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CAPÍTULO 2 ELOY DE SOUZA: PARTICIPAÇÃO POLÍTICO DISCURSIVA

2.1 PRIMEIRO DISCURSO: SECAS DO NORTE E CABOTAGEM NACIONAL

Primeiro observador, depois participante de comissões e redator pareceres. Eloy de Souza foi, por fim, portador de um discurso em defesa de uma legislação que estabelecesse a concretização de obras nos estados seviciados pelas secas. Familiarizando-se com a política e apreendendo as características e práticas deste local de fala, ele realizou seu primeiro discurso na Câmara, em 29 de novembro de 1906.

econômica para o estado do Rio Grande do Norte: o comércio de cabotagem e as secas.

Sr. Presidente, não será um discurso. Trouxe-me à tribuna tarefa modesta, circumscripta à justificativa de emendas que atendem com a realização de serviços no Estado que tenho a honra, bem immerecida, em verdade, de representar nesta Casa.

Duas destas emendas, pela natureza dos melhoramentos que ellas visam prover, merecem considerações, embora desvaliosas, mas em todo caso necessarias, ao menos como informação no voto que a Camara tiver de proferir para approva-las ou rejeital-as.

Umas refere-se ao problema das seccas; a outra diz respeito ao porto de Natal, [...]”. (BRASIL, Annaes da Câmara dos Deputados, 1906)

O ponto relativo ao comércio marítimo era importante para o estado, visto que as navegações por cabotagem formavam a verdadeira “espinha dorsal do sistema de viação brasileiro” (PRADO JUNIOR, 1977). Com um vasto litoral, que teve sua fundação e desenvolvimento priorizado a partir dos interesses coloniais, a malha aquaviária brasileira foi por muito tempo utilizada com principal forma de transporte de mercadorias e comunicação (PRADO JUNIOR, 1977, p. 240).

No que diz respeito aos estados do Norte esta era uma importante via de acesso de pessoas, produtos e informações. Contudo, no caso norte-rio-grandense, essa atividade à época vinha sofrendo prejuízos econômicos causados pela empresa de transportes marítimos Lloyd30, que estava colocando empecilhos para a ancoragem no porto de Natal. Fato que, de

acordo com Eloy de Souza, prejudicava não só o Rio Grande do Norte, mas também o comércio da Paraíba (BRASIL, Annaes da Câmara dos Deputados, 1906).

Além da reclamação acerca da postura da empresa de transportes, Eloy de Souza também tece uma crítica às restrições que pesavam sobre a navegação nacional e que tinham por resultado nos fretes altos e a limitação do desenvolvimento desse setor no país. O Deputado propôs uma emenda, em nome da bancada do Rio Grande do Norte: a proposta requeria uma verba de 250 contos para “destruir a Baixinha, rochedo que constitui o único obstáculo à entrada dos grandes vapores no porto de Natal.” Visando melhorar o escoamento e a chegada de produtos ao estado (BRASIL, Annaes da Câmara dos Deputados, 1906, p.54).

Contudo, cabe-nos fazer notar que a maior parte do seu discurso não foi voltado à esta questão. O pronunciamento de Eloy de Souza, àquele dia 28, teve como tema principal a

30 Até meados de 1950, com as poucas vias rodoviárias o transporte marítimo era um dos meios mais utilizados no Brasil. As três principais empresas de navegação eram o Lloyd Brasileiro, a Companhia Nacional de Navegação Costeira e o Lloyd Nacional.

constituição de obras e ações de combate as secas que atingiam o Rio Grande do Norte e outros estados da região. Tomando a maior parte do discurso, Eloy declarava que as secas, circunscreviam uma determinada “área problema”, vista a partir de elementos que uniam e identificavam um recorte especifico dentro da região Norte. Este espaço tinha em comum além dos aspectos climáticos, os elementos históricos, econômicos e culturais.

O pronunciamento trazia uma abordagem diferenciada sobre o tema, bem como esboçava a delimitação de uma espacialidade, na qual as ações e as verbas governamentais deveriam ser aplicadas. Essa circunscrevia os “estados seviciados pelas secas”, os quais deveriam ter seus problemas solucionados para o desenvolvimento econômico daquela região. Ideia que passou a ser tema central dos discursos. Nesse intuito, em 1906, o problema das secas foi tratado sob

[...] o ponto de vista da geografia humana, considerados o valor da vida humana; a capacidade de trabalho do sertanejo em condições normais de saúde; o montante dos salários como fator da economia doméstica; a produtividade agrícola e o desfalque incomensurável deste conjunto econômico na vigência das secas calamitosas. (SOUZA, E., 2008, p. 243)

Ao realizar seu discurso, Eloy de Souza, deu início ao seu trabalho parlamentar em defesa de verbas para obras de irrigação, não só para o Rio Grande do Norte, mas para todos os estados que sofriam com o problema. Esse projeto consistia-se na construção de açudes, perfuração de poços e na elaboração de um fundo fixo de ajuda aos estados seviciados pelas secas, que nomeou de “Fundo de Irrigação”, mas que ficou popularmente conhecido como “Caixa das Secas”.

As ideias defendidas por Eloy de Souza não eram inovadoras, muito menos o assunto era inédito. Na realidade estudos anteriores e projetos idealizados, no Brasil, bem como realizados em outros países inspiraram-no na elaboração de uma solução para o caso dos estados do Norte. Além disso ações pontuais a respeito vinham sendo tomadas desde o Império, tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada. Contudo, os esforços não eram suficientemente contínuos para o desfecho da questão. Nessa perspectiva o discurso de 1906 foi um importante passo em direção ao desenvolvimento de um projeto político de recuperação econômica destes estados e da própria delimitação regional deste espaço.

Vale salientar que a historiografia acerca da elaboração de uma espacialidade nordestina, no que se refere mais precisamente aos estudos realizados por Durval Muniz de Albuquerque Junior e Gadiel Perruci, apontam que a formulação deste espaço se deu apenas a

partir das décadas de vinte e trinta, do século XX.

Gadiel Perruci (1996), em seu trabalho “Nordeste: uma revisão necessária” relaciona a construção do Nordeste as estratégias de ação política realizadas a partir da década de 1930. Em sua análise aborda a construção regional do que ele denomina de “questão nordestina” como sendo uma "mera tática dentro da estratégia global do Modo de Produção Capitalista" (PERRUCI, 1996, p. 36). Constituída historicamente pelos grupos agrários dominantes do período e posteriormente reconstruída pela classe dominante em nível nacional.

Em sua perspectiva a compreensão de um espaço nordestino só pode ser feita a partir do estudo das nuances do Modo de Produção Capitalista. Tomando-o como base para a criação de uma “Formação Econômica e Social”, bem como de todas as relações decorrentes dessa, a saber as relações de produção no nível político-jurídico e sociais de produção. Esta “Formação Econômica e Social”, sendo, pois, compreendida como uma sociedade historicamente determinada. Assim, a formação desta espacialidade sua construção e reconstrução estava intrinsecamente relacionada ao desenvolvimento das relações econômicas, políticas e sociais que se desenrolaram em torno da instauração e do acúmulo do Capital no Brasil, desde o século XIX até metade do século XX.

Durval Muniz de Albuquerque Junior, por sua vez, trabalha sob a perspectiva de uma construção discursiva e imagética estabelecida através das relações de poder e saber acerca da espacialidade nordestina. Em seu estudo “A Invenção do Nordeste e outras artes”, o autor aborda “a história da emergência de um objeto de saber e de um espaço de poder: a região Nordeste” (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2001, p.32). Espaço esse construído, de acordo com seus estudos, a partir do final da primeira década do século XX e durante a segunda década, “como produto do entrecruzamento de práticas e discursos ‘regionalistas”. Assim, sendo constituído por um movimento realizado, sobretudo, no campo de produção cultural e como instrumento de luta dos grupos dominantes.

Nessas perspectivas o Nordeste como uma região foi erigido, fosse por um movimento tático dentro da estratégia global do Modo de Produção Capitalista, ou por um movimento intelectual e de produção cultural que o recortou, em uma fase posterior ao período por nós assinalado. Contudo, dentre os caminhos que levaram a produção de uma ideia de uma Região Nordeste observamos nas pesquisas e leituras em torno da produção do discurso político, sobretudo, relacionadas a atuação de Eloy de Souza, que que os primeiros esboços desta espacialidade já tiveram seus apontamentos nos anos iniciais da primeira década do século XX. Portanto, ao entrarmos em contato com as Memórias de Eloy de Souza, mais

precisamente nos capítulos acerca do tema das secas e sobre o próprio espaço nordestino31,

adquirimos os apontamentos necessários a fundamentar essa perspectiva.

Assim, ao analisar os discursos parlamentares, periódicos e relatórios técnicos, no período, encontramos menções subjetivas, apresentadas tanto na utilização de expressões que apontavam o mesmo significado valorativo de uma região Nordeste, como “estados seviciados pelas seccas”, “estados irmãos”, “zona flagelada periodicamente pela seca” (BRASIL, Annaes da Câmara dos Deputados, 1906). Bem como referências diretas a este espaço, através da própria utilização do termo Nordeste para designá-lo.

Deste modo, compreendemos que ao abordar o problema em comum entre os “estados irmãos”, Eloy de Souza imprime sua participação da formulação de um esboço desta territorialidade para além dos limites Norte-rio-grandenses. Ao incorporar em seu discurso os relatos, crônicas e estudos relativos as secas em outros estados, ele aos poucos vai delineando um recorte espacial regional.

Eloy de Souza começa sua preleção fazendo um breve resumo sobre as calamidades que atingiam “os povos da bacia de São Francisco”. O rápido histórico das secas atentava principalmente para as percas da produção (gado, plantio) e das vidas humanas. Danos gravíssimos para os estados, mas também custosos aos cofres federais.

Para definir sua perspectiva sobre o problema, Eloy de Souza, dialoga com outras obras e estudos técnicos relativos ao problema. Análises que há tempos eram elaboradas e discutidas, apresentando desde as possíveis causas até soluções que pudessem diminuir, ou mesmo sanar a dificuldade causada pelas secas. O tema era objeto de discussão de comissões e instituições como o Instituto Politécnico (BRASIL, Annaes da Câmara dos Deputados, 1906).

Contudo, mesmo sendo o tema bastante debatido, a maior parte das ações tomadas pelo governo eram emergenciais. Desde o Império, quando os primeiros incidentes do fenômeno climatério foram registrados a preocupação com a questão – sua compreensão e a elaboração de soluções do problema – restringia-se aos socorros públicos enviados pela Coroa (GUERRA, 1981). As medidas tomadas eram geralmente tardias e limitadas ao agravo da estiagem.

O primeiro registro de seca na região Norte do país foi no ano de 1559, de acordo com

31 Em sua obra Memórias, Eloy de Souza faz apontamentos sobre a temática das secas e sobre as ideias em torno de um projeto de desenvolvimento econômico dos “estados seviciados pelas secas” nos capítulos: “Jardim de Infância”, O Calvário das Secas”, Viagem ao Egito e à Europa”, Obras contra a seca”, dentre outras menções realizadas do decorrer de toda a obra. Ver: SOUZA, Eloy de. Memórias. Org., notas e índice onomástico de Rejane Cardoso. 2. Ed. Macaíba, RN Brasília, DF: Instituto Pró-Memória de Macaíba Senado Federal, 2008

a obra “História de Companhia de Jesus do Brasil”, do Padre Serafim Leite (GUERRA, 1989). Segundo tal registro, o fenômeno climatério não teve grandes repercussões devido o pequeno número de habitantes, em relação aos recursos naturais da terra. No entanto, o quadro não permaneceu o mesmo nos séculos seguintes.

Os relatos da seriedade do fenômeno apresentam-se no início do século XVIII, no qual se teve registro da primeira grande seca. Segundo Thomaz Pompeu “a primeira grande secca de que resta vaga tradição, em memórias fora da província, foi a de 1711, que se estendeu ao norte até o Maranhão [...]”(SOUZA BRASIL, 1877, p. 14).

Thomaz Pompeu de Souza Brasil, o Senador Pompeu, foi uma das referências de Eloy de Souza, no que se refere ao conhecimento acerca das calamidades ocasionadas pelas secas, no Norte do país.32

Conhecia eu a literatura demográfica do problema. Dele tinha informações precisas através dos trabalhos do Senador Pompeu, ilustre, político e estadista cearense que estudara o problema sob este aspecto desde o século XVIII até o século XIX. No seu trabalho fixou dados pungentes a respeito da seca que veio de 1790 até 1793, de todas elas a mais mortífera e desoladora.” (SOUZA, E., 2008, p. 244)

Em sua obra “Memória sobre O Clima e seccas do Ceará”, publicada no ano de 1877, Pompeu apresenta um apanhado geral sobre a geografia física, composição do solo, vegetação e hidrografia do Ceará. A ênfase do seu trabalho, porém são as estiagens suas prováveis causas e graves consequências.

Na coletânea de artigos que compõem a obra, Pompeu afirma que os registros sobre o fenômeno, na província do Ceará, passaram a ser documentados a partir da seca de 1723. Sendo os seus impactos informados nos documentos oficiais da província a partir desta data (SOUZA BRASIL, 1877, p. 15). As informações sobre as secas, porém, não era apenas restrita aos registros públicos, pois os relatos e crônicas daqueles que presenciavam ou interessavam-se pelo problema, também compunham uma vasta documentação33.

De acordo com Thomaz Pompeu as secas que causaram maiores danos aos nortistas, durante o século XVIII foram: a de 1723-1727, “em que não só morreram numerosas tribos indígenas, como também o gado; e até as feras e as aves se encontravam mortas por toda parte.” (SOUZA BRASIL, 1877, p. 15) Tendo ela atingido o território Piauí, Ceará até a

32 Além de uma Memória sobre o Clime e seccas do Ceará (1877), Thomaz Pompeu de Souza Brasil, também escreveu acerca dos “problemas climáticos” do Ceará em: Memória sobre a conservação das matas e

arborização como meio de melhorar o clima da Província do Ceará. Fortaleza (1859).

33 Depoimentos reproduzidos sobre a calamidade são encontrados também na obra de Pompeu e citados por Eloy de Souza em seu discurso. Dentre os relatos citados temos o de Ayres Cabral, do capitão-mor Francisco Gomes da Silva e a obra “Os sertões” de Euclides da Cunha.

Bahia; a seca de 1777-1778, na qual a população do Ceará ficou reduzida “a menos de um oitavo” (SOUZA BRASIL, 1877, p. 16); E a que ficou conhecida como a “secca grande”, ocorrida de 1790 -1793, estendendo-se pelo território do que hoje em dia são os estados de Pernambuco, Bahia, Sergipe, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte (SOUZA BRASIL, 1877, p. 17).

No século seguinte, até os limites estudados por sua obra, os registros apontaram também para os períodos de seca de 1824-1825 e 1844-1845 (SOUZA BRASIL, 1877, p. 20- 22). Os prejuízos causados pelas secas, porém, não vinham sozinhos. Seguiam-se muitas vezes aos danos causados pelos anos demasiadamente chuvosos. Entre estiagens e inundações, causadas por “invernos rigorosos”, o território que englobava os atuais estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Bahia, sofreu grandes perdas tanto econômicas, quanto populacionais.

Através de observações e estudos dos índices pluviométricos do estado do Ceará, Thomaz Pompeu, elenca a “causas presumíveis das seccas” (SOUZA BRASIL, 1877, p. 34) Dividindo as motivações para o fenômeno em duas categorias: causas naturais e permanentes e causas acidentais.

Acerca da naturalidade do fenômeno afirma, “a posição dessa região com relação às correntes aereas, que sopram constantemente parallelas, ou quasi parallelas ao equador, é a causa principal da falta de chuvas regulares.” (SOUZA BRASIL, 1877, p. 34). Assim, a irregularidade das chuvas de acordo com seus estudos, podia ser em sua maior parte, explicadas pelas correntes de vento e a posição geográfica do estado do Ceará.

Já as causas acidentais, estavam relacionadas a ação humana que, segundo ele, colaboravam para deixar a atmosfera mais seca que o natural. Dentre as ações citadas, temos as “queimadas e roteaduras” (SOUZA BRASIL, 1877, p. 40), ou seja, as práticas utilizadas pelos sertanejos ao preparar a terra para o plantio. Entretanto, nem toda a ação da população sertaneja era voltada para o agravamento do problema. Pois, em detrimento da falta de ação governamental a iniciativa privada, mesmo que de forma limitada, realizava tentativas de suprimir a dificuldade de abastecimento e irrigação através das construções de açudes ou represas.

Os sertões, compreendido como “o terreno (e constitui a maior parte da provincia), que fica fora do litoral e das serras, onde se faz a criação de gados” (SOUZA BRASIL, 1877, p. 08), assim, apresentavam um problema recorrente, com tentativas limitadas de diminuição desse. Nessa perspectiva tanto os grupos políticos locais, quanto nacionais pouco se mobilizavam para a solução definitiva da questão.

Além dos estudos de Senador Pompeu, outras pesquisas sobre as secas foram realizadas no estado do Ceará. Algumas delas contemporâneas aos estudos e produções discursivas de Eloy de Souza. Obras como as de Rodolfo Teófilo e Thomaz Pompeu (filho), que deu continuidade ao trabalho realizado pelo pai (BRASIL, Annaes da Câmara dos Deputados, 1906).

Thomaz Pompeu, outro autor citado por Eloy, era comumente conhecido como Dr. Pompeu e herdou do pai além do engajamento político, o interesse pelas pesquisas sobre o tema, publicando, no ano de 1909, o trabalho intitulado “O Ceará no começo do século XX”, obra em que amplia as investigações realizadas até 1862, pelo Senador Pompeu. O autor dedica maior parte dela “ao problema capital do nordeste brasílico, isto é – o da instabilidade ou irregularidade de chuvas na estação propria [...]” [grifo nosso] (SOUZA BRASIL, 1909, p. 04).

Em seu estudo Dr. Pompeu reitera a noção de que “a zona nordeste brasileira” (SOUZA BRASIL, 1909, p. 06) diferente do que antes podia-se imaginar, não era desfavorecida de chuvas, nem seu solo infértil. Sendo a principal causa do problema a irregularidade das precipitações. A solução, segundo ele, estava na realização de medidas que completassem a ação dos fenômenos meteorológicos. Represando ou escoando as águas que atingiam os solos, de acordo com a chuvas. Em seu discurso os poderes públicos são chamados a agir, no intuito de “fomentar as fontes de riqueza desta região e minorar os esmagadores encargos, que lhes traz cada umas daquellas crises.” (SOUZA BRASIL, 1909, p. 04).

É importante salientar que o fenômeno das secas não era um problema que se restringia ao sertão, pois a repercussão da falta de água e alimentos atingiam também o litoral. Este, por sua vez, em tempos das calamidades era o centro de emigração das populações sertanejas, sendo as capitais os pontos de maior densidade demográfica. A cerca das migrações, Thomaz Pompeu, afirma

Em tempo de penúria o terror influe mais do que a realidade do mal. O povo com as recordações das grandes secas de 1792 e 1825 desanimou em grande parte, e emigrou, affluindo as praias e às cidades, principalemente à capital.

Essa agglomeração de população adventícia, que na capital elevou-se a mais de 30000 pessoas, concorreu para a carestia dos generos, e logo para certo estado de miséria. (SOUZA BRASIL, 1909, p. 261)

carestia dos gêneros alimentícios, mas também para a criminalidade, propagação de doenças e aumento do índice de mortalidade. Epidemias, como a varíola alastravam-se e agravavam ainda mais o quadro.

Um dos combatentes da propagação desta doença, no estado do Ceará, foi Rodolfo Teófilo. Nascido na Bahia, mas tendo migrado muito jovem para o Ceará, vivenciou e registrou os impactos da calamidade em várias de suas obras.34 Médico sanitarista, Teófilo

atuou sozinho na vacinação das populações pobres nos bairros da capital (TEÓFILO, 1890, p. 19).

Analisando o problema, escreveu no ano de 1901 a obra “Seccas do Ceará”. Nela sua preocupação estava voltada a falta de auxílio do governo federal que acabava por deixar a cargo da população e do governo estadual a responsabilidade da realização medidas contra o problema. Dentre as ações a serem tomadas Teófilo cita a arborização do solo, como forma de atrair as chuvas (TEÓFILO, 1898, p. 05).

Rodolfo Teófilo aborda também a questão da açudagem como uma das soluções do problema e aponta outras medidas como a isenção de imposto sobre o roçado da mandioca. Outra proposta lançada por ele é o cultivo de outras culturas, como o cacau. (TEÓFILO, 1898, p. 20).

Não temos referências sobre o contato de Eloy de Souza com as obras de Rodolfo Teófilo, mas a título de informações sobre as mais variadas visões do fenômeno à época poderíamos aventá-lo como fonte de Eloy, ou, pelo menos, como inspiração, considerando a sua semelhança de suas abordagens. Tendo assistido as agruras das secas e intervindo dentro de suas possibilidades para diminuição do problema, no Ceará, Rodolfo Teófilo, bem como