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Preparação, estruturação e realização das Entrevistas

CAPÍTULO VII – INSTRUMENTOS

7.2. Entrevistas semiestruturadas

7.2.1. Preparação, estruturação e realização das Entrevistas

Numa primeira fase, começámos por estabelecer as etapas e considerações a atender na preparação das entrevistas e elaborámos uma listagem com as questões a abordar, para as quais pretendíamos obter respostas.

O plano das entrevistas foi apoiado num guião (Anexos II e III), previamente preparado, de acordo com os objetivos já definidos e elaborado tendo como base a revisão da literatura, e as questões da investigação, tendo sido também estabelecidos os procedimentos a observar na realização das mesmas. Este é, como já referimos no número anterior, correspondente a uma entrevista semiestruturada (Afonso, 2005), ou semidiretiva (ou semi-dirigida) na classificação

também proposta por Quivy e Campenhoudt, (2008). Sobre este tipo de entrevista, estes autores assinalam:

“É semidiretiva no sentido em que não é inteiramente aberta nem encaminhada por um grande número de perguntas precisas. Geralmente o investigador dispõe de uma série de perguntas-guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte do entrevistado. Mas não colocará necessariamente todas as perguntas pela ordem em que as anotou e sob a formulação prevista. Tanto quanto possível, “deixará andar” o entrevistado para que este possa falar abertamente, com as palavras que desejar e pela ordem que lhe convier. O investigador esforçar-se-á simplesmente por encaminhar a entrevista para os objetivos cada vez que o entrevistado deles se afastar e por colocar as perguntas às quais o entrevistado não chega por si próprio no momento apropriado e de forma tão natural quanto possível” (Quivy e Campenhoudt, 2008:192-193).

Num segundo momento da pesquisa, demos sequência à recolha de informação com a realização das entrevistas individuais aos diversos intervenientes. Pretendíamos, assim, ir ao encontro dos nossos objetivos de investigação mas, permitir, também, que os sujeitos entrevistados tivessem oportunidade de ir além da rigidez de uma entrevista estruturada, o que poderia contribuir para abrir os nossos horizontes de análise.

A entrevista semiestruturada foi portanto, a técnica que privilegiámos. Na construção do guião, tivemos ainda em consideração os conselhos sugeridos por Estrela (1994), nomeadamente quanto à formulação clara e sintética do tema e definição de objetivos gerais. Optámos por organizá-lo a partir de um conjunto de blocos norteadores de tópicos, para um formulário de questões de caráter relativamente aberto, seguindo o curso natural do diálogo estabelecido entre entrevistadora e entrevistado.

Este instrumento foi constituído por 19 questões, de resposta aberta, divididas em quatro blocos temáticos, sendo o primeiro bloco relacionado com a formação inicial e o desenvolvimento profissional; o segundo bloco prende-se com a imagem que os docentes têm de si próprios e da profissão; o terceiro bloco debruça-se sobre a colegialidade e a supervisão pedagógica; o quarto e último bloco de questões estão relacionados com os aspetos inerentes à identidade profissional, tais como a motivação e as alterações sociais. O conteúdo, das questões colocadas, encontra a sua justificação na nossa prática reflexiva e no método da reflexão falada junto de colegas e outros profissionais da educação, visando aperfeiçoar o conteúdo, a forma, a clareza, a compreensibilidade e adequação aos objetivos e na análise bibliográfica anteriormente realizada (Almeida e Freire, 2000).

Neste sentido, o processo de entrevista foi caracterizado pela flexibilidade, visando a valorização das perceções dos entrevistados sobre a sua própria experiência e dos tópicos/ assuntos que, na sua opinião, mereciam maior destaque. As entrevistas elaboradase aplicadas

aos docentes participantes foram transcritas integralmente (Anexo X), imediatamente após a sua realização, no sentido de assegurar toda a informação obtida e na qual procurámos ser fiéis às incongruências e características próprias do discurso oral.

Estas foram realizadas de março a maio de 2014 e tiveram uma duração variável, entre vinte minutos a uma hora e foram precedidas do preenchimento do Inquérito Biográfico e das três escalas aplicadas: ICAC; EAE e EPS.

É importante salientar que todos os docentes entrevistados, ao longo das entrevistas se sentiram muito à vontade demonstrando não haver constrangimentos nas respostas. As entrevistas tiveram lugar em locais informais como esplanadas e cafés, mas também em gabinetes e salas de aulas. As mesmas decorreram num clima dinâmico e interativo entre pesquisador e entrevistado.

Tabela II: Esquema das entrevistas realizadas

Codificação da entrevista/ professor Data de realização PA – Entrevista à Professora A 14/03/2014 PB – Entrevista ao Professor B 25/03/2014 PC – Entrevista ao Professor C 27/03/2014 PD – Entrevista à Professora D 28/03/2014 PE – Entrevista à Professora E 01/04/2014 PF – Entrevista à Professora F 03/04/2014 PG – Entrevista à Professora G 03/04/2014 PH – Entrevista ao Professor H 09/04/2014 PI – Entrevista ao Professor I 10/04/2014 PJ – Entrevista à Professora J 10/04/2014 PL – Entrevista à Professora L 28/04/2014 PM – Entrevista à Professora M 05/05/2014 PN – Entrevista à Professora N 08/05/2014 PO – Entrevista ao Professor O 12/05/2014 PP – Entrevista à Professora P 13/05/2014

7.2. 2. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

As entrevistas realizadas foram determinantes no processo de triangulação metodológica (Flick, 2007), com o objetivo de validar as informações colhidas, permitindo completar/ aprofundar informações relevantes para o estudo, de maneira mais individualizada e aceder às perceções e interpretações dos participantes.

Assim, confirmamos uma das vantagens da entrevista que se refere ao facto de que esta é

“utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo”(Bogdan e Biklen, 1994:134).

As entrevistas foram tratadas, no seu conjunto, com recurso à técnica de análise de conteúdo. Relativamente à análise de conteúdo, utilizou-se o método de categorização e codificação de dados subscrito por Bardin (2004), visando o processo de descrição e interpretação. A elaboração de uma lista de categorias de classificação é, por vezes, entendida

como um passo crucial na análise dos dados recolhidos. De acordo com Bogdan e Biklen (1994:232), “ é difícil, se não impossível, pensar profundamente acerca dos dados sem que estes tenham sido classificados”.

A escolha das unidades de registo desenvolveu-se em função das características do material e dos objetivos da análise, na certeza de que dela depende o grau de precisão da categorização (Huberman e Miles, 1991). Foi nosso objetivo, ao longo deste estudo seguirmos o esquema proposto por Bardin (2004), para desenvolver as diferentes fases da análise de conteúdo: - “1) a pré-análise; - 2) a exploração do material; - 3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação” (Bardin, 2004:95).

Desta forma, em consideração às características das metodologias qualitativas, os dados recolhidos a partir das entrevistas, foram objeto de análise de conteúdo que consistiu num “vaivém contínuo entre um quadro teórico e um corpus de dados” (Paixão, 1998:225), onde buscamos passar da descrição à interpretação, tendo como ferramenta principal os procedimentos inferenciais (Bardin, 2004).

A análise de conteúdo apresenta-se como uma técnica morosa, desafiadora e exclusiva para cada estudo, variando de acordo com os objetivos pretendidos, tendo que ser (re) inventada no contexto de cada investigação (Bardin, 2004). Salientamos que esta técnica apresenta como objetivo principal a análise, organização e interpretação dos dados, de acordo com “determinadas regras, conduzindo o investigador a uma nova compreensão e à produção a partir desses mesmos dados”, o que implica necessariamente a construção de um sistema de categorias que sejam reveladoras do significado central do que se quer apreender (Thomaz, 2007:197).

Nesta perspetiva, estabelecemos um diálogo contínuo com os corpora desta investigação para os constituir e analisar, numa reflexão (re) constitutiva, à luz dos conceitos principais contidos na literatura que consultámos, e da nossa própria evolução enquanto investigadora ao longo do estudo. Desta forma, em relação ao processo de análise, apoiamo-nos nas orientações sugeridas por Estrela (1994), que o organiza em algumas etapas:

1ª Etapa - leitura inicial e global das informações obtidas através dos procedimentos de recolha de dados empregues neste estudo. Esta leitura teve como objetivo principal uma apreensão das suas características e verificação das reais possibilidades de análise;

2ª Etapa - Leitura mais aprofundada dos corpora, onde procuramos determinar aspetos que se relacionam com os objetivos do estudo, questões de investigação e possíveis categorias emergentes deste processo;

3ª Etapa - Determinação das regras de codificação para a categorização.

Torna-se necessário mencionar que, neste estudo, o processo de construção do sistema de categorias para análise dos dados foi progressivo, combinando a formulação de categorias a priori, geradas em função das questões investigativas e dos pressupostos do enquadramento teórico, com as categorias que foram surgindo no decorrer da análise. Sendo assim, as categorias definidas aprioristicamente foram submetidas a uma codificação posterior, que emergiu à medida que as diferentes fases do processo de análise da informação foram desenvolvidas, assumindo uma perspetiva contextualizada e idiossincrática própria do estudo de caso interpretativo.

Assim, após a fase inicial de definição de categorias apriorísticas, seguiu-se uma primeira leitura global do conteúdo manifesto nas entrevistas, com o objetivo de avaliarmos as reais possibilidades de análise e encontrarmos certas regularidades, num esforço de síntese dos aspetos mais relevantes para respondermos às questões de investigação propostas (Estrela, 1994). À semelhança do que refere Moreira (2001:102), este processo foi marcado por “constante comparação, modificação, reclassificação, subdivisão, agregação, rejeição e substituição”, numa tentativa de realizarmos uma

“operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos” (Bardin, 2004:111).

Seguidamente à etapa de leitura global e tendo por base o processo supracitado, desenvolvemos um sistema preliminar de categorias e subcategorias. Esta subdivisão visa facilitar a compreensão do significado contido no discurso dos participantes. No processo de codificação, foram estabelecidas as unidades de registo e de contexto (Bardin, 2004), reconhecendo-se que o que se pretende é a análise de ideias e não de segmentos isolados para a sua quantificação. Assim, no que se refere às unidades de registo, salientamos que estas foram estabelecidas através da desagregação do material de análise em seus elementos constituintes, correspondendo ao segmento de conteúdo considerado como unidade base da análise, objetivando à categorização da informação que, no âmbito deste estudo, foram consideradas em relação ao parágrafo em que se encontravam situadas, este último funcionando como unidade de contexto (Bardin, 2004). Neste processo, procuramos atender ao critério da exaustividade (Bardin, 2004) e situar cada uma das unidades de registo numa categoria específica.