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Prestidigitação: visibilidades e fantasmagorias

2.3 As exibições dos divertimentos ópticos

2.3.1 Prestidigitação: visibilidades e fantasmagorias

Além das exibições de vistas e cenas históricas, os espetáculos de variedades, sobretudo os de ilusionismo, que se utilizavam dos dispositivos, atraíam o público adulto e infantil. O espetáculo de prestidigitação de um certo Mr. Goodison anunciado nos jornais em 1870 pode servir de exemplo emblemático. O “professor Goodison”, como o prestidigitador se intitulava no anúncio, fez três apresentações no Theatro São Pedro de Alcântara28, nos dias 20 e 27 de setembro e 4 de outubro. Os anúncios do espetáculo, entretanto, não se limitaram aos dias das exibições. Uma seqüência de anúncios, quase uma

28 Conforme vimos, o Teatro São Pedro de Alcântara localizava-se na Praça Tiradentes, no mesmo local onde

hoje se encontra o teatro João Caetano (GERSON, 2000). Era o principal teatro da Corte, onde se reunia toda a elite fluminense.

campanha publicitária, preparava a platéia com antecedência para as exibições ilusionistas. O primeiro anúncio verificado, 15 dias antes das exibições, em caráter mais geral, informava: “O célebre ventriloquista e prestidigitador Goodson já chegou – Brevemente apparecerá!” (Jornal do Commercio, 5 de set., 1870, p. 4). Dois dias depois a notícia retornava: “Prestidigitação. Brevemente. As noites fantásticas do professor Goodison. Ventriloquismo. Prestidigitação. Magia hydraulica de pantomima chineza.” (Jornal do Commercio, 7 set., 1870, p. 4).

À medida que se aproximava o dia da apresentação os anúncios iam tornando-se mais detalhados:

Theatro São Pedro de Alcântara. Terça, 20/09 de 1870. Noites fantásticas do professor Goodison. Prestidigitação, mágica, ventriloquismo. Pantomima fantasmagórica. Jogos de equilíbrio, etc, etc, etc. [sic]. Goodison, cujos inimitáveis trabalhos neste gênero têm sido recebidos com enthusiasmo nos principaes theatros da Europa, Estados Unidos, México e America Central, tem a honra de annunciar a este respeitável público a sua estréa no dia acima indicado, no qual publicará o variado programma desse espetáculo fantástico. Preços: Camarotes de 1ª ordem, com 5 entradas 12$000 (...); cadeiras numeradas 3$500 (...); Entrada geral 1$000. Recebem-se desde já encommendas para camarotes e cadeiras numeradas nas casas dos Srs. Fellipponi & Tornaghi29, rua do Ouvidor, e Ao Grande Mágico30, na mesma rua (Jornal do Commercio, 16 de set., 1870, p.4).

Mencionar que o espetáculo fora bem recebido nos teatros da Europa e dos Estados Unidos era importante e usual, pois tudo o que vinha destes grandes centros era valorizado pela elite. Afinal, tratava-se de um momento ‘civilizatório’ do Império. Cabe ressaltar a menção às apresentações no México e América Central, demonstrando a expansão do mercado das exibições. Os preços, variando de 3$500 a 1$000 réis por pessoa, atendiam a um variado público (das classes mais altas, porém) que podia pagar pelo espetáculo31. Aqueles que podiam pagar mais compravam os ingressos com antecedência. As casas que ofereciam os serviços de venda antecipada ficavam na Rua do Ouvidor (rua de nobre comércio), indicando assim o tipo de público a que se destinava estes ingressos.

29 Casa de impressão e venda de músicas. (GERSON, 2000:46). Segundo Alencastro (1998:51), os dois

sócios italianos eram editores de uma revista quinzenal denominada O Brazil Musical e possuíam filiais na Bahia, Pernanbuco, Porto Alegre e Buenos Aires.

30 Comércio de itens variados, inclusive de diversos aparelhos ópticos, conforme veremos no capítulo 4 deste

estudo.

31 O camarote custava 12$000 réis, mas dava direito a 5 entradas, portanto 2$400 réis cada uma. A ‘entrada

geral’ custava mil réis (1$000), preço muito superior ao das exibições dos dispositivos na maior parte dos outros tipos de estabelecimento (300 a 500 rs em média).

O anúncio se repetiu nos dois dias seguintes (Jornal do Commercio, 17 e 18 de set., 1870, p.3 e p.6, respectivamente). Um dia antes da estréia do espetáculo, o texto do anúncio fornecia uma pequena pista do que seria apresentado:

Amanhã terça-feira 20 de setembro de 1870. NOITES FANTÁSTICAS do professor GOODISON. Prestidigitação. Ventriloquismo. Mágica. Pantomima fantasmagórica. Primeira representação do horrível, temível, assombroso drama Pantomímico, fantasmagórico, entitulado EXTRACÇÃO DE DENTES SEM DOR (...).(Jornal do Commercio, 19 set., 1870, p. 4). O Programa completo somente foi apresentado no anúncio veiculado no próprio dia da exibição. Conformava-se ao formato já conhecido das óperas e dramas, mas aproximava-se também do tipo de espetáculo de variedades que a esta época já estava popularizado: sucessivos atos, abertos por uma orquestra e intercalados por intervalos, apresentavam diversos esquetes, pequenas historietas cômicas e/ou dramáticas. Prestidigitação, ventriloquismo e ilusionismo eram apresentados na ‘noite fantástica’ que, avisava o anúncio, teria a presença das majestades Imperiais, o que certamente conferia um status elevado ao espetáculo. A ênfase do programa, que era anunciado com muitos adjetivos (“magníficas scenas” etc.) ficava para o terceiro e último Ato, onde seriam apresentados – “pela primeira vez neste Império” - os efeitos da óptica e da física por meio de uma encenação intitulada O Repuxo Mágico das Fadas. Segundo o texto do anúncio, o quadro “de mais maravilhoso efeito”, foi apresentado e “causou a maior sensação em Paris, Londres, Viena, Berlim e Nova York”. Ao final do texto o ‘Sr. Goodison’ chamava a atenção para o quadro, enfatizando que não se tratava apenas de um entretenimento que buscava mexer com a imaginação do público, mas de efeitos ópticos: “os olhos e a imaginação” dos espectadores não resistirão ao “verdadeiro prodígio operado pela vareta encantada de uma fada”. No rodapé do anúncio, uma nota informava: “N.B. A luz electrica com aparelho aperfeiçoado é fornecida pela Casa de João Manoel Fernandes Braga – Largo do Paço” (Jornal do Commercio, 20 set. 1870, p.4).

A eletricidade chegara na Corte fazia pouco tempo e eram poucas as casas comerciais que ofereciam aparelhos desse tipo. Dessa forma, nem tudo saía como se esperava. Conforme os anúncios seguintes (Jornal do Commercio, 21 a 26 de setembro de 1870), a segunda exibição do ‘professor Goodison’, prevista para o dia 22 de setembro, teve que ser adiada, por conta de um início de incêndio ocorrido no espetáculo de estréia que avariou alguns dos aparelhos utilizados, e só aconteceu em 27 de setembro: “O espetáculo anunciado (...) fica transferido até que se possão organizar os apparelhos

electricos que ficarão [sic] transtornados com o acontecimento da noite de ante-hontem”. (Jornal do Commercio, 22 de set., 1870, p.6).

O incidente prejudicou os efeitos ‘fantásticos’ planejados para o espetáculo de estréia e o prestidigitador, a fim de garantir público na apresentação seguinte, foi obrigado a se explicar publicamente:

AVISO - O effeito produzido pelo REPUXO MÁGICO, na primeira noite, não foi como era de esperar, por terem sido desmanteladas (?) algumas pilhas de electricidade, em virtude do incêndio, que ia se manifestando no Theatro. Removidos estes transtornos, acredita M. Goodison que desta vez o effeito será satisfactório e o público apreciará uma (?) bella sorte na extensão da palavra (Jornal do Commercio, 25 set., 1870, p.5).

No mesmo sentido de garantir que o incidente não atrapalharia o sucesso previsto para as exibições, o anúncio do dia seguinte veiculou uma série de comentários dos críticos de outros jornais da Corte.

Opinião dos distinctos jornalistas fluminenses sobre o trabalho do sr. Goodison: (...)

“Todo aquelle mundo voltou para casa um pouco vexado com o repuxo Mágico. Mas cumpre declarar que o prestidigitador não teve a menor culpa no insucesso do trabalho, e é de crer que terça-feira próxima a luz electrica não falhe, e a sorpresa seja admirável. Eu assisti ao ensaio ante-hontem no Theatro São Pedro, e declaro-lhes que deslumbrou-me a formosura daquelle panorama fantástico e brilhante! (Folhetim do Diário do Rio, do Dr. Guimarães Júnior)” (Jornal do Commercio, 26 set., 1870, p.4)

O comentário deste crítico, em especial, evidencia o desejo do público de presenciar as ‘surpresas’ ópticas, muito mais do que os enredos das encenações que faziam parte das apresentações. O que estava em jogo eram os efeitos ‘fantásticos’, o ilusionismo.

A reflexão de Gunning (1995) sobre o espectador do cinema dos primeiros tempos pode ser recuperada em nosso estudo, pois o ‘primeiro cinema’, quando vários quadros eram exibidos, muitas vezes em ordem aleatória, combinada pelo exibidor na hora da projeção (ao contrário do cinema narrativo, instaurado posteriormente, a partir de Griffith), se aproxima bastante das experiências visuais dos aparelhos ópticos tratados neste estudo.

Gunning (1995:53) contextualiza as primeiras exibições de filmes no “auge de um período de intenso desenvolvimento dos entretenimentos visuais” comparando o ‘realismo’ das imagens exibidas, assim como ‘seus efeitos fantásticos’, ao ilusionismo do teatro de mágicas (como, por exemplo, o de Méliés), entretenimento bastante valorizado na época, e seu jogo de cena, caracterizado como um trompe l’oeil. Segundo ele,

A tarefa das ilusões encenadas no século XIX consistia em tornar visível algo que poderia não existir, em conduzir o jogo das aparências de modo a confundir as expectativas da lógica e da experiência. (...) O teatro de mágicas operava de forma a tornar visível o que era impossível de acreditar. Seu poder visual consistia num jogo de trompe l’oeil de dar e retirar (...). Para Gunning (1995:53), este ‘jogo’ pode ser traduzido por – “Eu sei, mas mesmo assim, vejo”. Ou seja, se por um lado, as artes ilusionistas do século XIX (o cinema dos primeiros tempos e os entretenimentos visuais), exploravam a essência daquilo que era ‘inacreditável’, por outro, mantinham o foco no fato de que o que era visto eram ‘apenas ilusões’. Nesse sentido, podemos dizer que, tanto os aparelhos e dispositivos ópticos, como o ‘primeiro cinema’, exploravam os dois aspectos que, a primeira vista, poderiam parecer paradoxais: realidade e ilusão, visibilidade e fantasmagoria.

Nesse sentido, era preciso esclarecer nos anúncios que precediam as exibições, no programa do espetáculo e mesmo durante as apresentações que se tratava de efeitos da óptica e/ou da física os fenômenos que seriam apreciados. O exibidor trabalhava como um showman, que durante a exibição dos aparelhos (ou, posteriormente, dos primeiros filmes), juntamente com a projeção das imagens ia conversando com a platéia.

Gunning (1995:55) ressalta que não só cabia ao showman fazer o público ‘compreender’ a seqüência de imagens a ser vista, mas, principalmente, preparar “a platéia” para estas imagens, “criando uma atmosfera dramática”. Um monólogo precedendo a exibição, por exemplo, poderia salientar as novas e surpreendentes capacidades da atração prestes a aparecer. No caso do Mr. Goodison, por exemplo, isto era feito também nos anúncios e programas que antecediam o espetáculo.

Essa ‘preparação’, do espectador, não servia apenas para um ‘melhor’ entendimento das seqüências de imagens ou encenações e ‘mágicas’ que viriam a seguir, mas funcionava como uma forma de cultivar o desejo por estas imagens, de criar um certo suspense, uma expectativa, assim como de fomentar o sentimento, que Gunning (1995) chama de ‘espanto’, e que podemos também chamar de ‘maravilhamento’.

Na palavras de Gunning (1995:55)

Como um camelô de feira, ele [showman] cria uma atmosfera de expectativa, uma curiosidade fermentada com ansiedade, ao salientar as novas e surpreendentes capacidades da atração prestes a aparecer. Essa sensação de expectativa, aguçada pela intensificação de um simples momento de transformação aumenta o surpreendente impacto das primeiras exibições.

Depois de sanado o problema com a eletricidade, o professor Goodison seguiu com mais duas apresentações. Os programas foram publicados no Jornal do Commercio no dia

dos espetáculos com algumas variações. Novos quadros foram inseridos e a ordem das apresentações também foi modificada. O único quadro que se manteve em todas as apresentações foi o Repuxo mágico das fadas. Tudo isso era ressaltado nos anúncios. Dessa forma, a mesma pessoa poderia retornar nos outros dias para ver novas esquetes e mágicas visuais. As exibições do ‘professor’ fizeram bastante sucesso, sobretudo com as crianças, conforme indica um trecho do programa que fora publicado um dia antes da última exibição: “O grande acto de sortes novas concluirá com a engraçada sorte intitulada A CHUVA DE DOCES que na última apresentação agradou tanto às crianças, que embelezavão com suas presenças e alegravão com seus gritos e risos o theatro” (Jornal do Commercio, 3 out. 1870, p.6).

Mas o espetáculo de prestidigitação do ‘professor Goodison’ não foi o primeiro do gênero na Corte fluminense a encantar a aristocracia e provocar “gritos e risos” na platéia. Segundo Santos (1941:258), em 1852,

fazia sucesso na Corte Herr Alexander, celebre nigromante que por mais de uma vez divertira os Imperadores no teatro de São Januário. Na noite de quinta-feira e 20 de maio de 1852, foi ele fazer mágicas no Paço de Petrópolis. (...) Na forma do costume o celebre mágico causou admiração32.

Alguns anos depois, um espetáculo de mesmo formato daquele encenado por ‘Mr. Goodison’ (consecutivos Atos, precedidos de uma ‘ouvertura’ pela orquestra) apresentando “prestidigitação, nigromancia, cartomancia, mecânica e physica divertida por Mr.Gilbert” (que se intulava “Discípulo do theatro comte de Paris”) era anunciado no Jornal do Commercio em fins de setembro de 1856 como “NOITES MÁGICAS (soirées enchantées)”. (Jornal do Commercio, 28 set. 1856, p. 4)

Da mesma forma que nas apresentações de Goodison, o anúncio de Mr. Gilbert ressaltava a presença das majestades imperiais e oferecia uma gama de ingressos com variados preços de acordo com os lugares ocupados no teatro: camarotes, cadeiras ou geral. Mr. Gilbert, entretanto, além dos quadros de prestidigitação e divertimentos mecânicos e da física, exibia um “admirável anão Indio-Jessuc-Bahadour, natural de Lucknow, idade 20 annos, com 31 pollegadas de altura trazido da India por M.E. Rongeiron, seu conductor”. A atração, exótica, estava de acordo com o repertório temático apreciado no século XIX nas feiras e apresentações de variedades.

32 Pinho (1970:147) também menciona o prestidigitador, que teria se apresentado durante um baile realizado

De acordo com a análise de Gunning (1995), a temática apresentada pelos dispositivos e pelo primeiro cinema, educativa e quase enciclopédica, de forma a mapear o mundo visível (e consumível), se desenvolve paralelamente a uma outra temática: a das imagens que causam ‘sensações’ ou ‘emoções’ diversas, que podem ser caracterizadas, por exemplo, como ‘aberrativas’ (como um elefante sendo eletrocutado), ou como ‘violentas’ (uma locomotiva se aproximando do espectador em alta velocidade). Nas palavras de Gunning (1995:58), esse ‘primeiro cinema’ compreendia o mundo como

uma série de atrações (...) e os catálogos das primeiras produtoras de filmes apresenta[vam] um levantamento quase enciclopédico dessa nova topologia hipervisível, que cobre dos panoramas de paisagens às microfotografias, de cenas domésticas à decapitações de prisioneiros e à eletrocução de elefantes33.

No final do mesmo ano Mr Gilbert apareceu com uma nova exibição de prestigitação, - um “Gabinete de Ilusão” - desta vez com ‘passáros instruídos’ exibidos num ‘estabelecimento’ montado provisoriamente para o espetáculo. Apresentou-se em dezembro e depois em março. O sucesso de público refletia-se, por exemplo, numa nota publicada em jornal por alguns admiradores do ‘mágico’:

(...) Tendo o hábil prestidigitador M. Gilbert, proprietário dos pássaros instruídos, fechado o seu gabinete da rua do Cano, a fim de retirar-se para Europa, rogamos a S.S. haja de dar antes de partir algumas representações em alguns dos theatros da côrte, onde poderá ser devidamente apreciado, e estarmos certos que o público ficará satisfeito com sua destreza e habilidade. Nos trabalhos dos pássaros instruídos sobretudo o espectador admira-se da grande paciência que seria necessária para ensinar os mesmos pássaros. Esperamos que M. Gilbert satisfará ao nosso desejo e ao das pessoas que ainda não virão os seus pássaros. Os apreciadores. (Jornal do Commercio, 20 março, 1857, p. 2).

As apresentações de prestidigitações não eram feitas apenas por estrangeiros visitantes. Em 1859 o prestidigitador Júlio dos Santos Pereira, em parceria com Mmme. Deveneaux (ou Alexandrina Deveaux) apresentava-se no Teatro São Januário com “trabalhos de prestidigitação, mágica e mysteriosos efeitos das variações electricas” e, “variado divertimento de apparentes jogos physicos, peças mecânicas, chimica recreativa”. O espetáculo oferecia ainda o “novo e apurado systema das aparições polioramicas” entitulado “o Megascope Egípcio ou as Vistas Dissolutivas”. (Jornal do Commercio, 12 e 19 mar., 1859, p. 4). Ressalta-se ainda, uma apresentação do prestidigitador brasileiro, na

mesma semana, no Teatro Lyrico Fluminense, em “benefício da Sociedade Propagadora das Bellas artes”. (Jornal do Commercio, 24 mar., 1860, p. 1).

Um pouco antes, em 1856, um outro prestidigitador, Agostinho Abella Malta, apresentava-se com um espetáculo de “Física divertida e Mágica aparente” numa casa em Botafogo, na Rua São clemente, 17, preparada como se fosse um teatro. O bairro, na época, era habitado pela ascendente burguesia e a preparação de uma residência como um teatro para realizar o espetáculo era usual. Segundo o anúncio, Malta já havia se apresentado em 1852 nos teatros São Francisco e São Januário e de lá partira para o “interior da província do Rio de Janeiro e (...) [os] de Minas e São Paulo (...) tendo por toda a parte recebido immensos applausos durante perto de quatro annos” (Jornal do Commercio, 25 dez., 1856, p. 3). Ressalta-se que a ampliação do público para os divertimentos não dependia mais só da Corte fluminense. Ao contrário, o mercado de hábitos de consumo forjado na Cidade, centro do Império, era modelo a ser seguido pelo o resto do país.

Em 1860, Agostinho Abella volta a se apresentar na Cidade, num novo teatro que surgira na Gambôa, com “um novo e variado espectáculo de mágicas apparentes, ou

physica recreativa”. [grifo nosso] O programa divulgado no Jornal do Commercio (06 e

21 de jun., 1860, p. 4), alertava sobre a “scena da suspensão aérea, da qual torna-se admirável a sua execução em toda a parte do mundo que se tem apresentado, ver para crer”. [grifo nosso] Assim como nos outros espetáculos de prestidigitação, a ‘mágica’ era ‘aparente’, tanto no sentido de que se tornava ‘visível’, quanto no sentido ‘fictício’, contendo em si mesmo ‘visibilidades’ e ‘fantasmagorias’, era ‘ver para crer’; e a ‘Física’ era divertida. Uma conjunção entre ciência e divertimento que também fazia parte da modernização do olhar fluminense. O prestidigitador fez ainda novas apresentações em 1861.