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O princípio da crise mexicana e, principalmente, a vinda da crise asiática, reascendeu um importante debate referente à estrutura básica da arquitetura financeira internacional. Fischer (1998), em uma conferência, disse que é de acordo geral que é imprescindível que a arquitetura financeira internacional necessita ser reestruturada, por duas razões:

• Porque os fluxos de capitais para países emergentes são muito voláteis, e porque a alta volatilidade sujeita os países a shocks e crises que são excessivamente freqüentes e excessivamente grandes;

• Porque há muito “efeito-contágio” no sistema – uma questão que foi muito discutida durante a crise do leste asiático e foi incontentável depois da desvalorização russa.

Com a chegada imprevisível das desvalorizações cambiais, crises financeiras, e falhas sistêmicas dos setores bancários de um número de países, foram apontados um conjunto de problemas que incluem: taxas cambiais fixadas a níveis impossíveis de defender, dificuldades de liquidez governamentais agravadas por uma excessiva tomada de empréstimos de curto- prazo nos mercados internacionais, e sistemas bancários mal supervisionados. Eichengreen (1999) apontou as conseqüências desastrosas dos fluxos altamente voláteis de capitais de curto-prazo, e como esses contribuem para esses efeitos de contaminações financeiras. Ele sugeriu o incentivo para implementar impostos sobre os fluxos de capitais de curto-prazo como foi feito no Chile (como uma forma de terceira-linha de defesa)55. Ao longo do tempo, as análises realizadas sobre como que esses problemas surgiram, resultaram em um claro consenso: a reforma da arquitetura financeira internacional é extremamente indispensável para o saneamento do sistema econômico global.

De acordo com Germain(2000), durante 1999 houve o consenso entre os experts na área financeira sobre a direção a ser tomada no sentido de reformar a arquitetura econômica internacional. O consenso se baseia em três pilares: fortalecer a transparência, fortalecer o apoio e fortalecer a regulamentação. Além do mais, o FMI aprovou a criação dos seguintes departamentos e fóruns especiais:

Contigent Credit Lines (CCL): criada especificamente para fornecer fundos

para apoiar países que estejam sofrendo pânicos financeiros (contaminações financeiras), com fundamentos econômicos saudáveis.

Forum de Estabilidade Financeira (Financial Stability Forum) (FSF): uma iniciativa regulatória criada com o intuito de juntar entidades regulatórias nacionais e internacionais, numa tentativa de eliminar o gap nas regulamentações que permitem a proliferação de contaminações financeiras. A intenção das criações de tais ferramentas é procurar maneiras de fortalecer sistemas financeiros propensos a sofrer com futuras crises ou contaminações.

55 A primeira e segunda linhas de defesa são, respectivamente: técnicas aperfeiçoadas de gestão de risco para firmas financeiras e uma regulamentação reforçada para as mesmas (EICHENGREEN, 1999).

Além do mais, em 1998, depois de uma série de encontros realizados sob o comando dos Estados Unidos e dos membros do G-7, foi criado o G-2056. O grupo, além de tentar promover a transparência, fornece um mecanismo para as economias emergentes participarem da estrutura de poder de decisão do sistema financeiro global. Pela primeira vez na história o poder das tomadas de decisões se expandiu além do G-7.

O FMI também passou por mudanças de governança ao transformar o Interim

Commitee na nova Comissão Monetária e Financeira Internacional (International Monetary Financial Comitee - IMFC). Por meio desse comitê, países poderão levantar problemáticas

sobre o papel do FMI, que estarão sujeitas negociações, por parte de uma maior comunidade internacional (sem levar em conta o seu poder de voto dentro do Fundo).

Portanto, foi criada uma nova ordem para as finanças globais. E ela foca na questão de como permitir que países excluídos participem da estrutura de tomada de decisões em âmbito do sistema financeiro global. Os mecanismos de inclusões se centraram em três desenvolvimentos institucionais:

• G-20: possui a premissa de fornecer mais responsabilidade aos esforços da reforma e promover uma maior legitimidade às iniciativas, para fortalecer o sistema financeiro global;

• FSF: adquirindo um caráter político, tem por objetivo fornecer padrões de

benchmarking internacionais, para regulamentar sistemas financeiros mais

saudáveis e prudenciais; e

• IMFC: este novo corpo institucional permite aos membros do FMI debaterem e moldar o papel internacional desse fundo para além do que era possível no passado.

Como pode ser visto na Figura 35 abaixo, a estrutura de “poder de decisões” da arquitetura financeira internacional, criada em 1998, é composta por quatro pilares: o primeiro sendo o G-7, que agora reconhece a dependência de suas economias com as economias do resto do mundo. O segundo sendo o G-20 (a única instituição na qual economias de mercados industrializados e em desenvolvimento podem se reunir para discutir assuntos financeiros que possuem em comum). O terceiro pilar é o FSF, que serve de base para juntar os interesses referentes a assuntos de regulamentação dos países desenvolvidos e não-desenvolvidos57. O

56 O G-20 é constituído por ministros da fazenda e representantes dos Bancos Centrais dos seguintes países, além dos membros do G-7: Argentina, Austrália, Brasil, China, Índia, Indonésia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coréia do Sul e Turquia.

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Germain (2000) aponta uma critica em relação ao caráter de “inclusão” do FSF. Este fórum possui somente três membros permanentes dos países emergentes “excluídos” um dos quais já é um membro do BIS por uma longa data.

quarto pilar é centrado no FMI, porém é ligado a uma grande gama de outras instituições financeiras internacionais (IFI): Banco Mundial, BIS (Bank of International Settlements), o Comitê de Basiléia (BCBS), Associação Internacional de Supervisores de Seguros -

International Association of Insurance Supervisors - IAIS), e o Comitê do Sistema Financeiro

Global “Comittee on the Global Financial System (CGFS) e o IOSCO - International

Organization of Securities Comissions).

Figura 35 - Arquitetura do Sistema Financeiro Internacional. Fonte: Germain (2000)

Uma das características da arquitetura do sistema financeiro global que vem surgindo é a sua ausência de canais de comando explicito e direto. Com o maior uso de padrões e códigos e melhores práticas financeiras dentro das financias globais significa que o comando de um pilar sobre o outro é anulado. Ao invés, como descreve Germain (2000):

[...] each pillar must use a range of carrots and sticks to entice other pillars towards their preferred mode of operation. The FSF, for example, cannot command insurance supervisors in other countries to adopt the rules and procedures which they desire; rather they have to convince these countries of appropriateness of doing so. Similarly, the G-7 cannot command the G-20 to undertake an initiative which members of the G-20 feel inappropriate to their circumstances. Power, influence and moral suasion are not absent from the financial architecture, of course, but they played out within a structure of decision-making which I would characterize as consensual rather than coercive (GERMAIN, 2000, p. 8).

O Council on Foreign Relations, atestam que também seja necessário uma mudança nos focos centrais do FMI e do Banco Mundial para, que estes, sejam mais compatíveis com as necessidades atuais da economia global. Para isso, é necessário que:

• O FMI ainda solucione problemas de balança de pagamentos de maneiras que não dependem excessivamente de: deflações, desvalorização competitiva, imposição de restrições comerciais. O Fundo deve possuir o papel de gestor de crises e como monitorar a utilização e implantação de padrões internacionais. Enquanto o Banco Mundial foque ainda mais as necessidades estruturais, humanitárias e físicas dos membros que sejam de países em desenvolvimento; • Seja criada um link entre os esforços de prevenção de crises e o acesso a

financiamento emergenciais por parte do FMI; e

• O FMI deve limitar o seu escopo de funcionalidades para uma as áreas monetárias, fiscais, taxas cambiais, e políticas de financiamento setoriais; • O Banco Mundial deve possuir uma visão de longo-prazo de aspectos sociais e

estruturais para o desenvolvimento econômico (GOLDSTEIN et al, 1999, p. 71).

As mudanças propostas exigirão ação pela parte de três agentes no sistema financeiro internacional. Primeiro, os Governos e o setor privado dos países com economias emergentes. Segundo, Governos e o setor privado dos principais países industrializados nos quais se originam os fluxos de capitais. E terceiro, Instituições Internacionais. Essas mudanças deveriam influenciar o comportamento dos credores e devedores no sistema internacional, e reduzir a freqüência e alcance das crises. Porém, essas crises, sem dúvida, continuarão ocorrendo, pois como relata Minsky, elas são endógenas ao funcionamento do mercado de crédito.