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Capítulo 4 Análise e Discussão dos Dados

4.3 As categorias

4.3.1 Primeira categoria: A sala de aula como um espaço de decisões

Esta categoria diz respeito às mudanças de procedimentos no desenrolar das aulas, ao diálogo entre os participantes e a professora durante a execução de ações. Os dados encontram-se no diário da professora- observadora, instrumento no qual as aulas foram descritas. Mostraremos a seguir os trechos em que foram visualizados tais acontecimentos para as quatro aulas.

Dados do diário da professora-pesquisadora: Aula nº1

“Um aluno me perguntou sobre a questões 8 e 9, se nas duas questões ele deveria citar os símbolos, objetos ou personagens relativos à França e aos países francófonos. [...] Eu achei que realmente as duas perguntas tinham sido elaboradas de forma diferente, mas se tratavam do mesmo aspecto, só que para lugares diferentes. Tais questionamentos são sempre profícuos, pois ajudam a esclarecer a dúvida de muitos que às vezes não se pronunciam e me ajudou a repensar a maneira de elaborar as questões citadas”.

“Uma aluna comentou que as propagandas no país tinham o conteúdo próprio da cultura brasileira, então, pedi que visualizassem a publicidade e observassem os conteúdos da cultura do país mostrada no vídeo, ou do continente, no caso, europeu. Este ponto em questão eu não havia previsto, mas buscou-se dar continuidade ao comentário da aprendente”.

“Os grupos criaram os slogans baseados no slogan do filme mostrado. Eu havia previsto que eles criassem outros diferentes, mas acredito que a compreensão de um aspecto linguístico cultural desta expressão usada na publicidade foi suficiente e não teria problema repetir o modelo do slogan”.

Nos excertos apresentados podemos observar que as situações previstas foram modificadas. No primeiro trecho a professora-pesquisadora repensa seu comando da questão devido a uma ressalva de um aprendente. Há uma negociação para uma diferente interpretação. Ocorreu, nos dois outros trechos, um encaminhamento diverso para a aula, tendo em vista também o diálogo aberto entre os aprendentes e a professora.

Concordamos que uma abordagem é uma filosofia de trabalho, pois ela orienta o professor. Além disso, acreditamos que o aprendente também traz consigo a abordagem de aprender (ALMEIDA FILHO, 2010). Isto quer dizer que este, do mesmo modo, dispõe de

recursos visando facilitar o seu aprendizado, recursos que lhe são próprios que são suas estratégias (BROWN, 2007). O fato de as intervenções dos aprendentes darem um caminho diferente ao plano de aula indica que eles utilizam-se da autonomia. Neste caso, o aprendiz é autor de sua aprendizagem, pois ele pode contribuir para dar uma direção diferente à aula, para assuntos que lhe fazem sentido. O professor mostra-se flexível e com poder de reorientação face aos acontecimentos imprevisíveis, pois conhece intuitiva ou conscientemente este processo.

Aula nº 2

“Eu pretendia passar 3 pequenas propagandas de um mesmo produto, os óculos Krys, mas assistimos somente a dois vídeos, pois a gravação do terceiro não funcionou.[...].Infelizmente um dos vídeos que havia sido gravado para ser exibido, não funcionou o que contribuiu para prejudicar um pouco o objetivo da segunda sequência.[...]Aguardando a possibilidade de registro do vídeo para a segunda parte da aula, prosseguimos com a visualização de uma propaganda do Macdonalds”.

O trecho citado mostra que a aula foi redirecionada com a visualização da propaganda do Macdonalds que seria vista no final. A mudança de planos face aos imprevistos faz parte do que ocorre em sala de aula e é papel do professor saber conduzir tal mudança, que requer previsão em sua preparação, planejamento e uma atitude de abertura.

Aula nº 3

“Decidimos mostrar só uma publicidade sobre a África devido ao tempo, pois alguns alunos se atrasaram”.

Mais uma vez o trecho retirado mostra que foi tomada uma decisão tendo em vista um problema de tempo. Isto contribuiu para nossa reflexão e mudança no procedimento, por isso as observações do pesquisador em seu diário são elementos modificadores da pesquisa-ação. Ao discutirmos esta questão com nossa orientadora foi decidido diminuir o número de propagandas por aula.

Aula nº4

“Foi necessário passar o vídeo mais duas vezes para uma compreensão mais detalhada”. “Havia no material preparado para os alunos, uma imagem de um carro com suas partes identificadas em francês. Ela estava pouco legível, então projetei esta imagem no quadro para que eles pudessem realizar a atividade proposta que consistia em listar as vantagens deste carro”.

O material piloto para a aula apresentou uma imprevisibilidade. A questão foi reparada de uma forma tranquila tendo em vista que eu tinha meu pendrive com as aulas em mãos para qualquer eventualidade.

No trecho a seguir, novamente um redirecionamento por negociação com os aprendentes:

“O projeto tinha duas opções: elaborar um programa turístico de uma cidade do Quebec ou criar um cartaz publicitário para uma cidade ou região desta província do Canadá”.

“Posteriormente, com as cartolinas, canetinhas e pincéis disponíveis, os dois grupos elaboraram um cartaz publicitário com um programa turístico. Enfim, eles juntaram numa só atividade as duas opções. Então aceitei desta forma, pois não achei que haveria problema, foi mais enriquecedor do que a minha primeira ideia”.

Almeida Filho (2009) destaca que o que acontece em uma sala de aula de LE vai muito além da implementação de um método e de técnicas de ensino, que os fatores afetivos influenciam a qualidade do processo e que o aprendente deve saber julgar o modo como aprende para tornar-se mais autônomo. Numa abordagem atual, o professor diminui as relações de poder entre ele e os aprendentes, agindo mais como orientador. Ao nosso ver esta atitude permite uma negociação e harmonização para os conflitos e além disso, disponibiliza ao aprendente o aprendizado da autonomia permitindo que ele descubra suas próprias estratégias de aprendizado. Almeida Filho (2010) esclarece que há que se orientar o aprendizado, apoiando o aluno que se esforça por aprender; também, buscar não criar mais obstáculos do que os que já possam existir e ainda, minimizar os que existirem com o apoio da ciência aplicada adequada. Esta atitude coloca em ação a competência implícita do professor que toma decisões em razão de sua intuição calcada mais na experiência do que na ciência.

Moita Lopes (2005) por sua vez, também estabelece que o conhecimento é uma construção social e a educação é um processo cultural e social em que participam professor e alunos em interação. E acrescenta que o processo em sala de aula envolve tanto o controle, a negociação, a compreensão como falhas na compreensão.