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(II) A principal dúvida a respeito do tema atualmente é saber se, no Brasil, o julgamento parcial é possível mesmo quando as partes não tenham tratado sobre o

tema na convenção de arbitragem, tampouco adotado procedimento que a autoriza expressamente.284

CARMONA285, GIUSTI e MARQUES286, e MONTORO287 apontam pela possibilidade de utilização da técnica apenas se as partes expressamente acordarem nesse sentido, em razão da ausência de dispositivo legal pátrio que trate sobre o tema,

pedidos formulados pelo autor extinguindo o processo ou a fase deste” (ARMELIN, Donaldo, Notas sobre sentença parcial e arbitragem, p. 276).

282“Em sede arbitral a permissão para que sejam proferidas sentenças pode vir ao encontro do interesse das

partes, que eventualmente terão interesse em ver resolvidos rapidamente determinados pleitos, o que facilitará (ou condicionará) o normal desenvolvimento das obrigações contratuais múltiplas” (Cf. CARMONA, Carlos Alberto, Ensaio sobre a sentença arbitral parcial, p. 16).

283

Cf. ARMELIN, Donaldo, Notas sobre sentença parcial e arbitragem, p. 283

284

A exemplo do Regulamento de Arbitragem da Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional - CCI (art. 2º, V, e apêndice 4, alínea a); do Regulamento da American Arbitration Association - AAA (art. 43); do Regulamento Arbitral da Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio Internacional - UNCITRAL (art. 32, I); do Regulamento da London Court of Internacional Arbitration - LCIA (art. 26, 7); e, de origem nacional, do Regulamento da Câmara FGV de Conciliação e Arbitragem (art. 54).

285

Cf. Ensaio sobre a sentença arbitral parcial, pp. 18-21.

286

Cf. GIUSTI, Gilberto, e MARQUES, Ricardo Tadeu Dalmaso, Sentenças arbitrais parciais: uma análise prática – parte I, p. 10.

287

127 cumprindo mencionar que no estrangeiro é comum que os árbitros possam prolatar sentenças parciais arbitrais independentemente de manifestação prévia e favorável das partes, em virtude de expressa autorização legal. 288

Em que pese a força dos doutrinadores supra mencionados, não se concorda com tal posicionamento. Acredita-se que a partir do momento em que os litigantes decidem ‘fugir’ do Poder Judiciário por meio de pactuada convenção de arbitragem, estão confiando aos árbitros eleitos poderes para resolver o conflito da melhor forma possível (i. e., célere e efetivamente), o que pode incluir a prolação de uma sentença parcial, caso esta não tenha sido expressamente vedada, pois, como visto, o sistema legal não obsta sua prolação, tampouco impõe a regra da unicidade sentencial na arbitragem.

A ideia encontra respaldo, por exemplo, no apêndice número 4 do novo regulamento da CCI289, relacionando-se com o que comumente vem se chamando de case management, i. e., em palavras mais simples, a adaptação do procedimento ao caso concreto, buscando contribuir para uma melhor resolução do conflito.

Entender que os julgamentos parciais só se façam quando expressamente previstos pelos litigantes é aceitar o risco de inviabilizar o instituto, pois como bem observou BEDAQUE290 recentemente, nem todos os operadores do Direito são processualistas, não se podendo exigir conhecimento técnico de tal monta da maioria dos causídicos.

A técnica da resolução fracionada do mérito pode colaborar para a concretização de princípios constitucionais, como o da efetividade e o da celeridade,

288

Exemplos: ESPANHA: Ley 60, de 23.12.2003. Art. 37. 1; SUÍCA: Estatuto de Direito Internacional

Privado. Art. 188; REINO UNIDO: Arbitration Act, de 1996. Art. 47.

289“The following are examples of case management techniques that can be used by the arbitral tribunal and

the parties for controlling time and cost. Appropriate control of time and cost is important in all cases. In cases of low complexity and low value, it is particularly important to ensure that time and costs are proportionate to what is at stake in the dispute. a) Bifurcating the proceedings or rendering one or more partial awards on key issues, when doing so may genuinely be expected to result in a more efficient resolution of the case”.

290

Em palestra intitulada Superação da tutela ordinária, realizada nas IX Jornadas de Direito Processual, em 30.08.2012, na cidade do Rio de Janeiro.

128 escopos, também, da arbitragem. Por isso, conclui-se que, mesmo não havendo previsão expressa, caberá ao árbitro, cujo mister de conduzir seu litígio foi confiado pelas partes, analisar se o fracionamento do mérito será útil (conveniente) para o procedimento arbitral, podendo utilizá-lo quando concluir positivamente, salvo quando da existência de expressa vedação anterior subscrita pelas partes.291

E o mesmo raciocínio há de ser adotado para o magistrado na condução do processo estatal. O julgamento parcial pode e deve ser dado de ofício quando viável ao caso concreto, sem necessidade de requerimento ou autorização das partes, aplicando-se, por analogia, o julgamento antecipado da lide, no qual inexiste dever de consulta às partes quando da utilização do art. 330 do CPC.292

(III) Por fim, deixe-se consignado entender-se que o raciocínio aplicado

à ação rescisória a impugnar uma sentença parcial (item 5.5., supra) também deve ser aplicado à ação anulatória que busca desconstituir o laudo arbitral parcial. Tecnicamente, o início do prazo (in casu, de 90 dias293) deve ser iniciado a partir da prolação de cada decisão parcial294, mas a fim de se buscar o conhecimento de mérito das demandas levadas ao Poder Judiciário, também deverão ser aceitas as ações anulatórias cujo prazo esteja em acordo com o entendimento sumulado pelo STJ.

291

É, por exemplo, a lógica adotada na Espanha, na lei de arbitragem pátria: Art. 37. Plazo, forma, contenido y notificación del laudo. 1. Salvo acuerdo en contrario de las partes, los árbitros decidirán la controversia en un solo laudo o en tantos laudos parciales como estimen necesarios.

292

Nesse sentido: MITIDIERO, Daniel Francisco, Direito fundamental ao julgamento definitivo da parcela incontroversa: uma proposta de compreensão do art. 273, § 6º, do CPC, na perspectiva do direito fundamental a um processo sem dilações indevidas (art. 5º, LXXVIII, da CF/1988), p. 107. Defendendo a prévia intimação das partes, como exigência do contraditório: DIDIER JÚNIOR, Fredie, BRAGA, Paula Sarno, e OLIVEIRA, Rafael, Curso de direito processual civil, v. II, p. 5.

293

Lei 9.307/96. Art. 33, § 1º. A demanda para a decretação de nulidade da sentença arbitral seguirá o procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento.

294

129

CAPÍTULO VII – PERSPECTIVAS ANTE O PROJETO DE NOVO