• Nenhum resultado encontrado

Pressões coercitivas e a participação das IES no ranking

6. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

6.3 PRESSÕES INSTITICIONAS E A PARTICIPAÇÃO DAS IES NO RANKING

6.3.1 Pressões coercitivas e a participação das IES no ranking

Conforme definido no referencial teórico dessa dissertação, as pressões institucionais são refletidas pelos pilares das instituições apresentados no Quadro 1. As pressões são forças exercidas por regulamentos, valores, normas e concepções compartilhadas que direcionam o comportamento organizacional (SCOTT, 2008) podendo influenciar a posicionamentos sustentáveis nas organizações (DADDI et al., 2019).

Esse tópico apresenta os resultados da influência das pressões institucionais na participação das IES no UIGM ranking. O tópico está subdividido em três partes que abordam a influência das pressões coercitivas, normativas e miméticas, nessa ordem.

6.3.1 Pressões coercitivas e a participação das IES no ranking

As pressões coercitivas estão relacionadas aos processos que regulamentam as instituições, são o estabelecimento de regras, punições, a fiscalização e a criação de recompensas para influenciar o comportamento futuro (SCOTT, 2008). A Figura 3 apresenta os códigos associados as pressões coercitivas que instigaram a participação das IES no UIGM. Conforme apresentado no Quadro 8 dos procedimentos metodológicos, os códigos (cor azul) foram associados a categoria “pressões coercitivas” (cor cinza), relacionada ao tema “pressões institucionais” e “participação no ranking” (cor verde).

FIGURA 3 - RELAÇÃO DE PRESSÕES COERCITIVAS E A PARTICIPAÇÃO DAS IES NO RANKING

Conforme demonstrado na Figura 3, os dados evidenciaram que as pressões coercitivas estão relacionadas a influência externa proveniente de decretos e exigências do governo como o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, o Plano de logística Sustentável – PLS e a Agenda Ambiental na Administração Pública. Também foi observado que houve nessa categoria de pressões a influência religiosa, de alunos e expectativa social.

O REUNI foi um programa do governo federal instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007 que teve como objetivo retomar o crescimento do ensino superior público criando condições para o crescimento físico, acadêmico e pedagógico de universidades e institutos federais (REUNI MEC, 2010). Conforme observado nos dados da pesquisa esse programa foi importante para a UFLA. A universidade foi contemplada recursos do programa para aumentar o número de cursos e expandir seu território. Devido a essa iniciativa, a reitoria propôs a criação do plano ambiental estruturante como uma maneira de controlar o crescimento desordenado e resolver alguns problemas ambientais que a universidade já apresentava na época. Esse programa também foi importante para o IFSULMG pois forneceu recursos financeiros externos para que o instituto implementasse algumas de suas práticas sustentáveis. O PLS é uma exigência do governo federal instituída pelo decreto nº 7.746, de 5 de junho de 2012 para que a administração pública federal direta, autárquica e fundacional e as empresas estatais dependentes elaborem e implementem Planos de Gestão de Logística Sustentável. O PLS é uma ferramenta que define o planejamento para implementação de práticas de sustentabilidade e racionalização de gastos e processos na Administração Pública (PLS, IFSULMG)

Dessa forma, com exceção da USP e da PUC-RIO, as demais universidades desses estudos foram influenciadas pela exigência desse decreto e desenvolveram ou estão desenvolvendo o seu PLS. Com relação a isso o entrevistado 1 do IFSULMG destacou que o PLS foi uma influência para que o instituto participasse do UIGM, pois as exigências do ranking são muito semelhantes ao que é proposto pelo PLS.

O entrevistado 2 do IFSULMG apontou que o PLS foi uma influência externa que impulsionou a participação no ranking, complementou que a instituição foi uma das pioneiras a aderir ao programa e já tinham um histórico e experiência com a temática ambiental até que a reitoria resolveu ampliar ainda mais essa atuação, participando do ranking em 2016. Quando foi perguntado se o entrevistado percebeu a influência de alguma legislação ou normativa externa para participação no ranking ele afirmou:

Sim, é o PLS. Seguramente. O programa de Logística sustentável. Eu não me lembro de que ano foi, dois mil e doze ou treze. Ele impulsionou, nunca foi muito bem compreendido pelas instituições, tanto que nem se fala mais nele. Mas seguramente

foi um estímulo muito forte as instituições aderirem a esse programa

(ENTREVISTADO 2 IFSULMG).

A Influência do PLS na participação da UFLA no ranking é destacada no próprio Plano de Logística sustentável da instituição em que ela destaca que sua boa classificação no UIGM é consequência das ações do Plano Ambiental implementado em 2008 e de outras ações que vão de encontro ao PLS (PLS UFLA, 2019).

Destacando a importância desse decreto, o entrevistado da UNIFESP mencionou que o PLS é uma ferramenta que a instituição prioriza muito e acredita que ainda mais importante que participar de ranqueamentos internacionais, é necessário que as IES federais priorizem ferramentas nacionais como o PLS e A3P.

A A3P é um programa voluntário do Ministério do Meio Ambiente para incentivar os órgãos públicos federais, estaduais e municipais na implementação de práticas sustentáveis. A agenda propõe diretrizes fundamentadas na política dos 5 R’s: Repensar, Reduzir, Reaproveitar, Reciclar e Recusar o consumo de produtos que causam impactos socioambientais negativos. Após a adesão as instituições recebem um certificado, o selo A3P (AGENDA AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, 2020).

No que se refere a influência da A3P na participação das IES no ranking, durante as entrevistas e em alguns documentos ela foi mencionada pelos entrevistados que, assim como o ranking, é importante para direcionar práticas de sustentabilidade. O entrevistado 1 do IFSULMG afirmou referindo-se a A3P, Pacto global e o UIGM:

[...] acaba que é uma sinergia, o todo fica maior que a soma das partes certo? Uma coisa complementa a outra (ENTREVISTADO 1, IFSULMG).

O entrevistado da UNIFESP destacou ainda que a instituição pretende participar do programa, ele acrescenta que os eixos do PLS, do UIGM e da A3P são muito semelhantes como ferramentas que ajudam a mensurar as ações ligadas a gestão ambiental.

A influência religiosa se mostrou presente apenas na PUC-RIO. Por se tratar de uma instituição filantrópica associada a igreja católica, a universidade sofreu influência direta dessa instituição para aderir as questões relacionadas a sustentabilidade. A entrevistada destacou a influência da Encíclica Papal Laudato Si apresentada pelo Papa Francisco em 2015, um apelo para os cristãos para ajudarem a “cuidar da casa comum”, ou seja, do planeta.

Com relação a influência por parte dos alunos a entrevistada da PUC-RIO reconhece que a participação no ranking além de beneficiar para imagem da instituição, atrai os alunos, segundo ela:

[...] tem o ganho de imagem, com certeza, principalmente com esse público novo que está na graduação que os alunos na verdade, eles também pressionam por uma universidade comprometida (ENTREVISTADA PUR-RIO).

A entrevistada 2 da UFLA também apontou que o ranking auxilia para atrair atenção dos alunos. O entrevistado da mesma instituição assume que a IES já é considerada uma universidade sustentável e a participação no ranking faz com isso seja mais consolidado, divulgando entre os alunos e toda comunidade acadêmica. Ele destacou que “dessa forma os alunos já entram na instituição sabendo que se trata de uma universidade sustentável” (Entrevistado 1 UFLA).

No que diz respeito a expectativa social foi possível perceber que está relacionada a busca pela legitimidade, isso é evidenciado na fala dos entrevistados no Quadro 12 abaixo:

QUADRO 12 - FALA DOS ENTREVISTADOS: INFLUÊNCIA DA EXPECTATIVA SOCIAL PARA PARTICIPAÇÃO NO RANKING

IES Fala dos entrevistados

USP

O primeiro benefício, claro, é o reconhecimento da universidade pela

sociedade do que ela está fazendo (ENTREVISTADO USP).

UFLA

Então assim, em alguns aspectos, a gente tem de garantir a sustentabilidade que é um apoio para garantir a continuidade do ensino, garantir uma certa continuidade do campus. Então, a sustentabilidade ela fortalece o

reconhecimento da instituição (ENTREVISTADO UFLA).

IFSULMG Eu acho que tem dois resultados, um para fora e um para dentro. Para fora é

uma necessidade que os institutos federais têm de se consolidar. Enquanto

o modelo de gestão. Se a gente comparar com as universidades, por exemplo, as universidades têm cem anos ou mais de cem anos, em alguns casos já estão consolidadas. Já os institutos federais têm pouco mais de dez anos então há sempre uma necessidade de estar entre os primeiros colocados (ENTREVISTADO IFSULMG).

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2020)

Em síntese, os dados evidenciam que houve a presença de pressões coercitivas associadas a exigências legais e programas do governo federal, instituição superior a todas as IES que instigam a participação destas no ranking. As pressões coercitivas também estiveram

relacionadas a expectativas da sociedade, incluindo os alunos e influência religiosa. O próximo tópico abordará os resultados relacionados a influência das pressões normativas e a participação das instituições estudadas no ranking.