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Aluno 4: Pensava que era um caroço de pêssego (Anexo 11 Reflexão da 9.ª e 10.ª

5. Alcançar a integração da perspetiva de género em todas as políticas e medidas.

2.4 A PRESENTAÇÃO E A NÁLISE DOS R ESULTADOS

Nesta secção procede-se à apresentação e discussão dos resultados desta investigação. Esta secção está dividida em cinco subsecções, sendo que nas primeiras quatro subsecções se apresentam os resultados para cada um dos alunos e das alunas do estudo, no pré-teste, durante a implementação da proposta pedagógica e no pós-teste. No final apresenta-se a análise comparativa dos resultados obtidos, antes e após a implementação da proposta pedagógica, dos alunos e das alunas que participaram no estudo.

2.4.1ALUNA 1

ANTES DA IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA

Através da análise do pré-teste construiu-se o Quadro 3, com os estereótipos apresentados pela Aluna 1 antes da implementação da proposta pedagógica.

Quadro 3 – Estereótipos apresentados pela Aluna 1 antes da implementação da proposta pedagógica

Categorias Subcategorias

Aluna 1

Pré-teste

Género Feminino Género Masculino

E st er ti p os d e G én er o Tarefas Domésticas/ Comportamentos “Passar a ferro” “Pôr a mesa” “Limpar o pó”

“(…) as meninas adoram [pintar

unhas].”

“Conduzir um camião” “Ver futebol” “Fazer reparações” “Ter força e coragem” “(…) ser muito forte e levantar

coisas muito pesadas (…).”

“(…) as raparigas usam roupa cor-de-rosa e os rapazes não.”

Brinquedos “Boneca” “Carro” “Pião”

Profissões “(…) estilista de unhas (…).” “(…) pedreiro (…).” Características

Físicas

“As raparigas têm cabelo comprido e os rapazes não, as meninas atam o

cabelo e os rapazes não.”

Ao analisar o Quadro 3 parece ser possível afirmar que a Aluna 1 evidencia estereótipos de género relativamente às tarefas domésticas/comportamentos, brinquedos, profissões e características físicas.

No que diz respeito às tarefas domésticas/comportamentos, a Aluna 1 parece associar a força e tarefas mais ativas, agressivas e exteriores ao lar ao género masculino e tarefas mais calmas e relacionadas com o cuidado do lar ao género feminino, tal como Cardona et al. (2011) e Vieira (2006) referem.

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O mesmo parece acontecer com os estereótipos associados às profissões que a Aluna 1 indicou como sendo exclusivas de um só género. A profissão mais agressiva, ativa e exterior é associada ao género masculino e a profissão mais calma é associada ao género feminino. Indo ao encontro do que Bettencourt, Campos & Fragateiro (1999) e Vieira (2006) referem, os estereótipos experienciados ao longo da vida podem determinar as suas escolhas vocacionais e, tendo em consideração a profissão dos pais da aluna e as respostas da mesma à questão acerca das tarefas domésticas/comportamentos, esta aluna parece associar os comportamentos e as profissões mais ativas e agressivas aos homens e as mais calmas às mulheres.

Relativamente aos brinquedos/jogos, a Aluna 1 indicou que a maior parte dos brinquedos apresentados seriam para ambos os géneros. Contudo, tal como Re (2007) e Vieira (2006) referem, os brinquedos/jogos oferecidos às crianças são uma das formas de formar as suas mentalidades e de difundir os papéis de género. Assim, a Aluna 1 indicou que a boneca é para o género feminino (podendo este brinquedo estar associado à “função” da mulher, enquanto cuidadora dos filhos) e o pião e o carro são para o género masculino (podendo estar associados a brincadeiras mais ativas, e particularmente o carro à “função” do homem como trabalhador autónomo, fora de casa).

Nas questões relacionadas com as diferenças e semelhanças entre os meninos e as meninas da turma, a Aluna 1 não referiu características que distinguissem efetivamente os meninos e as meninas, parecendo evidenciar alguns estereótipos de género no que diz respeito ao comprimento do cabelo dos meninos e das meninas e à cor da roupa que os meninos e as meninas usam.

Na questão “Desenha nas silhuetas o corpo de um menino e o corpo de uma menina da tua idade”, a Aluna 1, relativamente ao corpo do menino, desenhou o que parece ser o cabelo, os olhos, a boca, as mamas e o pénis, tal como se pode verificar na Figura 5. Relativamente ao corpo da menina, a Aluna 1 representou o que parece ser o cabelo, os olhos, as mamas, um relógio/pulseira e a vulva, tal como se pode verificar na Figura 6. Nesta questão a aluna parece ter tido mais dificuldades em desenhar os órgãos sexuais do menino do que os da menina, visto que a representação do pénis tem uma forma triangular, não apresentando o escroto, enquanto que na representação da vulva se parece notar uma divisão que pode representar os lábios da vulva. A Aluna 1 também parece

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evidenciar estereótipos de género relativamente ao comprimento do cabelo e ao uso de acessórios (visto que desenhou um relógio/pulseira apenas no corpo da menina).

DURANTE A IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA

Atividade relacionada com as tarefas domésticas

Após a visualização de um vídeo acerca das tarefas domésticas foi distribuída uma folha de registo com duas questões (Anexo 19). Perante a questão “De que trata o vídeo que acabaste de ver?”, a Aluna 1 identificou que o vídeo abordava as tarefas domésticas, referindo ainda que “pode ser homens ou mulheres a fazer”, parecendo demonstrar alguma flexibilidade quanto aos papéis de género, após ter observado alguns exemplos de comportamentos que contrariavam os estereótipos demonstrados anteriormente, no pré-teste. Relativamente à questão “Houve alguma coisa que te tenha surpreendido?”, a Aluna 1 respondeu que descobriu muitas coisas “que posso fazer em casa com os pais”, o que pode demonstrar que a aluna ao observar o vídeo ficou mais desperta para as tarefas domésticas/comportamentos que podem ser desempenhados pelos dois géneros. Isto parece ir ao encontro das ideias de Cardona et al. (2011), quando afirmam que entre os oito e os onze anos de idade as crianças se mostram mais disponíveis para encarar, de forma flexível, a diversidade de papéis, atividades e características de personalidade atribuídas a cada sexo.

Figura 5 - Representação do corpo de um menino, realizado no pré-teste pela Aluna 1

Figura 6 - Representação do corpo de uma menina, realizado no pré-teste pela Aluna 1

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Durante a discussão em grande grupo acerca do vídeo visualizado, a Aluna 1 mencionou algumas vivências pessoais que ocorreram durante a realização de tarefas domésticas:

Eu faço a minha cama, arrumo o meu quarto e também às vezes ajudo a minha mãe a fazer o jantar. Houve uma vez que tentei fazer o arroz, mas ficou todo queimado. Só à segunda vez é que ficou bem (Transcrição da atividade do dia 2 de junho – Anexo 15).

Através desta evidência parece ser possível perceber que a Aluna 1 tem a responsabilidade de fazer algumas tarefas domésticas, particularmente as que estão associadas ao seu espaço (o quarto). Contudo, também parece ser possível perceber que a Aluna 1 apenas tenta ajudar a mãe a fazer as tarefas domésticas, particularmente a preparar refeições para a família. Assim, tendo em conta as respostas da Aluna 1 antes da implementação da proposta pedagógica, esta não parece realizar nenhuma tarefa que anteriormente associou ao género masculino.

Depois de uma discussão dos restantes alunos e alunas acerca do que um homem faria se vivesse sozinho, a Aluna 1, expressou as suas ideias relativamente ao vídeo a que assistiu e à discussão que os/as colegas estavam a desenvolver, demonstrando flexibilidade quanto aos papéis de género:

(…) as tarefas que os rapazes fazem, ou um homem, se uma mulher fizer essas tarefas, não há mal nenhum. Todos nós podemos tentar fazer uma coisa e se conseguirmos é bom. E estamos a ajudar. Por exemplo eu assim ajudo a pessoa e não a estou a deixar fazer isso sozinha. Estou a ajudá-la (Transcrição da atividade do dia 2 de junho – Anexo 15).

Após a discussão em grande grupo, foi distribuída uma folha de registo com a questão “Aprendeste alguma coisa com o vídeo e com o diálogo com os teus colegas? Se sim, o quê?” (Anexo 20). Quando confrontada com esta questão, a Aluna 1 afirmou que não aprendeu nada com o vídeo e com o diálogo com os/as colegas “porque já sabia que os homens e mulheres podiam fazer muitas coisas em casa, aliás todos nós podemos fazer todas as tarefas de casa”. Esta resposta vai contra o que a Aluna 1 evidenciou antes da proposta pedagógica, o que pode significar que embora a aluna soubesse que não existem tarefas domésticas/comportamentos específicos e exclusivos para cada género, as suas vivências nem sempre lhe permitiram experienciá-lo, levando a que vá formulando interpretações e representações de acordo com o que mais vivencia.

No fim da aula foi distribuída uma ficha acerca das tarefas domésticas desempenhadas pelos/as alunos/as e pelo pai e pela mãe deles/as (Anexo 24). No que concerne à questão “Coloca uma cruz (X) em baixo da pessoa (pai/mãe) que desempenha a tarefa”, a Aluna

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1 afirmou que apenas duas tarefas são somente desempenhas pela mãe (passar a ferro e aspirar) e que apenas duas tarefas são somente desempenhadas pelo pai (lavar a roupa e fazer reparações). Nesta questão parece ser possível verificar que a Aluna 1, antes da proposta pedagógica, associou algumas tarefas domésticas ao género masculino ou género feminino, tendo em consideração aquilo que observa e que é modelado, em casa, pelos pais, indo ao encontro do que Vieira (2006) e Re (2007) afirmam acerca da importância dos pais enquanto modelos para a formação de estereótipos de género nas crianças.

Atividade relacionada com as profissões

Após a visualização de um vídeo acerca das profissões foi distribuída uma folha de registo com duas questões (Anexo 19). Perante a questão “De que trata o vídeo que acabaste de ver?”, a aluna não identificou que o vídeo abordava algumas profissões, contudo referiu que “fala de várias coisas que podemos fazer em casa ou na rua e que podem ser homens ou mulheres a fazer”. Relativamente à questão “Houve alguma coisa que te tenha surpreendido?”, a Aluna 1 respondeu que descobriu que “o que era para os homens fazerem as mulheres faziam e o que era para as mulheres fazerem os homens faziam”. Desta forma, parece que a Aluna 1 demonstra flexibilidade quanto aos papéis de género, após ter visualizado alguns exemplos que contrariavam os estereótipos demonstrados anteriormente, o que de acordo com Cardona et al. (2011), pode acontecer nesta idade. Durante a discussão em grande grupo acerca do vídeo visualizado, a Aluna 1 mencionou algumas vivências que também vão ao encontro do que sugerem Cardona et al. (2011), pois parece demonstrar que conhece colegas que fazem atividades que não são comuns para o seu género, mas que os/as aceita independentemente do que fazem:

Prof.: Este vídeo surpreendeu-vos? (…)

Aluno: O que me surpreendeu mais neste vídeo foi ver as senhoras a fazer judo. E eu conheço um menino que faz ballet.

(…)