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Pressuposto fático para o exercício da competência tributária

No documento MESTRADO EM DIREITO TRIBUTÁRIO (páginas 96-100)

5.2. O caráter tributário das contribuições sociais e dos empréstimos compulsórios

5.3.1. Pressuposto fático para o exercício da competência tributária

Um último critério a ser estudado é a exigência constitucional de circunstância fática prévia ao exercício da competência.180 No caso dos empréstimos compulsórios e dos impostos

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Não faltaram alegações de inconstitucionalidade sobre o art. 149-A, como a invasão de competência da União (o serviço de iluminação está disposto no art. 21, XII, b, da CF), a identidade de base de cálculo (consumo de energia elétrica) com a do ICMS e mesmo as justificativas consequencialistas dos julgados favoráveis à CIP/Cosip no STF. Não é objeto de nosso trabalho, contudo, a constitucionalidade desta nova exação.

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A exigência constitucional de circunstância fática é ideia defendida por Arthur M. Ferreira Neto. Classificação constitucional de tributos: pela perspectiva da justiça, p. 120-121.

extraordinários de guerra, exige-se manifestação fenomênica de guerra externa ou sua iminência, e especificamente sobre os empréstimos compulsórios, calamidade pública e relevante interesse público merecedor de investimento público. Tal critério é anotado a partir do art. 148, I e II, e do art. 154, II, da Constituição. Vejamos o art. 154 de perto:

Art. 154. A União poderá instituir:

I – mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;

II – na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

O inciso II mostra que os “impostos extraordinários” têm inclusive a possibilidade da invasão de competência, o que ultrapassa os limites do inciso I, por exemplo. Como se pode presumir graças ao “na iminência ou no caso de guerra externa”, todo o produto arrecadado com estes “impostos” deverão ter uma destinação específica (a guerra). Sendo assim, impropriamente são chamados de impostos, pois ao contrário destas exações, os impostos extraordinários devem ter destinação específica para o produto da arrecadação.

O critério da pressuposição fática também pode ser aplicado à Contribuição de Melhoria que, sem ele, ter-se-á tornado uma taxa. Sem diferença nas regras de competência, temos uma hipótese com vinculação a uma contra-prestação estatal (a hipótese é a valoração do imóvel decorrente de obra pública, a base de cálculo é o valor acrescido). O pressuposto fático da contribuição de melhoria é a obra pública, conforme o art. 150, III, da Carta Maior.

Por último, a contribuição de intervenção no domínio econômico também pressupõe uma situação fática, que é a necessidade de regulação em um setor específico da economia.

Nossa proposta é de que, utilizando-se de critérios extrínsecos à norma-padrão de incidência – mais propriamente de critérios intrínsecos à norma de competência para a instituição dos tributos, como a previsão constitucional da destinação do produto da arrecadação, da restituição e ainda da ocorrência de circunstância fática prévia ao exercício da competência, tenhamos a divisão da classe dos tributos:

Na classificação, utilizamos quatro critérios: a vinculação da hipótese tributária a uma atividade estatal (V), a destinação constitucionalmente prevista para o produto arrecadado (D), a pressuposição fática para o exercício da competência (PF) e a restituição do montante arrecadado, ao cabo de determinado período (R), com suas respectivas negações.

Os empréstimos compulsórios podem ou não ser vinculados. Nos dizeres de Tárek Moussallem,181 “não há obstáculo para a União Federal criar empréstimo compulsório tendo por hipótese de incidência, por exemplo, a prestação do serviço público de jurisdição federal”. Em sentido estritamente lógico, contudo, são empréstimos compulsórios distintos e taxas distintas.

Já as taxas, a contribuição de melhoria e a contribuição de iluminação pública são vinculadas a uma contraprestação estatal e possuem uma destinação especifica: o custeio de tais atividades. No caso da CIP/Cosip, é destinada para o custeio do serviço de iluminação

pública, conforme diz o art. 149-A. Diferencia-se da taxa porque esta é divisível, e a CIP, não.

181

Tárek Moysés Moussallem, Classificação dos tributos: uma visão analítica, Tributação e processo, p. 634-635.

A contribuição de melhoria, cuja hipótese é de enriquecimento com a participação estatal,182 deve possuir um pressuposto fático, qual seja, a obra pública que tenha valorizado o imóvel. Deve o quantum arrecadado ressarcir o Estado do pagamento dos custos da obra pública realizada. Por isso, não pode a somatória das exações oriundas das valorizações ser maior que o valor da obra, conforme o art. 81 do CTN.183

Tanto as CIDEs como o imposto extraordinário de guerra são tributos não-vinculados a uma contraprestação estatal, devem ter uma destinação específica e um pressuposto fático. Diferenciam-se pelo fato jurídico que possibilitou o exercício da competência tributária: no primeiro, a necessidade de intervenção na economia, no segundo, de intervenção na guerra. O nome “imposto”, aliás, é impróprio, dada a destinação específica da exação.

Dentre os impostos e as contribuições sociais (que não as de intervenção no domínio econômico), o que os difere é a destinação específica, como consta no o art. 167, IV, da CF.

Por tudo, Luciano Amaro184 avisa que “o grande divisor de águas das classificações doutrinárias está em que alguns autores escolhem uma única variável como elemento distintivo, enquanto outros optam por utilizar mais de uma variável”. E Tárek Moussallem185 observa:

Por fim, à pergunta: “quantas são as espécies tributárias?” é equivocada porquanto a própria palavra “espécie” goza de relatividade num ponto da série, ora se dirigindo às primeiras classes coordenadas, ora às segundas, ora às terceiras. (...) Daí mais uma vez se confirmar a proposição segundo a qual o jurista é especialista em inventar debates estéreis.

182

Geraldo Ataliba é enfático: “Juridicamente distingue-se [a contribuição de melhoria] do imposto e da taxa porque sua hipótese de incidência não é a obra (h.i. da taxa) nem o mero enriquecimento do contribuinte (h.i. do imposto) mas a diferença do valor de uma propriedade antes e depois de uma obra”. Geraldo Ataliba, Hipótese de incidência tributária, p. 174.

183

“Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.”

184

Luciano Amaro, Direito tributário brasileiro, p. 66.

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No documento MESTRADO EM DIREITO TRIBUTÁRIO (páginas 96-100)