• Nenhum resultado encontrado

3. M ETODOLOGIA

3.4. Variáveis em estudo

Segundo Fortin et al. (2009), “as variáveis são a unidade de base da investigação. Elas são qualidades, propriedades ou características de pessoas, objetos de situações suscetíveis de mudar ou variar no tempo” (p.171). Para estes autores, não se deve falar em variáveis dependentes e independentes, exceto nos estudos experimentais.

Neste estudo temos como variáveis que podem ser influenciadas: perceção que os pais têm acerca do peso corporal dos filhos; nível de responsabilidade dos pais nas práticas alimentares dos filhos; crenças e atitudes dos pais em relação às práticas alimentares; excesso de peso/ obesidade (IMC percentilado) das crianças.

Como variáveis que podem influenciar, temos: variáveis de atributo (sexo, idade), estabelecimento de ensino, grau académico dos pais, nível de rendimentos familiares, IMC dos pais e idade dos pais.

3.4.1. Operacionalização e categorização das variáveis

Parece-nos importante nesta fase definir os conceitos presentes na questão preliminar de forma a evitar equívocos e resultados ambíguos ou vazios.

O conceito central da questão preliminar é a perceção dos pais e, de forma a esclarecer o conceito, recorremos à definição de perceção segundo o dicionário on-line da Porto-Editora (www.infopedia.pt/lingua-portugues). Provém do Latim perceptione e significa “ato ou efeito de perceber, tomada de conhecimento sensorial de objetos ou de acontecimentos exteriores, noção, conhecimento”; o dicionário define ainda perceção intelectual como “ação de conhecer, pela inteligência ou entendimento, independentemente dos sentidos”. No contexto do nosso estudo pudemos adequar e estabelecer que entendemos por perceção a noção que os

30

pais têm da sua responsabilidade nas práticas alimentares dos filhos, ou seja, se se reconhecem como responsáveis pelas práticas alimentares dos filhos.

Quanto ao conceito de responsabilidade, pudemos recorrer ao mesmo dicionário e defini-la como “obrigação de responder por atos próprios ou alheios, ou por uma coisa confiada” (www.infopedia.pt/lingua-portugues). Neste caso, trata-se de uma situação que tacitamente está confiada aos pais, ou seja, a prática alimentar dos filhos é em parte da conta dos pais.

Neste estudo sempre que nos reportámos ao termo “pais” queremos referir-nos àqueles que exercem o poder paternal, ou seja, aos cuidadores sejam eles os progenitores ou não (estão assim incluídos pais por adoção, família de acolhimento e avós ou outros familiares responsáveis pela educação dos filhos e com os quais co-habitam).

As práticas alimentares foram já bem definidas no enquadramento teórico, bem como o conceito de obesidade e o seu diagnóstico.

Parece-nos também importante referir os conceitos base da escala central a ser utilizada no nosso estudo, o Child Feeding Questionnaire (CFQ), de Birch et al. (2001), designado no nosso estudo de Questionário de Crenças, Atitudes e Práticas na Alimentação Infantil (QCAPAI), que se trata de uma escala de auto-preenchimento para avaliação das crenças, atitudes e práticas alimentares parentais e foi testada para uso em pais de crianças entre os 2 e os 11 anos de idade, ou seja, englobando a idade pré-escolar. A análise fatorial desta escala destaca então sete fatores, aos quais estão associados sete conceitos: monitorização, perceção da responsabilidade, restrição, preocupação, controlo, pressão e recompensa.

As variáveis a ser estudadas foram todas transformadas em classes, de forma a tornar mais coerente o tratamento estatístico e mais correto o seu cruzamento, quando assim se verificou necessário.

A operacionalização e categorização das variáveis de caracterização das crianças e dos progenitores constam da Tabela 1.

31 Tabela 1.

Operacionalização e categorização das variáveis de caracterização da amostra

Variáveis Operacionalização Categorização

Sexo “Caracterização genética e anátomo-fisiológica dos seres humanos”

(Olinto, 1998).

1 – Masculino 2 – Feminino

Idade Período de tempo que decorre desde o nascimento até á data da recolha de dados. Descrita em meses e categorizada em duas classes

1 - 36-56 Meses 2 - 57 - 73 Meses

Tipo de

Estabelecimento de Ensino

Público: “criados e a funcionar na direta dependência da administração pública central e local” (DL nº 147/97, de 11 de junho).

Privado: “funcionem em estabelecimentos de ensino particular ou cooperativo, em instituições públicas de solidariedade social e instituições, sem fins lucrativos, que prossigam atividades no domínio da educação e do ensino” (DL nº 147/97, de 11 de junho).

1 - Público 2 - Privado

Idade dos pais Descrita em anos e categorizada em três classes 1 - ≤25

2 - 26-34 3 - ≥35

Estado civil Conforme registo no cartão de cidadão 1 - Solteiro

2 - Casado 3 - Divorciado 4 - Viúvo 5 – Falecido Residência dos pais DL nº 11/82, de 2 de junho:

Aldeia/Povoação: n.º de eleitores <3000 e menos de 4 dos equipamentos descritos na lei.

Vila: mais de 3000 eleitores e entre 4 e 8 dos equipamentos coletivos descritos na lei.

Cidade: n.º de eleitores >8000 e pelo menos 5 de equipamentos coletivos descritos na lei.

1 - Aldeia 2 - Vila 3 - Cidade

Habilitações literárias dos pais

Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º46/86, de 14 de outubro): 1º Ciclo do ensino básico: 1º - 4º anos

2º Ciclo do ensino básico: 5º - 6º anos 3º Ciclo do ensino básico: 7º - 9º anos Ensino Secundário/profissional: 10º - 12º anos Ensino Superior: Bacharel, licenciado, doutor e mestre

1 - 1º Ciclo 2 - 2º/3º Ciclos 3 - Ensino secundário/ profissional 4 - Ensino superior Grupo profissional dos pais

Classificação Portuguesa das Profissões (INE, 2010):

Grupo 1: Quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros superiores de empresa

Grupo 2: Especialistas das profissões intelectuais Grupo 3: Técnicos e profissionais de níveis intermédios Grupo 4: Pessoal administrativo e similares

Grupo 5: Pessoal dos serviços e vendedores

Grupo 6: Agricultores e pessoal qualificado da agricultura e pescas Grupo 7: Operários, artífices e similares

Grupo 8: operadores de máquinas e de montagens Grupo 9: Trabalhadores não qualificados

1 - Grupo 1 2 - Grupo 2 3 - Grupo 3 4 - Grupo 4 5 - Grupo 5 6 - Grupo 6 7 - Grupo 7 8 - Grupo 8 9 - Grupo 9 Rendimento Familiar

Ordenado mínimo nacional (OMN) (Lei n.º7/2009) 485 € e segundo vencimento mensal por casal

1 - OMN 2 - 2x OMN 3 - 3x OMN 4 - 4x OMN

Apresentamos a operacionalização e categorização em quatro grandes grupos: as variáveis que nos permitem caracterizar a amostra, as variáveis que nos permitem visualizar a história da gestação da criança, as variáveis que podem influenciar e por fim as classes de IMC dos pais e classes de IMC percentilado das crianças em estudo. Para cada variável apresentamos uma definição e a respetiva codificação em categorias.

32

As variáveis que se seguem são respeitantes à história obstétrica e aleitamento (Tabela 2).

Tabela 2.

Operacionalização e categorização das variáveis da história obstétrica e aleitamento

Variáveis Operacionalização Categorização

Diabetes gestacional Intolerância aos hidratos de carbono, de grau variável, que é diagnosticada ou reconhecida pela primeira vez durante a gravidez (American Diabetes Association, 2011)

0 - Não 1 - Sim

Idade gestacional A duração da gestação é medida a partir do primeiro dia do último período menstrual normal. A idade gestacional é expressa em dias ou em semanas completas.

1 - Pré-termo: <37 semanas 2 - Termo: 37-41 semanas 3 - Pós-termo: ≥42 semanas

Peso ao nascer Leve para idade gestacional (LIG): <2,499Kg Adequado à idade gestacional (AIG): 2,500-4,000Kg Grande para idade gestacional (GIG): ≥4,001Kg

1 - LIG 2 - AIG 3 - GIG

Tempo de aleitamento materno

Período de tempo em que o recém-nascido é alimentado exclusivamente com leite materno

1 - Sem aleitamento 2 - ≤3 Meses 3 - 4-6 Meses 4 - 7-12 Meses 5 - ≥13 Meses

Quatro variáveis são relevantes para o nosso estudo, as quais passamos a apresentar: índice de atividade física e hábitos sedentários, higiene do sono, qualidade da alimentação dos pais e perceção do estado nutricional da criança (Tabela 3).

Tabela 3.

Operacionalização e categorização de outras variáveis

Variáveis Operacionalização Categorização

Índice de atividade física e hábitos sedentários

O valor desta variável é obtido do somatório dos indicadores de desporto (duração e frequência da atividade física programada, de brincadeira na rua (duração e frequência) e de tempo em frente ao ecrã (televisão e jogos de vídeo). O resultado deste somatório varia numa escala de 4 a 12, a partir da qual fora definidas 3 classes.

1 - Sedentário (4-6) 2 - Moderado (7-9) 3 - Ativo (10-12)

Higiene do sono Realizado o somatório das horas de sono durante a semana e ao fim-de-semana, o qual se dividiu pelos 7 dias da semana a fim de se obter uma média de horas de sono por dia. Definidas 3 lasses.

1 - Má higiene do sono (<10 horas)

2 - Razoável higiene do sono (10-11 horas)

3 - Boa higiene do sono (>11 horas)

Qualidade da alimentação dos pais

Somatório da perceção do padrão alimentar, com o número diário de refeições e a sensibilidade na seleção dos alimentos. Definidas 3 classes 1 - Pouco saudável (≤ 5) 2 - Razoavelmente saudável (6-10) 3 - Muito saudável (≥ 11) Perceção do estado nutricional da criança

Diferença entre a perceção dos pais daquilo que é a imagem corporal real da criança e o IMC percentilado real. A perceção pode ser menor que IMC real, adequada ou maior que o IMC real

1 - Menor que IMC real (≤-1) 2 - Perceção adequada (0) 3 - Maior que IMC real (≥1)

A escala das crenças, atitudes e práticas alimentares infantis é obtida através das respostas às questões do QCAPAI, do qual se obtêm sete fatores: monitorização, responsabilidade percebida, utilização da restrição, preocupação com o peso da criança, exercer controlo,

33

exercer pressão para comer e utilização da recompensa. Para cada um dos fatores foram definidas classes (Tabela 4).

Tabela 4.

Operacionalização e categorização dos fatores da escala das crenças, atitudes e práticas alimentares infantis

Variáveis Operacionalização Categorização

Fator 1:

Monitorização

Resulta do somatório dos itens 27, 28 e 29 do QCAPAI 0 - 0 – Nenhuma monitorização 1 - 1-4 – Pouca monitorização 2 - 5-8 – Moderada monitorização 3 - ≥9 – Muita monitorização Fator 2: Responsabilidade percebida

Resulta do somatório dos itens 1, 2 e 3 do QCAPAI 0 - 0 – Nenhuma responsabilidade 1 - 1-4 – Pouca responsabilidade 2 - 5-8 – Moderada responsabilidade 3 - ≥9 – Muita responsabilidade Fator 3: Utilização da restrição

Resulta do somatório dos itens 15, 16 e 17 do QCAPAI

0 - 0 –Nenhuma utilização da restrição 1 - 1-4 – Pouca utilização da restrição 2 - 5-8 – Moderada utilização da

restrição

3 - ≥9 – Muita utilização da restrição

Fator 4:

Preocupação com o peso da criança

Resulta do somatório dos itens 12, 13 e 14 do QCAPAI 0 - 0 – Nenhuma preocupação 1 - 1-4 – Pouca preocupação 2 - 5-8 – Moderada preocupação 3 - ≥9 – Muita preocupação Fator 5: Exercer controlo

Resulta do somatório dos itens 18, 21 e 22 do QCAPAI 0 - 0 – Nenhum controlo 1 - 1-4 – Pouco controlo 2 - 5-8 – Moderado controlo 3 - ≥9 – Muito controlo Fator 6:

Exercer pressão para comer

Resulta do somatório dos itens 23, 24, 25 e 26 do QCAPAI 0 - 0 – Nenhuma pressão 1 - 1-6 – Pouca pressão 2 - 7-11 – Moderada pressão 3 - ≥12 – Muita pressão Fator 7: Utilização da recompensa

Resulta do somatório dos itens 19 e 20 do QCAPAI

0 - 0 – Nenhum uso da recompensa 1 - 1-3 – Pouco uso da recompensa 2 - 4-6 – Uso moderado da recompensa 3 - 7-8 – Muito uso da recompensa

A variável central para o nosso estudo é o IMC das crianças percentilado, que foi classificado da forma que se apresenta, após cálculo do IMC simples pelo Índice de Quetelet (Tabela 5).

34 Tabela 5.

Operacionalização e categorização do IMC percentilado das crianças

Variável Operacionalização Categorização

Classes de IMC percentilado

De acordo com as curvas de IMC (2 - 18 anos) representadas no Boletim de Saúde Infantil e Juvenil (DGS, 2005b)

1 = Baixo peso (<5) 2 = Peso normal (≥ 5 <85) 3 = Pré-Obesidade (≥85 <95) 4 = Obesidade (≥95)