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(II) Com base nas mesmas premissas, responde-se positivamente ao questionamento acerca da existência de aptidão das sentenças parciais para formar coisa

5.5. Prazo para a ação rescisória

A respeito do tema, o ordenamento pátrio convive com dois entendimentos jurisprudenciais importantes em sentidos opostos.

Primeiro, os incisos I e II da Súmula n. 100 do Tribunal Superior do Trabalho, verbete com redação atualizada pela Resolução n. 137 do TST, de 04 de agosto de 2005. In verbis:

“Ação rescisória. Decadência. I - O prazo de decadência, na ação rescisória, conta-se do dia imediatamente subseqüente ao trânsito em julgado da última decisão proferida na causa, seja de mérito ou não. (ex-Súmula nº 100 - alterada pela Res. 109/2001, DJ 20.04.2001); II - Havendo recurso parcial no processo principal, o trânsito em julgado dá-se em momentos e em tribunais diferentes, contando-se o prazo decadencial para a ação rescisória do trânsito em julgado de cada decisão, salvo se o recurso tratar de preliminar ou prejudicial que possa tornar insubsistente a decisão recorrida, hipótese em que flui a decadência a partir do trânsito em julgado da decisão que julgar o recurso parcial (ex-Súmula nº 100 - alterada pela Res. 109/2001, DJ 20.04.2001)”.

E, de outro lado, o enunciado n. 401 da súmula de jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, em redação publicada no Diário da Justiça de 13 de outubro de 2009: “O prazo decadencial da ação rescisória se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial”.

121 Não se olvida que os precedentes ensejadores dos verbetes transcritos não tinham como preocupação a sentença parcial273, mas sim a suposta formação de coisa julgada progressiva em razão da existência de recursos que não impugnam totalmente a única sentença presente no processo. No entanto, são perfeitamente aplicáveis ao tema estudado na presente dissertação, pois o fenômeno – coisa julgada parcial – acaba sendo o mesmo.

Entende-se que, tecnicamente, o mais correto parece ser considerar o início do prazo de dois anos a partir do trânsito em julgado de cada sentença parcial274, conforme entendimento do TST. O artigo 495 do Código de Processo Civil é bastante claro ao estabelecer que “o direito de propor ação rescisória se extingue em dois anos, contados do trânsito em julgado da decisão”. Logo, admitida a possibilidade de coisa julgada parcial, premissa adotada anteriormente, não haveria dúvidas de que o prazo rescisório haveria de ser contado do trânsito em julgado de cada sentença parcial, considerada individualmente.

Aliás, opção diversa atentaria contra o princípio da igualdade, bastante valorizado no presente trabalho, e cuja concretização, por ordem constitucional, deve ser sempre buscada no processo civil. Isto porque, considerando a existência de decisões desfavoráveis a ambas as partes em uma mesma demanda, a parte derrotada na primeira sentença transitada em julgado ‘ganharia muitos anos’ para analisar a pertinência de utilizar a via rescisória, enquanto a parte ‘derrotada por último’, contaria somente com o prazo bienal.

No entanto, conforme dito anteriormente, há de se ter em mente que o STJ, ao editar sua Súmula, foi coerente, pois ao se perfilhar à corrente que não admite a coisa julgada parcial, o trânsito em julgado é único, sendo da mesma forma único o prazo para ação rescisória. 275

273

Exemplos: TST, Tribunal Pleno, ROAR 575047/1999, rel. Min. João Oreste Dalazen, j. 25.04.2000, e STJ, 5ª Turma, AgRg no Ag 980985, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 21.08.2008.

274

Também nesse sentido: ARAÚJO, José Henrique Mouta, Tutela antecipada do pedido incontroverso: estamos preparados para a nova sistemática processual?, p. 216; e SOUZA JÚNIOR, Sidney Pereira de, Sentenças parciais no processo civil brasileiro: conseqüências no âmbito recursal, p. 211.

275 Por todos: “AÇÃO RESCISÓRIA. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. PRAZO

122 Até porque, se o Superior Tribunal de Justiça admitisse a formação progressiva da coisa julgada, e ao mesmo tempo, estipulasse um único prazo rescisório, estaria inovando no ordenamento jurídico em matéria processual, o que não parece possível ao Poder Judiciário, ante a Separação dos Poderes, presente no art. 2º da Constituição Federal, e tratada como cláusula pétrea pelo art. 60, III, da Lei Maior.

Pois bem. Há de se ter em mente que a Súmula 401 do Superior Tribunal de Justiça existe, não foi anulada tampouco revogada, e como qualquer enunciado, aumenta a segurança e previsibilidade aos cidadãos envolvidos em uma demanda judicial, o que também deve ser permanentemente buscado pelo ordenamento jurídico, não sendo desejável que as instâncias inferiores atuem em discordância com o entendimento dos Tribunais Superiores, ainda mais quando simulados.

Além disso, é fato que mencionado verbete tem o efeito positivo de evitar a multiplicação de ações rescisórias oriundas de uma mesma demanda. Adotado o entendimento do STJ, a parte sucumbente poderá ingressar com apenas uma rescisória, o que não aconteceria caso fosse seguida a Súmula n. 100 do TST.

Destarte, em que pese a opinião anteriormente externada, alinhada com o TST e com a doutrina pátria, cuja tecnicidade prevalece, entende-se que no âmbito do processo civil, o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça também deve ser aceito, a fim de que não se deixem de conhecer recursos por suposta intempestividade, quando pautados em interpretação sumulada pelo Tribunal da Cidadania.

EXCEÇÃO A RECURSO INTEMPESTIVAMENTE AJUIZADO. CARACTERIZADA OFENSA AO ARTIGO 495 DO CPC. EXISTÊNCIA DE DISSENSO PRETORIANO... 2. Não se admite a coisa julgada por capítulos, uma vez que tal exegese pode resultar em grande conturbação processual, na medida em que se torna possível haver uma numerosa e indeterminável quantidade de coisas julgadas em um mesmo feito, mas em momentos completamente distintos e em relação a cada parte. 3. O trânsito em julgado ensejador do pleito rescisório não se aperfeiçoa em momentos diversos (por capítulos), sendo único para todas as partes, independentemente de haverem elas recorrido ou não. Assim, o interregno autorizativo da ação rescisória (art. 495 do CPC) somente deve ter início após proferida a última decisão na causa, concretizando-se a coisa julgada material... 7. Precedentes: REsp 611.506/SC, DJ 27/09/2004; REsp 415.586/DF, DJ 09/12/2002; REsp 245.175/RS, DJ 23/06/2003; REsp 404.777/DF, DJ 09/06/2003; REsp 441.252/CE, DJ 09/06/2003” (STJ, 1ª Turma, REsp 639.233, rel. Min. José Delgado, j. 06.12.2005).

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5.6. Efetivação da parcela da demanda julgada e procedimento dos

recursos repetitivos

A título de arremate do presente capítulo, faz-se mister tecer breves comentários acerca destes dois pontos, a respeito dos quais não se enxerga tantas dificuldades e dúvidas quanto nos tópicos anteriores.

(I) A efetivação de determinada tutela enquanto não encerrada a fase de