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A prática ancestral de preparação de medicamentos pelo farmacêutico secundum artem,isto é, segundo a arte, perdeu expressão nos dias de hoje. Este facto deve-se essencialmente ao

forte desenvolvimento da indústria farmacêutica que, por sua vez, consegue dar resposta às necessidades dos doentes através dos medicamentos que produz. Como consequência, esta prática, incumbida ao farmacêutico, é cada vez menos corrente em FC. Todavia, pontualmente, poderá ser necessário desenvolver estratégias farmacológicas que se adecuem às características específicas de um determinado utente. Deste modo, a farmácia deve possuir um laboratório com as condições e equipamento necessários à preparação de manipulados9, 17. Tal como

descrito no secção 2.4., o laboratório da FP cumpre com todos estes requisitos.

As Boas Práticas a respeitar na preparação de MM são aprovadas pela Portaria n.º 594/2004,de 2 de junho e constam do anexo à mesma, por sua vez a regulamentação referente à prescrição e preparação de MM encontra-se descrita no Decreto-Lei nº95/2004, de 22 de abril17, 82.

Entende-se por MM, qualquer fórmula magistral ou preparado oficinal produzido e dispensado sob a responsabilidade de um farmacêutico. Uma fórmula magistral compreende o medicamento cuja preparação decorre de acordo com uma prescrição médica que especifica o doente a quem o medicamento se destina. A preparação de um preparado oficinal provém das indicações compendiais de uma farmacopeia ou de um formulário reconhecido pelo INFARMED83

e destina-se a ser dispensado diretamente ao utente. A produção destes MM ocorre tanto ao nível de farmácia de oficina como nos Serviços Farmacêuticos Hospitalares (SFH) 17, 82.

É essencial que as características das MP, usadas na preparação dos MM, satisfaçam as exigências de qualidade da respetiva monografia constantes na Farmacopeia Portuguesa, nas farmacopeias de outros Estados Partes na Convenção Relativa à Elaboração de Uma Farmacopeia Europeia, na Farmacopeia Europeia ou em documentação científica compendial82.

É igualmente importante que as MP a utilizar se encontrem adequadamente armazenadas em armários com condições apropriadas de temperatura, luminosidade e humidade17.

Aquando da preparação de um manipulado, deve ser preenchido uma ficha de preparação onde deve constar: Designação do MM; Nome e morada do utente; Nome do prescritor (caso exista); Número de lote atribuído ao medicamento preparado; Composição do medicamento: MP e respetivas quantidades utilizadas, bem como os números de lote; Descrição do modo de preparação: procedimento laboratorial e do equipamento utilizado; Registo dos resultados dos controlos efetuados; Descrição do acondicionamento: capacidade e tipo de embalagem utilizada; Cálculo do PVP do MM preparado; Rubrica e data de quem preparou e de quem supervisionou a preparação do MM17.

No final do procedimento, devem ser efetuadas todas as verificações necessárias para garantir a boa qualidade final do MM, nomeadamente a verificação das características organoléticas (cor, cheiro e aspeto da preparação) e a realização de ensaios não destrutivos, tendo em conta a FF do preparado17.

massa/volume do medicamento a dispensar que deverá corresponder à quantidade ou volume constante na prescrição médica17.

Na rotulagem do MM deve constar: Identificação do doente (no caso de se tratar de uma fórmula magistral); Fórmula do MM prescrita pelo médico;Número do lote concedido ao MM;Prazo de validade; Condições de armazenamento; Instruções especiais indispensáveis ao bom uso do medicamento, nomeadamente: “agite antes de usar”, “uso externo” (em fundo vermelho), etc.;Via de administração; Posologia;Identificação da farmácia e do farmacêutico DT17.

O correto preenchimento do rótulo é crucial na medida em que contém informação necessária à utilização adequada do MM pelo utente.

A atribuição do prazo de validade de utilização deve ser definido recorrendo ao Formulário Galénico Português, tendo em conta a respetiva FF.

Finalmente, é calculado o PVP do MM, tendo como base o valor das MP, o valor dos materiais de embalagem e ainda o valor dos honorários da preparação.

Tabela 5 - Cálculo do preço de MM84.

PVP do MM = (Valor dos honorários + Valor das MP + Valor dos materiais de embalagem) x 1.3 + IVA

Valor dos honorários

- Valor estabelecido de acordo com a FF do produto acabado e a quantidade preparada84 multiplicado por um fator “F”, de valor

fixo, atualizado anualmente.

Valor das MP

- Valor de aquisição sem IVA multiplicado por um fator de acordo com a maior das unidades utilizadas (ex.: quilograma: 1,3; grama: 2,2; centigrama: 2,8).

Valor dos materiais de

embalagem - Valor de aquisição sem IVA x 1,2

O rótulo e a receita devem ser fotocopiados e anexados à ficha de preparação, sendo arquivado por um período de três anos na farmácia17.

Durante o estágio, infelizmente não tive oportunidade de preparar nenhum MM, dada à efetiva ausência de solicitações para o efeito, contudo foi-me explicado todo este procedimento. Procedi, todavia, à preparação extemporânea de algumas suspensões orais, como é o caso do antibiótico – Amoxicilina + Ácido Clavulânico. Neste caso, por motivos de instabilidade, o antibiótico encontra-se sob a forma de pó, sendo feita a sua suspensão, apenas no momento em que é dispensado. O medicamento deverá ser preparado com água purificada e existem alguns cuidados a ter, nomeadamente: desagregar o pó acumulado no fundo do frasco batendo com a mão; seguidamente, deixar o frasco repousar um pouco, evitando a inalação do medicamento; colocar um pouco de água purificada, fechar, agitar muito bem, abrir novamente o frasco e, pela entrada de luz, verificar qual o nível da suspensão. Por fim, colocar mais água purificada e agitar vigorosamente, tendo em atenção não exceder a marcação do frasco. O utente deve ser informado sobre as condições de conservação da suspensão preparada, nomeadamente a necessidade de ser armazenada no frigorífico (esta informação encontra-se descrita na embalagem do medicamento), bem como o seu prazo de validade, 14 dias.