em seu trajeto de casa para o trabalho.

Notei um loteamento que foi feito rasgando toda a mata desde a estrada da Adolfo Fetter até a beira da praia. Isso há pouco tempo deve ter sido liberado pelos órgãos competentes. Esse loteamento rasga uma parte da mata nativa. Se não me engano, é Vila Judith. Para mim, causou estranheza como é proibido por lei desmatar, eu notei esse acontecimento. Agente vê que as providências não são tomadas efetivamente, estão deixando a desejar muito, tanto o poder púbico, quanto moradores e veranistas.

Trata-se do empreendimento Vila Judith, localizado a menos de 2 km do Balneário dos Prazeres. É mais um loteamento de alto padrão que fraciona terras contendo capões de vegetação nativa, para serem incorporadas ao circuito da troca.

A observação do professor Paulo confirma o papel de interventor contraditório dos atores exógenos na figura do poder público. Por um lado, são permissivos com a dominação de Área de Preservação Permanente pelo capital imobliário, que demarca lotes para a venda de áreas com vegetação nativa e dunas, como mostra a (Figura, 36) e, por outro lado, no espaço-praia do Balneário dos Prazeres, o Estado realiza o controle fechando os espaços de campings de usos dos grupos populares.

Figura 36 Imagens do Loteamento Vila Judith, em Área de Preservação Permanente matas do Laranjal.

Nota: A:estrada que da acesso a orla da laguna; B: Residência para à venda; C: arruamento em área de dunas; D: lotes à venda em área de vegetação nativa.

Esse loteamento tem entrada pela Avenida Adolfo Fetter e saída na orla da laguna dos Patos (caminho exclusivo de acesso à praia), interligado pela estrada da beira da laguna ao balneário Santo Antônio. Tal loteamento oferece o da área central e contato com a natureza. Como a região do Laranjal já foi consagrada pelo mercado imobiliário local, os empreendedores beneficiaram-se da renda diferencial proporcionada pela paisagem costeira lagunar, como: as melhorias do acesso na Av. Adolfo Fetter, que encurtaram o trajeto centro-praia, e as instalações de pequenos centros comerciais, além da construção do colégio particular Santa Mônica. As casas, como na maioria dos empreendimentos listados na tabela no (Apêndice, B), ficam a cargo dos adquirentes dos terrenos. Sobre as características e as consequências dessas promoções imobiliárias, Soares ( 2002, p. 448-449) argumenta:

norteamericana: casas aisladas y amplios jardines; o bien se presentan con el propósito de rehacer, aunque parcialmente, el idílico modelo de la ciudad-

representaron al fin y al cabo el refuerzo de la segregación espacial y la del tejido urbano.

Esse tipo de dominação do território traz impactos ambientais e sociais à cidade como um todo: mais dejetos para as praias; perturbações sonoras ao ambiente natural; encolhimento dos espaços das espécies nativas do ecossistema local; congestionamentos e poluição atmosférica. No entanto, os empreendedores e o poder público local estão mais preocupados com o valor econômico da natureza do que com a sua conservação, visto que o pagamento da compensação ambiental

mesmos, o que não ocorre com as apropriações dos espaços de matas pelos afro- religiosos mais pobres, geralmente responsabilizados pela falta de cuidado do ambiente natural da praia e matas.

Considerei importante trazer essa categoria de moradores para a análise por perceber que ela preocupa os moradores estabelecidos há mais tempo e por acabar interferindo na produção do espaço praia, ao disputarem recursos públicos, como

será visto mais à frente, o caso da proposta do poder público da construção de uma passarela interligando o Balneário dos Prazeres ao Balneário Santo Antônio. Raramente, alguém contesta, nos meios de comunicação da cidade tais práticas, por serem em áreas privadas e envolver setores econômicos.

Repara-se que as representações pejorativas também ocorrem do lado dos grupos de moradores mais antigos, os quais se sentem responsáveis pela qualidade de vida do lugar, e responsabilizam os novos moradores por diversos problemas que o bairro enfrenta, como, por exemplo, o descarte irregular de lixo.

Essas questões de distinção entre os atores endógenos existe porque há, entre eles, diferentes tipos de vínculos territoriais, enquanto os mais antigos possuem memória da evolução urbana do lugar, bem como capital cultural mais elevado, os vínculos dos moradores mais novos são fragéis e não há, neles, sentimentos de pertencimento ao lugar como nos outros. Estes veem no território lagunar a possibilidade de abrigo e manutenção da vida, constoem o espaço a partir das suas experiências.

Situação semelhante foi identificadas por Elias (2000), ao estudar o universo das relações existentes na experiência social em uma comunidade inglesa. Ele identificou dois grupos: os estabelecidos e os outsiders, grupos que só diferiam no tocante a seu tempo de residência no lugar, mas os primeiros, por terem uma coesão maior, que lhes garantia maior poder, achavam-se no direito de estigmatizar e excluir os segundos. Para o autor:

A relação entre os estabelecidos e outsiders associa-se muitas vezes, a um tipo específico de fantasia coletiva criada pelo grupo estabelecido. Ela reflete e, ao mesmo tempo, justifica a aversão - o preconceito - que seus membros sentem perante os que compõem o grupo outsider (ELIAS, 2000, p. 35).

Segundo Bourdieu (2007), as diferenças sociais no espaço social são relacionais, ou seja, não existem de forma absoluta, Para o autor, a posição dos agentes é definida pela incorporação do habitus, ou seja, as disposições e estruturas cognitivas enraizadas no sujeito, que orientam suas ações no espaço social.

das funções na noção de habitus é a de dar conta da unidade de estilo que vincula .

Ele retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo

posição dos agentes define-se pela incorporação de dois principais capitais no espaço: o capital econômico e o capital cultural.

Portanto, o habitus pode dar suporte ao entendimento das percepções que um grupo tem do outro, por exemplo: os moradores estabelecidos há mais tempo queixam-se da falta de cuidado dos outros grupos com a qualidade ambiental do bairro. E os que chegaram por último queixam-se da seletividade dos mais antigos. Esse ponto será retomado mais a frente.

A seguir, discorro sobre as ocupações dos espaços públicos como a Praça Aratiba e mata nativa no Balneário dos Prazeres. Posteriormente, abordo as ações reivindicátorias dos moradores mais antigos.

4.1.1 Espaço de ocupações irregulares: Praça Aratiba e mata nativa

O termo ocupação diz respeito a posse, fixação e permanência em área ainda não apropriada, particular ou pública. As ocupações irregulares da encosta, na mata do Totó, assim como as que existem na Praça Aratiba, (Figura, 38), foram constituídas há mais de 40 anos, muitas em sistema de mutirões pelos próprios familiares nos dias de folga, outras ainda estão sendo construídas. Na praça Aratiba, essas áreas formam áreas urbanas consolidadas, sendo que, dentre as que ocupam áreas de mata, algumas configuram áreas de risco (Figura, 37).

Figura 37 - Ocupação na encosta da mata nativa, Balneário dos Prazeres. Fonte: Foto da autora, 2017.

De acordo com Valdir e Elvandir, era comum as pessoas virem dos bairros da cidade, passarem o verão na praia, trabalharem com a pesca na safra do camarão, vindo a fixar moradia. Não havia fiscalização, pelo contrário, o poder público consentia que ocupassem a Praça Aratiba (Figura,38):

O prefeito Ari Rodrigues Alcântara (1973-1977), para ganhar votos, ele deu um pedaço, doou para umas pessoas, uns pescadores e aí o pessoal foi se apossando e ninguém tomou pé disso aí, e virou uma zona de posseiros, é uma pena, porque estragou a praia, na praça Aratiba, a praça era imensa. Todas aquelas descidas eram parte da praça (Valdir, 2015)101.

A B

Figura 38 Praça Aratiba, Balneário dos Prazeres

Nota: A: Mapa de situação das áreas de ocupações da Praça Aratiba para regularização fundiária; em destaque ocamping dos municipários. B: imagem de satélite da Praça Aratiba.

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária SMHRF, 2017, Imagem de satélie Google Earth, fev. 2019.

Tais ocupações demonstram que a questão da moradia e o direito à cidade102 são lutas permanentes em nossa sociedade, as quais geram tensões que se manifestam nos territórios, pois as ocupações irregulares, além do valor de uso, as marcas do vivido, trazem as marcas do valor de troca, como questionou Elvandir103:

101 Entrevista concedida a autora por OLIVEIRA, Valdir. [out.2015]. Pelotas, 2015.

102 O direito à cidade é uma ideia que nos inspira e nos move na construção teórica do urbano hoje ainda virtual, da sociedade urbana (LEFEBVRE, 1999, 2008).

Essas tomadas de terras que as pessoas vêm e colocam umas malocas ali, se instalam e ficam como aqui na Praça Aratiba. Não concordo, esse lugar é de toda a população pelotense, mesmo do mais rico que eu acredito que não exista, porque isso aqui é tudo uma história, uma aparência muito grande. A maioria das pessoas que ocupam ali no entorno da Praça tem casa de aluguel fora do Balneário dos Prazeres, isso é até uma denúncia, mas não concordo com quem se instala ali e tira o espaço de toda uma população, poderia ser um grande parque. (Elvandir, 2016).

Para Elvandir, tais ocupações não são bem vistas, concordando com o posicionamento de Valdir sobre as distinções entre os grupos de moradores:

[...] Por que a Prefeitura não retoma essas áreas e devolve a todos, porque ela privilegia uma minoria de pessoas que tem um poder econômico bom, e incompetência daqueles que nos representam e que não sabem cobrar essa parte que é de todo lvandir, 2016).

A Praça Aratiba é considerada, no III Plano Diretor da Cidade, como área de Interesse Social - AEIS II áreas públicas ou privadas, ocupadas por população de baixa renda, havendo interesse público em promover regularização fundiária, produção, manutenção e recuperação urbanística e ambiental. No espaço urbano do litoral pelotense, a Praça Aratiba é a única área destinada como AEIS104.

Esse local, como toda praça criada na modernidade, cumpre a função social de contemplação, convívio social, recreação, cenário, lazer cultural, lazer esportivo. Além desses atributos de espaço público, ela cumpre função de abrigo (moradia), camping dos municipários, escola pública, posto de saúde e comércios. É um espaço cujas apropriações e usos foram alterando tanto a sua forma quanto a sua função. Cabe lembrar que uma das funções principais da praça, enquanto espaço público, é servir de lugar para as manifestações e discussões políticas, o lócus da democracia. Outra é o lazer da população.

Somando-se a esses problemas de ocupações irregulares, de acordo com um agente fiscal ambiental da SQA, além das áreas de posses, alguns moradores estenderam seus terrenos 20 metros na direção da praia, apropriando-se da mata nativa, sendo visível pela extensão dos terrenos que ultrapassam os 33 metros do

104Conforme informação da Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária já fazem 10 anos que a área foi destinada a AEIS e não há nenhum projeto de revitalização urbana, apenas a regulamentação dos terrenos.

traçado do loteamento: [...]

Paulo Azambuja, 2018) 105.

Esse é o caso de Marilene Janes (Preta de Oxum), que reside e possui um terreiro106 de Nação Cabinda107, de frente para a laguna, em área de APP. Marilene

contou-me que já foi alvo de denúncias pelos moradores de cima e que ela e seus vizinhos, receberam visita dos fiscais da SQA. Mas que apresentou escritura do seu terreno, alegando ter adquirido o mesmo de um antigo morador de cima. Provavelmente esse morador tenha se apropriado de parte dessa área de mata, (Figuras, 39, 40).

105Entrevista concedida a autora por AZAMBUJA, Paulo. [jan.2018], Pelotas, 2018.

106 O terreiro configura-se como um espaço de refúgio, onde se realizam celebrações de cultos afro-

considerados centros de saberes, são os lugares de preservação das diferentes línguas de matriz africana que aqui chegaram com a diáspora. Entendidas nos seus significados amplos, as línguas trazem em seus bojos a própria cultura, o universo simbólico imaterial, onde passado, presente e futuro tramam a existência sustentada em valores e princípios (SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DE IGUALDADE RACIAL, SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA COMUNIDADES TRADICIONAIS. 2016, p. 34). Dessa forma, os terreiros servem à manutenção da identidade de povos de matriz africana.

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Kamucá Baruálofina é quem trouxe para o Rio Grande do Sul. Ele é o nosso rei porque foi o último filho que ele pegou. Porque a Nação Cabinda não tinha um rei, o mestre Gululu era de Bará, e o pai, Waldemar, seu primeiro filho, era de Xangô Kamucá e o próprio Xangô, porque nós temos o Xangô Aganjô e Beiji e o Xangô Agodô e tínhamos o Xangô Kamucá. Ele disse que não pegaria mais cabeças e que seria o rei do balé. Tinha que ter um orixá para ser o rei do balé aqui, pois o Gululu, o rei tinha um rei do balé la na África, e não poderia ser usado o mesmo rei aqui, por ter passado por muitos rios e pontes, porque sempre a água, ela quebra muito a força da passada da natureza, mesmo a água, sendo natureza, ela quebra muito a força. Então, foi de onde foi tirada a classe do Xangô Kamucá e as classes dos Aganjôs e de Agodô e Xangô Kamucá Babalorofina, o rei de nossa Nação. É a ele que todos nós devemos respeito, é da bacia dele que todos nós viemos. Nesta anes (Preta de Oxum) em entrevista realizada em 5 de junho de 2018)

Figura 39 Avenida Guanabara, na descida para à praia.

Nota: Nesse trecho, a avenida foi suplantada pelas erosões e pelo depósito de lixo. Em destaque

o terreiro de Nação Cabinda de Marilene Janes (Preta de Oxum). Fonte: Foto da autora, 2016.

Figura 40 Vista frontal do Terreiro de Nação Cabinda na APP do Balneário dos Prazeres. Fonte: autora, 2016.

Nessa residência, Marilene vive com sua família e mantém em funcionamento um terreiro de batuque. Ao redor de sua casa, eventualmente é possível encontrar alguns animais como galinhas e cabritos, os quais são criados para alimentação da família e imolação nos rituais do terreiro. Esse tipo de prática é comum no bairro, pois a maioria das casas possuem pátio. Ao circular pelas ruas, observa-se que os terrenos possuem pequenos pomares e criação de animais, como galinhas, cabritos, porcos, cavalos, vacas etc., comprovando o seu perfil de espaço rururbano108, costeiro. Além disso, a pesca também é uma atividade desenvolvida por uma parte de seus moradores. Para esses moradores, o território costeiro é meio de sobrevivência. No entanto, essa prática é motivo de conflitos entre os atores sociais endógenos e exógenos. Conforme a moradora Loraci, em diversas ocasiões, já ocorreram denúncias aos órgãos competentes, tanto de maus tratos aos animais (situação crítica de desnutirção), quanto ao mau cheiro e a proliferação de moscas decorrentes dessas criações:

O lugar é maravilhoso, eu gosto tanto do meu espaço, gostaria de ter condições de melhorá-lo, tenho n projetos que não pude fazer. Adoro o lugar, mas tem esse lado assim, de que ver os animais abichados, atirados, pesa pra quem gosta de animais e enxerga com os olhos um pouco diferenciados as coisas. Isso pesa muito de ter que conviver com isso (Loraci, 2018)109

Os cavalos circulam livremente pelas ruas, pastando nas beiras de valos,