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2. E NQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1. Obesidade infantil

2.1.4. Prevenção da obesidade infantil

A base da prevenção da obesidade deverá assentar sobretudo em planos de intervenção para a promoção de estilos de vida mais saudáveis, nomeadamente no âmbito do PNCO (DGS, 2005a). Jimenez-Cruz, Bacardí-Gascon e Pérez-Morales (2004) estudaram a eficácia dos programas de prevenção e controlo da obesidade infantil a nível escolar e familiar, de onde destacam a importância de uma relação de proximidade entre serviços de saúde e escolas, bem como o envolvimento da família. A base de toda esta intervenção deve ser, sem dúvida, o conceito de promoção da saúde.

A Promoção da Saúde é o processo que visa aumentar a capacidade dos indivíduos e das comunidades para controlarem a sua saúde, no sentido de a melhorar. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, o indivíduo ou o grupo devem estar aptos a identificar e realizar as suas aspirações, a satisfazer as suas necessidades e a modificar ou adaptar-se ao meio. (Carta de Ottawa, 1986, p.1)

Tendo em conta esta definição, a promoção para a saúde parece ser o melhor caminho no sentido da prevenção da obesidade infantil.

Lobstein et al. (2004) acreditam que a prevenção é a única solução realista para o problema. Programas de prevenção contra a obesidade infantil deverão começar, segundo os autores, por identificar as crianças em maior risco, tendo em atenção que a sinalização das crianças deve ser realizada de forma discreta para que estas não sofram o estigma de serem diferentes. Esta sinalização será apenas uma forma de dedicar especial atenção aos casos de doença instalada,

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uma vez que os programas devem ser aplicados a toda a população, já que o sentido é prevenir.

A base das intervenções deverá ser não só a escola, as intervenções deverão ser direcionadas também à família. Os mesmos autores referem que pequenos programas de intervenção encorajadores de hábitos alimentares saudáveis e prática de exercício centrados na família/escola têm revelado resultados positivos, mas que no entanto têm que ser considerados resultados mínimos se comparados com a dimensão do problema.

Para que os resultados fossem sentidos a larga escala, a implementação de programas de intervenção contra a obesidade infantil teria que ser acompanhada de intervenções a grande escala, como por exemplo, a colaboração dos mass-media, das indústrias dos produtores alimentares, das câmaras municipais (proporcionando por exemplo programas de atividade física extra-curriculares), autoridades alimentares (localização de snack-bares junto das escolas), políticos e legisladores.

Segundo Lobstein et al. (2004), os programas de intervenção contra a obesidade infantil devem ter em conta as várias dimensões de um ambiente obesogénico descritas na Figura 1.

Adaptado de: Lobstein et al., 2004

Figura 1. Oportunidades para influenciar o ambiente da criança

politicas sociais e legislação nacional práticas comerciais e organizacionais planeamento e estratégias regionais Comunidade e tradições culturais Práticas da escola e influência dos pares Família auto- controlo Criança

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A IOTF, que colabora diretamente com a OMS no desenvolvimento de planos de intervenção contra a obesidade, no artigo publicado por Lobstein et al. (2004) dá exemplos de prioridades a ter em conta nos planos de ação, sendo elas: providenciar informação clara e consistente nos rótulos dos alimentos; encorajar as companhias alimentares a desenvolver produtos menos ricos em calorias e mais nutritivos para as crianças; desenvolver critérios para campanhas de promoção de alimentação saudável; melhorar a alimentação materna e promover o aleitamento materno; desenhar bairros urbanisticamente apelativos à prática de atividade física; encorajar escolas a promover alimentação saudável e prática de desporto; incentivar profissionais de saúde a participar no desenvolvimento de programas de saúde pública.

Nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) não podemos desprestigiar o momento das consultas de vigilância em que o enfermeiro de família tem uma oportunidade única para proceder à promoção da saúde em contexto individualizado. Daniels et al. (2009) mostram-nos a importância dos ensinos realizados às mães ainda antes do primeiro ano de vida, ou seja, a alimentação inicial da criança (tipo, frequência e quantidade), já que a alimentação inicial é um fator determinante para o desenvolvimento da obesidade na infância.

Os CSP podem então ter um papel primordial na prevenção, através de educação para a saúde sistematizada, no momento das consultas, bem como a monitorização estato-ponderal.

E a mesma estratégia, direcionada aos pais, deverá ir no sentido não apenas de referir tipo, frequência e quantidade de alimentos, mas também de abordar a resposta ao comportamento alimentar das crianças (como por exemplo, a recusa alimentar), as próprias práticas alimentares (parentais), o grau de controlo e responsabilidade dos pais em relação à alimentação dos seus filhos. Ou seja, ir além dos conhecimentos, trabalhando atitudes, crenças e competências.

Scaglioni et al. (2008) emanam recomendações para a prática do comportamento nutricional. Para os autores, a atitude e comportamento parental são centrais no desenvolvimento dos hábitos alimentares das crianças, sendo assim importante dar aos pais determinadas estratégias que os ajudam neste processo, como por exemplo: fornecer informação sobre como se desenvolve um padrão alimentar em contexto familiar; conselhos práticos sobre como influenciar a preferência das crianças por certos alimentos e como promover a aceitação de novas experiências de sabores; explicar os custos de práticas coercivas e dar estratégias mais adequadas; promover o bom exemplo, já que as crianças imitam os adultos, até na

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questão da alimentação; aconselhar a responder adequadamente às necessidades de fome e saciedade da criança, promovendo assim a sua capacidade de auto-regulação; relembrar a sua responsabilidade na escolha dos alimentos para a família; ensinar estratégias para melhorar a qualidade nutricional das refeições (horários das refeições, variedade e qualidade dos nutrientes, quantidade adequada à idade, responsabilidade das crianças para se autorregularem relativamente a fome/saciedade, refeições em família para que funcione a questão da imitação dos hábitos alimentares dos pais, e limitação do tempo de jogos e televisão para menos de duas horas por dia).

Para que os pais sejam competentes no proporcionar de uma vida saudável aos seus filhos é fundamental serem detentores de conhecimentos que lhes forneçam essas mesmas competências. Costa e Silva (2009) realizaram um estudo em que avaliaram os conhecimentos e comportamentos dos pais de crianças entre os seis e dez anos de idade, sobre a obesidade infantil, e verificaram que apenas 12,5% apresentavam um conhecimento mais alargado acerca das causas desta patologia, 80% apresentavam conhecimento de pelo menos uma das consequências e 85% referiram como métodos preventivos a alimentação saudável e a prática de exercício físico e, como tratamento, a alimentação saudável e o aumento da atividade física. Apesar de não podermos generalizar e estender a toda a população portuguesa os resultados de um estudo (Costa & Silva, 2009), realizado com uma amostra de 40 pais de crianças de Ovar, podemos salientar que estes resultados nos dizem que existe um caminho a percorrer no sentido de dotar os pais de conhecimentos e competências que lhes permita proporcionar aos seus filhos um estilo de vida mais saudável e condizente com a necessidade de contrariar os números, já bastante elevados de excesso de peso e obesidade em Portugal.

Birch et al. (2007) salientam que quanto mais precocemente forem realizadas as intervenções melhores serão os resultados, salientando o período pré-escolar como um momento privilegiado para o desenvolvimento de intervenções no âmbitos dos estilos de vida saudáveis.