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PRESSUPOSTOS QUE COSTUMAM EMBASAR AS PRÁTICAS DOCENTES DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DESENVOLVIDAS EM ESCOLAS

SUMÁRIO

6 EVIDÊNCIAS E CONSTATAÇÕES

6.1 PRESSUPOSTOS QUE COSTUMAM EMBASAR AS PRÁTICAS DOCENTES DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DESENVOLVIDAS EM ESCOLAS

PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO

Os professores foram questionados a respeito das abordagens didáticas com que tiveram contato durante sua formação inicial. Não pretendemos classificar as práticas dos docentes em tipos de abordagens. Esse questionamento foi feito na tentativa de mapear o que os professores conhecem sobre o assunto e se as abordagens que foram ensinadas na formação inicial podem influenciar, de alguma forma, a sua atuação docente. É nesse momento que surge nossa primeira categoria:

“as abordagens didáticas”.

A formação inicial, nas memórias de P1, P3 e P6, teve um cunho puramente tecnicista/tradicional, ou seja, com enfoque na técnica do movimento em si. Entendem

que, na maioria das vezes, “não se trabalhava como vai se passar isso pro aluno, o

que tu quer que o aluno te traz de retorno, era só a técnica do movimento mesmo” (P1). P4 e P5, embora tenham citado também uma abordagem mais

tradicional/tecnicista, lembram que tiveram contato com outras abordagens como a “Construtivista” e a “Crítico-emancipatória”. A P2 não citou nomes de abordagens, verbalizando apenas que teve contato com várias abordagens durante a sua formação inicial, porém, gosta de utilizar bastantes elementos da “Construtivista” e da “Psicomotora”. É relevante, neste momento, abrir um pequeno parêntese e lembrar que essas nomenclaturas das abordagens não foram classificadas por nós, mas sim, foram os nomes verbalizados pelos professores durante as entrevistas realizadas.

Segundo a literatura, muitos professores não utilizam uma abordagem em si, e sim, elementos de algumas abordagens, que consideram adequados para sua prática docente. Essa afirmação fica evidente na fala de P2:

[...] pra ser bem sincera contigo, eu não gosto de nenhuma abordagem em si pra trabalhar. [...] Porque eu acho que cada uma delas tem um pouquinho de coisa boa, nem todas são completas, nenhuma é completa pra mim, mas nenhuma é ruim. Então, eu puxo um pouquinho de cada uma [...] E na minha graduação foi muito mal dada essa parte [...]. Então eu não tive um ensino muito apropriado das abordagens. (P2)

Da formação inicial espera-se que o professor possa receber os conhecimentos necessários para sua atuação como professor, independente do componente curricular. As práticas vivenciadas durante a formação inicial, isto é, as aulas frequentadas e as metodologias visualizadas na formação inicial podem dar suporte para a atuação docente em Educação Física. Entretanto, nem sempre esta formação inicial contribui de fato para a atuação de professores nas escolas de educação básica. E assim constituímos nossa segunda categoria, “a formação” que deve ser buscada para além do curso de licenciatura.

Nesse sentido, P1 comenta que a preparação recebida na formação inicial lhe deu segurança para ser uma técnica de vôlei ou futebol em alguma academia, por exemplo, e não lhe forneceu preparação para trabalhar em escolas. Embora teve diversas disciplinas relacionadas à educação, o enfoque se mantinha relacionado à saúde, à atividade física e ao rendimento.

Enfatiza também que sentiu bastante dificuldade quando iniciou sua carreira no magistério, pois foi usar o que aprendeu na graduação e não levava em consideração o que o aluno tinha para mostrar. Porém, com o tempo, percebeu que precisava

“mudar tuas abordagens de como, quais objetivos que tu quer atingir com a tua disciplina. Não era os mesmos objetivos que tinha na faculdade” (P1).

A formação inicial de P2, que é mais recente do que a dos demais professores entrevistados, também indica lacunas na preparação para atuação como professora de Educação Física. A professora ressalta que teve aulas muito boas na formação inicial, como por exemplo, o estágio com a etapa da EJA. Em contrapartida, destaca que o ensino de alguns esportes deixou severas lacunas que a deixam insegura para

trabalhar com tal conteúdo, mesmo depois de sete anos de exercício da docência na educação básica.

Entretanto, a maior dificuldade evidenciada por P2 se refere à divisão dos conteúdos ao longo dos anos de ensino, ou seja, quais assuntos devem ser trabalhados ao longo das etapas de ensino da educação básica. Para superar esta dificuldade, os professores de Educação Física da escola de P2 se reúnem e fazem uma divisão dos assuntos e conteúdos de acordo com a experiência de cada um.

E para P3, a formação inicial foi mais teórica e também não ofereceu preparação suficiente para atuar como professora de Educação Física na escola. E enfatiza que atualmente tem segurança em trabalhar no ambiente escolar, a qual foi adquirida ao longo da sua atuação docente, na prática docente do dia a dia.

Já P4 evidencia que teve ótimos professores na graduação e entende que cabe também ao professor em formação inicial buscar os subsídios necessários como parte da preparação para atuar como professor de Educação Física. e acrescenta: “[...] logo que eu me formei, assim, eu buscava muito curso, me reciclava. E a gente vai vendo que tu tá sempre aprendendo” (P4).

Embora tenha afirmado que tenha deixado de frequentar diversificados cursos como fazia no início da carreira, o P4 evidencia que aproveita todas as oportunidades de aprendizagem que lhe estão acessíveis. Um exemplo disso, segundo o professor, é a vinda de estudantes de licenciatura de Educação Física em busca de estágio ou como bolsistas de iniciação à docência. P4 classifica as intenções com esses estudantes como oportunidades de aprendizagem, pois, eles sempre

[...] vem com coisas novas, ele vem, sabe, cheio de gás. Aquilo que tu era. Aí tu te vê, naquele estagiário, te vê como tu era no início. E te dá, sabe, uma injeção, às vezes assim te dá um "up" pra ti poder seguir, porque senão, olha, dá vontade às vezes de desistir né (P4).

E P6 entende que a essência da formação inicial está no próprio nome dela, uma vez que é inicial, sempre contribui bastante e, obviamente, não pode dar conta de preparar totalmente o aluno para a atuação docente. Como principais lacunas, ela identifica a compartimentação da teoria e da prática e a falta de diálogo sobre as práticas vivenciadas. Ressalta também que as lacunas são percebidas, geralmente, ao longo dos anos durante a atuação profissional.

Outro questionamento realizado para os professores foi a respeito dos elementos presentes no Projeto Político Pedagógico (PPP) que são utilizados pelos professores para planejar e desenvolver suas aulas. A partir desses elementos que dão base para o trabalho do professor de Educação Física, verbalizados por eles,

elaboramos a terceira categoria: “elementos do PPP”.

Para esta questão, pudemos perceber nas falas dos professores os seguintes elementos:

 o respeito pelo ser humano;

 o respeito pelas regras;

 a socialização;

 a participação;

 o envolvimento;

 o respeito às diferenças

 a reflexão crítica do aluno;

 a autonomia do aluno;

 a interação com o outro;

 a honestidade;

 a ética; e

 o conhecimento sobre o corpo.

No caso do PPP da escola da P1 e da P2, ele também contém os planos de estudo que foram elaborados em conjunto pelos professores de Educação Física da escola e que servem para dar um norte a esses professores e embasar suas práticas. De acordo com a fala de um dos sujeitos da pesquisa:

[...] E, tem uma parte do PPP que é os planos de estudos que eu e as profes de Educação Física nós criamos juntas. Então a gente segue pra dar continuidade, porque, por exemplo, uma [professora] é do fundamental, outra é do médio e outra é da EJA. [...] o aluno veio do oitavo pro nono, eu já sei o que ele teve no oitavo, porque a profe seguiu o planos de estudo, então eu vou trabalhar isso no nono de acordo com o plano de estudo. [...] Então a gente fez uma prévia organização que vai evoluindo, digamos assim. Ah, ela deu vôlei no oitavo ano, mas ela deu um vôlei mais básico, com as regras básicas, agora eu posso aprofundar mais as regras, posso aprofundar mais alguns detalhes né, entrar na tática. Então a gente tem um plano que a gente segue. Isso a gente tem junto do PPP. (P2)

Esses planos de ensino são resultado de um esforço coletivo para superar uma das lacunas da formação inicial, que é a capacitação para estabelecer uma sequência adequada dos conteúdos de ensino. Isso acaba por refletir-se em uma característica do componente curricular e na extensa diversidade de sequências encontradas nos planos de ensino.

6.2 SELEÇÃO DE CONTEÚDOS E ORGANIZAÇÃO DE PROGRAMAÇÕES