• Nenhum resultado encontrado

Prestações da assistência social

ASSISTÊNCIA SOCIAL: DIREITO DO CIDADÃO E DEVER DO ESTADO

3.3 Prestações da assistência social

São dois os tipos de prestações para fazer frente às necessidades sociais: os serviços e os benefícios.

Os serviços assistenciais são atividades continuadas que se destinam à melhoria de vida da população, visando essencialmente ao atendimento das necessidades básicas por meio da promoção e execução de ações assistenciais por parte do Estado:

Nesta esteira, o Estado deverá patrocinar programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não-governamentais, obedecidos os critérios de aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; de criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.219

Ainda quanto aos moradores de rua, deverá o Estado promover a sua reabilitação e inclusão social, assegurando-lhes meios de alcançar melhores condições de vida.

Por sua vez, os benefícios constituem-se em prestações de natureza eminentemente pecuniária, que se classificam em benefícios de prestação continuada ou benefícios eventuais.

3.3.1 O Benefício de Prestação Continuada da assistência social

O Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC-LOAS), previsto no artigo 20 da Lei n° 8.742/93 (LOAS), é um benefício da assistência social, integrante do Sistema Único da Assistência Social – SUAS, pago pelo Governo Federal, cuja operacionalização do reconhecimento do direito é do Instituto

Nacional do Seguro Social – INSS e assegurado por lei, e permite o acesso de idosos e pessoas com deficiência às condições mínimas de uma vida digna.220

A Medida Provisória nº 1.259/96 determinou a transferência deste benefício da esfera da previdência (contributiva) para a assistência social, e o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) ampliou as possibilidades de sua concesão para os idosos, bem como o Decreto nº 3.298/99 o fez para as pessoas com deficiência física.

Os beneficiários da prestação continuada são a pessoa idosa e a pessoa com deficiência física. No caso do Benefício de Prestação Continuada existem critérios específicos para a pessoa idosa e pessoa com deficiência. Mas para acesso a este benefício não é exigida qualquer contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, além dos critérios de concessão. Por isso mesmo não pode ser confundido com os benefícios da Previdência Social.

Tal informação caracteriza a diferença entre os demais benefícios da assistência social e as aposentadorias ou pensões que são pagas pelo INSS.

Está previsto na Constituição Federal de 1988, foi regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social e reafirmado no Estatuto do Idoso.

Consiste no repasse direto pelo Governo Federal de um salário mínimo mensal ao idoso (com 65 anos ou mais) ou à pessoa com deficiência que comprove incapacidade para a vida independente e para o trabalho. É um benefício sem condicionalidades, pois se refere ao público "excluído" do sistema previdenciário.

220 Referido artigo foi impugnado pela Ação Declaratória de Inconstitucionalidade de nº 1.232-1/DF,

sob o argumento de limitar e restringir o direito garantido pela norma constitucional (artigo 203, Inciso V da CF) da prestação da assistência social a quem dela necessitar, independentemente de contrubuição, garantindo um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência, que comprove não possuir meios de própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; condicionada pela lei esta incapacidade de prover o próprio sustento quando o recebimento de renda mensal per capita for inferior a 1/4 do salário mínimo. A ADIN foi julgada improcedente por maioria de votos, com base no entendimento de que a Constituição prevê que lei regulará a concesão destes benefícios. Destaque para o voto do Ministro Ilmar Galvão que entendeu pelo provimento parcial da Ação Direta de Inconstitucionalidade, a fim de ser proclamada a interpretação conforme a Constituição, sem, no entanto, excluir a possibilidade de serem comprovados outros casos de efetiva falta de meios para que o portador de deficiência possa prover a própria manutenção ou tê-la provida

por sua família. Informações no site do Supremo Tribunal Federal:

http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?numero=1232&classe=ADI, acesso em 28/01/2011.

Idosos e pessoas com deficiência devem tão somente comprovar a não condição de garantia da sua própria subsistência ou de tê-la garantida pela família.

A pessoa idosa deverá comprovar que possui sessenta e cinco anos de idade ou mais, e também que não recebe qualquer benefício previdenciário, ou de outro regime de previdência e ainda que a renda mensal familiar “per capita” seja inferior a um quarto do salário mínimo vigente.

A pessoa com deficiência deverá comprovar que a renda mensal do grupo familiar “per capita” seja inferior a um quarto do salário mínimo e deverá também passar por avaliação para comprovar que a sua deficiência o incapacita para a vida independente e para o trabalho (esta avaliação é realizada pelo Serviço Social e pela Perícia Médica do INSS).

Em ambos os casos, para o cálculo da renda familiar é considerado o número de pessoas que vivem na mesma casa, assim entendido: o requerente do benefício, o cônjuge ou companheiro, o filho não emancipado de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou inválido, os pais e irmãos não emancipados, os menores de vinte e um anos e inválidos. O enteado e menor tutelado equiparam-se a filho mediante a comprovação de dependência econômica e desde que não possua bens suficientes para o próprio sustento e educação.

Sua gestão é feita pelo Ministério do Desenvolvimento Social, o órgão gestor federal responsável pela Política de Assistência Social e sua operacionalização é realizada pelo Instituto Nacional de Seguro Social – INSS.

Segundo a Lei Orgânica da Assistência Social, o benefício deve passar por um processo de revisão a cada dois anos, para que seja verificada a permanência ou não das condições que lhe deram origem.

O benefício deixará de ser pago quando houver superação das condições que deram origem à concessão do benefício ou pelo falecimento do beneficiário. O benefício assistencial é intransferível e, portanto, não gera pensão aos dependentes.

3.3.2 Os benefícios eventuais

Os benefícios eventuais nas modalidades de auxílio natalidade e funeral estão previstos no artigo 22 da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS: “Entende-se por benefícios eventuais aqueles que visam ao pagamento de auxílio por natalidade ou por morte às famílias cuja renda mensal “per capita” seja inferior a um quarto do salário mínimo.”

Caracterizam-se por um único pagamento, diferentemente do benefício continuado, sendo uma modalidade de provisão de proteção social básica, de caráter suplementar, temporário e não contributivo, e são nomeados de auxílio- natalidade e auxílio-funeral. Como observa Carlos Simões:

Destina-se aos cidadãos e família com impossibilidade de arcar, por conta própria, com o enfrentamento de contingências sociais, cuja ocorrência provoque riscos e fragiliza a manutenção do indivíduo, a unidade familiar e a sobrevivência de seus membros.221

A definição de família em situação de carência é dada pelos mesmos critérios de renda aplicáveis ao benefício de Prestação Continuada, admitindo-se, no entanto, expressamente, outros critérios que não apenas o de renda per capita ser de até um quarto do salário mínimo, seguindo assim corrente jurisprudencial que tem relativizado essa quantificação, por meio da análise da situação peculiar do beneficiário caso a caso.

O auxílio natalidade tem por finalidade a redução da vulnerabilidade provocada pelo nascimento de um membro da família, cujo alcance deve ser definido – pelos municípios – considerando dentre outros fatores: (i) a atenção necessária ao nascituro, (ii) o apoio à mãe, no caso de morte do recém-nascido, e (iii) o apoio à família no caso de morte da mãe.

De forma semelhante, o auxílio funeral tem a finalidade de diminuir o golpe provocado pela morte de um membro da família, e constitui-se por meio do custeio das despesas com urna funerária, velório, transporte e sepultamento, mas não apenas: constitui-se também no custeio das necessidades urgentes da família fragilizada, no caso da perda de um de seus provedores.

A concessão dos benefícios eventuais de auxílio natalidade e funeral foi regulamentadas pela Resolução n.° 212/06 do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, que propõe critérios orientadores. A regulamentação deve ser realizada por meio de resolução do Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS, que deverá ser acompanhada de devida previsão orçamentária na Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e na Lei Orçamentária Anual – LOA, para garantir os recursos necessários.

Já tendo visto quais são os principais direitos assegurados pela Assistência, caberá analisar de que forma são viabilizados, a fim de garantir a efetividade dos direitos sociais fundamentais aos cidadãos.

CAPÍTULO 4

A ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE VIABILIZAÇÃO