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Prevenção das doenças infecto-contagiosas

Respostas eficazes

Ficou provado que várias intervenções de saúde pública são úteis para reduzir a propagação de doenças infecto-contagiosas entre os consumidores de droga, sendo cada vez mais consensual que uma abordagem global à prestação de serviços nesta área tem maiores probabilidades de ser bem sucedida. Historicamente, o debate estava em grande medida centrado na prevenção da infecção pelo HIV entre os consumidores de droga injectada, mas a necessidade de medidas eficazes para refrear a propagação da hepatite tem vindo a ser crescentemente reconhecida, bem como a necessidade de prevenir a propagação de doenças infecto-contagiosas entre os consumidores de droga que não se injectam.

É de salientar que há maiores provas de eficácia em relação à prevenção da infecção por HIV entre os CDI. Um sólido conjunto de dados disponíveis mostra que as intervenções podem ser consideradas eficazes e que o acesso aos diversos tipos de tratamento é um factor de protecção (Farrell et al., 2005; OMS, 2005). Desde meados da década de 90, a resposta europeia tem-se caracterizado por uma oferta crescente de tratamento da toxicodependência (ver capítulo 2 «Resposta aos problemas de droga na Europa») e, globalmente, este parece ter sido um dos elementos que contribuíram para o panorama relativamente animador que se observa na Europa no tocante à propagação epidémica do HIV entre os CDI. O tratamento constitui apenas uma parte da abordagem global à prevenção do HIV. Os restantes elementos incluem várias técnicas de informação, educação e comunicação, o recurso voluntário ao aconselhamento e às análises no domínio das doenças infecto-contagiosas, a vacinação, a distribuição de equipamento de injecção esterilizado e de outros meios profilácticos. Estas medidas, bem como a prestação de assistência médica nos serviços de porta aberta, ou até, por vezes, a nível da rua, podem contribuir para estabelecer ou melhorar a comunicação com os consumidores de droga activos e os seus parceiros sexuais sobre os riscos e a prevenção das consequências sanitárias do consumo de droga.

Um empenhamento geral numa abordagem global não significa que todos estes elementos dos serviços sejam identicamente desenvolvidos ou apoiados a nível nacional.

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Capítulo 7: Doenças infecto-contagiosas e mortes relacionadas com o consumo de droga

Afigura-se, todavia, que está a gerar-se algum consenso. Num inquérito realizado entre os PFN, três em cada quatro inquiridos identificaram os programas de troca de agulhas e seringas, associados aos serviços de aconselhamento e consultoria, como uma prioridade da política nacional para travar a propagação de doenças infecto-contagiosas entre os CDI (figura 11). O facto de um tão grande número de países já reconhecer explicitamente o papel do fornecimento de material de injecção limpo na sua estratégia de prevenção do HIV mostra como este se tornou comum na maior parte da Europa e deixou de suscitar controvérsia na maioria dos países. Isto não significa que todos estejam igualmente de acordo a respeito dos benefícios deste tipo de intervenção. A Grécia e a Suécia, por exemplo, não consideram que seja uma prioridade política, embora em termos globais esteja a emergir um panorama relativamente homogéneo na União Europeia quanto à execução de intervenções nesta área (193),

mencionando todos os países, com excepção de Chipre, a existência de programas de troca ou distribuição de agulhas e seringas esterilizadas (194).

Tipos de programas de troca de agulhas e seringas nos países europeus

Embora a maior parte dos países europeus já distribua equipamento de injecção esterilizado, a natureza e a amplitude dessa distribuição variam entre os países. O modelo mais comum consiste em prestar o serviço num local fixo, normalmente num serviço especializado de luta contra a droga, mas muitas vezes este tipo de prestação é complementada por serviços móveis que tentam chegar aos consumidores em contextos comunitários. As máquinas de troca ou venda automática de seringas complementam os serviços de distribuição de agulhas e seringas em oito países (195), embora esse tipo de fornecimento pareça estar

restringido a um pequeno número de locais, uma vez que só a Alemanha e a França comunicam actividades substanciais (cerca de 200 e 250 máquinas, respectivamente).

A Espanha é o único país da UE em que a troca de agulhas e seringas está normalmente disponível nas prisões, tendo 27 estabelecimentos prisionais sido abrangidos em 2003. O outro país da UE que menciona actividades neste domínio

(193) Ver figura NSP-3 no Boletim Estatístico de 2006.

(194) Ver no relatório anual de 2005 um breve resumo das provas da eficácia dos programas de troca de agulhas e seringas (p. 68). (195) Ver figura quadro NSP-2 no Boletim Estatístico de 2006.

Figura 11: Prioridade e âmbito de aplicação de medidas seleccionadas para prevenção de doenças infecto-contagiosas

entre os consumidores de droga, de acordo com o parecer de peritos nacionais: resumo referente aos países que forneceram resposta

NB: Classificação de prioridades de 23 Estados-Membros da UE, da Bulgária e da Noruega. Os países que não fornecem estas classificações são a Irlanda, Chipre, a Lituânia e os Países Baixos.

As classificações relativas ao «âmbito de aplicação» foram fornecidas por peritos de todos os 25 Estados-Membros da UE, da Bulgária e da Noruega. As comunidades francesa e flamenga da Bélgica forneceram classificações em separado, o que elevou o número total de respostas a 28.

Fontes: Inquérito dos pontos focais nacionais a peritos, SQ 23 (2004), pergunta 5. Educação pelos pares IEC

Promoção dos preservativos Rastreio de rotina em grupos de alto risco Formação para um consumo por via endovenosa mais seguro Vacinação contra a hepatite Acesso fácil ao tratamento para doenças infecto-contagiosas Educação de proximidade para a saúde Aconselhamento e testes voluntários para doenças infecto-contagiosas Aconselhamento personalizado IEC Informação, educação, comunicação (IEC) Programas de troca de agulhas e seringas

Países que responderam (%)

Classificada como prioritária Aplicação comum ou predominante

41 46 43 68 46 82 74 82 89 89 0 9 9 9 17 22 26 35 39 43 78 79

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Relatório Anual 2006: A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa

é a Alemanha, onde a distribuição está limitada a um único estabelecimento prisional.

Os programas de troca de agulhas e seringas nas farmácias também contribuem para expandir a cobertura geográfica do seu fornecimento e a venda de seringas limpas nas farmácias pode aumentar a sua disponibilidade. A venda de seringas sem receita médica é permitida em todos os países da UE, com excepção da Suécia, embora alguns farmacêuticos não queiram fazê-lo e alguns cheguem a dissuadir activamente os consumidores de droga de frequentarem os seus estabelecimentos. Existem redes formalmente organizadas de troca ou distribuição de seringas nas farmácias em nove países europeus (Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Espanha, França, Países Baixos, Portugal, Eslovénia e Reino Unido), embora a participação nos programas varie consideravelmente, entre cerca de metade das farmácias (45%) em Portugal até menos de 1% na Bélgica. Na Irlanda do Norte, a troca de agulhas e seringas é agora exclusivamente organizada através das farmácias. Para alguns consumidores de droga injectada, a compra de seringas nas farmácias pode ser uma importante fonte de contacto com os serviços de saúde, existindo claras possibilidades de explorar este ponto de contacto como um canal para outros serviços. O trabalho de motivação e apoio aos farmacêuticos, para desenvolverem os serviços que prestam aos consumidores de droga, poderá ser importante para alargar o papel das farmácias, mas até à data só a França, Portugal e o Reino Unido parecem estar a investir significativamente neste sentido.

Mortalidade e mortes relacionadas