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Como destacado anteriormente, as crises da década de 1990 foram precedidas pelas liberalizações financeiras, desregulamentações e pelo rápido aumento de influxos de capitais que foram seguidos por uma forte tendência reversa. Essas reversões de influxos para fluxos externos são relacionadas com mudanças nas políticas internas e externas que produzem divergências nas condições financeiras domésticas com as do resto do mundo. As reversões de fluxos de capitais são geralmente seguidas pela deterioração das condições macroeconômicas do respectivo país. Essas deteriorações, geralmente são resultados dos próprios fluxos como sobrevalorização da taxa de câmbio, crescimento rápido e excessivo da expansão creditícia e bolhas especulativas dos preços de ativos.

Entretanto, como pode ser analisado na Tabela 4, crises financeiras e cambiais em mercados emergentes ocorreram sob diversas condições macroeconômicas. Elas ocorreram quando o déficit em conta corrente era excessivo e insustentável, como no México e Tailândia, mas também quando esses déficits eram relativamente baixos, como na Indonésia e Rússia. Embora sobrevalorizações significativas sejam características de países sofrendo agitações cambiais como México, Rússia e Brasil (todos usaram a taxa de câmbio como uma âncora nominal para baixar a inflação). Porém, este não foi o caso na maioria dos países do leste asiático aonde a sobrevalorização da moeda foi moderada ou nula. Algumas crises também foram associadas com déficits orçamentários excessivos, como na Rússia e no Brasil, e outras quando estavam com superávit como no México e no leste asiático. Há casos também em que as crises ocorreram quando as dívidas externas estavam atreladas ao setor público (Brasil e Rússia) ou quando estavam ligadas ao setor privado, como no leste asiático.

Tabela 4 - Características Pré-Crise dos Países Emergentes

Fonte: Elaboração Própria

Vale ressaltar uma similaridade irônica entre o início das crises da Coréia e do México. Na véspera de ambas as crises os dois países se tornaram membros do OECD. Ambas as economias caíram após um período prolongado de euforia do mercado. No caso do México, uma equipe tecnocrática altamente qualificada desenhou e liderou um plano de estabilização, privatização, liberalização, e, como já foi mencionado, até o acordo de livre comércio com os Estados Unidos (NAFTA). No caso da Coréia a história de sucesso das políticas industriais e crescimento à base de exportações culminou na entrada da Coréia para o clube exclusivo de economias desenvolvidas. Porém, nos dois países, o colapso foi resultado de uma euforia de fluxos de capitais que eram insustentáveis30.

A Figura 6 resume a freqüência das crises e, imediatamente sugere que o problema está crescendo. A barra à direita indica todas as crises, entre 1973 e 1997, tem 12% de freqüência, ou seja, mostra que os 56 países possuem uma chance em oito de sofrerem crises cambiais, crises gêmeas31 ou bancárias em um dado ano32. As incidências das crises quase que dobraram desde o bloco do período 1945 – 1971. A menor freqüência de crises no período de

30 Sachs e Radelet (1998), em uma discussão com bancos da Alemanha, perguntaram a razão pela liberalização de grandes empréstimos para a Coréia em 1997, na véspera da crise. Diversos bancos responderam que a recém entrada da Coréia no OECD forneceu a confiança necessária que o desempenho da economia coreana se mantivesse forte.

31 Há a ocorrência de crises gêmeas quando crises cambiais e bancárias ocorrem simultaneamente.

32 A Figura 6 distingue quatro períodos diferentes que correspondem aos principais regimes monetários e financeiros internacionais do último século: a era padrão-ouro (1880 – 1913), o período entre as duas guerras mundiais (1919 – 1939), a era Bretton Woods (1945 – 1971) e o período “não-sistema” pós-Bretton Woods (1973-1997). Os quatro primeiros blocos de períodos representam 21 mercados de países industriais e emergentes. O quinto bloco representa 56 países, que incluiu os novos países emergentes (BORDO, et al, 2001).

pré-1913 (quando havia a ausência de controle de capitais e a mobilidade de capitais atingiu níveis altíssimos), sugere que a globalização criou a instabilidade nos mercados cambiais internacionais. A maior incidência de crises cambiais, em comparação ao bloco de pré-1919, demonstra a incompatibilidade da elevada mobilidade de capital com a política democrática liberal, que é uma das características que distingue a era na qual vivemos. Bordo, et al (2001) apontam o fato que a democratização dificultou que os Governos se comprometessem, com credibilidade, com a estabilização das taxas cambiais e que subordinassem todas as suas metas de políticas para manter regimes cambiais fixados. Essas dificuldades implicam que a combinação de mobilidades de capitais e democratização desmontassem a credibilidade dos compromissos com regimes cambiais e fragilizassem os regimes de câmbios fixos (pegs).

Figura 6 - Freqüência das Crises – Probabilidade Anual (em porcentagem) Fonte: Bordo et al, 2001.

Tabela 5 - Número de Crises por Período

Fonte: BORDO, Michael e EICHENGREEN, Barry (2001); Elaboração Própria

A diferença com a adição dos 35 países no período da nova era revela que a concentração da maior freqüência está nos mercados emergentes, especificamente nos mais novos, menores e menos desenvolvidos33.

Kose et al. (2005) afirma que enquanto crises cambiais são susceptíveis à riscos da liberalização da conta de capitais, as crises bancárias são responsáveis por um terço de todas as crises financeiras durante as últimas três décadas e que a sua freqüência aumentou muito durante 1980 e 1990. Crises bancárias tendem a ser mais turbulentas e possuem efeitos mais adversos sobre o crescimento da produção de bens e serviços do que crises cambiais. Os autores também afirmam que há pouca evidência que a liberalização da conta de capitais por si só afeta a vulnerabilidades para ocorrências de crises bancárias.

Bordo et al (2001), atestam o fato que, em relação à profundidade e duração, as crises estão sendo menos severas. Como pode ser analisado no Anexo III, as perdas na produção de bens e serviços, resultados das crises cambiais, é de metade até dois terços hoje do que foi na era pré-globalização, já as perdas na produção de bens e serviços referentes ás crises bancárias é de 75 a 80% hoje do que foi entre 1880 – 1913. Só nas crises gêmeas que as crises estão sendo mais severas, porém a diferença é pequena. Entretanto, quando se compara a duração

33 Os 21 países analisados são respectivamente: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, Finlândia, Grécia, Itália, Japão, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia e Estados Unidos. Enquanto que a lista dos 56 países é composta com os 53 países membros do FMI em 1998 com a adição de Senegal, Gana e Costa do Marfim.

das crises, o autor aponta o fato que não houve mudanças significativas quando se compara os quatro blocos de períodos. Portanto, não há evidências, quando se analisa esses fatores, que as crises estão sendo mais severas, mas há evidências claras de que estão sendo mais freqüentes.